Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 25 de junho de 2011

Com elegância, Marina expõe angústias do CD 'Clímax' em show estiloso

Resenha de show
Título: Clímax
Artista: Marina Lima (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro do Sesc Vila Mariana (São Paulo, SP)
Data: 24 de junho de 2011
Cotação: * * * *
Em cartaz em 25 e 26 de junho de 2011 no teatro do Sesc Vila Mariana em São Paulo (SP)
Agenda da turnê Clímax em 2011:
14 de julho - Macaé (RJ)
15 de julho - Campos (RJ)
16 de julho - Itaperuna (RJ)
23 de julho - Nova Friburgo (RJ)
6 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) 
12 de agosto - São Paulo (SP)
7 de outubro - Porto Alegre (RS)
25 de novembro - Natal (RN)
26 de novembro - Recife (PE)
3 de dezembro - São Paulo (SP)

Em sua estreia nacional, na apresentação que lotou o Sesc Vila Mariana de São Paulo (SP) em 24 de junho de 2011, os momentos iniciais do novo show de Marina Lima, Clímax, deixaram impressão ruim. Embora a artista tenha entrado elétrica no palco para cantar três hits em sequência, a voz - ainda fria - pareceu lhe faltar. Foi difícil se empolgar com Fullgás (Marina Lima e Antonio Cícero, 1984), À Francesa (Cláudio Zolli e Antonio Cícero, 1989) e Virgem (Marina Lima e Antonio Cícero, 1987). Parecia que Clímax era show trivial como Topo Todas (2007). Contudo, essa impressão negativa foi se diluindo a partir do quarto número, Não me Venha Mais com o Amor (Marina Lima e Adriana Calcanhotto, 2010), ode febril aos prazeres do sexo sem envolvimento romântico. A voz e o show começaram a esquentar. A partir daí, Clímax foi crescendo e seduzindo o ouvinte em ambiente de prazer. Com elegância, alguma teatralidade e alguns sucessos (estrategicamente posicionados no roteiro entre as músicas do recém-lançado álbum de inéditas que norteia e batiza o show),  Marina expõe em cena as angústias existenciais e afetivas que pautam músicas novas e antigas de repertório que, com maior ou menor inspiração, sempre esbanjou estilo. A cenografia arquitetada pelo diretor Isay Weinfel contribui para a criação de atmosfera charmosa, reiterada no palco pela sonoridade moderna e contemporânea urdida por Marina com os dois hábeis músicos que a acompanham em cena. O guitarrista Edu Martins e o baterista Alex Fonseca (responsável também pelas recorrentes programações eletrônicas) conseguem criar um som antenado - às vezes impregnado de uma crueza - que sintoniza a poética urbana típica da obra da artista. Instrumentista de múltiplas habilidades, Martins eventualmente deixa a guitarra e pilota outros instrumentos, como os teclados de #SPFeelings (Marina Lima, 2010), retrato da incessante efervescência de São Paulo, feito com ruídos e paradoxal clima bossa-novista evocado pelo violão bissexto tocado pela própria Marina, segura do que tem a mostrar. "Pode não parecer, mas é um samba", garante a compositora antes de cantar A Parte que me Cabe (Marina Lima, 2010), pseudosamba formatado como balada. Uma bela balada, aliás, exemplo do vigor da safra de inéditas autorais de Clímax. Tão bonita que nem dá para sentir no show a falta da voz de Vanessa da Mata, elemento controvertido do disco. Em contrapartida, a canção Pra Sempre - delícia pop radiofônica que Marina compôs com Samuel Rosa - se ressente no palco da ausência da voz e do violão do vocalista do Skank, mais íntimo do universo da canção do que Marina. Mas são detalhes de show feito no tempo da delicadeza em Call me (Tony Hatch, 1965) - sucesso do cantor Chris Montez - e arquitetado com grande apuro visual. Dos elementos usados pelo diretor Isay Weinfeld para compor a cenografia, apenas o coração gigante que aparece no palco durante O Chamado (Marina Lima e Giovanni Bizzotto, 1993) pareceu fora de compasso, destoando da elegância visual de Clímax. Já a imagem da chuva projetada em Me Chama (Lobão, 1984) dá charme e clima todo especial à balada cantada por Marina com propriedade. A teatralidade é ainda maior em Deixe Estar (Marina Lima e Antonio Cícero, 1998), número de belo efeito cênico em que, vestida com túnica que cobre seu figurino estiloso, Marina simula desorientação ao vagar pelo palco vazio e escurecido.  Em Pra Começar (Marina Lima e Antonio Cícero, 1986), o charme visual reside nos óculos escuros usados pela cantora durante o número, de forte textura eletrônica, embora a pegada do arranjo original da música - hit do primeiro disco ao vivo de Marina - seja reconhecível na releitura. Veneno (Nelson Motta sobre música de Alfredo Polacci, 1984) embriaga os sentidos pela sensualidade, com a cantora exalando fumaça em um canto do palco, em jogo cênico que, na estreia nacional de Clímax, teve outro belo lance com as marcações teatrais seguidas por Marina e a convidada Karina Buhr durante o dueto em Desencantados (Marina Lima, Karina Buhr, Edgard Scandurra e Alex Fonseca, 2010), outro ponto alto do show e da safra de inéditas. Na sequência, LEX (My Weird Fish) teve avião que voou pelo palco em alusão à rota Brasil-Portugal seguida por esse tema que cita música do Radiohead e o afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966). E veio, então, a grande surpresa do roteiro: In My Life (John Lennon e Paul McCartney, 1965), em abordagem melodiosa e reverente. É a primeira vez que Marina canta Beatles. E o fato de In My Life estar situada no roteiro entre LEX e a antenada #SPFeelings sinaliza que, entre luzes e suas sombras, Marina conecta presente e passado sem sair de sua trilha e de seu clima para chegar ao seu Clímax.  

14 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em sua estreia nacional, na apresentação que lotou o Sesc Vila Mariana de São Paulo (SP) em 24 de junho de 2011, os momentos iniciais do novo show de Marina Lima, Clímax, deixaram impressão ruim. Embora a artista tenha entrado elétrica no palco para cantar três hits em sequência, a voz - ainda fria - pareceu lhe faltar. Foi difícil se empolgar com Fullgás (Marina Lima e Antonio Cícero, 1984), À Francesa (Cláudio Zolli e Antonio Cícero, 1989) e Virgem (Marina Lima e Antnio Cícero, 1987). Parecia que Clímax seria show trivial, como Topo Todas (2007). Contudo, essa impressão negativa foi se diluindo a partir do quarto número, Não me Venha Mais com o Amor (Marina Lima e Adriana Calcanhotto, 2010), ode febril aos prazeres do sexo sem envolvimento romântico. A voz e o show começaram a esquentar. A partir daí, Clímax foi crescendo e seduzindo o ouvinte em ambiente de prazer. Com elegância, alguma teatralidade e alguns sucessos (estrategicamente posicionados no roteiro entre as músicas do recém-lançado álbum de inéditas que norteia e batiza o show), Marina expõe em cena as angústias existenciais e afetivas que pautam músicas novas e antigas de repertório que, com maior ou menor inspiração, sempre esbanjou estilo. A cenografia arquitetada pelo diretor Isay Weinfel contribui para a criação de atmosfera charmosa, reiterada no palco pela sonoridade moderna e contemporânea urdida por Marina com os dois músicos que a acompanham em cena. O guitarrista Edu Martins e o baterista Alex Fonseca (responsável também pelas recorrentes programações eletrônicas) conseguem criar um som antenado - às vezes impregnado de crueza - que sintoniza a poética urbana da obra da artista. Instrumentista de múltiplas habilidades, Martins eventualmente deixa a guitarra e pilota outros instrumentos, como os teclados de #SPFeelings (Marina Lima, 2010), retrato da incessante efervescência de São Paulo, feito com ruídos e paradoxal clima bossa-novista evocado pelo violão bissexto tocado pela própria Marina, segura do que tem a mostrar. "Pode não parecer, mas é um samba", garante a compositora antes de cantar A Parte que me Cabe (Marina Lima, 2010), pseudosamba formatado como balada. Uma bela balada, aliás, exemplo do vigor da safra de inéditas autorais de Clímax. Tão bonita que nem dá para sentir no show a falta da voz de Vanessa da Mata, elemento controvertido do disco. Em contrapartida, a canção Pra Sempre - delícia pop radiofônica que Marina compôs com Samuel Rosa - se ressente no palco da ausência da voz e do violão do vocalista do Skank, mais íntimo do universo da canção do que Marina. Mas são detalhes de show feito no tempo da delicadeza em Call me (Tony Hatch, 1965) - sucesso do cantor Chris Montez - e arquitetado com grande apuro visual. Dos elementos usados pelo diretor Isay Weinfeld para compor a cenografia, apenas o coração gigante que aparece no palco durante O Chamado (Marina Lima e Giovanni Bizzotto, 1993) pareceu fora de compasso, destoando da elegância visual de Clímax. Já a imagem da chuva projetada em Me Chama (Lobão, 1984) dá charme e clima todo especial à balada cantada por Marina com propriedade. A teatralidade é ainda maior em Deixe Estar (Marina Lima e Antonio Cícero, 1998), número de belo efeito cênico em que, vestida com túnica que cobre seu figurino estiloso, Marina simula desorientação ao vagar pelo palco vazio e escuro.

Mauro Ferreira disse...

Em Pra Começar (Marina Lima e Antonio Cícero, 1986), o charme visual reside nos óculos escuros usados pela cantora durante o número, de forte textura eletrônica, embora a pegada do arranjo original da música - hit do primeiro disco ao vivo de Marina - seja reconhecível na releitura. Veneno (Nelson Motta sobre música de Alfredo Polacci, 1984) embriaga os sentidos pela sensualidade, com a cantora exalando fumaça em um canto do palco, em jogo cênico que, na estreia nacional de Clímax, teve outro belo lance com as marcações teatrais seguidas por Marina e a convidada Karina Buhr durante o dueto em Desencantados (Marina Lima, Karina Buhr, Edgard Scandurra e Alex Fonseca), outro ponto alto do show e da safra de inéditas. Na sequência, LEX (My Weird Fish) teve avião que voou pelo palco em alusão à rota Brasil-Portugal seguida por esse tema que cita música do Radiohead e o afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966). E veio, então, a grande surpresa do roteiro: In My Life (John Lennon e Paul McCartney, 1965), em abordagem melodiosa e reverente. É a primeira vez que Marina canta Beatles. E o fato de In My Life estar situada no roteiro entre LEX e a antenada #SPFeelings sinaliza que, entre luzes e suas sombras, Marina conecta presente e passado sem sair de sua trilha e de seu clima para chegar ao seu Clímax.

Fabio disse...

Estive tb na estreia e estou hoje, sábado, novamente no show que me deixou com ótima impressão. Climax parece ser uma continuidade do show Nos Primórdios, talvez por causa da cenografia, da dança de Marina e da pegada da banda. Ela disse que os 2 músicos, mais ela, são os 3 mosqueteiros e esses 3 tem uma pegada pulsante. Realmemte o começo foi meio frio, mas a voz de hoje estava lá e ela soube usá-la, acho até que arriscou mais, não "falou" as letras, cantou e bem.
Repertório muito bom. Estranho foi "Deixe Estar" com aquela túnica, ficou deslocado e sem razão. Sesc Vila Mariana é ótimo. Como seria essa estreia no Auditorio Ibirapuera com o fundo do palco abrindo pro parque? Ainda espero ver essa cena em DVD da turnê Lá Nos Primórdios, ou será que esse lançamento foi engavetado de vez?
Marina é 10, está com um corpo que vou te contar, mas isso é só um plus porque sua música fala bem mais alto.

Projeto Funcionaface disse...

Olá Mauro!!!
Muito bacana seu blog, cheguei até aqui através de um anúncio que vi na Revista da Saraiva.
Gosto de literatura,teatro, música... E por falar em música tenho um projeto experimental; "FUNCIONAFACE" que está disponível no seguinte endereço: http://www.myspace.com/funcionaface
tem vídeos no youtube também, se possível gostaria que você desse uma escutada e falasse o que achou.

Agradeço pelo espaço
Muita luz!!!!
André Borges

Vitor disse...

Os ingressos pro Rio (Vivo Rio) estão sendo vendidos pro dia 06 de Agosto

Mauro Ferreira disse...

Tem razão, Vítor. Abs, obrigado, MauroF

lurian disse...

Espero que haja turnée nacional. A resenha me deixou com água na boca! Marina faz um bem enorme ao nosso pop nacional!!!

Diogo Santos disse...

O teatro é belissimo mas cabe, salvo engano, 608 pessoas.Espero que o publico carioca corresponda Marina Lima no VIVO RIO, que é maior.

Anônimo disse...

Show delirante, teatral e fundamental para se entender Marina Lima.

Luca disse...

Ainda bem que ela volta a São Paulo logo, tentei comprar, mas estava tudo esgotado.

antonio disse...

Foi uma estréia emocionante! Belo show e Marina realmente tem muito estilo! Dois grandes shows e discos em 2011: Marcelo Camelo (Toque dela) em show afetuoso e espontâneo e Marina Lima com Climax!

W Fernandes disse...

show incrivel!

W Fernandes disse...

Show realmente incrivel.
2011 vai pegar !

Henrique Nascimento disse...

Acho que Marina está retomando a boa forma vocal, mas ainda falta um pouco. Gostei muito do repertório e da postura dela no palco do Vivo Rio, mas infelizmente o show teve muitas falhas na sonorização e a voz da Marina não está firme e descordo completamente com o Sr. Mauro em relação a canção "A parte que me cabe", senti muito a falta da doce e delicada voz da Vanessa da Mata nesta canção até mesmo a Marina sentiu isso ao comentar que ama a Vanessa antes de cantar. Achei também a banda muito fraca, mas os arranjos ótimos.