domingo, 5 de junho de 2011

Casal Hime tece bordado afetivo em show que expande costura do disco

Resenha de show
Título: Almamúsica
Artista: Francis Hime & Olivia Hime (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Café Pequeno (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 4 de junho de 2011
Cotação: * * * *
Show em cartaz às sextas-feiras, sábados e domingos de junho de 2011 no Café Pequeno
exceto em 19 de junho, quando estará em cartaz no Auditório Ibirapuera (São Paulo, SP)

As rendas e bordados que emolduram com delicadeza o palco do Teatro Café Pequeno durante o show Almamúsica - apresentado por Francis Hime e Olivia Hime em temporada que se estende por todos os finais de semana de junho - não estão lá por acaso. Iluminado pela bela luz de Paulo César Medeiros, o cenário de Edward Monteiro traduz com exatidão o espírito de Almamúsica. Em cena, o casal tece o bordado do amor em série de quadros musicais que expandem a fina costura feita no recém-lançado disco homônimo do show. Os artistas abrem diante do público um diário afetivo escrito com notas musicais, para usar as palavras usadas por Olivia para conceituar o show na estreia da temporada carioca. Tanto que Saudade de Amar (Francis Hime e Vinicius de Moraes), reminiscência dos tempos de namoro, abre a cortina do passado amoroso. De modo geral, o diretor Flávio Marinho consegue reproduzir no pequeno palco do café a atmosfera íntima do CD, criando ambiência delicada que somente é cortada pela efusiva (e destoante) saudação aos sambistas de hoje e de ontem. Conduzida pelo piano de Francis, seu maestro na música e na vida, Olivia solta a voz em músicas como A Ostra e o Vento (Chico Buarque), encadeada em suíte com músicas marítimas de Dorival Caymmi (1914 - 2008). Francis puxa a rede com O Mar, Olivia segue ao cantar a Morena do Mar e, na sequência, o casal harmoniza vozes em João Valentão. A propósito, disco e show Almamúsica fazem Francis se exercitar como intérprete de obras alheias. Ao piano, ele até volta e meia extrapola seu terreno autoral - como na suíte frenética do bis que costura temas como Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Aquele Abraço (Gilberto Gil) e Vai Passar (Francis Hime e Chico Buarque). Contudo, como cantor, Francis nunca saiu tanto de seu universo autoral como em Almamúsica. Ainda que sejam de Olivia as melhores interpretações do show. Com a voz lapidada por maturidade que somente o tempo traz, Olivia entoa A Minha Valsa - versão de Ronaldo Bastos para La Valse des Lilas (Michel Legrand, Eddie Barclay e Eddie Marnay), já gravada por Nana Caymmi - e realça com divisão e entonação apropriadas o humor contido na Canção de Pedroca (Francis Hime e Chico Buarque). É também na voz dela que Trocando em Miúdos (Francis Hime e Chico Buarque) dá o ponto inicial no quadro do desencontro, tecido com a oportuna lembrança do samba-canção Risque (Ary Barroso) pela voz de Francis. Neste número, em silêncio, Olivia se posiciona de costas para o cantor e pianista em marca teatral do diretor Flávio Marinho que simboliza o desencontro, mote desse bloco mais denso em que os cantores recorrem a um segundo samba-canção de Ary Barroso (1903 - 1964), Pra Machucar meu Coração. Bela inédita de Francis com Olivia, Almamúsica prepara o fim, simbolizando a redenção dos amantes pela música. Seguem-se então Canta, Maria (acalanto do recorrente Ary Barroso) e o realce de um verso de Desde que o Samba É Samba (Caetano Veloso) - "Cantando eu mando a tristeza embora" - que reitera a força redentora da música na vida. No bis, tudo acaba em harmonia quando o casal Hime expressa o amor mútuo em Eu Não Existo sem Você (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), tema que celebra a inexorável comunhão afetiva de duas almas - no caso, almas embebidas em música da mais alta costura.

Um comentário:

  1. As rendas e bordados que emolduram com delicadeza o palco do Teatro Café Pequeno durante o show Almamúsica - apresentado por Francis Hime e Olivia Hime em temporada que se estende por todos os finais de semana de junho - não estão lá por acaso. Iluminado pela bela luz de Paulo César Medeiros, o cenário de Edward Monteiro traduz bem o espírito de Almamúsica. Em cena, o casal tece o bordado do amor em série de quadros musicais que expandem a fina costura feita no recém-lançado disco homônimo do show. Os artistas abrem diante do público um diário afetivo escrito com notas musicais, para usar as palavras usadas por Olivia para conceituar show na estreia da temporada carioca. Tanto que Saudade de Amar (Francis Hime e Vinicius de Moraes), reminiscência dos tempos de namoro, abre a cortina do passado amoroso. De modo geral, o diretor Flávio Marinho consegue reproduzir no pequeno palco do café a atmosfera íntima do CD, criando ambiência delicada que somente é cortada pela efusiva (e destoante) saudação aos sambistas de hoje e de ontem. Conduzida pelo piano de Francis, seu maestro na música e na vida, Olivia solta a voz em músicas como A Ostra e o Vento (Chico Buarque), encadeada em suíte com músicas marítimas de Dorival Caymmi (1914 - 2008). Francis puxa a rede com O Mar, Olivia segue ao cantar a Morena do Mar e, na sequência, o casal harmoniza vozes em João Valentão. A propósito, disco e show Almamúsica fazem Francis se exercitar como intérprete de obras alheias. Ao piano, ele até volta e meia extrapola seu terreno autoral - como na suíte frenética do bis que costura temas como Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Aquele Abraço (Gilberto Gil) e Vai Passar (Francis Hime e Chico Buarque). Contudo, como cantor, Francis nunca saiu tanto de seu universo autoral como em Almamúsica. Ainda que sejam de Olivia as melhores interpretações do show. Com a voz lapidada por maturidade que somente o tempo traz, Olivia entoa A Minha Valsa - versão de Ronaldo Bastos para La Valse des Lilas (Michel Legrand, Eddie Barclay e Eddie Marnay), já gravada por Nana Caymmi - e realça com divisão e entonação apropriadas o humor contido na Canção de Pedroca (Francis Hime e Chico Buarque). É também na voz dela que Trocando em Miúdos (Francis Hime e Chico Buarque) dá o ponto inicial no quadro do desencontro, tecido com a oportuna lembrança do samba-canção Risque (Ary Barroso) pela voz de Francis. Neste número, em silêncio, Olivia se posiciona de costas para o cantor e pianista em marca teatral do diretor Flávio Marinho que simboliza o desencontro, mote desse bloco mais denso em que os cantores recorrem a um segundo samba-canção de Ary Barroso (1903 - 1964), Pra Machucar meu Coração. Bela inédita de Francis com Olivia, Almamúsica prepara o fim, simbolizando a redenção dos amantes pela música. Seguem-se então Canta, Maria (acalanto do recorrente Ary Barroso) e o realce de um verso de Desde que o Samba É Samba (Caetano Veloso) - "Cantando eu mando a tristeza embora" - que reitera a força redentora da música na vida. No bis, tudo acaba em harmonia quando o casal Hime expressa o amor mútuo em Eu Não Existo sem Você (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), tema que celebra a inexorável comunhão afetiva de duas almas - no caso, almas embebidas em música da mais alta costura.

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