Título: Tim Maia - Vale Tudo, o Musical
Texto: Nelson Motta
Direção: João Fonseca
Elenco: Tiago Abravanel (em foto de Paula Kossatz), Isabella Bicalho, Lilian Valeska, Pedro Lima,
André Vieri, Bernardo La Roque, Reiner Tenente, Evelyn Castro, Pablo Ascoli, Anna
Carbatti e Leticia Pedroza
Cotação: * * * *
♪ Em cartaz no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro (RJ), até 4 de setembro de 2011
♪ É impressionante! Ator de musicais até então mais conhecido por ser neto do empresário e apresentador de TV Silvio Santos, Tiago Abravanel dá show na pele de Tim Maia (1942 - 1998). Fenomenal, Abravanel faz valer cada minuto das cerca de três horas de duração do musical Tim Maia - Vale tudo, em cartaz de quinta-feira a domingo no Teatro Carlos Gomes no Rio de Janeiro (RJ) até 4 de setembro de 2011. Com interpretação de peso (com trocadilho) e caracterizações perfeitas que reproduzem com fidelidade o visual de todas as fases de Tim, Abravanel sustenta a encenação e lidera elenco excelente que dá vida aos personagens que rodearam a existência tão gloriosa quanto atribulada do cantor. Com alguns recursos de metalinguagem, o texto de Nelson Motta transporta para o palco os fatos e casos contados na biografia escrita pelo próprio Motta. Esse texto ganha vida na encenação ágil e pop orquestrada pelo diretor João Fonseca. E, como a trilha sonora é de primeira qualidade, o resultado é um musical excepcional - eletrizante, em alguns momentos - que jamais tentar clonar o padrão imposto pela Broadway. Para quem não leu o livro e conhece apenas superficialmente a história de Tim Maia, o musical expõe sem didatismos, mas com altas doses de informação e humor, os fatos mais relevantes da vida e da carreira do artista, desde o começo na Tijuca - o bairro carioca onde Tim conheceu Erasmo Carlos e Roberto Carlos (encarnado de forma impagável por Reiner Tenente), com quem formou o conjunto The Sputniks - até a consagração nacional em 1970. Há, a rigor, um único erro histórico no texto, quando é dito que Tim gravou seu primeiro compacto com a balada soul Primavera (Cassiando e Silvio Roachel). Na realidade, o compacto com Primavera foi o terceiro do cantor, pois Tim iniciou sua carreira fonográfica em 1968 com obscuro compacto gravado na CBS com as músicas Meu país e Sentimentos e, depois, ainda gravou outro compacto pela Fermata sem a menor repercussão. Mas isso é detalhe realmente pequeno diante da grandiosidade do que se vê no palco do Teatro Carlos Gomes. E o que se vê é um convincente Tim Maia. Abravanel parece ter captado de forma mediúnica - com perdão do clichê - todo o maroto jeito de ser do Síndico. E, quando ele solta a voz embebida em soul e de timbre similar ao de Tim, não resta a menor dúvida: Tiago Abravanel é mesmo Tim Maia ao longo das três horas do musical. Das 26 músicas do roteiro, quase todas são sucessos de Tim cantados em todo o Brasil por um público de A a Z. A (boa) surpresa é Cross my heart (Tim Maia), mix de soul e r & b que ilustra a influência que a viagem aos Estados Unidos, nos anos 60, exerceu no som de Tim. Famosas ou não, todas as músicas soam reconhecíveis em cena. Com esperteza, o diretor musical Alexandre Elias segue a pegada dos arranjos das gravações originais e o balanço da Banda Vitória Régia. A exceção é com Gostava tanto de você (Edson Trindade), cantada sem a levada original de samba-soul para ilustrar o rompimento de Tim com sua então mulher Janete (Lilian Valeska, ótima atriz e cantora de voz soul que dueta com Abravanel em números como Eu amo você). E o fato é que os números musicais são quase todos arrebatadores, com destaque no primeiro ato para a sequência com These are the songs (Tim Maia), Padre Cícero (Tim Maia) e Coroné Antonio Bento (João do Valle e Luiz Vanderley). No segundo ato, Chocolate (Tim Maia) delicia de imediato no vibrante número coletivo que remete às viagens de Tim com o LSD. A bela e a fera (Chico Buarque e Edu Lobo) - gravação de 1983 que aparece fora de época na narrativa cronológica do musical - seduz também pelo humor do diálogo de Tim com Edu Lobo. Com ecos de disco music, Sossego (Tim Maia) dá a pista do baile em que culmina a encenação após as passagens mais comoventes da decadência de Tim. É quando a narrativa dá um salto de 1983 para 1994 - pulo ironizado metalinguisticamente pelo próprio texto - e flagra Tim já imerso em problemas de saúde. A saída de cena, ao som de Você (Tim Maia), é impactante e apoteótica, dando outro sentido aos versos da canção de 1971. Mas Tiago/Tim volta para o grande baile final que arremata a encenação e arrebata o público já eletrizado. Sim, Tim Maia revive na pele e na boa voz de Tiago Abravanel em trabalho de ator tão grandioso quanto o som e o talento do cantor.
9 comentários:
É impressionante! Ator de musicais até então mais conhecido por ser neto do empresário e apresentador de TV Silvio Santos, Tiago Abravanel dá show na pele de Tim Maia (1942 - 1998). Fenomenal, Abravanel faz valer cada minuto das cerca de três horas de duração do musical Tim Maia - Vale Tudo, em cartaz no Teatro Carlos Gomes no Rio de Janeiro (RJ) até 4 de setembro de 2011. Com interpretação de peso (com trocadilho) e uma caracterização perfeita que reproduz com fidelidade o visual de todas as fases de Tim, Abravanel sustenta a encenação e lidera elenco excelente que dá vida aos personagens que rodearam a existência tão gloriosa quanto atribulada do cantor. Com alguns recursos de metalinguagem, o texto de Nelson Motta transporta para o palco os fatos e casos contados na biografia escrita pelo próprio Motta. Esse texto ganha vida na encenação ágil e pop orquestrada pelo diretor João Fonseca. E, como a trilha sonora é de primeira qualidade, o resultado é um musical excepcional - eletrizante, em alguns momentos - que jamais tentar clonar o padrão imposto pela Broadway. Para quem não leu o livro e conhece apenas superficialmente a história de Tim Maia, o musical expõe sem didatismos, mas com altas doses de informação e humor, os fatos mais relevantes da vida e da carreira do artista, desde o começo na Tijuca - o bairro carioca onde Tim conheceu Erasmo Carlos e Roberto Carlos (interpretado de forma hilária por Reiner Tenente), com quem formou o conjunto The Sputniks - até a consagração nacional em 1970. Há, a rigor, um único erro histórico no texto, quando é dito que Tim gravou seu primeiro compacto com a balada soul Primavera (Cassiando e Silvio Roachel). Na realidade, o compacto com Primavera foi o segundo do cantor, pois Tim iniciou sua carreira fonográfica em 1968 com obscuro compacto gravado na CBS com as músicas Meu País e Sentimentos. Mas isso é detalhe realmente pequeno diante da grandiosidade do que se vê no palco do Teatro Carlos Gomes. E o que se vê é um convicente Tim Maia. Abravanel parece ter captado de forma mediúnica - com perdão do clichê - todo o maroto jeito de ser do Síndico. E, quando ele solta a voz embebida em soul, não resta a menor dúvida: Tiago Abravanel é mesmo Tim Maia ao longo das três horas do musical. Das 26 músicas do roteiro, quase todas são sucessos de Tim cantados em todo o Brasil por um público de A a Z. A (boa) surpresa é Cross my Heart (Tim Maia), mix de soul e r & b que ilustra a influência que a viagem aos Estados Unidos, nos anos 60, exerceu no som de Tim. Famosas ou não, todas as músicas soam reconhecíveis em cena. Com esperteza, o diretor musical Alexandre Elias segue a pegada dos arranjos das gravações originais e o balanço da Banda Vitória Régia. A exceção é com Gostava Tanto de Você (Edson Trindade), cantada sem a levada de samba-soul para ilustrar o rompimento de Tim com sua então mulher Janete (Lilian Valeska, ótima atriz e cantora de voz soul que dueta com Abravanel em Eu Amo Você).
E o fato é que os números musicais são quase todos arrebatadores, com destaque no primeiro ato para a sequência com These Are the Songs (Tim Maia), Padre Cícero (Tim Maia) e Coroné Antonio Bento (João do Valle e Luiz Vanderley). No segundo ato, Chocolate (Tim Maia) delicia de imediato no vibrante número coletivo que remete às viagens de Tim com o LSD. A Bela e a Fera (Chico Buarque e Edu Lobo) - gravação de 1983 que aparece fora de época na narrativa cronológica do musical - seduz também pelo humor do diálogo de Tim com Edu Lobo. Com ecos de disco music, Sossego (Tim Maia) dá a pista do baile em que culmina a encenação após as passagens mais comoventes da decadência de Tim. É quando a narrativa dá um salto de 1983 para 1994 - pulo ironizado metalinguisticamente pelo próprio texto - e flagra Tim já imerso em problemas de saúde. A saída de cena, ao som de Você (Tim Maia), é impactante e apoteótica, dando outro sentido aos versos da canção de 1971. Mas Tiago/Tim volta para o grande baile final que arremata a encenação e arrebata o público já eletrizado. Tim revive na pele e na voz de Tiago Abravanel em trabalho de ator tão grandioso quanto o som do cantor.
esse musical é indicado, sobretudo, para os que há mais de 10 anos tentam fazer soul music brazuca sem a mínima competência. Com o relançamento da maravilhosa discografia de Tim Maia na Polydor, enfim, esse é mais um motivo não haver desculpas de que nunca ouviram porque determinado arquivo não estava disponível no mercado e blablablá. Estilo, de verdade, só se consegue mergulhando nos clássicos originais, e não em releituras de.
Parabéns aos realizadores desse, e que venham outros projetos semelhantes.
Tem razão, Renato. Tinha me esquecido do compacto editado pela Fermata. Grato pela lembrança, já incorporada ao texto. Abs, MauroF
UAU!!! depois disso fiquei curioso, Mauro. A conferir.
Mauro nem sequer citou a Isabella Bicalho, excelente atriz e cantora, personificando a Elis Regina. Será que foi tão despercebido assim o desempenho dela? Fiquei curioso em saber.
abraço,
Denilson
Não, Denilson, não foi. Izabella está ótima assim como Pedro Lima e outros do elenco harmonioso. Mas, da maneira que o texto se desenvolveu, não coube espaço para citá-la nominalmente. Abs, mauroF
Grato, Mauro, pelo retorno.
abração,
Denilson
Ontem assisti "Tim Maia - Vale Tudo, O Musical" no Teatro Carlos Gomes e fiquei arrepiada com a interpretação do Tiago Abravanel! Carambaaaa foi PERFEITO! O menino mostrou que tem talento e não precisa do sobrenome do avô para sobressair. Toda equipe, elenco, tudo perfeito! Nelson Motta é demais! A temporada será prorrogada, recomendo!
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