Evento: Festival Faro MPB (em foto de Mauro Ferreira)
Título: Nó na Orelha
Artista: Criolo
Local: Studio RJ (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 28 de outubro de 2011
Cotação: * * * *
Atração principal do Festival Faro MPB, que movimenta o Studio RJ neste último fim de semana de outubro de 2011, Criolo pediu aplausos para as faxineiras da nova casa carioca - construída e programada nos moldes do hypado Studio SP - ao se apresentar lá para mostrar (pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro) o repertório de seu incensado segundo álbum, Nó na Orelha (2011). "Podia ser papai e mamãe, né?", gracejou o rapper paulistano diante do público que encheu a pista do Studio RJ para ver o show do artista-sensação do ano. Não, provavelmente não havia ali - entre o elitizado jovem público carioca que consumia o show e as cervejas do Studio RJ - filhos de faxineiros. Mas o fato é que, classes sociais à parte, a plateia estava conectada ao rap humanista e miscigenado de Criolo. O artista até chorou em cena ao ver e ouvir o público gritar seu nome no meio da apresentação. Criolo - vale ressaltar - cumpriu a alta expectativa, fazendo show na pressão, garantida por efervescente banda que inclui o tecladista Daniel Ganjaman (integrante do coletivo Instituto e um dos produtores de Nó na Orelha) e o baterista Curumim, entre outros entrosados músicos. Da entrada teatral ao som do suingante afrobeat que introduz Mariô (Criolo e Kiko Dinucci) até o encerramento pré-bis com Bogotá (Criolo), Kleber Cavalcante Gomes - antes Criolo Doido, agora somente Criolo - fez show quase sempre vibrante que, tal como o disco que origina, tira o rap dos guetos sem jamais negar a origem periférica do artista. Ao contrário. "Eu tenho orgulho da minha cor / Do meu cabelo e do meu nariz / Sou assim e sou feliz", explicita em versos de Sucrilhos (Criolo), tema alocado logo no início de roteiro que extrapola o repertório do álbum Nó na Orelha quando o artista canta Para Mulato, tema percussivo de pegada afro, composto por Criolo em parceria com Gui Amabis para o álbum Memórias Luso Africanas, recém-editado por Amabis. "O Brasil também é África", sentencia Criolo após o número. Nesses comentários, aliás, reside o único ponto fraco do show. Criolo poderia abreviar o discurso socialista contra preconceitos e deixar que músicas como o reggae Samba Sambei (Criolo) falem por si só a reboque das letras conscientes do artista. Se o sax de Thiago França põe pressão que realça a contundência dos versos realistas de Subirusdoiztiozin (Criolo), o bolero Freguês da Meia Noite (Criolo) expõe a despudorada incursão de Criolo pelo universo kitsch e popular da canção sentimental brasileira - terreno repisado alguns números depois quando o rapper se aventura a cantar Domingo à Tarde, pérola do repertório de Nelson Ned, saudado em cena por Criolo como "um dos grandes cantores do Brasil". O cover somente não é a maior surpresa do roteiro porque, na sequência do incandescente rap Grajauex (Criolo), o artista canta a capella versos humanistas e politizados encaixados (nem sempre dentro da métrica) sobre a melodia de Cálice, parceria de Chico Buarque com Gilberto Gil, ambos saudados por Criolo ao lado de Caetano Veloso e Milton Nascimento. Com Caetano, a propósito, Criolo cantou no VMB 2011 seu maior sucesso, Não Existe Amor em SP (Criolo), balada de alma soul que perde no palco parte da beleza sublime porque a arquitetura sonora da gravação do disco não é reproduzida com absoluta fidelidade no palco. O show favorece temas como samba Linha de Frente (Criolo), exemplo da habilidade de Criolo de transitar por vários ritmos sem prejuízo da atitude como rapper. E o fato é que - com o reforço vocal do carismático DJ Dan Dan - Criolo fez bonito na cena carioca, fazendo show sedutor que reitera a força do repertório reunido em Nó na Orelha, disco garantido na lista de melhores de 2011. O Studio RJ ferveu ao som de Criolo.
6 comentários:
Atração principal do Festival Faro MPB, que movimenta o Studio RJ neste último fim de semana de outubro de 2011, Criolo pediu aplausos para as faxineiras da nova casa carioca - construída e programada nos moldes do hypado Studio SP - ao se apresentar lá para mostrar (pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro) o repertório de seu incensado segundo álbum, Nó na Orelha (2011). "Podia ser papai e mamãe, né?", gracejou o rapper paulistano diante do público que encheu a pista do Studio RJ para ver o show do artista-sensação do ano. Não, provavelmente não havia ali - entre o elitizado jovem público carioca que consumia o show e as cervejas do Studio RJ - filhos de faxineiros. Mas o fato é que, classes sociais à parte, a plateia estava conectada ao rap humanista e miscigenado de Criolo. O artista até chorou em cena ao ver e ouvir o público gritar seu nome no meio da apresentação. Criolo - vale ressaltar - cumpriu a alta expectativa, fazendo show na pressão, garantida por efervescente banda que inclui o tecladista Daniel Ganjaman (integrante do coletivo Instituto e um dos produtores de Nó na Orelha) e o baterista Curumim, entre outros entrosados músicos. Da entrada teatral ao som do suingante afrobeat que introduz Mariô (Criolo e Kiko Dinucci) até o encerramento pré-bis com Bogotá (Criolo), Kleber Cavalcante Gomes - antes Criolo Doido, agora somente Criolo - fez show quase sempre vibrante que, tal como o disco que origina, tira o rap dos guetos sem jamais negar a origem periférica do artista. Ao contrário. "Eu tenho orgulho da minha cor / Do meu cabelo e do meu nariz / Sou assim e sou feliz", explicita em versos de Sucrilhos (Criolo), tema alocado logo no início de roteiro que extrapola o repertório do álbum Nó na Orelha quando o artista canta Para Mulato, tema percussivo de pegada afro, composto por Criolo em parceria com Gui Amabis para o álbum Memórias Luso Africanas, recém-editado por Amabis. "O Brasil também é África", sentencia Criolo após o número. Nesses comentários, aliás, reside o único ponto fraco do show. Criolo poderia abreviar o discurso socialista contra preconceitos e deixar que músicas como o reggae Samba Sambei (Criolo) falem por si só a reboque das letras conscientes do artista. Se o sax de Thiago França põe pressão que realça a contundência dos versos realistas de Subirusdoiztiozin (Criolo), o bolero Freguês da Meia Noite (Criolo) expõe a despudorada incursão de Criolo pelo universo kitsch e popular da canção sentimental brasileira - terreno repisado alguns números depois quando o rapper se aventura a cantar Domingo à Tarde, pérola do repertório de Nelson Ned, saudado em cena por Criolo como "um dos grandes cantores do Brasil". O cover somente não é a maior surpresa do roteiro porque, na sequência do incandescente rap Grajauex (Criolo), o artista canta a capella versos humanistas e politizados encaixados (nem sempre dentro da métrica) sobre a melodia de Cálice, parceria de Chico Buarque com Gilberto Gil, ambos saudados por Criolo ao lado de Caetano Veloso e Milton Nascimento. Com Caetano, a propósito, Criolo cantou no VMB 2011 seu maior sucesso, Não Existe Amor em SP (Criolo), balada de alma soul que perde no palco parte da beleza sublime porque a arquitetura sonora da gravação do disco não é reproduzida com absoluta fidelidade no palco. O show favorece temas como samba Linha de Frente (Criolo), exemplo da habilidade de Criolo de transitar por vários ritmos sem prejuízo da atitude como rapper. E o fato é que - com o reforço vocal do carismático DJ Dan Dan - Criolo fez bonito na cena carioca, fazendo show sedutor que reitera a força do repertório reunido em Nó na Orelha, disco garantido na lista de melhores de 2011. O Studio RJ ferveu ao som de Criolo.
fui atrás do disco e, ok, Criolo fez mesmo um cd interesssante, fora dessa mesmice que é o rap. mas jamais vou aceitar essa mania que crítico tem de eleger a bola da vez. ano passado foi Tulipa. esse ano é Criolo. quem vai ser o de 2012?
A música do Criolo é de fato interessante. Mas o vi no Altas Horas outro dia e, puts!, que papo ruim... parece missionário, chatérrimo. Enfim, esperar pra ver...
Adorei a expressão rap humanista.
É isso mesmo que ele faz.
Aliás, é o que ele é - parece ser.
Ao contrário do Rhenan, curto esse discurso. Vejo veracidade nele.
PS: O Brasil é o país da bola, Luca.
Se ela vier redondinha que nem a do Criolo é só chutar e comemorar o gol.
Hoje se um cara tem discurso politizado ele é chato? É isso? E as pessoas por ai aplaudindo tanto besteirol...quanta inversão de valores...
ótima a expressão rap humanista, Mauro.
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