Mauro Ferreira no G1

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domingo, 7 de agosto de 2011

Show 'Bibi in Concert IV' reitera que Bibi Ferreira já é o espetáculo por si só

Resenha de show
Título: Bibi in Concert IV - 70 Anos de Histórias e Canções
Artista: Bibi Ferreira (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Dulcina (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 6 de agosto de 2011
Cotação: * * * * *
Em cartaz de sexta-feira a domingo, até 14 de agosto de 2011, no Teatro Dulcina (RJ)

Bibi Ferreira é, por si só, o espetáculo. Aos 89 anos, completados em 10 de junho, a grande atriz sempre se portou em cena como uma cantora igualmente grande, de repertório poliglota, interpretado com pronúncia, afinação e emissão sempre perfeitas. Daí que soa perfeitamente natural que a artista celebre seus 70 anos de carreira - iniciada em abril de 1941 - com um show que fica em cartaz até 14 de agosto de 2011 no reinagurado Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro (RJ). Sem qualquer ação dramática, Bibi in Concert IV - 70 Anos de Histórias e Canções - bela sequência da série de recitais estreada em abril 1991 - encadeia canções que, de certa forma, contam a história de Bibi. Dona dessa história gloriosa, a própria Bibi assina a criação e o roteiro do espetáculo com Flávio Mendes e Nilson Raman. Com seu habitual magnetismo, a intérprete atrai todas as atenções da plateia em cerca de uma hora de recital, apresentado com septeto sob a direção musical do maestro e violonista Flávio Mendes. A moldura orquestral realça o tom clássico do repertório. Aberto com By a Waterfall (Sammy Fain e Irving Kahal), doce lembrança da face romântica de Hollywood, o roteiro prossegue com Oh, You Nasty Man (Rat Henderson, Irving Ceasar e Jack Yellen) - número que evoca a era do swing do jazz - e revive na sequência a era dourada do rádio brasileiro e do samba-canção através de medley que aglutina sucessos como Nossos Momentos (Haroldo Barbosa e Luis Reis), Onde Anda Você? (Hermano Silva e Vinicius de Moraes), Nem Eu (Dorival Caymmi), Meiga Presença (Paulo Valdez e Otávio de Moraes), As Praias Desertas (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Eu Sei que Vou te Amar (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Falante, senhora da cena, Bibi se permite a ousadia de encaixar a letra escrita pelo poeta Gonçalves Dias (1823 - 1864) para a Canção do Exílio na melodia criada por Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) para o Samba de Uma Nota Só. E não é que, com Bibi, funciona? Tudo funciona, aliás. Firme na interpretação e no canto, a atriz-cantora se segura bem nas quebradas do samba de breque Minha Palhoça (Se Você Quisesse) - um dos clássicos do repertório de Moreira da Silva (1902 - 2000), mestre do gênero - e mostra que domina bem a linguagem da obra de Noel Rosa (1910 - 1937), expondo sem melodrama a melancolia de Último Desejo (Noel Rosa), realçando o humor de Não Tem Tradução (Noel Rosa, Ismael Silva e Francisco Alves)e engatando uma veloz Conversa de Botequim (Noel Rosa e Vadico). Após o medley com temas de Noel, Bibi revive as duas composições mais conhecidas da trilha sonora composta por Chico Buarque para o musical Gota d'Água (1975), marco de sua carreira como atriz de teatro. Gota d'Água ressurge no tempo da delicadeza, de início recitada. Basta um Dia ganha registro de tom mais dramático, condizente com o caráter passional da peça. Ainda dentro da seara dos musicais, a artista recorda temas de espetáculos que encenou no Brasil com grande sucesso, passeando pelas músicas mais emblemáticas das trilhas sonoras de O Homem de la Mancha (1972), Alô, Dolly! (1965), Minha Querida Lady (1962). É com espantosa desenvoltura que Bibi encara temas como Eu Dançava Assim, a versão em português (feita por Victor Berbara) de I Could Have Danced All Night (Alan Jay Lerner e Frederick Loewe), clássico de My Fair Lady. Mas Bibi vai além e apresenta também temas de musicais que gostaria de ter encenado - casos de America (Leonard Bernstein e Stephen Sondhein) e de Memory (Andrew Lloyd Webber), sucessos de West Side Story e Cats, respectivamente. Memory, em especial, é ponto alto de show que ainda surpreende quando Bibi pisa com firmeza no sertão nordestino para cantar Perseguição (Sérgio Ricardo e Glauber Rocha) - música do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol - e Ponteio, tema agalopado de Edu Lobo e Capinam que consagrou Edu em festival de 1967 e que evidencia o apurado senso rítmico de Bibi, atriz que encarnou tão bem Edith Piaf (1915 - 1963) que tomou para si - com propriedade - o cancioneiro da artista francesa. E é por isso que Bibi in Concert IV encerra com La Vie en Rose, Hymme à L'Amour e Non, Je Ne Regrette Rien. E é por isso que Bibi-Piaf repete La Vie en Rose no bis, a pedidos da embevecida plateia, que já entendeu que - a caminho dos 90 anos - Bibi Ferreira é cada vez mais o espetáculo.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Bibi Ferreira é, por si só, o espetáculo. Aos 89 anos, completados em 10 de junho, a grande atriz sempre se portou em cena como uma cantora igualmente grande, de repertório poliglota, interpretado com pronúncia, afinação e emissão sempre perfeitas. Daí que soa perfeitamente natural que a artista celebre seus 70 anos de carreira - iniciada em abril de 1941 - com um show que fica em cartaz até 14 de agosto de 2011 no reinagurado Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro (RJ). Sem qualquer ação dramática, Bibi in Concert IV - 70 Anos de Histórias e Canções - bela sequência da série de recitais estreada em abril 1991 - encadeia canções que, de certa forma, contam a história de Bibi. Dona dessa história gloriosa, a própria Bibi assina a criação e o roteiro do espetáculo com Flávio Mendes e Nilson Raman. Com seu habitual magnetismo, a intérprete atrai todas as atenções da plateia em cerca de uma hora de recital, apresentado com septeto sob a direção musical do maestro e violonista Flávio Mendes. A moldura orquestral realça o tom clássico do repertório. Aberto com By a Waterfall (Sammy Fain e Irving Kahal), doce lembrança da face romântica de Hollywood, o roteiro prossegue com Oh, You Nasty Man (Rat Henderson, Irving Ceasar e Jack Yellen) - número que evoca a era do swing do jazz - e revive na sequência a era dourada do rádio brasileiro e do samba-canção através de medley que aglutina sucessos como Nossos Momentos (Haroldo Barbosa e Luis Reis), Onde Anda Você? (Hermano Silva e Vinicius de Moraes), Nem Eu (Dorival Caymmi), Meiga Presença (Paulo Valdez e Otávio de Moraes), As Praias Desertas (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Eu Sei que Vou te Amar (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Falante, senhora da cena, Bibi se permite a ousadia de encaixar a letra escrita pelo poeta Gonçalves Dias (1823 - 1864) para a Canção do Exílio na melodia criada por Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) para o Samba de Uma Nota Só. E não é que, com Bibi, funciona? Tudo funciona, aliás. Firme na interpretação e no canto, a atriz-cantora se segura bem nas quebradas do samba de breque Minha Palhoça (Se Você Quisesse) - um dos clássicos do repertório de Moreira da Silva (1902 - 2000), mestre do gênero - e mostra que domina bem a linguagem da obra de Noel Rosa (1910 - 1937), expondo sem melodrama a melancolia de Último Desejo (Noel Rosa), realçando o humor de Não Tem Tradução (Noel Rosa, Ismael Silva e Francisco Alves)e engatando uma veloz Conversa de Botequim (Noel Rosa e Vadico). Após o medley com temas de Noel, Bibi revive as duas composições mais conhecidas da trilha sonora composta por Chico Buarque para o musical Gota d'Água (1975), marco de sua carreira como atriz de teatro. Gota d'Água ressurge no tempo da delicadeza, de início recitada. Basta um Dia ganha registro de tom mais dramático, condizente com o caráter passional da peça.

Mauro Ferreira disse...

Ainda dentro da seara dos musicais, a artista recorda temas de espetáculos que encenou no Brasil com grande sucesso, passeando pelas músicas mais emblemáticas das trilhas sonoras de O Homem de la Mancha (1972), Alô Dolly (1965), Minha Querida Lady (1962). É com espantosa desenvoltura que Bibi encara temas como Eu Dançava Assim, a versão em português (feita por Victor Berbara) de I Could Have Danced All Night (Alan Jay Lerner e Frederick Loewe), clássico de My Fair Lady. Mas Bibi vai além e apresenta também temas de musicais que gostaria de ter encenado - casos de America (Leonard Bernstein e Stephen Sondhein) e de Memory (Andrew Lloyd Webber), sucessos de West Side Story e Cats, respectivamente. Memory, em especial, é ponto alto de show que ainda surpreende quando Bibi pisa com firmeza no sertão nordestino para cantar Perseguição (Sérgio Ricardo e Glauber Rocha) - música do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol - e Ponteio, tema agalopado de Edu Lobo e Capinam que consagrou Edu em festival de 1967 e que evidencia o apurado senso rítmico de Bibi, atriz que encarnou tão bem Edith Piaf (1915 - 1963) que tomou para si - com propriedade - o cancioneiro da artista francesa. E é por isso que Bibi in Concert IV encerra com La Vie en Rose, Hymme à L'Amour e Non, Je Ne Regrette Rien. E é por isso que Bibi-Piaf repete La Vie en Rose no bis, a pedidos da embevecida plateia que, a essa altura, já sabe que - a caminho dos 90 anos - Bibi Ferreira é cada vez mais o espetáculo.

Pensiero disse...

Estive no show, Mauro. Fiquei bem impressionado com a voz da Bibi, na idade que ela tem.
Fiquei bem emocionado ao vê-la(ouvi-la) recitando trecho do Gota D'água. Muito, muito bom.
E a naturalidade e bom humor que só quem tem a experiência de palco que ela tem, é capaz de ter.

Luca disse...

acho que o Mauro perde o senso crítico quando fala de Bibi mas dou a mão a palmatória: uma mulher que faz show aos 89 anos com um repertório desses é mesmo um espetáculo. Se Bibi IV vier a a São Paulo, estarei na platéia.

KL disse...

a prova viva de que, tecnicamente bem colocada, uma voz mantém seu brilho e sua força. Lição para ainda consegue ouvir algumas vozes que se tornaram famosas até meados dos anos 1970 mas que, hoje, cantam e gravam apenas para satisfazer aos fãs, que compram qualquer coisa.

Eulalia Moreno disse...

Bibi é uma ENTIDADE!!! Salve Bibi! Se vier para São Paulo, estarei na platéia e no final farei como Irene Ravache fez no final da apresentação do musical Amália: me ajoelharei!!
Obrigada Mauro por tudo de bom que as suas críticas nos trazem. Voce é um formador de opinião musical. Um farol que nos guia através dos nevoeiros e turbulências de tanta coisa de mau gosto e nos orienta rumo a trabalhos de qualidade. Ainda estou aqui sufocada de emoção pela Cida Moreira na Fecap, dia 6 de Agosto.
Abraço grande
Eulalia