Título: Banda de Milhões
Autor: Tom Gomes
Editora: Nova Leitura
Cotação: * * *
Em 1989, em conversa com Sérgio Lopes, então diretor artístico da gravadora CBS, Djavan questionou o executivo sobre a razão de as vendas de seus discos não estarem mais tão altas. Lopes argumentou que o processo de composição de Djavan - concluído no estúdio, na presença dos músicos da banda do artista - tornava sua obra demasiadamente sofisticada e sugeriu que ele finalizasse sem tanta firula uma das dez músicas que aprontava para o álbum que Djavan iria lançar naquele ano de 1989. Ousado, o executivo ainda pediu para o compositor colocar um 'eu te amo' na letra. Semanas depois, Djavan mostrou as músicas prontas para Lopes e uma delas - justamente aquela que tinha sido alvo da atenção do executivo - tinha o verso "Vem me fazer feliz porque eu te amo". Era a balada Oceano, que se tornou um dos maiores sucessos da carreira do compositor alagoano e elevou o patamar de vendas do artista. Contada no livro Banda de Milhões, a história mostra a importância e a influência de executivos como Lopes nos bastidores da indústria do disco. Escrito por Tom Gomes, com base em pesquisa de Guilherme Bryant, Banda de Milhões parte da trajetória do grupo Lee Jackson - formado nos anos 70 por Cláudio Condé, Luiz Carlos Maluly, Marco Bissi, Marcos Maynard e Sérgio Lopes - para chegar aos bastidores das principais gravadoras atuantes no Brasil. Com carreira impulsionada pelo sucesso Hey Girl, gravado em 1973, Lee Jackson se tornou indiretamente a banda de milhões do título porque todos seus cinco integrantes ocuparam postos de comando na era de outro da indústria fonográfica e souberam se reinventar com o fim dos tempos de fartura. Os milhões são tanto os números de discos vendidos a partir do marketing e das ideias desses executivos quanto as cifras astronômicas movimentadas por tais lançamentos. Maynard, em especial, se tornou conhecido pela apurada visão comercial que transforma músicas e artistas em produtos rentáveis (ele atualmente é o cérebro por trás do fenômeno de popularidade do grupo Restart). Tom Gomes conta a história oficial desses cinco homens do disco. Em texto que põe a objetividade a frente do estilo, Gomes apresenta um livro que vai despertar o interesse de todos que, de uma forma ou de outra, lidam com a indústria fonográfica. Vastos, os causos são saborosos e pecam somente por glorificar os personagens centrais. O autor mostra, por exemplo, como Maynard - então no comando da PolyGram - convenceu com tato e habilidade Maria Bethânia a gravar em 1993 o álbum com músicas de Roberto Carlos que devolveria à cantora o status de grande vendedora de disco após o lançamento de CD (Olho d'Água, 1992) que estacionou nas 19 mil cópias (cifra que, para os padrões da época e da artista, era sinônimo de retumbante fracasso). Mas Gomes não mostra como, na sequência, faltou ao mesmo Maynard tato e habilidade para impedir que Bethânia se desligasse da gravadora por não concordar com a visão artística do executivo na condução de sua carreira dali em diante. Ainda assim, são tantas deliciosas histórias de bastidores que a narrativa massuda de Banda de Milhões prende atenção, montando bom painel da evolução da indústria do disco. História que, como ressalta Gomes ao fim do livro, ainda continua. Maluly, por exemplo, é o produtor do CD, DVD e blu-ray Paula Fernandes ao Vivo, campeão de vendas de 2011 com seu retumbante 1,25 milhão de cópias vendidas desde janeiro. Como a história dos cinco músicos transformados em executivos se cruzou de maneira decisiva com a trajetória de alguns dos mais importantes cantores e grupos do Brasil (Caetano Veloso, Capital Inicial, Martinho da Vila, Quarteto em Cy, Roberto Carlos, Simone e Skank, entre muitos outros nomes citados ao longo das 306 páginas do livro), Banda de Milhões seduz apesar do tom oficial e da opção por expor somente os lances mais bonitos desse jogo de poder e música que (ainda) movimenta cifras milionárias, por mais que a pirataria física e virtual tenha acabado com os excessos (não apenas de dinheiro, mas também de criatividade e ousadia) dos anos dourados da indústria do disco. É um livro para entender como a banda toca.
9 comentários:
Em 1989, em conversa com Sérgio Lopes, então diretor artístico da gravadora CBS, Djavan questionou o executivo sobre a razão de as vendas de seus discos não estarem mais tão altas. Lopes argumentou que o processo de composição de Djavan - concluído no estúdio, na presença dos músicos da banda do artista - tornava sua obra demasiadamente sofisticada e sugeriu que ele finalizasse sem tanta firula uma das dez músicas que aprontava para o álbum que Dajvan iria lançar naquele ano de 1989. Ousado, o executivo ainda pediu para o compositor colocar um 'eu te amo' na letra. Semanas depois, Djavan mostrou as músicas prontas para Lopes e uma delas - justamente aquela que tinha sido alvo da atenção do executivo - tinha o verso "Vem me fazer feliz porque eu te amo". Era a balada Oceano, que se tornou um dos maiores sucessos da carreira do compositor alagoano e elevou o patamar de vendas do artista. Contada no livro Banda de Milhões, a história mostra a importância e a influência de executivos como Lopes nos bastidores da indústria do disco. Escrito por Tom Gomes, com base em pesquisa de Guilherme Bryant, Banda de Milhões parte da trajetória do grupo Lee Jackson - formado nos anos 70 por Cláudio Condé, Luiz Carlos Maluly, Marco Bissi, Marcos Maynard e Sérgio Lopes - para chegar aos bastidores das principais gravadoras atuantes no Brasil. Com carreira impulsionada pelo sucesso Hey Girl, gravado em 1973, Lee Jackson se tornou indiretamente a banda de milhões do título porque todos seus cinco integrantes ocuparam postos de comando na era de outro da indústria fonográfica e souberam se reinventar com o fim dos tempo de fartura. Os milhões são tanto os números de discos vendidos a partir do marketing e das ideias desses executivos quanto as cifras astronômicas movimentadas por tais lançamentos.
Maynard, em especial, se tornou conhecido pela apurada visão comercial que transforma músicas e artistas em produtos rentáveis (ele atualmente é o cérebro por trás do fenômeno de popularidade do grupo Restart). Tom Gomes conta a história oficial desses cinco homens do disco. Em texto que põe a objetividade a frente do estilo, Gomes apresenta um livro que vai despertar o interesse de todos que, de uma forma ou de outra, lidam com a indústria fonográfica. Vastos, os causos são saborosos e pecam somente por glorificar os personagens centrais. O autor mostra, por exemplo, como Maynard - então no comando da PolyGram - convenceu com tato e habilidade Maria Bethânia a gravar em 1993 o álbum com músicas de Roberto Carlos que devolveria à cantora o status de grande vendedora de disco após o lançamento de CD (Olho d'Água, 1992) que estacionou nas 19 mil cópias (cifra que, para os padrões da época e da artista, era sinônimo de retumbante fracasso). Mas Gomes não mostra como, na sequência, faltou ao mesmo Maynard tato e habilidade para impedir que Bethânia se desligasse da gravadora por não concordar com a visão artística do executivo na condução de sua carreira dali em diante. Ainda assim, são tantas deliciosas histórias de bastidores que a narrativa massuda de Banda de Milhões prende atenção, montando bom painel da evolução da indústria do disco. História que, como ressalta Gomes ao fim do livro, ainda continua. Maluly, por exemplo, é o produtor do CD, DVD e blu-ray Paula Fernandes ao Vivo, campeão de vendas de 2011 com seu retumbante 1,25 milhão de cópias vendidas desde janeiro. Como a história dos cinco músicos transformados em executivos se cruzou de maneira decisiva com a trajetória de alguns dos mais importantes cantores e grupos do Brasil (Caetano Veloso, Capital Inicial, Martinho da Vila, Quarteto em Cy, Roberto Carlos, Simone e Skank, entre muitos outros nomes citados ao longo das 306 páginas do livro), Banda de Milhões seduz apesar do tom oficial e da opção por expor somente os lances mais bonitos desse jogo de poder e música que (ainda) movimenta cifras milionárias, por mais que a pirataria física e virtual tenha acabado com os excessos (não apenas de dinheiro, mas também de criatividade e ousadia) dos anos dourados da indústria do disco. É um livro para entender como a banda toca.
Caro Mauro, só uns erros na resenha: saiu um "Dajvan", em "(...)uma das dez músicas que aprontava para o álbum que Dajvan iria lançar naquele ano de 1989".
Além disso, faltou um "s" em "dos tempo de fartura".
Sobre o livro: o assunto é muito interessante. Tenho profundas reservas (críticas, até) em relação a todos os focados na biografia.
Principalmente Maynard - que acertou algumas vezes, mas errou noutras, como no exagero de contratações e na má condução que levaram a Abril Music à falência, e no escândalo da maquiagem de números da EMI, em 2006.
Agora, não se pode negar que tiveram seu mérito no tempo em que a indústria fonográfica reinava. E que ainda continuam por aí: além de Maluly, Maynard também figura na Artmix, do amigo Guto Campos, que tem o citado Restart.
Enfim, repito que tenho críticas em relação aos mencionados. Agora, acho que é um livro válido. Lerei tão logo o encontre.
Felipe dos Santos Souza
Felipe, meu fiel revisor, grato por me apontar os erros de digitação. Sim, apesar do tom oficial, o livro é interessante. Abs, MauroF
p.s.: no livro, Maynard esclarece a questão da EMI.
É por causa dos Maynard da vida que eu abro um sorriso de orelha a orelha com a derrocada da indústria do disco.
Mauro
Muito obrigado pelos comentários sobre o livro.
Espero que as pessoas que tenham a oportunidade de ler BANDA DE MILHÕES percebam, como você percebeu, nossa intenção de relatar alguns momentos interessantes e ilustrativos das últimas cinco décadas do mercado musical brasileiro.
Na verdade, sem nenhuma pretensão literária e utilizando a banda Lee Jackson e seus integrantes,como protagonistas e fio condutor, foi possível mostrar um pouco do funcionamento do mercado e perceber que o talento é a base do sucesso de qualquer artista mas que sempre será necessária a existência de profissionais habilitados e com sensibilidade apurada para transformar critatividade e qualidade musical em carreiras bem sucedidas.
Grande abraço
Tom Gomes
Ps.: o livro encontra-se disponível em várias livrarias do Brasil mas, no momento, o mais fácil e barato é comprá-lo pelo site www.saraiva.com.br.
Mauro
Muito obrigado pelos comentários sobre o livro.
Espero que as pessoas que tenham a oportunidade de ler BANDA DE MILHÕES percebam, como você percebeu, nossa intenção de relatar alguns momentos interessantes e ilustrativos das últimas cinco décadas do mercado musical brasileiro.
Na verdade, sem nenhuma pretensão literária e utilizando a banda Lee Jackson e seus integrantes,como protagonistas e fio condutor, foi possível mostrar um pouco do funcionamento do mercado e perceber que o talento é a base do sucesso de qualquer artista mas que sempre será necessária a existência de profissionais habilitados e com sensibilidade apurada para transformar critatividade e qualidade musical em carreiras bem sucedidas.
Grande abraço
Tom Gomes
Ps.: o livro encontra-se disponível em várias livrarias do Brasil mas, no momento, o mais fácil e barato é comprá-lo pelo site www.saraiva.com.br.
Esse livro me aprece ser interessante, vou ver se o adquiro... Ultimamente livro tem sido objeto de luxo em terras brasileiras... Cada vez mais caro, e não sei por quê, sendo que aqui é um país onde a grande maioria das pessoas nunca leram um livro na vida, ou sequer tem o hábito de leitura... Deveria eer o contrário... Mas de qualquer forma, eles deveriam aproveitar a oportunidade do lançamento desse livro e lançarem em CD todos os discos da carreira do Lee Jackson, com áudio remasterizado das fitas originais do LP, incluindo o raríssimo LP "A Era dos Super-Heróis", que há tempos procuro pelo mesmo sem sorte alguma. Seria ótimo poder ter a oportunidade de poder comprar em CD os discos da lendária banda Lee Jackson. Mas duvido que isso aconteça algum dia, infelizmente...
Nossa, muito interessante e oportuno esse livro. Há anos espero para ler sobre a indústria fonográfica brasileira de uma maneira mais completa. Mas, pela resenha, já sei que não ficarei sabendo sobre o lado sombrio dessa indústria, que comandou por décadas (e ainda comanda) os rumos de uma fatia importante da cultura nacional. Fica para um outro volume, quem sabe...
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