Cercado desde sempre por aura mitológica que vem crescendo com o passar do tempo, João Gilberto Prado Pereira de Oliveira chega aos 80 anos nesta sexta-feira, 10 de junho de 2011. A essa altura, nada mais pode ser dito de relevante e novo sobre João, o artista que revolucionou a música brasileira com seu perfecionismo, motor da criação da batida diferente que veio a ser rotulada de Bossa Nova. João Gilberto é a Bossa Nova. Ao sintetizar a batida do samba nas cordas de seu violão e ao integrar a voz com o arranjo, em total harmonia, João fez a sua revolução estética - da qual todos se beneficiam mais de 50 anos depois do lançamento do compacto com Chega de Saudade. Aliás, é pena que, por conta do imbróglio judicial com a EMI Music, os três primeiros álbuns de João permaneçam indisponíveis em CD (embora edições piratas destes álbuns seminais estejam sendo comercializadas livremente na Europa). Residem nestes três discos - Chega de Saudade (1959), O Amor, O Sorriso e a Flor (1960) e João Gilberto (1961) - parte expressiva da beleza da Arte de João, por mais que o cantor tenha vindo a lançar ocasionais obras-primas como Amoroso (1977) e por mais que reinvente essa beleza a cada show. Enquanto a pendenga na Justiça não é resolvida, João completa 80 anos com dois DVDs à vista. Um vai registrar o show comemorativo de seus 80 anos, apresentado dentro de turnê nacional intitulada João Gilberto 80 Anos - Uma Vida Bossa Nova. Por ora, estão previstos de cinco a oito shows em cidades como Brasília (DF), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Salvador (BA) em datas e em locais ainda não divulgados oficialmente. O outro DVD - ainda a depender de negociação com o artista - exibiria imagens de bastidores e encontros do mito com seus discípulos em estúdio e nos palcos. Gravações à parte, João Gilberto - visto em foto de Marcos Hermes - vira octagenário sem perder a fama de temperamental. Ainda assim, mais do que as histórias lendárias sobre sua figura de fato excêntrica, o que conta é mesmo a música. Sem João, não teria tido Bossa Nova. Por mais que Johnny Alf (1929 - 2010) tenha farejado a trilha harmônica da modernidade lá pelos idos de 1952 e 1953, foi João quem descobriu o caminho das pedras ao burilar obsessivamente a batida de seu violão. Sem João Gilberto, Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) teria sido o compositor genial que sempre foi e que já era mesmo antes da associação de sua música à Bossa Nova - um gênio aclamado em âmbito mundial por sua música soberana - mas a revolução não teria sido feita com a intensidade que registra a História da música popular do Brasil. É fato que o tom coloquial e carioca das letras de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) e Ronaldo Bôscoli (1928 - 1994), entre outros compositores que pegaram o barquinho, foram primordiais para a criação do ambiente de leveza em que se aclimatou a Bossa Nova. Sim, porque a Bossa Nova também é um clima, um estilo de vida, um modo de ser. Mas, acima de tudo, a Bossa sempre Nova é João Gilberto, ainda um mito ao chegar aos 80 anos. Viva João!!
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9 comentários:
Parabéns, João, pela vida e pela obra de Arte. E, por favor, reconsidere-se e autorize a reedição da sua trilogia na Odeon/EMI. Pede perdão aos produtores pela Insensatez que eles fizeram ao lançarem os discos no absurdo formato "3 em 1" e, por nós, por você, por eles: "Vai, meu coração, pede perdão, perdão apaixonado". Que o mundo inteiro lhe agradece.
Abraço!
Acho que Lobão descordaria dessa resenha...
Me empolga a possibilidade do lançamento desses dois DVDs. Até o momento só havia disponível, no formato, material retirado de antigos especiais na Globo e Bandeirantes ou de shows gravados à revelia de João Gilberto, com qualidade técnica nem sempre boa. Tomara que a gravação feita satisfaça aos altos padrões do artista, para que possamos desfrutar o quanto antes desses registros.
Serei eternamente grato ao João Gilberto por ter aposentado aqueles cantores de "dó de peito".
Já detestei, embora sempre respeitando, seu som. Hoje em dia não ouço, mas não desgosto.
Violão pra mim é Baden Powell.
Um DVD já está certo. O outro é que depende de negociação. Abs, MauroF
Um tanto quanto recluso demais, quase um eremita carioca? Sim.
Um tanto quanto polêmico, para dizer o mínimo? Sim.
Um tanto quanto intratável? Sim.
Um tanto quanto arrogante? Sim.
Um tanto quanto repetitivo? Sim (e que venham as pedradas!). Por mais que o modo de se tocar o violão mude a cada show, abrindo novas nuances, o repertório não muda: "Chega de Saudade", "Estate", "Aos pés da Santa Cruz", "Wave", "O Pato" e por aí vai.
Mas... enfim, é compreensível. Pode não ser aceitável, mas é compreensível.
Porque João é mito. Está entre as dez personalidades que mudaram decisivamente a música brasileira. Gostar ou não, é outro papo - eu mesmo jamais pagaria os olhos da cara para ver um show dele, e só gosto de algumas coisas (a gravação de "Caminhos Cruzados", em "Amoroso", por exemplo).
Mas, que merece todo o respeito, até dos detratores, merece.
Felipe dos Santos Souza
é um grande artista que ficou cada vez mais temperamental por causa desse excesso de paparicos com ele.
João Gilberto é a Bossa Nova.
Que frase bem dita Mauro. Para mim, a bossa nova nasceu quando João disse "mamãe".
Brincadeiras a parte, João é um salvador de almas. Este senhor e seu som mais que genial me salvou da mediocridade. Quando descobri João na minha vida, esta vida se inundou com uma onda de alegria, de esperança. A bossa nova é uma esperança de vida. É como se ao ouvi-la, senti-la, tivéssemos a certeza de que vale a pena ser feliz. Eu confesso, sou um fã ardoroso de João há cerca de quinze anos e de lá pra cá já o vi 6 vezes em shows e em cada um desses era um gênio igual e totalmente diferente. João para mim é um dos maiores artistas da História. Criou sozinho um estilo musical copiado pelo mundo inteiro. O jaz americano, tido como a música mais importante do mundo, ajoelhou-se aos pés de João e da Bossa Nova.
Assistir a um show de João é uma experiência indescritível. É um impacto e não só cultural, mas natural, como se ali, ao ouvi-lo ouvíssemos a voz de um deus.
Gosto do texto, mas faria uma ressalva. João é mais que a Bossa Nova. Seus discos desde a década de 70 já apontam para outras possibilidades estéticas. Fundou este estilo fundamental sim, mas não se limitou a ele. João se reinventa o tempo todo, para felicidade geral da nação.
Anderson Falcão.
Brasília - DF
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