Mauro Ferreira no G1

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sábado, 15 de outubro de 2011

Em movimento, Calcanhotto cai no samba com ironia e belo jogo de cena

Resenha de show
Título: O Micróbio do Samba
Artista: Adriana Calcanhotto (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Espaço Tom Jobim (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 14 de outubro de 2011
Cotação: * * * * 1/2
Show em cartaz no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), até 16 de outubro de 2011

Para moças de fino trato, o samba de Adriana Calcanhotto cai bem no palco. No show O Micróbio do Samba, inspirado no disco homônimo editado em março de 2011 com duas marchas e dez sambas compostos e cantados pela artista gaúcha, Calcanhotto põe seu bloco na rua com ironias, contrastes e movimentos que sublinham a intencional subversão de valores do universo do samba. A opção pelo preto no figurino e pelo palco nu - preenchido apenas pela cantora e o trio formado por Alberto Continentino (baixo acústico), Davi Moraes (violão e cavaquinho) e Domenico Lancellotti (bateria) - reforça a intenção em jogo de cena armado à medida em que avança o roteiro, de aparência falsamente linear no início com Eu Vivo a Sorrir (Adriana Calcanhotto) e Aquele Plano para me Esquecer (Adriana Calcanhotto). Sem perder a pose e a feminilidade cool, Calcanhotto filtra por sua habitual ótica tropicalista os sentimentos de alegria e dor citados em Dos Prazeres, Das Canções (Péricles Cavalcanti) e expostos nos sambas do repertório quase todo autoral. Quinto número, apresentado na sequência de Mais Perfumado (Adriana Calcanhotto), Vai Saber - o samba de Calcanhotto que Marisa Monte lançou em 2006 no álbum Universo ao meu Redor - é o primeiro a entregar o jogo de cena de forma mais explícita. O gestual preciso da intérprete realça o sentido dos versos em número incrementado com os barulhinhos bons extraídos por Calcanhotto de seu MPC. Já Reparô? (Adriana Calcanhotto) desenvolve o jogo quando a cantora reproduz em cena os movimentos duros da personagem-rival do samba, a que "não samba", a que "não balança". O trio-base sustenta os grooves sem atravessar o samba indie. Se Beijo Sem (o samba que Calcanhotto fez para Marisa Monte e que acabou gravado por Teresa Cristina em 2009 em dueto com a própria Marisa) ostenta sua soberania melódica no palco-avenida, com direito a um botão desabotado no verso "Vou à Lapa decotada", o tema Trobar Nova (Adriana Calcanhotto) - egresso do homônimo show transitório criado pela artista antes de se deixar contaminar pelo samba -  parece sem pique no desfile de ideias e subversões. Em ala distinta, Esses Moços (Pobres Moços) - samba-canção de Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) - adensa o jogo de cena em interpretação em que Calcanhotto esboça no canto a desilusão típica da obra amargurada do compositor gaúcho. É quando a artista começa a virar o jogo de cena, cantando o samba Pode se Remoer (Adriana Calcanhotto) com a pegada de rock indie sugerida pelo trio e com o uso de um secador que espalha as partituras de Davi Moraes pelo chão em belo efeito cênico. As ironias e contrastes do jogo alcançam seu pico máximo em Argumento (Paulinho da Viola). Até porque Calcanhotto não altera o samba tanto assim, apesar de o número alternar a levada rock'n'roll do trio com a batida (quase) tradicional do samba lançado por Paulinho da Viola em 1975. Na sequência, Tão Chic - marchinha em que o cavaquinho de Davi Moraes soa com a pegada de um bandolim - introduz com chuva de confetes o baile carnavalizante que inclui a marcha-rancho Deixa, Gueixa, número em que Calcanhotto encarna a gueixa hábil no manuseio das xícaras. De volta ao samba, a cantora entra na roda ao percutir um prato em Você Disse Não Lembrar (Adriana Calcanhotto) para depois, já no bis, deixar a cena e o jogo a cargo do trio para que Domenico, com canto roqueiro, dê voz a Te Convidei pro Samba (Pedro Sá, Maurício Pacheco e Domenico Lancellotti), tema que lançou no disco gravado com o trio + 2. Tá na Minha Hora (Adriana Calcanhotto) reintroduz em cena a porta-bandeira deste samba de alma feminina que ganha trato ainda mais fino no palco. É impossível não se contaminar...

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Para moças de fino trato, o samba de Adriana Calcanhotto cai bem no palco. No show O Micróbio do Samba, inspirado no disco homônimo editado em março de 2011 com duas marchas e dez sambas compostos e cantados pela artista gaúcha, Calcanhotto põe seu bloco na rua com ironias, contrastes e movimentos que sublinham a intencional subversão de valores do universo do samba. A opção pelo preto no figurino e pelo palco nu - preenchido apenas pela cantora e o trio formado por Alberto Continentino (baixo acústico), Davi Moraes (violão e cavaquinho) e Domenico Lancellotti (bateria) - reforça a intenção em jogo de cena armado à medida em que avança o roteiro, de aparência falsamente linear no início com Eu Vivo a Sorrir (Adriana Calcanhotto) e Aquele Plano para me Esquecer (Adriana Calcanhotto). Sem perder a pose e a feminilidade cool, Calcanhotto filtra por sua habitual ótica tropicalista os sentimentos de alegria e dor citados em Dos Prazeres, Das Canções (Péricles Cavalcanti) e expostos nos sambas do repertório quase todo autoral. Quinto número, apresentado na sequência de Mais Perfumado (Adriana Calcanhotto), Vai Saber - o samba de Calcanhotto que Marisa Monte lançou em 2006 no álbum Universo ao meu Redor - é o primeiro a entregar o jogo de cena de forma mais explícita. O gestual preciso da intérprete realça o sentido dos versos em número incrementado com os barulhinhos bons extraídos por Calcanhotto de seu MPC. Já Reparô? (Adriana Calcanhotto) desenvolve o jogo quando a cantora reproduz em cena os movimentos duros da personagem-rival do samba, a que "não samba", a que "não balança". O trio-base sustenta os grooves sem atravessar o samba indie. Se Beijo Sem (o samba que Calcanhotto fez para Marisa Monte e que acabou gravado por Teresa Cristina em 2009 em dueto com a própria Marisa) ostenta sua soberania melódica no palco-avenida, com direito a um botão desabotado no verso "Vou à Lapa decotada", o tema Trobar Nova (Adriana Calcanhotto) - egresso do homônimo show transitório criado pela artista antes de se deixar contaminar pelo samba - parece sem pique no desfile de ideias e subversões. Em ala distinta, Esses Moços (Pobres Moços) - samba-canção de Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) - adensa o jogo de cena em interpretação em que Calcanhotto esboça no canto a desilusão típica da obra amargurada do compositor gaúcho. É quando a artista começa a virar o jogo de cena, cantando o samba Pode se Remoer (Adriana Calcanhotto) com a pegada de rock indie sugerida pelo trio e com o uso de um secador que espalha as partituras de Davi Moraes pelo chão em belo efeito cênico. As ironias e contrastes do jogo alcançam seu pico máximo em Argumento (Paulinho da Viola). Até porque Calcanhotto não altera o samba tanto assim, apesar de o número alternar a levada rock'n'roll do trio com a batida (quase) tradicional do samba lançado por Paulinho da Viola em 1975. Na sequência, Tão Chic - marchinha em que o cavaquinho de Davi Moraes soa com a pegada de um bandolim - introduz com chuva de confetes o baile carnavalizante que inclui a marcha-rancho Deixa, Gueixa, número em que Calcanhotto encarna a gueixa hábil no manuseio das xícaras. De volta ao samba, a cantora entra na roda ao percutir um prato em Você Disse Não Lembrar (Adriana Calcanhotto) para depois, já no bis, deixar a cena e o jogo a cargo do trio para que Domenico, com canto roqueiro, dê voz a Te Convidei pro Samba (Pedro Sá, Maurício Pacheco e Domenico Lancellotti), tema que lançou no disco gravado com o trio + 2. Tá na Minha Hora (Adriana Calcanhotto) reintroduz em cena a porta-bandeira deste samba de alma feminina que ganha trato ainda mais fino no palco. É impossível não se contaminar...

Anônimo disse...

Sempre ouvia a ADRIANA meio por cima, mas foi depois de conhecer uma que gostava muito dela, que percebi a grandeza dos lindos versos dela, e da humildade que ela carrega em seu bom humor, e tristeza cantada.

leitordomauro disse...

Adriana, já faz algum tempo, perdeu em seu rosto o olhar doce e a ironia leve que sempre a acompanharam no palco. Ultimamente anda com uma expressão carregada e dark que, até na fase final de Partimpim 2, transparecia no palco afastando sua magia anterior com relação às crianças quando estava em cena. Esse disco de sambas é pesado, quase indigesto em suas idéias, adjetivos que não combinam com esse ritmo conhecido como alegria do povo. As fotos postadas aqui não me deixam mentir.

Rhenan Soares disse...

Tive o azar de estar trabalhando no mesmo dia que o "Micróbio do Samba" esteve aqui. Fiquei ainda mais na vontade lendo a resenha. Espero que ela volte logo.
Ainda bem que está sendo registrado!

KL disse...

tributo à depressão 'de luxo', com altas doses de literatice e divagações deconexas no que se refere às 'composições' da própria lavra.
Aliás, aqui um recado: cantoras, de uma vez por todas, desistam de compor e dediquem-se apenas ao (difícil e nobre) ofício de cantar. Se ainda assim quiserem insistir em escrever, que sejam ao menos para igualar-se a ou superar uma Dolores Duran, Maysa, Angela Rorô, Marina Lima, Joyce, Tetê Espíndola, Suely Costa, Lecy Brandão, Dona Ivone Lara e...quem mais? Ninguém.

/Diego Xavier disse...

Ansioso pelo DVD do show... Será que ele não vem para o NE?

É verdade que a esposa dela morreu? Ouvi uma estória dessas e nenhuma confirmação.

(Esse cabelo lambido tá feio demais, putz!)

Carolina disse...

Querido, vai lavar suas cuecas! Talvez vc seja melhor nisso do que em fazer comentarios sobre musicas de mulher.

Carolina disse...

Mauro Ferreira, como vc aceitou este tipo de comentario no blog? Abaixo esta escrito que vc nao aceitaria comentarios com ofensas. O que esta pessoa escreveu é extremamente preconceituoso e desrespeitoso.