Título: Eternamente...
Artista: Tunai
Gravadora: MZA Music
Cotação: * * 1/2
Em 2000, Tunai revisou sua obra no CD Certas Canções - Acústico ao Vivo, registro de show editado pela Jam Music. Decorridos onze anos, o compositor mineiro - que trilhou caminho na MPB sem associação direta com seu irmão João Bosco - volta a se debruçar sobre estas mesmas certas canções em disco de estúdio, Eternamente..., ora lançado pela gravadora MZA Music. Há todo um cuidado na edição do álbum e na produção capitaneada pelo próprio Tunai. As tais canções - às quais Tunai adicionou inéditas como Regina (Tunai) e Daniela (Tunai), odes à mulher e à filha do autor, respectivamente - ganham tratamento luxuoso e convidados quase sempre especiais. Músicos feras tocam ao longo das 17 faixas e deixam a impressão de que Eternamente... é como se fosse o Clube da Esquina de Tunai. Figuram no álbum Robertinho Silva (bateria e/ou percussão em 12 faixas), Wagner Tiso (piano em dez faixas) e Victor Biglione (guitarras e/ou violão em cinco faixas). A questão é que as canções mais conhecidas já estão eternizadas em gravações anteriores que se revelaram definitivas com o passar dos anos. É o caso, sobretudo, de As Aparências Enganam (Tunai e Sérgio Natureza), imortalizada na voz de Elis Regina (1945 - 1982), que lançou a canção no álbum Essa Mulher (1979). Nem a junção de Milton Nascimento, Simone e Wagner Tiso na suave regravação consegue fazer o ouvinte esquecer por alguns segundos o registro denso de Elis. Eternamente (Tunai, Sérgio Natureza e Liliane) ganha suingue meio jazzy, a voz de Zélia Duncan e o sax de Chico Amaral, mas continua impossível dissociar a música da gravação feita por Gal Costa em seu álbum Baby Gal (1983). As emoções são rarefeitas nos atuais registros. Hit radiofônico que atravessou os anos 80, Frisson (Tunai e Sérgio Natureza) - uma das poucas músicas associadas à voz opaca (mas eficaz) do próprio Tunai, que a lançou no álbum Em Cartaz (1984) - reaparece em Eternamente... com a adição da voz igualmente opaca de Patrícia Mellodi e dos teclados de Dodô Moraes. No mesmo estilo pop romântico, Sobrou pra mim (Tunai) - música que deu título ao álbum lançado pelo compositor em 1988 - ressurge somente na voz de seu autor. E, assim, Eternamente... transcorre sem êxtases entre blues inéditos (como Só de Amor e Blues Afins, este poeticamente letrado pelo fiel Sérgio Natureza) e temas reciclados como Olhos do Coração (Tunai e Sérgio Natureza, música-título do álbum lançado por Tunai em 1983, ora revivida pelo compositor com Tunai) e Certas Canções, parceria de Tunai com Milton Nascimento, intérprete do registro original da música - feito no álbum Anima (1982) - e convidado da regravação que abre o disco na cadência do samba cool. Presente em três faixas, Milton ainda sintoniza Rádio Experiência - outra parceria sua com Tunai, lançada por Beto Guedes em 1984 - em registro que reúne, além de Tunai, Jorge Vercillo e o radialista Fernando Mansur, conterrâneo de Tunai, natural de Ponte Nova (MG). A locução feita por Mansur ao fim da faixa dá certo charme ao registro, Enfim, para ouvintes de última hora, Eternamente... tem o mérito de funcionar como cuidadoso best of do cancioneiro de Tunai, compositor revelado em 1978 por Fafá de Belém, que incluiu Se Eu Disser (Tunai e Sérgio Natureza) em seu álbum Banho de Cheiro. Contudo, os registros originais das (geralmente) certeiras canções continuam imbatíveis, eternizados em discos de Elis, Gal, Milton e de Tunai.
6 comentários:
Em 2000, Tunai revisou sua obra no CD Certas Canções - Acústico ao Vivo, registro de show editado pela Jam Music. Decorridos onze anos, o compositor mineiro - que trilhou caminho na MPB sem associação direta com seu irmão João Bosco - volta a se debruçar sobre estas mesmas certas canções em disco de estúdio, Eternamente..., ora lançado pela gravadora MZA Music. Há todo um cuidado na edição do álbum e na produção capitaneada pelo próprio Tunai. As tais canções - às quais Tunai adicionou inéditas como Regina (Tunai) e Daniela (Tunai), odes à mulher e à filha do autor, respectivamente - ganham tratamento luxuoso e convidados quase sempre especiais. Músicos feras tocam ao longo das 17 faixas e deixam a impressão de que Eternamente... é como se fosse o Clube da Esquina de Tunai. Figuram no álbum Robertinho Silva (bateria e/ou percussão em 12 faixas), Wagner Tiso (piano em dez faixas) e Victor Biglione (guitarras e/ou violão em cinco faixas). A questão é que as canções mais conhecidas já estão eternizadas em gravações anteriores que se revelaram definitivas com o passar dos anos. É o caso, sobretudo, de As Aparências Enganam (Tunai e Sérgio Natureza), imortalizada na voz de Elis Regina (1945 - 1982), que lançou a canção no álbum Essa Mulher (1979). Nem a junção de Milton Nascimento, Simone e Wagner Tiso na suave regravação consegue fazer o ouvinte esquecer por alguns segundos o registro denso de Elis. Eternamente (Tunai, Sérgio Natureza e Liliane) ganha suingue meio jazzy, a voz de Zélia Duncan e o sax de Chico Amaral, mas continua impossível dissociar a música da gravação feita por Gal Costa em seu álbum Baby Gal (1983). As emoções são rarefeitas nos atuais registros. Hit radiofônico que atravessou os anos 80, Frisson (Tunai e Sérgio Natureza) - uma das poucas músicas associadas à voz opaca (mas eficaz) do próprio Tunai, que a lançou no álbum Em Cartaz (1984) - reaparece em Eternamente... com a adição da voz igualmente opaca de Patrícia Mellodi e dos teclados de Dodô Moraes. No mesmo estilo pop romântico, Sobrou pra mim (Tunai) - música que deu título ao álbum lançado pelo compositor em 1988 - ressurge somente na voz de seu autor. E, assim, Eternamente... transcorre sem êxtases entre blues inéditos (como Só de Amor e Blues Afins, este poeticamente letrado pelo fiel Sérgio Natureza) e temas reciclados como Olhos do Coração (Tunai e Sérgio Natureza, música-título do álbum lançado por Tunai em 1983, ora revivida pelo compositor com Tunai) e Certas Canções, parceria de Tunai com Milton Nascimento, intérprete do registro original da música - feito no álbum Anima (1982) - e convidado da regravação que abre o disco na cadência do samba cool. Presente em três faixas, Milton ainda sintoniza Rádio Experiência - outra parceria sua com Tunai, lançada por Beto Guedes em 1984 - em registro que reúne, além de Tunai, Jorge Vercillo e o radialista Fernando Mansur, conterrâneo de Tunai, natural de Ponte Nova (MG). A locução feita por Mansur ao fim da faixa dá certo charme ao registro, Enfim, para ouvintes de última hora, Eternamente... tem o mérito de funcionar como cuidadoso best of do cancioneiro de Tunai, compositor revelado em 1978 por Fafá de Belém, que incluiu Se Eu Disser (Tunai e Sérgio Natureza) em seu álbum Banho de Cheiro. Contudo, os registros originais das (geralmente) certeiras canções continuam imbatíveis, eternizados em discos de Elis, Gal, Milton e de Tunai.
conheço as gravações originais e acho que você tem razão, Mauro, só lembre-se que tem muita gente jovem para quem Elis e Gal não são referências. Se o Tunai gravou o disco com cuidado como você diz, tá valendo.
Eu gostaria muito que a Universal reeditasse os discos de Tunai no formato de CD.
Você sabe se este disco já foi lançado, Mauro? Ele não está à venda em nenhuma loja.
Cunha, o cd Eternamente... foi distribuído para os críticos há duas semanas. Acredito que chega em breve às lojas, caso ainda não tenha chegado. Vc já olhou na Saraiva.com? Lá costuma ter tudo.
Abs, MauroF
É uma certa Belchiorização que tem acontecido com alguns compositores.
E eu acredito que seja muito mais fácil pra um jovem iniciante (realmente) interessado em MPB ouvir as gravações de Tunai na voz de Elis e Gal (até através da Banda Eva que, com Ivete, gravou "Frisson") do que num disco "novo" do próprio Tunai.
e que "capa" assustadora é essa? Naturalismo tem limite.
Postar um comentário