Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ora reeditado, '30 Anos' mostra o (bom) caminho que Vanusa não seguiu

Resenha de reedição de CD
Título: 30 Anos
Artista: Vanusa
Gravadora da edição original de 1977: Som Livre
Gravadora da reedição de 2011: Joia Moderna
Cotação: * * *

Em 1975, já popular em todo o Brasil por conta de sucessos como Manhãs de Setembro, Vanusa decidiu se aproximar da MPB com belo álbum, Amigos Novos e Antigos, em que lançou músicas de Belchior (Paralelas) e Luiz Melodia (Congênito). 30 Anos - seu álbum posterior, lançado em 1977 e ora reeditado pela gravadora Joia Moderna com produção de Thiago Marques Luiz - não é tão coeso quanto Amigos Novos e Antigos, mas trilhou o mesmo bom caminho, logo abandonado pela cantora na virada dos anos 70 para os 80, no que pode ser considerado o grande erro da artista na condução de sua carreira fonográfica. Em 1977, recém-casada com o diretor de TV Augusto César Vannucci (1934 - 1992), Vanusa tinha 30 anos e se aventurava como atriz, estrelando a novela Cinderela 77, exibida pela TV Tupi. 30 Anos, o disco, foi produzido com direção artística de Vannucci e Lincoln Olivetti, autor da maioria dos bons arranjos (a outra parte dos arranjos foi confiada a Sérgio Sá, coautor da bela balada Estado de Fotografia, único hit propriamente dito do álbum). Infelizmente, o repertório era irregular. Em nova conexão com Vanusa, Belchior forneceu balada, Brincando com a Vida, que tinha o d.n.a melódico do compositor cearense, mas não a ponto de se impor na sua obra visceral. Caetano Veloso contribuiu com a inédita Duas Manhãs, canção que permaneceu em (justo) esquecimento até ser revivida neste ano de 2011 pela cantora Cláudia em disco dedicado ao lado B do compositor. Já Zé Ramalho comparecia com Avohai, em arranjo cheio de violas. Detalhe: a gravação de Vanusa é tecnicamente a primeira da música do compositor paraibano, já que o primeiro álbum solo de Zé Ramalho - que apresentou o registro definitivo de Avohai - foi lançado somente em dezembro de 1977. Primazias à parte, Vanusa pecou em 30 Anos ao gravar canções românticas tão triviais quanto Desencontro (Lincoln Olivetti e Ronaldo Barcelos) e Problemas, parceria de Mauro Motta com Raul Seixas (1945 - 1989), creditado como Raulzito na música. Entre tantas novidades sem real peso na memória da MPB, 30 Anos soa mais sedutor quando apresenta músicas antigas extraídas da memória afetiva de Vanusa, casos da canção natalina Boas Festas (Assis Valente) - embalada em arranjo meio modernoso - e da interiorana Lá no Pé da Serra (Elpídio dos Santos), gravada por Vanusa com arranjo que remete às guarânias paraguaias. Entre fado abolerado (Só Nós Dois, de Joaquim Pimentel) e temas espiritualistas como a Prece de Caritas, adaptada pela própria Vanusa, 30 Anos quase não passa na peneira do tempo. Ainda assim, a reedição do álbum é oportuna por expor para novas gerações o canto de intérprete que marcou época no Brasil dos anos 70 e que viu sua carreira sair dos trilhos ao se desviar do caminho que pavimentou neste álbum de 1977.

13 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em 1975, já popular em todo o Brasil por conta de sucessos como Manhãs de Setembro, Vanusa decidiu se aproximar da MPB com belo álbum, Amigos Novos e Antigos, em que lançou músicas de Belchior (Paralelas) e Luiz Melodia (Congênito). 30 Anos - seu álbum posterior, lançado em 1977 e ora reeditado pela gravadora Joia Moderna com produção de Thiago Marques Luiz - não é tão bom quanto Amigos Novos e Antigos, mas trilhou o mesmo bom caminho, logo abandonado pela cantora na virada dos anos 70 para os 80, no que pode ser considerado o grande erro da artista na condução de sua carreira fonográfica. Em 1977, recém-casada com o diretor de TV Augusto César Vannucci (1934 - 1992), Vanusa tinha 30 anos e se aventurava como atriz, estrelando a novela Cinderela 77, exibida pela TV Tupi. 30 Anos, o disco, foi produzido com direção artística de Vannucci e Lincoln Olivetti, autor da maioria dos bons arranjos (a outra parte dos arranjos foi confiada a Sérgio Sá, coautor da bela balada Estado de Fotografia, único hit propriamente dito do álbum). Infelizmente, o repertório era irregular. Em nova conexão com Vanusa, Belchior forneceu balada, Brincando com a Vida, que tinha o d.n.a melódico do compositor cearense, mas não a ponto de se impor na sua obra visceral. Caetano Veloso contribuiu com a inédita Duas Manhãs, canção que permaneceu em (justo) esquecimento até ser revivida neste ano de 2011 pela cantora Cláudia em disco dedicado ao lado B do compositor. Já Zé Ramalho comparecia com Avohai, em arranjo cheio de violas. Detalhe: a gravação de Vanusa é tecnicamente a primeira da música do compositor paraibano, já que o primeiro álbum solo de Zé Ramalho - que apresentou o registro definitivo de Avohai - foi lançado somente em dezembro de 1977. Primazias à parte, Vanusa pecou em 30 Anos ao gravar canções românticas tão triviais quanto Desencontro (Lincoln Olivetti e Ronaldo Barcelos) e Problemas, parceria de Mauro Motta com Raul Seixas (1945 - 1989), creditado como Raulzito na música. Entre tantas novidades sem real peso na memória da MPB, 30 Anos soa mais sedutor quando apresenta músicas antigas extraídas da memória afetiva de Vanusa, casos da canção natalina Boas Festas (Assis Valente) - embalada em arranjo meio modernoso - e da interiorana Lá no Pé da Serra (Elpídio dos Santos), gravada por Vanusa com orquestração que remete às guarânias paraguaias. Entre bolero (Só Nós Dois, de Joaquim Pimentel) e temas espiritualistas como a Prece de Caritas, adaptada pela própria Vanusa, 30 Anos quase não passa na peneira do tempo. Ainda assim, a reedição do álbum é oportuna por expor para novas gerações o canto de intérprete que marcou época no Brasil dos anos 70 e que viu sua carreira sair dos trilhos ao se desviar do caminho que pavimentou neste álbum de 1977.

Luca disse...

texto totalmente incoerente com o título. o disco é bom ou ruim, afinal?

EDELWEISS1948 disse...

SE O DISCO AMIGOS NOVOS E ANTIGOS É MELHOR QUE ESSE ( CONCORDO PLENAMENTE) QUAL FOI O CRITERIO DA JOIA MODERNA PARA RELANÇAR ESSE.

Mauro Ferreira disse...

Edelweiss, acredito que as boas relações da Joia Moderna com a Som Livre tenham facilitado a reedição do '30 Anos'. Mas somente quem pode dar essa resposta com precisão é o DJ Zé Pedro. Abs, MauroF

valderiofreire disse...

Amigos novos e antigos é, sem dúvida alguma, o trabalho mais bonito da Vanusa! Mas pertence a Sony Music!

antonio disse...

Acabei de comprar os cds Literalmenteo Loucas - As canções de Marina Lima e a reedição do disco de Marília Barbosa (Filme Nacional). A Jóia Moderna trabalha como uma gravadora tradicional, com os discos em embalagens de plástico e designer "pobreza total". Quem compra cd hoje não se preocupa mais com o preço, mas com a qualidade não só da música, mas do que a acompanha.

KL disse...

mesmo não sendo um top álbum, foi gravado antes de 1980, pela Som Livre, traz grandes nomes nos créditos e, além de tudo, a capa é linda. Ou seja, pode-se comprar sem ouvir.
O problema aqui é somente um: não se acha nada da Joia Moderna nas lojas tradicionais, inclusive as da Net. Pelo amor de Osório Duque Estrada, assim não dá!

Eulalia Moreno disse...

Ola Mauro, boa tarde

Apenas uma dúvida: o referido Só Nos Dois, de Joaquim Pimentel é aquela música cantada por Francisco José? Se for, não será mais Fado do que Bolero?? Mas, o que é o Fado? Nas suas múltiplas faces e vertentes , quando canta os males de amor, até poderá ser um " bolero", não é?
Bom final de semana, abraço
Eulalia

Felipe Grilo disse...

No site da Livraria Cultura normalmente tem os CD's da Joia, e se não me engano a Tratore q faz a distribuição, nos ite da Tratore vc acha as indicações de q lojas físicas e virtuais o disco foi distribuido.

Mauro Ferreira disse...

Tem toda razão, Eulália, obrigado. É um fado, no caso um fado em tom abolerado. Abs, MauroF

Lafaete disse...

Somente pelas belas interpretações e a voz de Vanusa já seria válida a reedição de '30 anos'.Aliás, tardou. Mas essa reedição é necessária na MPB influenciando positivamente na carreira de nomes como Zé Ramalho e Luiz Melodia, e até mesmo Raul Seixas.Lembremos que Vanusa era um nome muito forte na época. Vale ainda lembrar que 'Lá no pé da serra', na voz de Vanusa, deu uma força significativa para a música 'interiorana' nesses anos 70tão massacrada exaustivamente pelas FM's da época. Acho que memória e justiça fazem bem! Parabéns a Jóia por mais essa jóia!

Lafaete disse...

Somente pelas belas interpretações e voz de Vanusa já seria válida a reedição de '30 anos'. Aliás, tardou. Mas essa reedição é necessária na MPB, por ter influenciado positivamente na carreira de Zé Ramalho e até mesmo Raul Seixas. Lembremos que Vanusa era um nome muito forte na época. Vale lembrar que essa gravação de 'Lá no pé da serra' deu uma força para essa música 'interiorana' numa época massacrada exaustivamente pelas músicas de fora nas FM's nos anos 70. Acho que memória e justiça fazem bem. Parabéns a Jóia por mais essa jóia!

Vitor disse...

Ouviram do Ipiranga