Gravação perpetua em DVD felicidade inevitável de ver show de Dussek

Resenha de show - Gravação de DVD
Título: Dussek é Show!
Artista: Eduardo Dussek (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Oi Casa Grande (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 21 de junho de 2011
Cotação: * * * *

"Vocês têm que se emocionar porque a câmera tá pegando, tá?", avisou, maroto, Eduardo Dussek antes de cantar a balada Cabelos Negros (Eduardo Dussek e Luis Antonio de Cássio). O gracejo foi dito para o público que assistiu à gravação do primeiro DVD do artista em show realizado no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 21 de junho de 2011. Sim, é o primeiro DVD deste cantor e compositor carioca que alcançou projeção em 1980 - ao defender Nostradamus (Eduardo Dussek) no festival MPB-80 - e gravou álbuns regularmente até 1986 para depois lançar alguns poucos discos espaçadamente e sem repercussão. É dífícil entender a razão de a carreira fonográfica de Dussek ter implodido após a edição do álbum Dusek na Sua (1986). Ao menos, o oportuno DVD - produzido por Rafael Ramos e viabilizado por conta de parceria entre a gravadora Deck e o Canal Brasil - vai perpetuar a felicidade inevitável de assistir a um show de Dussek. Fato testemunhado pelo público que compareceu à gravação ao vivo. Showman, Dussek sabe entreter uma plateia com seu humor irreverente que debocha de tudo - e, sobretudo, do próprio cantor. Os textos ditos entre um número e outro - mesmo decorados - surtiram efeito porque Dussek é show, como já diz o título deste espetáculo de voz-e-piano que já se chamou Dussek de Quinta e Dussek na Sua. Musicalmente, mesmo que o formato econômico do show seja limitador, o artista se vira bem, procurando reinventar alguns sucessos. Tanto que o Rock da Cachorra (Leo Jaime) é suavizado em clima de bossa nova enquanto o samba Baixaria, Não!!! (Eduardo Dussek) cativa mais pelos vocais que evocam o canto ancestral de Clementina de Jesus (1901 - 1987). É fato que a safra autoral recente não resiste à comparação com as músicas dos anos 70 e 80. Contudo, às vezes, o humor salva o tema. Isso não acontece com Felicidade Inevitável (Eduardo Dussek) - o número mais pop e mais trivial do roteiro - mas, em contrapartida, o fado Pilosofia Vurtuguesa (Eduardo Dussek e Valério Wizzi) cresce com o improvisado sotaque português do cantor e com a irreverência dos versos que tiram sarro do povo lusitano. Aliás, por falar em irreverência, a presença de Preta Gil somente se justificou por esse traço em comum da artista com Dussek - e pelo fato de Gilberto Gil ter sido o padrinho artístico do cantor nos anos 70, como revelou o artista ao público, imitando a fala abaianada de Gil. Se nada fez por Mania de Você (Rita Lee e Roberto de Carvalho), Preta ao menos acertou o tom da abusada marchinha Politicamente Incorreta (João Roberto Kelly). Já a participação luxuosa de Ney Matogrosso fez todo sentido, já que Ney deu projeção às duas parcerias de Dussek com Luiz Carlos Góes que agora cantou com o autor na gravação do DVD. Solo vocal de Ney, o fox Seu Tipo foi revivido em clima de cabaré com Dussek ao piano enquanto a marchinha Folia no Matagal perdeu um pouco da graça ao ser aprisionada no formato vozes-e-piano. A composição pedia arranjo mais farto e mais espirituoso como sua letra. No fim, baladas como Cabelos Negros (Eduardo Dussek e Luís Antônio de Cássio), Eu Velejava em Você (Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes) - que resultou mais bonita ao ser repetida no bis do que na pálida interpretação anterior - e Aventura (Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes) lembraram para quem quisesse ouvir como Dussek era inspirado ao compor canções de amor. Enfim, com seu humor e com sua música ora embebida em sarcasmo ora embebida em romantismo poético, Dussek é mesmo show! Que venha o DVD para eternizar o momento feliz de sua gravação ao vivo no Rio!