Título: De Pai para Filha - Marya Bravo Canta Zé Rodrix
Artista: Marya Bravo
Gravadora: Joia Moderna / Tratore
Cotação: * * * * 1/2
Registro de estúdio do show em que a atriz e cantora Marya Bravo aborda a obra do cantor e compositor Zé Rodrix (1947 - 2009), o CD De Pai para Filha mostra que hoje ainda é - ou pelo menos deveria ser - dia do rock de Rodrix. Artista lembrado mais por sua parceria com o mineiro Tavito em Casa no Campo (música lançada por Elis Regina em 1972 e ora revivida por Bravo com brilho) e por ter integrado o trio Sá, Rodrix & Guarabyra (propagador do gênero rotulado como rock rural), Rodrix pavimentou carreira solo ao longo da década de 70 antes de flertar com o punk rock como integrante do Joelho de Porco, grupo projetado na cena indie do início dos anos 80. Cantora de voz potente, já bem conhecida pelo público que assiste regularmente a musicais no teatro carioca, Bravo rebobina com personalidade quatro sucessos do trio Sá, Rodrix & Guarabyra - anulando o acento rural de temas como Ama teu Vizinho (Luiz Carlos sá e Zé Rodrix, 1972) e Hoje É Dia de Rock (Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix, 1972), cujo início dá a pista falsa de que a faixa vai cair no reggae - e os entrelaça com músicas dos três primeiros discos individuais de Rodrix. 1º Acto (1973), Quem Sabe Sabe Quem Não Sabe Não Precisa Saber (1974) e Soy Latino Americano (1976) são os álbuns enfocados neste De Pai para Filha, disco que segue a estrada roqueira do primeiro ótimo CD de Bravo, Água Demais por Ti (2009). Trata-se de tributo prestado sem sentimentalismo e sem cheiro de naftalina. Escorada na produção azeitada do guitarrista Bruno Pederneiras e do baterista Pedro Garcia, músicos da Eletro Banda que toca com a cantora no disco e no show, Bravo esbanja energia, vitalidade e força vocal. Qualidade evidentes já em Roupa Prateada (Zé Rodrix, 1974), o rock com vibe de rhythm and blues que abre o disco. Casca de Caracol (Zé Rodrix, 1973) expõe o que talvez seja o único problema do disco: as referências datadas de algumas letras, em especial as escritas sob o impacto do fim do sonho da era hippie. Mas é tamanha a carga de humanidade e afetividade impressa no cancioneiro de Rodrix que isso deixa de ser um problema ao longo das 12 faixas do álbum. Sem saudosismo e com vigor, Bravo apresenta para novas gerações joias como a Primeira Canção da Estrada (Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix, 1972) - encerrada com acordes do piano de Pedro Augusto - e a hard balada Eu Vou Comprar Esse Disco (Zé Rodrix e Lamis, 1976). O som do disco é pulsante. Por mais que uma ou outra faixa soe menos sedutora, caso sobretudo de Hey Man (Zé Rodrix e Tavito, 1970), De Pai para Filha não perde o pique. O eletrizante arranjo de Eu Preciso de Você pra me Ligar (Zé Rodrix, 1973) - faixa em que Bravo cita Quando Será, música que deu título ao álbum lançado por Rodrix em 1977 - é um exemplo da contribuição fundamental da Eletro Banda para a coesão do disco. E, para quem não viveu os anos 70, Bravo rebobina Soy Latino Americano (Zé Rodrix e Livi), delícia pop embebida em latinidade que dominou as paradas em 1976. Para quem viveu, há a balada Quando Você Ficar Velho (Zé Rodrix, 1973), reflexão sobre a passagem do tempo e o mito da juventude eterna tão perseguido nos dias de hoje. Por fim, Mestre Jonas (Zé Rodrix, 1973) - hit do trio Sá, Rodrix & Guarabyra - encerra no mesmo tom roqueiro do início disco que revitaliza e até redimensiona o rock humanitário de Zé Rodrix.
6 comentários:
Registro de estúdio do show em que a atriz e cantora Marya Bravo aborda a obra do cantor e compositor Zé Rodrix (1947 - 2009), o CD De Pai para Filha mostra que hoje ainda é - ou pelo menos deveria ser - dia do rock de Rodrix. Artista lembrado mais por sua parceria com o mineiro Tavito em Casa no Campo (música lançada por Elis Regina em 1972 e ora revivida por Bravo com brilho) e por ter integrado o trio Sá, Rodrix & Guarabyra (criador do gênero rotulado como rock rural), Rodrix pavimentou carreira solo ao longo da década de 70 antes de flertar com o punk rock como integrante do Joelho de Porco, grupo projetado na cena indie do início dos anos 80. Cantora de voz potente, já conhecida pelo público que assiste regularmente a musicais no teatro carioca, Bravo rebobina com personalidade quatro sucessos do trio Sá, Rodrix & Guarabyra - anulando o acento rural de temas como Ama teu Vizinho (Luiz Carlos sá e Zé Rodrix, 1972) e Hoje É Dia de Rock (Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix, 1972), cujo início dá a pista falsa de que a faixa vai cair no reggae - e os entrelaça com músicas dos três primeiros discos individuais de Rodrix. 1º Acto (1973), Quem Sabe Sabe Quem Não Sabe Não Precisa Saber (1974) e Soy Latino Americano (1976) são os álbuns enfocados neste De Pai para Filha, disco que segue a estrada roqueira do primeiro ótimo CD de Bravo, Água Demais por Ti (2009). Trata-se de tributo prestado sem sentimentalismo e sem cheiro de naftalina. Escorada na produção azeitada do guitarrista Bruno Pederneiras e do baterista Pedro Garcia, músicos da Eletro Banda que toca com a cantora no disco e no show, Bravo esbanja energia, vitalidade e força vocal. Qualidade evidentes já em Roupa Prateada (Zé Rodrix, 1974), o rock com vibe de rhythm and blues que abre o disco. Casca de Caracol (Zé Rodrix, 1973) expõe o que talvez seja o único problema do disco: as referências datadas de algumas letras, em especial as escritas sob o impacto do fim do sonho da era hippie. Mas é tamanha a carga de humanidade e afetividade impressa no cancioneiro de Rodrix que isso deixa de ser um problema ao longo das 12 faixas do álbum. Sem saudosismo e com vigor, Bravo apresenta para novas gerações joias como a Primeira Canção da Estrada (Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix, 1972) - encerrada com acordes do piano de Pedro Augusto - e a hard balada Eu Vou Comprar Esse Disco (Zé Rodrix e Lamis, 1976). O som do disco é pulsante. Por mais que uma ou outra faixa soe menos sedutora, caso sobretudo de Hey Man (Zé Rodrix e Tavito, 1979), De Pai para Filha não perde o pique. O eletrizante arranjo de Eu Preciso de Você pra me Ligar (Zé Rodrix, 1973) - faixa em que Bravo cita Quando Será, música que deu título ao álbum lançado por Rodrix em 1977 - é um exemplo da contribuição fundamental da Eletro Banda para a coesão do disco. E, para quem não viveu os anos 70, Bravo rebobina Soy Latino Americano (Zé Rodrix e Livi), delícia pop embebida em latinidade que dominou as paradas em 1976. Para quem viveu, há a balada Quando Você Ficar Velho (Zé Rodrix, 1973), reflexão sobre a passagem do tempo e o mito da juventude eterna tão perseguido nos dias de hoje. Por fim, Mestre Jonas (Zé Rodrix, 1973) - hit do trio Sá, Rodrix & Guarabyra - encerra no mesmo tom roqueiro do início disco que revitaliza e até redimensiona o rock humanitário de Zé Rodrix.
A Marya é muito segura e tem uma banda com ótimos músicos, o CD ficou fantástico!
Que beleza de post, Mauro.
Informativo e crítico, ao mesmo tempo e na dose certa.
Tomara que o trabalho dessa cantora fantástica seja mais conhecido de agora em diante.
abração,
Denilson
Gosto muito do trabalho de Marya, desde que ouvi o seu outro CD, o que tem "Nós". Ainda não ouvi todo o CD com músicas de Zé Rodrix, apenas algumas faixas, assim como assisti a alguns vídeos do show que foram postados no youtube. E sei que é tudo muito bom!!
Trata-se, na minha opinião, de uma cantora pronta, das melhores que estão surgindo. Só falta mesmo o Brasil conhecer. Que seja o mais breve possível.
Abraços gerais,
Gilvandro Filho
Marya nasceu com luz própria. Em duas oportunidades tive o grande prazer de vê-la se exibir ao vivo. Ela se apresenta num espetáculo de teatro com a mesma naturalidade cantando mpb como também executa uma nota alta com a simplicidade que solta outra baixa.
Tem o domínio absoluto do palco e do espaço, se adona da platéia como uma veterana e brilha como uma Super Nova.
Essa é a Marya, filha de Lizzie, que conheci.
Essa é a Marya que hoje apresenta com brilhantismo, o trabalho de Zé Rodrix, seu pai.
Realmente o CD é fantástico...não me canso de ouvir Casa de Caracol!! ficou muito boa.
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