Resenha de CD
Título: A Delicadeza que Vem Desses Sons
Artista: Amelia Rabello
Gravadora: Acari Records
Cotação: * * *
A própria Amelia Rabello situa A Delicadeza que Vem Desses Sons como um disco fora de seu tempo. De fato, a sonoridade e o repertório revolvem as tradições do samba e do choro, gravitando em torno do universo musical de artistas como Elizeth Cardoso (1920 - 1990), como ressalta apropriadamente - no texto de apresentação do CD - a irmã de Amelia, a produtora e cavaquinista Luciana Rabello, sócia da Acari Records, a gravadora que edita o álbum neste mês de setembro de 2011. Com sua discreta "voz de pontos de luar / filtrado com flor de seda", como caracteriza Paulo César Pinheiro no poema Claridão exposto no encarte do disco, Amelia (re)apresenta sob a direção musical do pianista Cristóvão Bastos repertório em que o nome de Pinheiro é onipresente na ficha técnica das músicas. Das 13 faixas, o destaque é Santa Voz, belo samba da lavra de Pinheiro com Baden Powell (1937 - 2000). Ode ao canto, apontado como remédio para os males do coração que pontuam a maior parte das letras do álbum, Santa Voz reaparece com a letra original de Pinheiro, sem as modificações perpetuadas no registro de Teca Calazans. Álbum impregnado de melancolia, A Delicadeza que Vem Desses Sons expõe samba-canção inédito de Moacyr Luz, Tanta Despedida, composto para Amelia e embebido nessa tristeza que também dá o tom de temas menos marcantes como a valsa Descuido (Julião Pinheiro e Paulo César Pinheiro) - adornada apenas com o violão de sete cordas de Julião - e o samba-canção Chave da Porta (Luiz Moura e Paulo César Pinheiro). Uma das matrizes da música urbana carioca, embora seja mineiro de nascimento, Ataulfo Alves (1909 - 1969) é celebrado no samba Seu Ataulfo (Radamés Gnattali e Paulo César Pinheiro) e autor de outro samba do CD, o pouco ouvido Tempo Perdido, uma das primeiras músicas do compositor a serem gravadas, no caso por Carmen Miranda (1909 - 1955). Só que, ao longo de suas 13 faixas, A Delicadeza que Vem Desses Sons vai se revelando linear na temática e nos sons, ficando eventualmente cansativo, embora boa parte das músicas seja bonita por si só. Caso de Velho Ninho, inspirado samba inédito de Cristóvão Bastos com Paulo César Pinheiro. Também inédito, mas da lavra de Pinheiro com Luciana Rabello, o samba-canção Estigma foi gravado somente com a voz de Amelia e o piano de Bastos. A mesma dupla assina Velhos Chorões, choro que cita Vibrações (Jacob de Bandolim) no arranjo tradicional, urdido à moda dos velhos regionais. Nesse universo do samba-choro, Alma Vazia impressiona por ser de autoria de Roque Ferreira, compositor baiano cuja obra traz habitualmente o suingue do samba de sua terra (embora Maria Bethânia já tenha revelado essa face mais densa do cancioneiro de Roque ao gravar temas com a a valsa Lágrima). Enfim, ao reviver a delicadeza e a melancolia de outros tempos, Amelia Rabello se situa dentro do passado mais nobre da música brasileira sem de fato impor uma marca sua nesse refinado mundo musical de outrora.
A própria Amelia Rabello situa A Delicadeza que Vem Desses Sons como um disco fora de seu tempo. De fato, a sonoridade e o repertório revolvem as tradições do samba e do choro, gravitando em torno do universo musical de artistas como Elizeth Cardoso (1920 - 1990), como ressalta apropriadamente - no texto de apresentação do CD - a irmã de Amelia, a produtora e cavaquinista Luciana Rabello, sócia da Acari Records, a gravadora que edita o álbum neste mês de setembro de 2011. Com sua discreta "voz de pontos de luar / filtrado com flor de seda", como caracteriza Paulo César Pinheiro no poema Claridão exposto no encarte do disco, Amelia (re)apresenta sob a direção musical do pianista Cristóvão Bastos repertório em que o nome de Pinheiro é onipresente na ficha técnica das músicas. Das 13 faixas, o destaque é Santa Voz, belo samba da lavra de Pinheiro com Baden Powell (1937 - 2000). Ode ao canto, apontado como remédio para os males do coração que pontuam a maior parte das letras do álbum, Santa Voz reaparece com a letra original de Pinheiro, sem as modificações perpetuadas no registro de Teca Calazans. Álbum impregnado de melancolia, A Delicadeza que Vem Desses Sons expõe samba-canção inédito de Moacyr Luz, Tanta Despedida, composto para Amelia e embebido nessa tristeza que também dá o tom de temas menos marcantes como a valsa Descuido (Julião Pinheiro e Paulo César Pinheiro) - adornada apenas com o violão de sete cordas de Julião - e o samba-canção Chave da Porta (Luiz Moura e Paulo César Pinheiro). Uma das matrizes da música urbana carioca, embora seja mineiro de nascimento, Ataulfo Alves (1909 - 1969) é celebrado no samba Seu Ataulfo (Radamés Gnattali e Paulo César Pinheiro) e autor de outro samba do CD, o pouco ouvido Tempo Perdido, uma das primeiras músicas do compositor a serem gravadas, no caso por Carmen Miranda (1909 - 1955). Só que, ao longo de suas 13 faixas, A Delicadeza que Vem Desses Sons vai se revelando linear na temática e nos sons, ficando eventualmente cansativo, embora boa parte das músicas seja bonita por si só. Caso de Velho Ninho, inspirado samba inédito de Cristóvão Bastos com Paulo César Pinheiro. Também inédito, mas da lavra de Pinheiro com Luciana Rabello, o samba-canção Estigma foi gravado somente com a voz de Amelia e o piano de Bastos. A mesma dupla assina Velhos Chorões, choro que cita Vibrações (Jacob de Bandolim) no arranjo tradicional, urdido à moda dos velhos regionais. Nesse universo do samba-choro, Alma Vazia impressiona por ser de autoria de Roque Ferreira, compositor baiano cuja obra traz habitualmente o suingue do samba de sua terra (embora Maria Bethânia já tenha revelado essa face mais densa do cancioneiro de Roque ao gravar temas com a a valsa Lágrima). Enfim, ao reviver a delicadeza e a melancolia de outros tempos, Amelia Rabello se situa dentro do passado mais nobre da música brasileira sem de fato impor uma marca sua nesse refinado mundo musical de outrora.
ResponderExcluirSe o disco é fora de seu tempo o KL vai adorar. :>)
ResponderExcluirPS: Vibrações é o melhor disco de choro de todos os tempos!
Bem-vindo seja um disco assim "fora de seu tempo"... Melhor isso do que "algo" dentro desse tempo atual, em que tudo parece contribuir para a desconstrução da canção. Ou não? Vale conferir.
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