Título: Par ou Ímpar
Artista: Kleiton & Kledir
Gravadora: Biscoitinho / Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2
Em 2009, ao lançar Autorretrato, seu primeiro disco de repertório inédito desde 1986, Kleiton & Kledir provaram que continuavam com a mesma inspiração e entrosamento de antes. Par ou Ímpar - o primeiro projeto infantil da dupla gaúcha - reitera a inspiração dos irmãos Ramil como compositores. Editado pelo Biscoitinho, selo infantil da gravadora Biscoito Fino, o álbum é gracioso e envolvente. Diferentemente dos recentes (primorosos) trabalhos similares de Adriana Calcanhotto e Pato Fu, em tese dirigidos ao público infantil mas degustados mais por adultos do que por crianças pelo teor do repertório, Par ou Ímpar é disco de fato feito para guris e gurias. Resistindo à tentação de fazer música para crianças de todas as idades, a dupla apresenta composições deliciosas, criadas dentro de universo lúdico realmente infantil. A inicial sequência autoral de Par ou Ímpar - O Mágico Estrambólico, Pirulito Esquisito, Formiga Atômica e Bicho Gente (este um tema somente de Kleiton Ramil) - já vale o álbum pela inspiração das melodias e pelo acerto das letras, escritas com vocabulário e personagens próprios do imaginário infantil. Produzido pela própria dupla, sob direção musical dividida pelos irmãos com o múltiplo instrumentista Caio Fonseca (teclados, violões, flauta, baixo e um órgão hammond), Par ou Ímpar versa sobre o universo das tradicionais brincadeiras infantis. O disco resulta animado, mas sem aquele tom artificial de alguns trabalhos infantiloides. Tudo resulta naturalmente lúdico. O coral infantil de A Bruxa - primeira música composta por Kleiton, aos 12 anos - reforça a espontaneidade que pauta Par ou Ímpar. Se Planeta Ploft (Pery Souza e Ricardo Silvestrin) é canção lenta de única estrofe que brinca com o pum sem cair na grosseria escatológica, Lindinha - o acalanto composto por Kledir Ramil para sua filha Júlia - enternece ao evocar clichês melódicos e poéticos do gênero sem perda da sensibilidade. Já Trova do Guri e da Guria - gravada com a participação realmente especial da humorista Fabiana Karla - expõe a origem dos irmãos nascidos em Pelotas (RS). A trova é espécie de desafio à moda gaúcha. No caso, Karla encarna a guria petulante que enfrenta o guri em disputa que diz muito do comportamento de meninos e meninas na última fase da infância. Também de origem gaúcha, o escritor Mário Quintana (1906 - 1994) gerou obra de reconhecimento nacional que inspirou Pé de Pilão (A Turma do Pé Quente), parceria de Kledir com o irmão Vítor Ramil, criada para a opereta Pé de Pilão. Fora das fronteiras dos Pampas, mas não muito longe, Par ou Ímpar apresenta ainda versões em português de dois temas da escritora e poeta argentina Maria Elena Walsh (1930 - 2011). Vertidos por Kledir, O Cão Salsicha e Margarida, a Tartaruga estão em sintonia com o universo do repertório autoral dos irmãos. Par ou Ímpar chega ao mercado sem a aura hype construída em torno dos projetos de Adriana Partimpim - o heterônimo infantil de Adriana Calcanhotto - mas é um grande disco infantil por trazer excelente música inédita feita realmente para criança, como se fazia na era pré-virtual.
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Em 2009, ao lançar Autorretrato, seu primeiro disco de repertório inédito desde 1986, Kleiton & Kledir provaram que continuavam com a mesma inspiração e entrosamento de antes. Par ou Ímpar - o primeiro projeto infantil da dupla gaúcha - reitera a inspiração dos irmãos Ramil como compositores. Editado pelo Biscoitinho, selo infantil da gravadora Biscoito Fino, o álbum é gracioso e envolvente. Diferentemente dos recentes (primorosos) trabalhos similares de Adriana Calcanhotto e Pato Fu, em tese dirigidos ao público infantil mas degustados mais por adultos do que por crianças pelo teor do repertório, Par ou Ímpar é disco de fato feito para guris e gurias. Resistindo à tentação de fazer música para crianças de todas as idades, a dupla apresenta composições deliciosas, criadas dentro de universo lúdico realmente infantil. A inicial sequência autoral de Par ou Ímpar - O Mágico Estrambólico, Pirulito Esquisito, Formiga Atômica e Bicho Gente (este um tema somente de Kleiton Ramil) - já vale o álbum pela inspiração das melodias e pelo acerto das letras, escritas com vocabulário e personagens próprios do imaginário infantil. Produzido pela própria dupla, sob direção musical dividida pelos irmãos com o múltiplo instrumentista Caio Fonseca (teclados, violões, flauta, baixo e um órgão hammond), Par ou Ímpar versa sobre o universo das tradicionais brincadeiras infantis. O disco resulta animado, mas sem o tom artificial de alguns trabalhos infantis. Tudo resulta naturalmente lúdico. O coral infantil de A Bruxa - primeira música composta por Kleiton, aos 12 anos - reforça a espontaneidade que pauta Par ou Ímpar. Se Planeta Ploft (Pery Souza e Ricardo Silvestrin) é canção lenta de única estrofe que brinca com o pum sem cair na grosseria escatológica, Lindinha - o acalanto composto por Kledir Ramil para sua filha Júlia - enternece ao evocar clichês melódicos e poéticos do gênero sem perda da sensibilidade. Já Trova do Guri e da Guria - gravada com a participação realmente especial da humorista Fabiana Karla - expõe a origem dos irmãos nascidos em Pelotas (RS). A trova é espécie de desafio à moda gaúcha. No caso, Karla encarna a guria petulante que enfrenta o guri em disputa que diz muito do comportamento de meninos e meninas na última fase da infância. Também de origem gaúcha, o escritor Mário Quintana (1906 - 1994) gerou obra de reconhecimento nacional que inspirou Pé de Pilão (A Turma do Pé Quente), parceria de Kledir com o irmão Vítor Ramil, criada para a opereta Pé de Pilão. Fora das fronteiras dos Pampas, mas não muito longe, Par ou Ímpar apresenta ainda versões em português de dois temas da escritora e poeta argentina Maria Elena Walsh (1930 - 2011). Vertidos por Kledir, O Cão Salsicha e Margarida, a Tartaruga estão em sintonia com o universo do repertório autoral dos irmãos. Par ou Ímpar chega ao mercado sem a aura hype construída em torno dos projetos de Adriana Partimpim - o heterônimo infantil de Adriana Calcanhotto - mas é um grande disco infantil por trazer excelente música inédita feita realmente para criança, como se fazia na era pré-virtual.
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