Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Filme sobre era dourada do rock de Brasília perde foco pela edição lenta

Resenha de filme - Festival do Rio 2011 (Panorama do Cinema Mundial)
Título: Rock Brasília - Era de Ouro (Estados Unidos, 2011)

Direção: Vladimir Carvalho

Cotação: * * 1/2
Documentário em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) em cinco sessões do Festival do Rio 2011
Estreia nos cinemas brasileiros programada para 21 de outubro de 2011

Embora já contada em livros e entrevistas por seus protagonistas, a história é ótima e merecia chegar às telas. Contudo, o documentário Rock Brasília - Era de Ouro por vezes perde o foco pelo ritmo lento da edição. A narrativa resulta gordurosa, sobretudo na primeira metade do filme de Vladimir Carvalho. Responsável pela pesquisa, roteiro e direção do documentário, Carvalho não resiste à tentação de aparecer (várias vezes) na tela. E o que se vê são cenas dispensáveis como a que mostra o diretor sendo recebido pelo ator e agitador cultural J. Pingo antes da entrevista propriamente dita concedida por Pingo a Carvalho. No todo, o acabamento de Rock Brasília - Era de Ouro é tosco como o virulento som punk que se alastrou pelas quadras de Brasília (DF) entre o fim dos anos 70 e o início dos 80, preparando o terreno para o surgimento de bandas como o Aborto Elétrico (1978 - 1982), que, por sua vez, geraria a Legião Urbana (1982 - 1996) e o Capital Inicial - grupos que, ao lado da Plebe Rude, formam a santíssima trindade daquela era e daquele rock inicialmente tosco que o tempo se encarregou de polir e transformar em ouro. Além de recorrer a entrevistas históricas de Renato Russo (1960 - 1996), Carvalho dá voz não somente aos músicos do Capital, da Legião e da Plebe - através de depoimentos captados especialmente para o filme - como também aos pais e mães dos roqueiros. Embora por vezes frouxa, a costura desses depoimentos traça painel afetivo do punk rock feito pela chamada Turma da Colina. Carvalho expõe os fatos na tela em ordem cronológica. Verdade seja dita: o ritmo da segunda metade do filme é mais envolvente. É quando a edição adquire a pegada inexistente no início do documentário. É eletrizante a sequência de imagens do conturbado show feito em 1988 pela Legião Urbana no estádio Mané Garrincha em Brasília (DF), apresentação que culminou com tumulto e agressões dos PMs. Ao entrelaçar as imagens da confusão com depoimentos atuais como o de Dado Villa-Lobos, o diretor cria sequência especialmente impactante. Sem cair no melodrama, Carvalho também foca a morte de Renato Russo em outubro de 1996 e expõe o que ela representou para aquela geração. "A morte do Renato ressuscitou o Capital Inicial", resume Dinho Ouro Preto, que, em 1996, articulou com os irmãos Flávio e Fê Lemos sua volta ao grupo. Dinho reconhece em seu depoimento os graves erros cometidos pelo Capital Inicial no segundo e no terceiro álbuns (Independência e Você Não Precisa Entender, lançados em 1987 e 1988). Mas o mundo deu voltas e o Capital Inicial alcançaria em 2000 picos de vendagens nunca experimentados pela banda na era de ouro do rock brasiliense e é justamente com a imagem do maior show do grupo em Brasília - onde o Capital reuniu cerca de um milhão de pessoas na Esplanada dos Ministérios em 2008 e fez esse milhão acompanhar em coro versos de músicas compostas ainda na época do seminal Aborto Elétrico - que Carvalho encerra seu afetivo filme, mostrando o alcance do rock criado pela hoje lendária Turma da Colina. O fecho (com o choro de um pai) é de ouro, só que, como a história é ótima, o diretor poderia ter ajustado mais o foco do filme.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Embora já contada em livros e entrevistas por seus protagonistas, a história é ótima e merecia chegar às telas. Contudo, o documentário Rock Brasília - Era de Ouro por vezes perde o foco pelo ritmo lento da edição. A narrativa resulta gordurosa, sobretudo na primeira metade do filme de Vladimir Carvalho. Responsável pela pesquisa, roteiro e direção do documentário, Carvalho não resiste à tentação de aparecer várias vezes na tela. E o que se vê são cenas dispensáveis como a que mostra o diretor sendo recebido pelo ator e agitador cultural J. Pingo antes da entrevista propriamente dita concedida por Pingo ao diretor. No todo, o acabamento de Rock Brasília - Era de Ouro é tosco como o virulento som punk que se alastrou pelas quadras de Brasília (DF) entre o fim dos anos 70 e o início dos 80, preparando o terreno para o surgimento de bandas como o Aborto Elétrico (1978 - 1982), que, por sua vez, geraria a Legião Urbana (1982 - 1996) e o Capital Inicial - grupos que, ao lado da Plebe Rude, formam a santíssima trindade daquela era e daquele rock inicialmente tosco que o tempo se encarregou de polir e transformar em ouro. Além de recorrer a entrevistas históricas de Renato Russo (1960 - 1996), Carvalho dá voz não somente aos músicos do Capital, da Legião e da Plebe - através de depoimentos captados especialmente para o filme - como também aos pais e mães dos roqueiros. Embora por vezes frouxa, a costura desses depoimentos traça painel afetivo do punk rock feito pela chamada Turma da Colina. Carvalho expõe os fatos na tela em ordem cronológica. Verdade seja dita: o ritmo da segunda metade do filme é mais envolvente. É quando a edição adquire a pegada inexistente no início do documentário. É eletrizante a sequência de imagens do conturbado show feito em 1988 pela Legião Urbana no estádio Mané Garrincha em Brasília (DF), apresentação que culminou com tumulto e agressões dos PMs. Ao entrelaçar as imagens da confusão com depoimentos atuais como o de Dado Villa-Lobos, o diretor cria sequência especialmente impactante. Sem cair no melodrama, Carvalho também foca a morte de Renato Russo em outubro de 1996 e expõe o que ela representou para aquela geração. "A morte do Renato ressuscitou o Capital Inicial", resume Dinho, que, em 1996, articulou com os irmãos Flávio e Fê Lemos a sua volta ao grupo. O mesmo Dinho reconhece em seu depoimento os erros cometidos pelo Capital Inicial no segundo e no terceiro álbuns (Independência e Você Não Precisa Entender, lançados em 1987 e 1988). Mas o mundo deu voltas e o Capital Inicial alcançaria em 2000 picos de vendagens nunca experimentados pela banda na era de ouro do rock brasiliense e é justamente com a imagem do maior show do grupo em Brasília - onde o Capital reuniu cerca de um milhão de pessoas na Esplanada dos Ministérios em 2008 e fez esse milhão acompanhar em coro versos de músicas compostas ainda na época do seminal Aborto Elétrico - que Carvalho encerra seu afetivo filme, mostrando o alcance do rock criado pela hoje lendária Turma da Colina. O fecho (com o choro de um pai) é de ouro, só que, como a história é ótima, o diretor poderia ter ajustado mais o foco do filme.

Cláudio disse...

Mauro,

Você tem alguma informação a respeito do cancelamento do CD 2 em 1 de Célia?