Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 28 de junho de 2011

Arlindo se equilibra (bem) entre batuques, partidos e sambas românticos

Resenha de CD
Título: Batuques e Romances
Artista: Arlindo Cruz
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * *

É ao som de um pagode - com samba batido na palma da mão - que termina o quinto álbum solo de Arlindo Cruz, Batuques e Romances, posto nas lojas neste mês de junho de 2011 pela Sony Music, a nova gravadora do sambista. Com mais de oito minutos, a derradeira faixa do disco junta em medley os partidos Batuqueiro (Arlindo Cruz, Fred Camacho e Marcelinho Moreira) e Meu Cumpadre (Élcio do Pagode e Didi do Cavaco). Ao encerrar o disco produzido por Leandro Sapucahy, o medley mostra que Arlindo Cruz - felizmente - continua no seu quintal, no seu lugar de grande sambista do Brasil. O título do CD sugere interação entre a batucada dos tantãs da turma do Cacique de Ramos - semente do samba do artista  - e o romantismo do samba mais radiofônico. Contudo, Cruz não desce ao tom rasteiro dos pagodes românticos que imperam nas rádios. Seu maior caso de amor é o samba, como ele explicita no tema que abre o disco, Como um Caso de Amor (André Renato e Ronaldo Barcellos). Verdade seja dita, o samba nem é dos melhores do repertório majoritariamente inédito e autoral de Batuques e Romances. O romantismo explode com lirismo popular em dois grande sambas, Quando Falo de Amor (Arlindo Cruz, Fred Camacho e Almir Guineto) e Meu Poeta (Arlindo Cruz, Jr. Dom e Zeca Pagodinho), este gravado com a voz de Zeca, compadre de Zeca e fiel parceiro. Em clima praieiro, o samba Pelo Litoral (Arlindo Cruz, Acyr Marques e Rogê) contagia e espanta as tristezas do amor enquanto a primorosa regravação de Meu Nome É Favela (Rafael Delgado) - arranjada com maestria por Ivan Paulo - exalta o povo e o cotidiano das comunidades com romantismo. Sim, o romantismo deste disco de Arlindo extrapola o terreno afetivo. Pode pregar também o amor pela origem suburbana. A paixão pode ser ainda pela fé na força dos valores positivos, propagados em O Bem (Arlindo Cruz e Délcio Luiz), outro belo samba deste disco que revolve as tradições do terreiro para evocar o jongo, ritmo seminal impresso em Mãe (Carlos Sena, Maurição e Elmo Caetano). Batuques e Romances apresenta repertório pautado pelo otimismo. O canto e o samba são remédios até para os males de amor, como exposto em Cantando Eu Aprendi (Arlindo Cruz, Maurição e Fred Camacho), um dos temas que não chegam a empolgar. Sim, há alguns sambas que soam inferiores à obra do compositor, caso de Nem Tanto à Terra, Nem Tanto ao Mar, outra parceria do trio formado por Arlindo com Maurição e Fred Camacho. Dos sambas menores, o ponto mais baixo é Você É o Espinho e Não a Flor (Arlindo Neto e Renato Moraes). Contudo, o saldo é positivo. Segunda parceria de Arlindo com Teresa Cristina, Oferendas reverencia Yemanjá com beleza, seguindo a linha afro da nascente obra da dupla. Já Bancando o Durão (Arlindo Cruz, Jr. Dom e Maurição) - samba sincopado situado em um salão de gafieira - se diferencia pela inusitada participação de Ed Motta, à vontade no universo popular de Arlindo. Sargento (Bada, Pietro Ribeiro e Willians Defensor) é partido alto que esboça crítica social com o mesmo bom-humor que aparece também nos versos de Cleptomaria, parceria do sambista com o sempre afiado Nei Lopes. Enfim, com seus batuques e seu romantismo impregnado de poesia popular, Arlindo Cruz apresenta disco de inéditas coerente com sua já longa caminhada pelos quintais cariocas.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

É ao som de um pagode - com samba batido na palma da mão - que termina o quinto álbum solo de Arlindo Cruz, Batuques e Romances, posto nas lojas neste mês de junho de 2011 pela Sony Music, a nova gravadora do sambista. Com mais de oito minutos, a derradeira faixa do disco junta em medley os partidos Batuqueiro (Arlindo Cruz, Fred Camacho e Marcelinho Moreira) e Meu Cumpadre (Élcio do Pagode e Didi do Cavaco). Ao encerrar o disco produzido por Leandro Sapucahy, o medley mostra que Arlindo Cruz - felizmente - continua no seu quintal, no seu lugar de grande sambista do Brasil. O título do CD sugere interação entre a batucada dos tantãs da turma do Cacique de Ramos - semente do samba do artista - e o romantismo do samba mais radiofônico. Contudo, Cruz não desce ao tom rasteiro dos pagodes românticos que imperam nas rádios. Seu maior caso de amor é o samba, como ele explicita no tema que abre o disco, Como um Caso de Amor (André Renato e Ronaldo Barcellos). Verdade seja dita, o samba nem é dos melhores do repertório majoritariamente inédito e autoral de Batuques e Romances. O romantismo explode com lirismo popular em dois grande sambas, Quando Falo de Amor (Arlindo Cruz, Fred Camacho e Almir Guineto) e Meu Poeta (Arlindo Cruz, Jr. Dom e Zeca Pagodinho), este gravado com a voz de Zeca, compadre de Zeca e fiel parceiro. Em clima praieiro, o samba Pelo Litoral (Arlindo Cruz, Acyr Marques e Rogê) contagia e espanta as tristezas do amor enquanto a primorosa regravação de Meu Nome É Favela (Rafael Delgado) - arranjada com maestria por Ivan Paulo - exalta o povo e o cotidiano das comunidades com romantismo. Sim, o romantismo deste disco de Arlindo extrapola o terreno afetivo. Pode pregar também o amor pela origem suburbana. A paixão pode ser ainda pela fé na força dos valores positivos, propagados em O Bem (Arlindo Cruz e Délcio Luiz), outro belo samba deste disco que revolve as tradições do terreiro para evocar o jongo, ritmo seminal impresso em Mãe (Carlos Sena, Maurição e Elmo Caetano). Batuques e Romances apresenta repertório pautado pelo otimismo. O canto e o samba são remédios até para os males de amor, como exposto em Cantando Eu Aprendi (Arlindo Cruz, Maurição e Fred Camacho), um dos temas que não chegam a empolgar. Sim, há alguns sambas que soam inferiores à obra do compositor, caso de Nem Tanto à Terra, Nem Tanto ao Mar, outra parceria do trio formado por Arlindo com Maurição e Fred Camacho. Dos sambas menores, o ponto mais baixo é Você É o Espinho e Não a Flor (Arlindo Neto e Renato Moraes). Contudo, o saldo é positivo. Segunda parceria de Arlindo com Teresa Cristina, Oferendas reverencia Yemanjá com beleza, seguindo a linha afro da nascente obra da dupla. Já Bancando o Durão (Arlindo Cruz, Jr. Dom e Maurição) - samba sincopado situado em um salão de gafieira - se diferencia pela inusitada participação de Ed Motta, à vontade no universo popular de Arlindo. Sargento (Bada, Pietro Ribeiro e Willians Defensor) é partido alto que esboça crítica social com o mesmo bom-humor que aparece também nos versos de Cleptomaria, parceria do sambista com o sempre afiado Nei Lopes. Enfim, com seus batuques e seu romantismo impregnado de poesia popular, Arlindo Cruz apresenta disco de inéditas coerente com sua já longa caminhada pelos quintais cariocas.

Marcelo Barbosa disse...

Outro grande disco de samba do ano. Todas as faixas são muito boas, a exceção do dueto com Ed Motta.
O Arlindo está vivenciando uma excelente fase na carreira. Curto muito o jongo Mãe, a homenagem a Ovídio Brito no final com Batuqueiro/meu Cumpadre e o belo samba em parceria com Teresa Cristina, Oferendas. Abs

"Vou pra batucada que o samba me chamou.
Eu vou na levada de Luna, Marçal, Eliseu, Carnegal e Geraldo Bongô!"

Luca disse...

Pelo que o Mauro diz, o Arlindo não tá apelando pra disputar espaço em rádio com grupo de pagode. parabéns, mas esse não é o tipo de disco que compro e ouço.

Gill Sampaio Ominirò disse...

Luca, então é uma pena. Está perdendo a oportunidade de ouvir uma música autêntica, de natureza ritual, de beleza original. Arlindo é um grande sambista, grande homem. É um grande filho de Xangô e somente nos abençoa com seus sambas ancestrais.