Título: Tempo de Menino
Artista: Pedro Luís
Gravadora: MP,B / Universal Music
Cotação: * * * *
Enfim solo, após série de trabalhos desenvolvidos no Rio de Janeiro (RJ) desde os anos 80 com grupos e coletivos (Urge, Boato, Parede e Monobloco), Pedro Luís capta em Tempo de Menino a miscigenação sonora nacional a partir de seu olhar carioca. Pilotado pelo MiniStereo, duo formado pelo produtor Rodrigo Campello com o guitarrista Jr. Tostoi, o álbum abre com o toque de capoeira que emoldura Nas Estrelas (Pedro Luís e Sérgio Paes) e fecha com o sentimento do fado que envolve a belíssima canção Lusa (Antonio Saraiva e Pedro Luís), gravada com a voz imponente da cantora Carminho e a guitarra e os dubs de Tostoi. Entre um e o outro, Tempo de Menino transita por toada blue à moda mineira - Imbora (Zé Renato e Pedro Luís), registrada com a voz emblemática de Milton Nascimento - e por gênero definido por Pedro como "baião sideral" em Os Beijos (Pedro Luís e Ivan Santos), faixa na qual figura Roberta Sá. Contudo, em essência, Tempo de Menino é disco carioca, mas da cor do Brasil - tal como a personagem retratada em Bela Fera, inspirado tema composto por Pedro Luís para a abertura da série de TV As Cariocas (2011) a pedido do diretor Daniel Filho. A pegada carioca é perceptível tanto no ritmo do samba Na Medida do Meu Coração (Ricardo Silveira e Pedro Luís) - turbinado com vibe roqueira pelo MiniStereo - quanto no suingue funkeado de Menina do Salão de Beleza (Pedro Luís, Beto Valente e Rodrigo Cabelo). Funk que ganha pressão em Crise (Pedro Luís e Ivan Santos) - faixa em que sobressai (bem) a moldura contemporânea com que o MiniStereo envolve as 13 composições do álbum, seja uma toada ou uma canção à moda portuguesa - e que se mistura com o samba na faixa-título, Tempo de Menino, reminiscência de um Rio mais humano, focado a partir da Tijuca natal, bairro carioca de onde vieram Erasmo Carlos (em afetiva participação na faixa) e Jorge Ben Jor (evocado através do suingue do samba-funk). Bairro situado perto da Tijuca, o Estácio exportou Luiz Melodia para o Brasil e é sintomático que a única música não autoral do disco seja da lavra de Melodia, Hoje e Amanhã Não Saio de Casa, tema lançado pelo Negro Gato em seu álbum Nós (1980). Mas cabe dizer que o retrato carioca não é idealizado. Faixa que tangencia o universo do indie rock, Só o Esqueleto (Ricardo Coelho e Pedro Luís) - outra faixa em que fica explícito o acerto da conexão de Pedro com o MiniStereo - mete o dedo na fratura exposta da fome, mazela que assola cidade miscigenada, de efervescência focada com contemporaneidade em Rio Moderno (Pedro Luís e Carlos Rennó). O tempo de Pedro Luís - cantor já eficiente - é hoje.
2 comentários:
Enfim solo, após série de trabalhos desenvolvidos no Rio de Janeiro (RJ) desde os anos 80 com grupos e coletivos (Urge, Boato, Parede e Monobloco), Pedro Luís capta em Tempo de Menino a miscigenação sonora nacional a partir de seu olhar carioca. Pilotado pelo MiniStereo, duo formado pelo produtor Rodrigo Campello com o guitarrista Jr. Tostoi, o álbum abre com o toque de capoeira que emoldura Nas Estrelas (Pedro Luís e Sérgio Paes) e fecha com o sentimento do fado que envolve a belíssima canção Lusa (Antonio Saraiva e Pedro Luís), gravada com a voz imponente da cantora Carminho e a guitarra e os dubs de Tostoi. Entre um e o outro, Tempo de Menino transita por toada blue à moda mineira - Imbora (Zé Renato e Pedro Luís), registrada com a voz emblemática de Milton Nascimento - e por gênero definido por Pedro como "baião sideral" em Os Beijos (Pedro Luís e Ivan Santos), faixa na qual figura Roberta Sá. Contudo, em essência, Tempo de Menino é disco carioca, mas da cor do Brasil - tal como a personagem retratada em Bela Fera, inspirado tema composto por Pedro Luís para a abertura da série de TV As Cariocas (2011) a pedido do diretor Daniel Filho. A pegada carioca é perceptível tanto no ritmo do samba Na Medida do Meu Coração (Ricardo Silveira e Pedro Luís) - turbinado com vibe roqueira pelo MiniStereo - quanto no suingue funkeado de Menina do Salão de Beleza (Pedro Luís, Beto Valente e Rodrigo Cabelo). Funk que ganha pressão em Crise (Pedro Luís e Ivan Santos) - faixa em que sobressai bem a moldura contemporânea com que o MiniStereo envolve as 13 composições do álbum, seja uma toada ou uma canção à moda portuguesa - e que se mistura com o samba na faixa-título, Tempo de Menino, reminiscência de um Rio mais humano, focado a partir da Tijuca natal, bairro carioca de onde vieram Erasmo Carlos (em afetiva participação na faixa) e Jorge Ben Jor (evocado através do suingue do samba-funk). Bairro situado perto da Tijuca, o Estácio exportou Luiz Melodia para o Brasil e é sintomático que a única música não autoral do disco seja da lavra de Melodia, Hoje e Amanhã Não Saio de Casa, tema lançado pelo Negro Gato em seu álbum Nós (1980). Mas cabe dizer que o retrato carioca não é idealizado. Faixa que tangencia o universo do indie rock, Só o Esqueleto (Ricardo Coelho e Pedro Luís) - outra faixa em que fica explícito o acerto da conexão de Pedro com o MiniStereo - mete o dedo na fratura exposta da fome, mazela que assola cidade miscigenada, de efervescência focada com contemporaneidade em Rio Moderno (Pedro Luís e Carlos Rennó). O tempo de Pedro Luís - cantor já eficiente - é hoje.
Estava ansioso há tempos por um disco solo de Pedro Luis e ele nao decepcionou: ritmado e cheio letras inteligentes, Pedro fez um disco comercial e bem intencionado. Já tá no meu Ipod !
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