Título: Nossa Alegria
Artista: Manu Santos
Gravadora: Sala de Som
Cotação: * * * 1/2
É sintomático que Manu Santos apareça na praia - com signos afro-brasileiros nos adereços de seu vestuário - nas fotos expostas na capa, contracapa e encarte de seu primeiro CD, Nossa Alegria. Produzido por André Agra e Rodrigo Santiago, o CD situa a cantora carioca na praia afro-brasileira entre Rio de Janeiro e Bahia. Há certa baianidade na cadência do samba Domingo É Dia (Moacyr Luz e Rogério Batalha) e, claro, no ijexá Mulher Jangadeira, de lavra de Rodrigo Santiago, autor também de Canto pro Mar. Com leveza e brejeirice no canto afinado, Manu fica bem à vontade nessa praia que abarca sambas de paisagem marítima. Em águas cosmopolitas, Eu Vou Cair na Balada (Giana Viscardi e Michi Ruzitschka) é tema que evoca cenário totalmente urbano que bem pode ser a Lapa, o efervescente bairro do Centro carioca que projetou a voz de Manu. A faixa é adornada com sopros vigorosos que, arranjados por André Agra, valorizam a música e as regravações de Lua de São Jorge (Caetano Veloso) - outro tema que reforça a identidade afro-brasileira do disco - e do samba Deixa Eu Dizer (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza), lançado por Claudia em 1973 e resgatado por Marcelo D2 em 2008 ao samplear o refrão da gravação definitiva de Claudia em sua música Desabafo. Habitualmente simpático, Nossa Alegria soa trivial somente em Uma Flor, parceria de Manu Santos com Rodrigo Santiago que sinaliza que a cantora jamais deve subjugar seu canto ao ofício de compositora. É fato também que o lirismo de Un Vestido y un Amor (Fito Paez) já foi realçado com mais nitidez por outras vozes de maior carga sentimental. Também sem brilho especial, Manu ainda repisa Chão de Jardim - parceria de George Israel com Marcelo Camelo - e esboça tom mais interiorizado ao interpretar O Samba me Diz (Fred Martins e Marcelo Diniz). Já Lugar Comum (João Donato e Gilberto Gil) se impõe mais no disco por se aproximar da rítmica nordestina em rota urdida pelo acordeom de Marcelo Caldi. E, no saldo final, Nossa Alegria deixa impressão positiva. Nos primeiros instantes de Calma (Giana Viscardi e Michi Ruzitschka), o samba que abre o disco, há a impressão de que Manu Santos vai soar como mero clone de Roberta Sá. Quando o CD termina, com o afro-samba Eu Só Quero Beber Água (Moacyr Luz) que situa a cantora em sua praia habitual, tal impressão já se desfez por completo. Manu Santos há de trazer muita alegria para o nosso populoso país de cantoras.
6 comentários:
É sintomático que Manu Santos apareça na praia - com signos afro-brasileiros nos adereços de seu vestuário - nas fotos expostas na capa, contracapa e encarte de seu primeiro CD, Nossa Alegria. Produzido por André Agra e Rodrigo Santiago, o CD situa a cantora carioca na praia afro-brasileira entre Rio de Janeiro e Bahia. Há certa baianidade na cadência do samba Domingo É Dia (Moacyr Luz e Rogério Batalha) e, claro, no ijexá Mulher Jangadeira, de lavra de Rodrigo Santiago, autor também de Canto pro Mar. Com leveza e brejeirice no canto afinado, Manu fica bem à vontade nessa praia que abarca sambas de paisagem marítima. Em águas cosmopolitas, Eu Vou Cair na Balada (Giana Viscardi e Michi Ruzitschka) é tema que evoca cenário totalmente urbano que bem pode ser a Lapa, o efervescente bairro do Centro carioca que projetou a voz de Manu. A faixa é adornada com sopros vigorosos que, arranjados por André Agra, valorizam a música e as regravações de Lua de São Jorge (Caetano Veloso) - outro tema que reforça a identidade afro-brasileira do disco - e do samba Deixa Eu Dizer (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza), lançado por Claudia em 1973 e resgatado por Marcelo D2 em 2008 ao samplear o refrão da gravação definitiva de Claudia em sua música Desabafo. Habitualmente simpático, Nossa Alegria soa trivial somente em Uma Flor, parceria de Manu Santos com Rodrigo Santiago que sinaliza que a cantora jamais deve subjugar seu canto ao ofício de compositora. É fato também que o lirismo de Un Vestido y un Amor (Fito Paez) já foi realçado com mais nitidez por outras vozes de maior carga sentimental. Também sem brilho especial, Manu ainda repisa Chão de Jardim - parceria de George Israel com Marcelo Camelo - e esboça tom mais interiorizado ao interpretar O Samba me Diz (Fred Martins e Marcelo Diniz). Já Lugar Comum (João Donato e Gilberto Gil) se impõe mais no disco por se aproximar da rítmica nordestina em rota urdida pelo acordeom de Marcelo Caldi. E, no saldo final, Nossa Alegria deixa impressão positiva. Nos primeiros instantes de Calma (Giana Viscardi e Michi Ruzitschka), o samba que abre o disco, há a impressão de que Manu Santos vai soar como mero clone de Roberta Sá. Quando o CD termina, com o afro-samba Eu Só Quero Beber Água (Moacyr Luz) que situa a cantora em sua praia habitual, tal impressão já se desfez por completo. Manu Santos há de trazer muita alegria para o nosso populoso país de cantoras.
Adoro o seu blog, sempre recheado de novidades musicais.
abraços
Pelas duas ou três faixas que já ouvi desse disco da Manu, gostei bastante, mas não acho que vá me surpreender com a sonoridade. Agora, após ler sua crítica, dá pra imaginar que realmente não teremos surpresas. Apenas uma bela voz, um bom repertório, um disco agradável, bem produzido... "apenas"?! Bem, e isso não é o bastante?! rsrs
Em suma: vem aí um bom disco, uma competente cantora. De resto, só ouvindo o álbum todo (e com calma) pra escrever melhor sobre.
Adentre em nossos ouvidos, Manu!
O importante é ser um bom, um disco não tem que surpreender, não tem que inovar
a falta de criatividade hoje parece que é geral: a *foto* dessa *capa*, por exemplo, é igualzinha àquela do cd Nana Caymmi-Sem Poupar Coração.
Hoje se veem as mesmas poses previsíveis, o mesmo tipo de iluminação, os mesmos ângulos. Fotógrafos clicam sempre a mesma expressão facial. E, para completar, os títulos das *obras* chegam ao cúmulo de ser a reprodução do que traz a imagem. Exemoplo: se o título é *Música para Churrasco*, colocam a imagem de linguiças. Se o título traz a palavra Alegria, como esse, daí vem a moça com uma cara alegre.
Pelo amor de César Villela, aonde foi parar a criatividade e a falta de vergonha?
E mais: artisticamente falando, não há uma obra realmente boa que não nos surpreenda de alguma forma. O resto é papo de fã, que ninguém deveria levar a sério.
já tive o prazer de ouvir Manu ao vivo no show que fazia com João pinheiro com as canções do disco Chico e Bethânia ,e de cara me surpreendeu a potencia vocal dela .
Um belo timbre ,afinada e com uma presença de palco .
já ouvi algumas faixas do cd que me agradaram bastante , e estou ansioso para ter o cd tocando aqui em casa.
Tenho acompanhado seu Blog faz pouquinho tempo mauro e gostado bastante . torcendo pra algum dia ver você falar de algum dos meus trabalhos :)
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