Título: Charme, Talento & Gostosura
Artista: Gretchen
Gravadora: Discos Copacabana / EMI / Microservice
Cotação: * * *
Em 1983, Gretchen ganhou samba-rock composto para ela por ninguém menos do que Jorge Ben. Embevecido com as formas da artista, Ben lhe deu Ela Tem Raça, Charme, Talento e Gostosura, tema gravado pela cantora com Luís Vagner, um dos pioneiros do samba-rock. Além de ter inspirado o título da coletânea Charme, Talento & Gostosura, editada pela Microservice com produção de Rodrigo Faour, a música de Ben figura obviamente entre as 14 gravações. O zelo de Faour é o diferencial desta compilação para outras já editadas pela EMI Music, gravadora que comprou o acervo da extinta Copacabana (atualmente sob licença para a Microservice). Além de escrever texto que contextualiza o aparecimento da carioca Maria Odete Brito de Miranda na cena musical brasileira do fim dos anos 70, Faour reproduz no encarte as capas dos principais compactos e LPs lançados por Gretchen. O capricho da edição justifica a compra de coletânea que, a rigor, rebobina os mesmos poucos hits dessa cantora de poucos dotes vocais. O melhor deles é Conga, Conga, Conga (1980), contagiante tema embebido em latinidade. Como quase todas as músicas gravadas por Gretchen, Conga, Conga, Conga é da lavra do argentino Santiago Malnati, o Mister Sam, empresário que descobriu Gretchen em programa de calouros no qual ela interpretava Dance a Little Bit Closer, sucesso da efêmera Charo na era das discotecas. Sam criou então a figura e o marketing de Gretchen, que - após cantar no grupo infanto-juvenil As Melindrosas - se lançou como Gretchen no mercado fonográfico em 1978 com compacto com Dance With me (Mister Sam), música que perseguia a batida do hit de Charo e que fez sucesso na era da disco music. Com gemidos e coreografias erotizadas que exploravam as belas formas de seu corpo, Gretchen iniciou então seu reinado nas paradas. Segundo sucesso da cantora, Freak Le Boom Boom (Mister Sam, 1979) a manteve em evidência e prolongou seus minutos de fama por alguns anos. A rigor, os reais sucessos d'A Rainha do Bum Bum - epíteto surgido por conta de Freak Le Boom Boom - foram gravados entre 1978 e 1982, ano de seu último hit, Melô do Piripipi (Je Suis la Femme), outro acerto de Mister Sam pela levada irresistível do tema. Depois de 1982, Sam tentou em vão repetir a fórmula do sucesso em temas como Break Boom Boom (1984). O desespero culminou com a gravação de I Was Born to Love You (Freddie Mercury) em 1987. Gretchen erotizou o sucesso do Queen com tom lascivo que somente ressaltou o fato de ela ser cantora inexpressiva - como atesta nesta coletânea sua gravação em espanhol da suingante balada Toda Mañana (Kamargus, 1983). Ainda assim, Charme, Talento & Gostosura cumpre a função de expor o melhor de Gretchen. Como quase todas as gravações da artista caíram no esquecimento, a compilação traz à tona a folia árabe de Allah-la-ô, My Love (Mister Sam, 1982) e o samba para gringo ver esboçado no tema sintomaticamente intitulado Carmen Miranda (Mister Sam, 1981). No geral, o som de Gretchen era dançante e embebido em latinidade. A pobreza das letras e melodias é incostestável. Mas o ritmo - veículo para a exposição da rebolativa Gretchen - às vezes é sedutor. Seja como for, Gretchen marcou época na música brasileira. O que justifica a edição de mais uma coletânea - a melhor delas pelo capricho de Faour - mais de 30 anos após seu aparecimento nos (bons) tempos da disco music.
28 comentários:
Em 1983, Gretchen ganhou samba-rock composto para ela por ninguém menos do que Jorge Ben. Embevecido com as formas da artista, Ben lhe deu Ela Tem Raça, Charme, Talento e Gostosura, tema gravado pela cantora com Luís Vagner, um dos pioneiros do samba-rock. Além de ter inspirado o título da coletânea Charme, Talento & Gostosura, editada pela Microservice com produção de Rodrigo Faour, a música de Ben figura obviamente entre as 14 gravações. O zelo de Faour é o diferencial desta compilação para outras já editadas pela EMI Music, gravadora que comprou o acervo da extinta Copacabana (atualmente sob licença para a Microservice). Além de escrever texto que contextualiza o aparecimento da carioca Maria Odete Brito de Miranda na cena musical brasileira do fim dos anos 70, Faour reproduz no encarte as capas dos principais compactos e LPs lançados por Gretchen. O capricho da edição justifica a compra de coletânea que, a rigor, rebobina os mesmos poucos hits dessa cantora de poucos dotes vocais. O melhor deles é Conga, Conga, Conga (1980), contagiante tema embebido em latinidade. Como quase todas as músicas gravadas por Gretchen, Conga, Conga, Conga é da lavra do argentino Santiago Malnati, o Mister Sam, empresário que descobriu Gretchen em programa de calouros no qual ela interpretava Dance a Little Bit Closer, sucesso da efêmera Charo na era das discotecas. Sam criou então a figura e o marketing de Gretchen, que - após cantar no grupo infanto-juvenil As Melindrosas - se lançou como Gretchen no mercado fonográfico em 1978 com compacto com Dance With me (Mister Sam), música que perseguia a batida do hit de Charo e que fez sucesso na era da disco music. Com gemidos e coreografias erotizadas que exploravam as belas formas de seu corpo, Gretchen iniciou então seu reinado nas paradas. Segundo sucesso da cantora, Freak Le Boom Boom (Mister Sam, 1979) a manteve em evidência e prolongou seus minutos de fama por alguns anos. A rigor, os reais sucessos d'A Rainha do Bum Bum - epíteto surgido por conta de Freak Le Boom Boom - foram gravados entre 1978 e 1982, ano de seu último hit, Melô do Piripipi (Je Suis la Femme), outro acerto de Mister Sam pela levada irresistível do tema. Depois de 1982, Sam tentou em vão repetir a fórmula do sucesso em temas como Break Boom Boom (1984). O desespero culminou com a gravação de I Was Born to Love You (Freddie Mercury) em 1987. Gretchen erotizou o sucesso do Queen com tom lascivo que somente ressaltou o fato de ela ser cantora inexpressiva - como atesta nesta coletânea sua gravação em espanhol da suingante balada Toda Mañana (Kamargus, 1983). Ainda assim, Charme, Talento & Gostosura cumpre a função de expor o melhor de Gretchen. Como quase todas as gravações da artista caíram no esquecimento, a compilação traz à tona a folia árabe de Allah-la-ô, My Love (Mister Sam, 1982) e o samba para gringo ver esboçado no tema sintomaticamente intitulado Carmen Miranda (Mister Sam, 1981). No geral, o som de Gretchen era dançante e embebido em latinidade. A pobreza das letras e melodias é incostestável. Mas o ritmo - veículo para a exposição da rebolativa Gretchen - às vezes é sedutor. Seja como for, Gretchen marcou época na música brasileira. O que justifica a edição de mais uma coletânea - a melhor delas pelo capricho de Faour - mais de 30 anos após seu aparecimento nos (bons) tempos da disco music.
Para mim, essa pessoa foi uma das responsáveis pelo inicio do empobrecimento da música no Brasil. Abriu o infeliz portão para outras do gênero como Rita Cadillak, Carla Peres , etc ... um capítulo do Brasil que não faço questão nenhuma de lembrar.
Acho Gretchen sensacional. Dsempenhou bem aquilo que se propôs. Não adianta olhar pro lado popular da música com olhos de preconceito. Quem há de negar que suas músicas não eram contagiantes?
Nada contra Gretchen, ela tem seu valor, 'conga' é mesmo uma grande música, só acho que não dá para dizer que ela é cantora, isso chega a ser uma ofensa com as que cantam pra valer
Gretchen é uma brincadeira bem legal!!!
Mesmo com todo o apelo comercial que envolveu o mito erótico chamado Gretchen, diante da mesmice e da borocochozice que virou a mpb de agora, para ser mais específico, eu prefiro a obra dessa "cantora" do que a de uma Wanessa da Mata, por exemplo. Aliás, Gretchen já pode - e deve - servir de inspiração para quem acha o máximo que escrever uma "canção" que diz "bala juquinha, algodão doce, manjar" etc. Abobrinhas confeitadas.
Ao contrário disso, o primitivismo musical de Gretchen 70 é extremanente cult e muito, muito interessante.
Quanto à compilação, faço ressalva apenas quanto à capa sem-graça, que não faz jus ao conteúdo e lembra uma caixa de bombom Garoto. Porém eu relançaria os álbuns originais na íntegra. Ela merece.
E só para completar: ela não é uma das personalidades responsáveis pelo empobrecimento da mpb atual, e sim os seguintes nomes em ordem cronológica: a banda Blitz (começo do tecnopop 80), Xuxa (rainha dos teclados bregas), Luiz Caldas (criador da axé méllsec), Chitãozinho & cia (pais do sertanejo-de-rodeio), Mastruz com Leite (pais do eletro-forró) e, mais recentemente, Padre Marcelo Rossi (criador do movimento pastores-galãs). Gretchen, infelizmente, não teve sucessoras à altura. Rita Cadillac fez pouco mais de um hit, e pronto.
E não é à-toa que uma das faixas da "rainha do bumbum" entrou na nova compliação do projeto ultrachic "Red Hot + Rio 2", da RH Organization ao lado de grandes nomes frequentadores das capas da Rolling Stone.
KL
Marisa Monte gravou "Não é proibido" (musica da bala juquinha), assim como muitos outros grandes artistas cometeram equivocos em sua carreira. Ex: Maria Bethânia gravou É o amor da dupla horrenda Zeze di Camargo e Luciano, Gal Costa gravou umas coisas bem bregas nos anos 80, assim como Zizi Possi, mas sempre insistem em citar a Marisa como a artista da MPB que comete deslizes (mínimos é verdade), mas mesmo assim ainda prefiro os deslizes da Marisa do que as outras, pois gravar Zeze di Camargo é demais.
Marisa cometeu deslizes maiores André... Amor I Love You é muito pior que Conga! E chega de caretice meu povo!
André, Marisa cometeu deslizes muito maiores que Não é proibido. "Amor I Love You" é muito pior que Conga de Gretchen! Chega de caretice! Parabéns ao Mauro por ter coragem de dar 3 estrelas pra um álbum cercado de preconceitos.
Charme e Gostosura sim, mas Talento (musical) tá difícil a Gretchen ter...
Nunca imaginei ver uma resenha sobre um cd da Gretchem por aqui, mas adorei ler
Por mais que o Faour tenha caprichado na edição, o conteúdo "musical" não justifica a compra, nem mesmo a crítica muito bem elaborada pelo Mauro. A MPB pode ter virado uma "bosta", caído no marasmo e na mesmice, mas não acho a Marisa das melhores coisas do mundo não. Bethânia gravar temas, digamos, "popularescos", isso é recorrente na carreira dela, não há o que estranhar. A breguice dos anos 80 atingiu a maioria das nossas grandes cantoras.
Eu não troco nada disso por coisas como essa aí.
Muito além do preconceito, o mais absurdo aqui é ver os colegas dramatizarem, problematizarem algo que na sua essência é quase circense, infantil e beira a inocência. Mesmo com toda a eroticidade de Gretchen, o que ela fazia (e o fazia muito bem), era muito mais arte do que muita coisa que vemos ser valorizado por aí. Gretchen não pode e nem deve ser levada a sério. Eu ouço Gretchen porque me fa lembrar meu tempo de criança, no qual em festas infantis não se ouvia outra coisa e todos nós crianças dançávamos o "piri-piri", a “Conga” ou o “Le bal masque” e não nos tornamos atores pornográficos ou nos prostituímos por causa disso. Nem a música brasileira ficou pior por causa de Gretchen. Portanto, Eduardo Cáffaro, seu argumento não procede. Nem Gretchen, nem Carla Perez destruíram a música brasileira. Por outro lado, não se pode negar que o “É o Tchan” influenciou a MPB. Quem conhece e ouve música brasileira sabe do que falo.
Quando ouço Gretchen, eu rio. Acho divertidíssimo e engraçado. Mas não tem importância, não é nada. Hoje vejo como quase teatral. É uma personagem que ela criou. Seus gritinhos são ótimos por justamente serem vulgares, piegas, uma eroticidade boba e não sex. Gretchen é ótima sem ser nada.
Eu acho engraçado como as coisas são tão levadas a sério... Gretchen é uma brincadeira. Não dá pra comparar nem ficar discutindo teores musicais , profundos ou não, nesse caso. Podemos entrar em discussão com a breguice de Gal e Marisa Monte, mas meter Gretchen no meio, aí não entendo...
E mais... a eroticidade de Gretchen, era café pequeno diante do veio depois, hoje beira a inocência mesmo. As pessoas esquecem ou são desinformadas que Jane Birkin já havia feito com Sèrge Gainsbourg 'Je t'aime moi non plus', aaaanos atrás e são absolutamente cults!
É que no Brasil o santo do falso moralismo e um purismo vez ou outra baixa no terreiro.
A nova geração está ai processando muito bem tudo isso (de Gretchen a Diana, R. Rossi, Odair José) sem preconceitos.
Bem lembrada KL a inclusão de 'Freak le boom boom' no Red Hot + Rio 2, uma coletânea conceituadíssima.
Tambem nao acbo que Gretchen tenha empobrecido a MPB nao. Como ja disseram aqui, ela fez muito bem o que se propos..nao eh uma cantora mas uma excelente performer. Esta bem acima do que muitas cantoras pre-fabricadas da MPB estao.
Odeio esses Xiitas fundamentalistas do Blog de Mauro. Deixa Gretchen ai.
Questão de gosto ! Deliciem-se. Eu não gosto e mantenho minha opinião.
Abs.
"O Gosto". As pessoas sempre apelam para o famigerado "gosto" quando os argumentos se findam. Os puristas merecem o paredão. Esses mesmos puristam esculacham o pagode, a música baiana, o funk por mero preconceito regional e racial, estes que eles não assumem, então preferem depreciar a música dos pretos, dos pobres, dos baianos e cariocas, pois esta é uma estratégia legal do ponto de vista jurídico. É tudo camuflado, enrustido. São infelizes.
Como cantou João "você não sabe amar meu bem, não sabe o que é o amor. Nunca sofreu , nunca viveu... querer saber mais que eu..."
Vou comprar!!!
Gosto de Bethânia, de Gal, de Marisa Monte, A-D-O-R-O Exaltasamba, ... e gosto de Gretchen também. Só não gosto de coletâneas mas, na falta das réplicas dos discos originais, vou curtindo a coletânea mesmo.
A música é bela mas tem momentos e locais em que fica chato ouvir Bethânia, etc e tal. E em determinados momentos É o Tchan, pagode, e escambal torna-se a melhor opção. Vai dizer que na beira de uma piscina, tomando uma gelada, na maior curtição vai-se ouvir Caetano, Gadu? É pagode, Axé, Forró, Brega. É GRETCHEN tocando pra ver as minas rebolando.
Abs pra todos!!
Cunha,
É isso aí!
Gretchen BOMBOU no post!
E foi bom que tenha "bombado" e bombardeado os puristas sem amor. Comparar seguimentos pops ou mesmo popularescos com seguimentos considerados eruditos como MPB e Bossa Nova é no mínimo leviano e pretensão fútil. Vejam: o artista que mais admiro no planeta é João Gilberto, depois vem Billie Holiday, depois Maria Bethânia e aí vem Gal Costa, Caetano, Gil, Callas, Piaf, Sosa etc. Por que um indivíduo que ouve essa música tão sublime e sofisticada pode ouvir Gretchen eventualmente numa festinha em casa ou mesmo É o Tchan? Porque não tem preconceito musical ou porque tem mau gosto musical? Difícil saber. Se eu não tivesse preconceito musical ouviria Zezé de Camargo e Luciano e eu os detesto. Mas adoro Pena Branca e Xavantinho... E aí? Prefiro agir como uma criança que - considerada pela filosofia “o filósofo primaz”, pela sua capacidade de se admirar com tudo sem preconceber ideais e valores - apenas gosta. Eu não gosto de Gretchen a ponto de ser chamado fã, mas jamais vou admitir que falem asneiras que tentam conservar a pureza inexistente na música ou na etnia. Estas que não existem. O ser humano e toda sua criação são nada mais que mestiços no planeta.
""Se eu não tivesse preconceito musical ouviria Zezé de Camargo e Luciano e eu os detesto. Mas adoro Pena Branca e Xavantinho... E aí?""
Como eu disse. Questão de gosto. Afinidade. E opiniões contrárias deveriam ser respeitadas !
Sou fã da Gretchen desde o inicio de sua brilhante carreira brilhante.A amo demais...ela continua linda e maravilhosa...Realizei um sonho conversando com ela recentemente num grande show onde ela se apresentou linda e cheia de talento como sempre...
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