Título: Sonhando Devagar
Artista: Kassin
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * 1/2
Embora nem o próprio Kassin considere Sonhando Devagar seu primeiro disco solo, é de fato neste álbum que ele se assume cantor ao soltar sua voz opaca em um punhado de canções autorais. Mas é justamente sua limitação vocal que empaca a viagem onírica do disco, que propõe roteiro de múltiplas influências e referências, com paradas psicodélicas. Se o produtor (o mais requisitado e incensado dos anos 2000) é sempre brilhante, o compositor tem se mostrado interessante. A tristonha Fora de Área (Alberto Continentino e Kassin) é a delícia pop deste disco, à espera de uma voz mais talhada para o canto que revele todos os encantos do tema. A abolerada Potássio também parece vocacionada para resistir ao tempo e para transcender o álbum e o registro do autor - tal como aconteceu com o carimbó Água, sucesso em outras vozes. Contudo, Sonhando Devagar não é - e nem parece querer ser - disco feito de canções redondas que buscam a perfeição pop. Parecem importar mais os climas e as sonoridades. E, nesse sentido, o disco foi formatado com requinte em produção assinada pelo próprio Kassin. O suingue de O Que Você Quiser (Kassin) cai no samba de gafieira, mas com timbragem heterodoxa, urdida pela interação do trombone de Marlon Setter com os teclados de Donatinho, a guitarra (e o baixo) de Kassin e a percussão de Stéphane San Juan. Da turma do artista, esses virtuosos músicos são nomes recorrentes em faixas como Mundo Natural (Alberto Continentino e Kassin) e Em Volta de Você (Kassin). A excelência de arranjos e timbres não impedem, contudo, que a viagem onírica de Sonhando Devagar resulte enfadonha em alguns momentos, sobretudo em Lin Quer (Kassin). Até porque há excesso de referências no disco, como exemplifica a introdução polifônica que, à rigor, nada acrescenta à (boa) canção Lua do Sol (Sean O' Hagan e Kassin). Tão boa quanto o balanço envolvente de Quando Você Está Sambando (Domenico Lancellotti e Kassin). Geralmente viajantes como a sonoridade, as letras estão em sintonia com o espírito onírico do disco. "Eu quero transar com você no banheiro dos paraplégicos", diz verso de Calça de Ginástica (Kassin), tema que evoca de longe a trilha de malhação esboçada por Marcos Valle em sua fase pop dos anos 80. Enfim, Kassin é nome hypado na cena musical brasileira por ter - junto com a turma que colabora em Sonhando Devagar - criado um padrão de modernidade que deu o tom de parte expressiva da produção fonográfica dos últimos anos. Tal feito, no entanto, não dissipa a má impressão - deixada por seu disco solo - de que, como cantor, ele continua sendo um (excelente) produtor e um (bom) compositor. É preciso que outros cantores deem voz aos sonhos alinhados no disco.
Um comentário:
Embora nem o próprio Kassin considere Sonhando Devagar seu primeiro disco solo, é de fato neste álbum que ele se assume cantor ao soltar sua voz opaca em um punhado de canções autorais. Mas é justamente sua limitação vocal que empaca a viagem onírica do disco, que propõe roteiro de múltiplas influências e referências, com paradas psicodélicas. Se o produtor (o mais requisitado e incensado dos anos 2000) é sempre brilhante, o compositor tem se mostrado interessante. A tristonha Fora de Área (Alberto Continentino e Kassin) é a delícia pop deste disco, à espera de uma voz mais talhada para o canto que revele todos os encantos do tema. A abolerada Potássio também parece vocacionada para resistir ao tempo e para transcender o álbum e o registro do autor - tal como aconteceu com o carimbó Água, sucesso em outras vozes. Contudo, Sonhando Devagar não é - e nem parece querer ser - disco feito de canções redondas que buscam a perfeição pop. Parecem importar mais os climas e as sonoridades. E, nesse sentido, o disco foi formatado com requinte em produção assinada pelo próprio Kassin. O suingue de O Que Você Quiser (Kassin) cai no samba de gafieira, mas com timbragem heterodoxa, urdida pela interação do trombone de Marlon Setter com os teclados de Donatinho, a guitarra (e o baixo) de Kassin e a percussão de Stéphane San Juan. Da turma do artista, esses virtuosos músicos são nomes recorrentes em faixas como Mundo Natural (Alberto Continentino e Kassin) e Em Volta de Você (Kassin). A excelência de arranjos e timbres não impedem, contudo, que a viagem onírica de Sonhando Devagar resulte enfadonha em alguns momentos, sobretudo em Lin Quer (Kassin). Até porque há excesso de referências no disco, como exemplifica a introdução polifônica que, à rigor, nada acrescenta à (boa) canção Lua do Sol (Sean O' Hagan e Kassin). Tão boa quanto o balanço envolvente de Quando Você Está Sambando (Domenico Lancellotti e Kassin). Geralmente viajantes como a sonoridade, as letras estão em sintonia com o espírito onírico do disco. "Eu quero transar com você no banheiro dos paraplégicos", diz verso de Calça de Ginástica (Kassin), tema que evoca de longe a trilha de malhação esboçada por Marcos Valle em sua fase pop dos anos 80. Enfim, Kassin é nome hypado na cena musical brasileira por ter - junto com a turma que colabora em Sonhando Devagar - criado um padrão de modernidade que deu o tom de parte expressiva da produção fonográfica dos últimos anos. Tal feito, no entanto, não dissipa a má impressão - deixada por seu disco solo - de que, como cantor, ele continua sendo um (excelente) produtor e um (bom) compositor. É preciso que outros cantores deem voz aos sonhos alinhados no disco.
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