Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Em evolução, Anna Ratto (ainda) não está no ponto para cantar Tom Zé

Resenha de show
Projeto: Bendito É o Maldito entre as Mulheres
Título: Anna Ratto Canta Tom Zé
Artista: Anna Ratto (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Solar de Botafogo (Rio de Janeiro, RJ)
Data:  14 de junho de 2011
Cotação: * * 1/2

Embora mostre nítida evolução em cena, Anna Ratto (ainda) não está no ponto para cantar uma obra como a de Tom Zé, compositor que sempre fez música com alma tropicalista. Repleto de sutilezas e ironias, o cancioneiro do artista exige intérpretes com uma astúcia e/ou uma maturidade que Ratto (ainda) não tem. E o fato é que o show em que a cantora carioca interpreta 13 músicas deste baiano de Irará tornado paulista resulta oscilante. Idealizado pela cantora Camila Costa para o projeto Bendito É o Maldito Entre as Mulheres (série de quatro espetáculos temáticos apresentados no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo entre 1º de fevereiro e 1º de março de 2011), o show de Ratto foi refeito no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), em apresentação única agendada para 14 de junho. A banda - Fernando Caneca (guitarra), Cesinha (bateria), Eugenio Dale (violão) e Emerson Mardhine (baixo e direção musical) - é excelente. A cantora - vale repetir - nunca se portou com tanta segurança e desenvoltura em cena, mas o show não chega de fato a decolar porque, sim, é difícil cantar Tom Zé. Música pouco conhecida do compositor, lançada em seu álbum Nave Maria (1984), Conto de Fraldas é um dos poucos momentos em que Ratto consegue traduzir bem as intenções do compositor em tema que, como muitos de Zé, tem traços lúdicos, recorrentes na obra desse erê já septuagenário. Conto de Fraldas valoriza roteiro aberto com abordagem roqueira do Frevo (Pecadinho) (Tom Zé e Tuzé de Abreu, 1972) - a mesma de que é alvo Namorinho de Portão (Tom Zé, 1968). A participação de Thaís Gulin no samba Angélica, Augusta e Consolação (Tom Zé, 1973) e em O Amor É Velho-Menina (Tom Zé, 1992) deu charme adicional à apresentação carioca do show. Entretanto, sem Gulin, Anna não caiu com jeito nos sambas Hein? (Tom Zé e Vicente Barreto, 1976) e (Elton Medeiros e Tom Zé, 1976), este imbatível na voz de Zélia Duncan. Assim como Vai (Menina, Amanhã de Manhã) - parceria de Tom Zé com Perna, lançada no emblemático álbum Estudando o Samba (1976) - já parece ser de Mônica Salmaso. Em contrapartida, Ratto tomou para si Quando Eu Era sem Ninguém (Tom Zé, 1973), tema em que o compositor parafraseia na letra versos de sucesso de Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), Tum Tum Tum, da lavra de Ary Monteiro e Cristóvão de Alencar. Quanto mais a música era conhecida, mais ficava evidente que ainda não era hora de Ratto cantar Tom Zé. Difícil ouvir 2001 (Tom Zé e Rita Lee, 1969) com Ratto sem pensar na antológica gravação em que o grupo Os Mutantes recorreu às tradições do canto sertanejo para realçar a letra libertária-futurista. Da mesma forma, a efervescência cosmopolita de Parque Industrial (Tom Zé, 1968) empalidece no arranjo do irregular tributo. Ainda assim, a evolução cênica da cantora - elegante em cena, inclusive por conta do figurino fashion - faz com que o show seja sempre minimamente simpático, embora quase nunca exponha a obra de Tom Zé em sua plenitude. Por isso, é prudente abortar a ideia de perpetuar o show em disco.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Embora mostre nítida evolução em cena, Anna Ratto (ainda) não está no ponto para cantar uma obra como a de Tom Zé, compositor que sempre fez música com alma tropicalista. Repleto de sutilezas e ironias, o cancioneiro do artista exige intérpretes com uma astúcia e/ou uma maturidade que Ratto (ainda) não tem. E o fato é que o show em que a cantora carioca interpreta 13 músicas deste baiano de Irará tornado paulista resulta oscilante. Idealizado pela cantora Camila Costa para o projeto Bendito É o Maldito Entre as Mulheres (série de quatro espetáculos temáticos apresentados no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo entre 1º de fevereiro e 1º de março de 2011), o show de Ratto foi refeito no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), em apresentação única agendada para 14 de junho. A banda - Fernando Caneca (guitarra), Cesinha (bateria), Eugenio Dale (violão) e Emerson Mardhine (baixo e direção musical) - é excelente. A cantora - vale repetir - nunca se portou com tanta segurança e desenvoltura em cena, mas o show não chega de fato a decolar porque, sim, é difícil cantar Tom Zé. Música pouco conhecida do compositor, lançada em seu álbum Nave Maria (1984), Conto de Fraldas é um dos poucos momentos em que Ratto consegue traduzir bem as intenções do compositor em tema que, como muitos de Zé, tem traços lúdicos, recorrentes na obra desse erê já septuagenário. Conto de Fraldas valoriza roteiro aberto com abordagem roqueira do Frevo (Pecadinho) (Tom Zé e Tuzé de Abreu, 1972) - a mesma de que é alvo Namorinho de Portão (Tom Zé, 1968). A participação de Thaís Gulin no samba Angélica, Augusta e Consolação (Tom Zé, 1973) e em O Amor É Velho-Menina (Tom Zé, 1992) deu charme adicional à apresentação carioca do show. Entretanto, sem Gulin, Anna não caiu com jeito nos sambas Hein? (Tom Zé e Vicente Barreto, 1976) e Tô (Elton Medeiros e Tom Zé, 1976), este imbatível na voz de Zélia Duncan. Assim como Vai (Menina, Amanhã de Manhã) - parceria de Tom Zé com Perna, lançada no emblemático álbum Estudando o Samba (1976) - já parece ser de Mônica Salmaso. Em contrapartida, Ratto tomou para si Quando Eu Era sem Ninguém (Tom Zé, 1973), tema em que o compositor parafraseia na letra versos de sucesso de Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), Tum Tum Tum, da lavra de Ary Monteiro e Cristóvão de Alencar. Quanto mais a música era conhecida, mais ficava evidente que ainda não era hora de Ratto cantar Tom Zé. Difícil ouvir 2001 (Tom Zé e Rita Lee, 1969) com Ratto sem pensar na antológica gravação em que o grupo Os Mutantes recorreu às tradições do canto sertanejo para realçar a letra libertária-futurista. Da mesma forma, a efervescência cosmopolita de Parque Industrial (Tom Zé, 1968) empalidece no arranjo do irregular tributo. Ainda assim, a evolução cênica da cantora - elegante em cena, inclusive por conta do figurino fashion - faz com que o show seja sempre minimamente simpático, embora quase nunca exponha a obra de Tom Zé em sua plenitude. Por isso, é prudente abortar a ideia de perpetuar o show em disco.

Diogo Santos disse...

Tô com Anna - pro que der e vier - desde o SOM BRASIL - RAUL SEIXAS. Ela bebe de fontes confiáveis e infaliveis como Marisa Monte e Clara Nunes. Seu album GIRANDO é muito bom e só a faixa ' Seu Moço ' é superior a qualquer faixa dos últimos albuns de Ana Carolina, Ivete Sangalo, Roberta Sá, Vanessa da Mata e Maria Rita .



PS: Queria um dia unir Mautner e Tom Zé no mesmo projeto.

André Luís disse...

Mauro, tem notícia de quando a Anna Ratto vai lançar trabalho novo, álbum de estúdio?! Até hoje continuo girando e girando seu maravilhoso último CD no carro e em casa... rsrs

Kausou disse...

Muito pelo contrário, acho que Anna e banda deram um frescor alegre e despretensioso a essas canções de Tom Zé. Digo até que preferi ouvir a maioria delas, através de suas releituras. Vi o show em São Paulo e amei! Acho a Anna das melhores de sua geração, e sim, adoraria ter esse disco! Sim ao disco!