Título: Como Diria Blavatsky
Artista: Jorge Vercillo
Gravadora: Leve / Posto 9 Música / Microservice
Cotação: * * 1/2
Segundo disco independente de Jorge Vercillo, Como Diria Blavatsky reitera vícios e virtudes autorais do compositor. Dono de discografia que atingiu pico de densidade em Todos Nós Somos Um (2007), álbum humanista de tom mais brasileiro, Vercillo retrocedeu em D.N.A. (2010) ao patamar mediano em que se situa Como Diria Blavatsky, nono álbum de inéditas do artista. O CD começa interessante - apesar de o balanço suave do samba Ventou - Ventou (Jorge Vercillo) parecer ter reincorporado com naturalidade o d.n.a. rítmico de Djavan, ressuscitando comparação que já havia ficado para trás - e vai se revelando repetitivo, talvez por conta de a safra de inéditas ter sido composta quase solitariamente por Vercillo. A balada que dá nome ao álbum - Como Diria Blavatsky (Jorge Vercillo), inspirada nos conceitos de teosofia da escritora russa Helena Petrovna Blavatsky (1831 - 1891) - é das mais inspiradas da lavra de Vercillo, sendo sustentada pelo piano de Glauton Campello e pelas cordas arranjadas por Jessé Sadoc. Em contrapartida, outra balada - Distante (Jorge Vercillo) - se revela trivial, inclusive pelos versos de romantismo derramado. Entre uma e outra, há Eu Quero a Verdade (Jorge Vercillo), balada de tom quase épico que perde o foco na letra, que prega de início o valor da sinceridade em relação afetiva para, na segunda metade, disparar (sem nexo) versos sobre a violência na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a condenação do uso da camisinha pela Igreja e a apatia do povo brasileiro frente aos problemas ambientais da Amazônia. A crítica social resulta mais focada em Rio Delírio (Jorge Vercillo), tema de tom jazzy. Já Acendeu (Dudu Falcão e Jorge Vercillo) - tema que celebra o arquipélago Fernando de Noronha é aberto por texto dito de forma empostada por Paulo César Feital - se impõe pelo suingue e pelo refrão contagiante, virtudes do compositor que domina bem o idioma radiofônico. Disco de menor diversidade rítmica no confronto com os dois álbuns anteriores do artista, Como Diria Blavatsky quase mira um salão de gafieira com os metais que adornam o samba Invictor (Jorge Vercillo) - composto em homenagem ao filho do cantor, Victor Vercillo, cuja voz abre a faixa - e evoca o funk à moda da disco music na introdução da dançante Me Leve a Sério (Jorge Vercillo), instante pop do disco. Já Nos Espelhos (Jorge Vercillo e Dudu Falcão) - que ganha remix alocado como faixa-bônus - reflete certa desatenção ao reanimar o fantasma da comparação com Djavan pelos versos iniciais ("Aton, atum / Aton, atol") que juntam palavras pela sonoridade sem roçar a maestria do compositor alagoano na função. Por fim, há outra balada (Quer Dizer, da lavra de Vercillo com João Bani) e há o samba Faixa de Gaza (Jorge Vercillo), no qual Vercillo dá resposta - sem argumentar de forma convincente - ao público que o recebeu com hostilidade no show comemorativo dos 70 anos de Jorge Mautner, em janeiro, no Circo Voador (RJ). Enfim, mesmo que ostente as virtudes de Vercillo, Como Diria Blavatsky sinaliza que já é hora de o artista ajustar o foco autoral e buscar outros parceiros para arejar obra que já começa a se enredar nos vícios naturais do bom compositor.
14 comentários:
Primeiro disco independente de Jorge Vercillo, Como Diria Blavatsky reitera vícios e virtudes autorais do compositor. Dono de discografia que atingiu pico de densidade em Todos Nós Somos Um (2007), álbum humanista de tom mais brasileiro, Vercillo retrocedeu em D.N.A. (2010) ao patamar mediano em que se situa Como Diria Blavatsky, nono álbum de inéditas do artista. O CD começa interessante - apesar de o balanço suave do samba Ventou - Ventou (Jorge Vercillo) parecer ter reincorporado com naturalidade o d.n.a. rítmico de Djavan, ressuscitando comparação que já havia ficado para trás - e vai se revelando repetitivo, talvez por conta de a safra de inéditas ter sido composta quase solitariamente por Vercillo. A balada que dá nome ao álbum - Como Diria Blavatsky (Jorge Vercillo), inspirada nos conceitos de teosofia da escritor russa Helena Petrovna Blavatsky (1831 - 1891) - é das mais inspiradas da lavra de Vercillo, sendo sustentada pelo piano de Glauton Campello e pelas cordas arranjadas por Jessé Sadoc. Em contrapartida, outra balada - Distante (Jorge Vercillo) - se revela trivial, inclusive pelos versos de romantismo derramado. Entre uma e outra, há Eu Quero a Verdade (Jorge Vercillo), balada de tom quase épico que perde o foco na letra, que prega de início o valor da sinceridade em relação afetiva para, na segunda metade, disparar (sem nexo) versos sobre a violência na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a condenação do uso da camisinha pela Igreja e a apatia do povo brasileiro frente aos problemas ambientais da Amazônia. A crítica social resulta mais focada em Rio Delírio (Jorge Vercillo), tema de tom jazzy. Já Acendeu (Dudu Falcão e Jorge Vercillo) - tema que celebra o arquipélago Fernando de Noronha é aberto por texto dito de forma empostada por Paulo César Feital - se impõe pelo suingue e pelo refrão contagiante, virtudes do compositor que domina bem o idioma radiofônico. Disco de menor diversidade rítmica no confronto com os dois álbuns anteriores do artista, Como Diria Blavatsky quase mira um salão de gafieira com os metais que adornam o samba Invictor (Jorge Vercillo) - composto em homenagem ao filho do cantor, Victor Vercillo, cuja voz abre a faixa - e evoca o funk à moda da disco music na introdução da dançante Me Leve a Sério (Jorge Vercillo), instante pop do disco. Já Nos Espelhos (Jorge Vercillo e Dudu Falcão) - que ganha remix alocado como faixa-bônus - reflete certa desatenção ao reanimar o fantasma da comparação com Djavan pelos versos iniciais ("Aton, atum / Aton, atol") que juntam palavras pela sonoridade sem roçar a maestria do compositor alagoano na função. Por fim, há outra balada (Quer Dizer, da lavra de Vercillo com João Bani) e há o samba Faixa de Gaza (Jorge Vercillo), no qual Vercillo dá resposta - sem argumentar de forma convincente - ao público que o recebeu com hostilidade no show comemorativo dos 70 anos de Jorge Mautner, em janeiro, no Circo Voador (RJ). Enfim, mesmo que ostente as virtudes de Vercillo, Como Diria Blavatsky sinaliza que já é hora de o artista ajustar o foco autoral e buscar outros parceiros para arejar obra que já começa a se enredar nos vícios naturais do bom compositor.
de tudo o que ele fez até agora, a única surpresa, para mim, foi "Na Ciclovia", parceria dele com Marcos Valle, para quem escreveu a letra. Nessa, esquece-se de que existe Djavan, mantém a coerência do texto e não recorre à literatice comum nas canções moldadas para FM. Ou seja, JV tem talento mas falta direção artística, arranjador de peso, critério na escolha de repertório e um pouco menos de pretensão, de "pompa e circunstância".
O problema do Jorge é que ele tá sem rumo. Numa hora faz música com Marcos Vale, noutra grava com Belo! Depois não entende por que é vaiado no show do Mautner
Isso mesmo, Luca, sem rumo também!
A primeira coisa que me chama atenção nessa resenha é a retomada da , já mais do que batida e desgastada, comparação de Vercilo com Djavan ( é falta de assunto ?) . Não somente pela recorrência em si, mas pela fundamentação da mesma em cima de algo que soa quase cômico para não dizer surreal !
Mauro fundamenta a “ volta de Djavan em Jorge “ ( algo por si só já meio controverso visto que o próprio Vercilo já declarou inúmeras vezes ter no artista alagoano uma de suas referencias em sua formação enquanto artísta, o que obviamente fara parte de seu processo criativo e sua existência enquanto cantor/compositor , já que tal base faz parte de seu dna artístico !!) na existência de versos que "juntam palavras pela sonoridade" !
Minha primeira pergunta : juntar palavras pela sonoridade é um ato patenteado por Djavan ? Ou seja, nenhum artista( como por exemplo Carlinhos Brown, Caetano e etc ) pode se aventurar por brincar com esse tipo de sonoridade pois isso é exclusividade de Djavan e ponto final ?!! E mais , está expressamente proibido que o cantor carioca use qualquer elemento ( por desatenção ? Não poderia ser intencional e parte de seu processo criativo, simples assim ?!) pois isso significa uma espécie de “ condenação “ em reavivar um fantasma ( Oi ?!!!) PROIBIDO? !! Ultima pergunta: ele usou o binômio palavra/sonoridade numa intro, E DAÍ meodeooos, E daí ?!!!! O que deveríamos sugerir ao cantor para a “ Oh!! Não evocação do fantasma “ ?? Que tal uma lista de itens expressamente proibidos tais como: não utilização de palavras sonoras, não composição de sambas , não sofejar e por aí vai ??
Que coisa mais castradora, limitada e absurda !!!!
Mauro, uma correção: "Como diria Blavatsky" é o segundo disco independente de Jorge Vercillo. O primeiro foi o "Leve", lançado em 1999, quando o cantor estava recém saído da Continental. Somente 1 ano depois é que a EMI comprou os direitos do álbum e o relançou com o selo.
Tem toda razão, Freddy. Obrigado por me lembrar desse detalhe. Abs, MauroF
"A retomada da, já mais do que batida e desgastada, comparação de Vercilo com Djavan ( é falta de assunto ?)...concordo contigo Rosa.....tese mais do que batida, pois Vercillo segue seu caminho há tempos....
Os "analistas" creêm que acertam na sua opinião,...mas se enganam tremendamente, como supõem tê-lo o artista feito.....
Mauro, gostaria de saber quantas vezes vc escuta um CD para emitir suas opiniões??? Visto que vc tem que escutar muitoooos!!
beijos
Também gostaria de saber quantas vezes vc escuta o cd para dar sua opinião...
"... Sem argumentar de forma convincente..." "Versos de romantismo derramados..." Não se pode falar de amor sem se tornar piegas?
Fico feliz pelo fato dele ter sido vaiado e ter respondido dessa forma... Podem até vaiar de novo!
Vercillo é um dos maiores compositores de cantores da atualidade. não concordo com grande parte de sua crítica, exceto o fato da música "eu quero verdade" que de fato "se perde" nas ultimas partes. quanto ao fato Vercillo = Djavan está completamente batido e sem fundamento. Tal comentário cabia lá nos seus primeiros álbuns, mas agora? não mais.
"como diria" não é um dos meus CDs de JOrge favoritos mas não chega a ser esse fracasso que é "pintado" em seu texto.
Esse disco veio mesmo para "peneirar",não são todos que vão absorver o que ele traz!Em um pais que qualquer nanana é música,não me admira que você tenha feito tantas críticas desse tipo,o que realmente me admira é essa comparação...que coisa chata,antiga e desnecessária!
Djavan deve estar feliz,afinal Vercillo hoje é um dos poucos compositores que se posiciona em questões até então varridas para debaixo do tapete,sabe falar de amor com clareza e naturalidade.Sim,Djavam deve estar feliz,cansado desse papo,mas feliz.
Esperava mais de você Mauro,já Vercillo surpreendeu com esse disco,impecável...
MAURO FERREIRA, ACHEI MUITO INTERESSANTE SUAS OBSERVAÇÕES, E ENTENDIR QUE FORAM FEITAS JUSTAMENTE PORQUE SE TRATAR DE UM CANTOR/COMPOSITOR DE UM NIVEL A PARTE.
APESAR DO CONJUNTO DE ARGUMENTOS APRESENTADOS TEREM MUITOS FUNDAMENTOS, NOTA-SE QUE VC FOI UM POUCO PESSOAL E MUITO EQUIVOCADO.
NÃO QUERO AQUI ABRIR DISCURSÕES SOBRE OPATAMAR DO JORGE VERCILLO, MAIS ELE TA TRILHANDO SOSINHO A TEMPO, E APOSTO SIM QUE A INSPIRAÇÃO MUSICAL DELE SEJA SIM, DJAVAN,CAETANO VELOSO, G GIL ENTRE OUTROS.
O JORGE VERCILLO É SIMPLESMENTE O MELHOR CANTOR/COMPOSITOR DOS ULTIMOS 12 ANOS. E ESSA NÃO É SO UMA OPNIÃO MINHA, E SIM DE MUITOS ARTISTAS ARGENTINOS E MEXICANOS E AINDA ALGUNS BRITANICOS.
VERDADE É TANTA QUE UM ARTISTA DE NOME NESSE PAIS É ESQUECIDO PELA MIDIA, E UM BOM ARTISTA É INDEPENDENTE DESTA MIDIA BRASLEIRA, QUE DAR MAIS ATENÇÃO AS MUSICAIS CASUAIS E LIGEIRAMENTE FINACEIRAS.
A comparação de Jorge com Djavan é totalmente sem sentido...Para ouvidos primários que, ou estão com problemas de surdez ou não tem conhecimento suficiente para ouvir Jorge e Djavan...Há um abismo enorme entre eles...mas tem que ter ouvidos e sensibilidade para perceber...
E o CD em questão é o segundo sem o dedo dos grandes selos. É claro que vai demandar um pouco de tempo para amadurecer o jeito de produzir independente...Mas ele está no caminho certo...
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