A bordo com seu violão, MoMo cruza mar da solidão com belas melodias

Resenha de CD
Título: Serenade of a Sailor
Artista: MoMo
Gravadora: Pimba / Tratore
Cotação: * * * * 1/2

Revelação da música brasileira há cinco anos por conta de seu primeiro álbum, A Estética do Rabisco (2006), o cantor e compositor mineiro Marcelo Frota - radicado na cena carioca com o nome artístico de MoMo - navegou pelo folk psicodélico no posterior Buscador (2008) até aportar neste belíssimo Serenade of a Sailor, editado neste ano de 2011 pelo selo Pimba, vinculado à gravadora Dubas Música. Sem psicodelia, mas ainda imerso no universo folk, MoMo cruza o mar da solidão neste álbum de tom intimista e melancólico, cantado em inglês e em português sem arroubos vocais que poderiam evidenciar os limites do artista como intérprete. Nessa viagem marítima, o artista é conduzido a bordo por seu violão. "...Às vezes eu me sinto assim tão só / Pescador em alto mar", situa o marujo solitário em versos de Pescador, doída faixa pontuada por um cello que realça a melancolia do tema. Serenade of a Sailor enfrenta essas ondas confessionais sem afundar. E o que emerge desse mar são belas melodias que fazem o disco roçar o status de obra-prima. A solidão é tema recorrente na viagem a ponto de batizar o tema instrumental Solitude. "My baby is gone / She left me here waiting for the sun / She took me to paradise / And now I'm alone", lamenta MoMo nos versos iniciais de Shining Star, outra melodia linda de doer. Produzida pelo próprio MoMo com sonoridade que parece tão vintage quanto paradoxalmente contemporânea, a serenata do pescador é conduzida pelo violão de nailon, mas é orquestrada com a ajuda de músicos hypados como Domenico Lancellotti (percussão em Shining Star e bateria em Blue Bird) e Max Sette (trompete em Blue Bird e no tema instrumental, Serenade of a Sailor, que fecha o disco e o batiza). Ciente de que a emoção é o combustível que move qualquer serenata, no mar ou na terra, o marujo abre o coração com a coragem dos que costumam ser rotulados (por uma minoria cínica) de kitsch ou, em bom português, cafona. "Um dia você vai entender / Que o que vale é o sentimento", sentencia em Barco. "Felicidade é caminhar sem ter medo / De acreditar no coração", prega em Tenho que Seguir, um dos onze temas autorais do CD. MoMo assina nove solitariamente. As exceções são O Morro e Madelaine, parcerias com o baixista Caetano Malta. Madelaine é sopro de leveza que conduz o barco de MoMo por águas em que o marujo seresteiro se banha com alguma esperança e fé no amor. Mas Serenade of a Sailor é grande disco triste que, apesar de cruzar em alguns momentos mares melódicos desbravados pelo ora desativado grupo carioca Los Hermanos, reitera a personalidade e o talento de MoMo.