Resenha de CD
Título: Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo
Artista: Mariana Aydar
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * * *
Com seu segundo álbum, Peixes Pássaros Pessoas (2009), Mariana Aydar deu passo largo em direção à consolidação de universo particular e autoral, se distanciando de quaisquer possíveis comparações com o mundo musical de Roberta Sá, suscitadas por seu primeiro álbum, Kavita 1 (2006). Peixes Pássaros Pessoas sinalizou evolução em discografia que atinge outro ponto culminante com Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo, terceiro álbum de Aydar, lançado pela Universal Music nesta terça-feira, 20 de setembro de 2011. Conduzida pelo maestro Letieres Leite, produtor do disco ao lado de Duani Martins, a cantora e compositora paulista chega na dianteira com este disco arejado, repleto de afrobeats e ousadias estilísticas. A despeito do grande número de regravações do repertório (sete músicas em 13 faixas), Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo soa sempre novo, embolando ritmos, modernidades e tradições. É um disco de espírito livre, aberto com tema instrumental, A Saga do Cavaleiro (Guilherme Held, Gustavo Di Dalva, Letieres Leite, Duani Martins e Kavita), que já sinaliza o frescor que envolve o cancioneiro recolhido por Aydar em suas vivências musicais e afetivas. Aydar não é daquelas cantoras que se impõem pela voz especialmente potente ou pela carga dramática de seu canto. O que importa no seu caso - e o que faz de Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo um grandioso disco - é o tratamento dado ao repertório. "I'm alive", repete cheia de vida a intérprete em Nine Out of Ten (Caetano Veloso), pioneiro reggae brasileiro de 1972, aqui jogado em outra praia. Mestre na arquitetura de grooves afrojazzísticos, motes de sua retumbante orquestra baiana Rumpilezz, Letieres é o provável mentor dos afrobeats que cruzam mares até aportar no sertão nordestino, destino original do Galope Rasante (Zé Ramalho), luminosa releitura que reitera a capacidade do disco de renovar o velho. O canto do cantor e compositor baiano Tiganá Santana - convidado e parceiro (de Guilherme Held e Kavita) em Floresta - também se conecta à Mãe África, mas em tom mais ancestral. Floresta, aliás, é exemplo do tom meio vanguardista de um disco que veio para confundir, não para explicar, como atesta a Vinheta de Alegria (Kavita), que fecha o álbum com falso final e experimentações que, a rigor, expandem a atmosfera de liberdade já desenvolvida, por exemplo, no tom afrosamba-jazzístico impresso em Não Foi em Vão (Thalma de Freitas) - tema do repertório da carioca Orquestra Imperial - e na releitura de Os Passionais (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), tema que Ná Ozzetti gravou em Ultrapássaro (2001), obscuro álbum de Dante. A música emerge com outra vida e outra pulsação. Assim como o som de Aydar, que se distancia do samba em Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo, a ponto de tirar Vai Vadiar (Alcino Corrêa e Monarco) - samba que Zeca Pagodinho lançou em 1998 e que a própria Aydar já havia regravado (ao vivo) para DVD inserido na edição especial de Peixes Pássaros Pessoas - de seu costumeiro quintal em registro que valoriza a melodia e os versos contundentes do tema. Faixa que inclui no refrão o título do disco, Cavaleiro Selvagem - parceria de Aydar com o cultuado rapper paulista Emicida - jorra imagens que ilustram o galope nada rasante de um álbum que alcança pico emocional com o belíssimo e climático pseudofado Porto (Romulo Fróes e Nuno Ramos) - grande sobra do repertório de Peixes Pássaros Pessoas - e que consegue irmanar dentro de sua atmosfera indie contemporânea a leveza atemporal de Preciso do teu Sorriso (João Silva e Enok Virgulino), xote romântico do repertório do Trio Virgulino que Aydar revive com convencionalidade alienígena em gravação valorizada pela sanfona de Dominguinhos. Fora dessa bissexta zona de conforto, a cantora se joga como uma Leoa do Norte dentro da floresta rítmica nordestina para injetar a pulsação do carimbó e do brega paraense em O Homem da Perna de Pau (Chico Xavier e Edson Duarte), forró que alavancou a carreira do alagoano Edson Duarte nos anos 80 (a gravação original é de 1980). Enfim, com um disco surpreendente em que bons temas autorais como Solitude (Kavita, Luisa Maita e Jwala) até perdem força no confronto com releituras tão vigorosas, Aydar cruza a dianteira cheia de fôlego trazendo na garupa o genial Letieres Leite. Pode seguir Aydar e o Cavaleiro Selvagem!
Uau, tô louco por esse CD! Quero muito!
ResponderExcluirÁlbum certeiro e competente que pegou todos os discos do ano de surpresa. A cantora que mais surpreendeu nesse semestre. Essencial para se entender como se faz a nova música brasileira.
ResponderExcluirAs releituras são pouco conhecidas. Esse é um trunfo do disco.
ResponderExcluirNão entendi o que você chama 'renovar o novo' Mauro. Não ouvi ainda mas superar Amelinha num galope, isso eu quero ouvir. Desconheço qualquer cantora brasileira que cante galopes e rojões melhor que Amelinha em sua fase áurea. Galope rasante foi ETERNIZADO por Amelinha.
Todas podem regravar ou renovar, mas superar...
a piada do mês: 'mundo musical de Roberta Sá'. O Mauro, definitivamente não tem freio na admiração pela Roberta.
ResponderExcluirLurian, desculpe. Não é 'renovar o novo', mas renovar o 'velho', sendo 'velho' usado aqui tão somente como sinônimo de antigo. Grato por questionar o sentido da frase e, assim, alertar para a confusão na redação dela.
ResponderExcluirSim, a gravação de Amelinha é - também para mim - definitiva. O que não quer dizer que não possam surgir releituras importantes que, com o tempo, também se revelem definitivas.
abs, MauroF
Concordo com o Luca!
ResponderExcluirAnsiosíssimo pra ouvir o disco!
ResponderExcluirO Afrobeat tá cada vez mais presente na música de uma galera esperta - Céu, Anelis, Criolo - e agora Mariana, que confesso nunca ouvi nenhum disco.
ResponderExcluirSalve, salve, Fela Kuti!
Tô curiosíssimo pra ouvir esse disco. Em Peixes, Pássaros, Pessoas, Mariana já me surpreendeu mais do que o esperado. As meninas estão buscando não cair na mesmice. Céu, Roberta, Mariana - valem o investimento.
ResponderExcluirNão ouvi, porém tô fascinado pela critica. Quero ouvir o quanto antes.
ResponderExcluirQue isso, Solitude é linda!
ResponderExcluir10 faixas do novo álbum podem ser ouvidas no canal da Mariana no Youtube. Aqui o link: http://www.youtube.com/user/MarianaAydarVEVO
ResponderExcluirOuvi ontem as 10 faixas disponíveis no youtube. "Solitude e "Os Passionais" (q aliás n vi semelhança alguuma com a Música da Vanessa! oO) são novos vícios! Mas gostei de tudo q ouvi. Excelente! Vou já comprar o disco.
ResponderExcluirNine out of ten ficou deliciosamente sexy.
ResponderExcluirRhenan, para evitar mal-entendidos, retirei da resenha a frase que aludia à tal suposta semelhança (de uma frase, não da música toda). Abs, MauroF
ResponderExcluirOuvi! é mesmo um disco diferente, mas não sei se é caso pra cinco estrelas. não concordo que Solitude não se destaque. pra mim, é uma das melhores do disco.
ResponderExcluirMauro, rapaz, cadê a sua crítica sobre o novo CD e DVD "Seguir cantando" da LUIZA POSSI? Estou esperando há tempos... Poxa! :/
ResponderExcluirOuvi, achei um discão, merece 4 estrelas e meia. Mas 5, tb achei demais. A regravação de "Não foi em vão" ficou um primor. Arranjo excepcional, como não ouvia faz tempo.
ResponderExcluirAcabo de ouvir o álbum. Está realmente interessante. Inclusive a releitura de "Galope rasante" que não está bem um galope, e sim um afrobeat. Moderno e cheio de estilo até na capa meio dark, onde as mãos da bela Aydar remetem a um cavalo.
ResponderExcluirTambém odorei o cd...Espero agora conseguir ir num show dela rsrs O problema da capa não é a foto e sim o nome do disco feito no "WordArt" (hahah) o I do Aqui perto do dedo dela não ficou legal
ResponderExcluirA Mariana ta com as pessoas certas,o no trabalho ta loco, so merece parabens.
ResponderExcluirQuero ouvir! Quero ouvir! Tão bom ficar assim, louca para ouvir um CD...
ResponderExcluirGênio, o Letieres, linda a capa e linda Aydar! E um universo muito gostoso de ouvir, Duani tem bastante mérito nisso aí com certeza, muito esperto, o casal!
Bia
Comprei ontem (nem sabia que tinha sido lançado um Cd novo dela). Enquanto escutava pela primeira vez, misturaram-se várias sensações: arrebatamento, surpresa, inquietação, estranhamento, admiração, encantamento. Ao final, percebi que esse disco é o passaporte de Mariana Aydar para o time das grandes cantoras do Brasil. Sinto que é como alguns Cds de Gal, de Elis, de Bethânia, de Nana, de décadas atrás, que ainda hoje nos emocionam, nos inquietam, nos surpreendem a cada audição. Mariana Aydar é um sopro de renovação na Música Brasileira.
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