domingo, 27 de novembro de 2011

Em boa forma vocal, Fagner rebobina sucessos em fluente show no Rio

Resenha de show
Título: Raimundo Fagner
Artista: Fagner (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de novembro de 2011
Cotação: * * * 1/2

Perto de completar 40 anos de carreira, iniciada em 1972 com a gravação de Disco de Bolso editado pela revista Pasquim, Fagner voltou aos palcos cariocas com show de caráter retrospectivo que encheu a casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 26 de novembro de 2011. Feita em 30 números, a revisão privilegia o repertório dos anos 70 - década em que o cancioneiro de Fagner tinha densidade poética - sem esquecer os sucessos posteriores, da fase progressivamente pop e diluída das décadas de 80 e 90. Salta aos ouvidos a ótima forma vocal do cantor. Fagner enfileira seus hits nos mesmos tons de épocas áureas. Mas já já modula bem a voz sem soar necessariamente rascante, feito observado já no primeiro número, Cantos do Rio (Petrúcio Maia), obscuro samba que Fagner lançou em 1982 em compacto gravado com Zico e que reviveu na abertura do show para celebrar os 40 anos de sua chegada ao Rio de Janeiro (RJ), a cidade que abrigou o cantor e compositor cearense em 1971. Expoente da corrente migratória que deslocou artistas nordestinos para o Rio no início de carreira, Fagner tem pérolas registradas em seu baú discográfico. Motivo (Fagner sobre poema de Cecília Meirelles, 1978) e Asa Partida (Fagner e Abel Silva, 1976) são duas joias que reluziram no show entre abordagem serena de balada tristonha da Jovem Guarda (Nossa Canção, Luiz Ayrão, 1966) e recordações de sucessos de sua fase pop dos 80, como Cartaz (1984) e Deixa Viver (1985), parcerias de Francisco Casaverde com Fausto Nilo. Como em quase todo show de entressafra, a apresentação de Fagner no Vivo Rio transcorreu fluente e sem formalidade, com direito a números improvisados no final para contentar o público que queria mais. Foi nessa parte mais solta que Fagner cantou a toada Quem me Levará Sou Eu (Dominguinhos e Manduka, 1979) e que destilou a melancolia nordestina de Vaca Estrela e Boi Fubá (Patativa do Assaré, 1980), com direito a trecho entoado a capella. Os arranjos, em sua maioria, são reverentes aos das gravações originais, ainda que Canteiros (Fagner sobre poema de Cecília Meirelles, 1973) tenha sido regado com toque heavy ao fim do número. Os dois guitarristas da banda se destacam nos números mais pesados e na introdução de Deslizes (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1987). Pena que, a despeito da boa forma vocal do cantor, a interpretação de Fanatismo (Fagner em poema de Florbela Espanca, 1981) tenha soado mecânica sem a carga passional pedida pelo tema. Da mesma forma, Jura Secreta (Sueli Costa e Abel Silva, 1977) foi feita sem a exigida densidade. No todo, o show seduziu pela força e apelo da obra de Fagner. 

Um comentário:

  1. Perto de completar 40 anos de carreira, iniciada em 1972 com a gravação de Disco de Bolso editado pela revista Pasquim, Fagner voltou aos palcos cariocas com show de caráter retrospectivo que encheu a casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 26 de novembro de 2011. Feita em 30 números, a revisão privilegia o repertório dos anos 70 - década em que o cancioneiro de Fagner tinha densidade poética - sem esquecer os sucessos posteriores, da fase progressivamente pop e diluída das décadas de 80 e 90. Salta aos ouvidos a ótima forma vocal do cantor. Fagner enfileira seus hits nos mesmos tons de épocas áureas. Mas já já modula bem a voz sem soar necessariamente rascante, feito observado já no primeiro número, Cantos do Rio (Petrúcio Maia), obscuro samba que Fagner lançou em 1982 em compacto gravado com Zico e que reviveu na abertura do show para celebrar os 40 anos de sua chegada ao Rio de Janeiro (RJ), a cidade que abrigou o cantor e compositor cearense em 1971. Expoente da corrente migratória que deslocou artistas nordestinos para o Rio no início de carreira, Fagner tem pérolas registradas em seu baú discográfico. Motivo (Fagner sobre poema de Cecília Meirelles, 1978) e Asa Partida (Fagner e Abel Silva, 1976) são duas joias que reluziram no show entre abordagem serena de balada tristonha da Jovem Guarda (Nossa Canção, Luiz Ayrão, 1966) e recordações de sucessos de sua fase pop dos 80, como Cartaz (1984) e Deixa Viver (1985), parcerias de Francisco Casaverde com Fausto Nilo. Como em quase todo show de entressafra, a apresentação de Fagner no Vivo Rio transcorreu fluente e sem formalidade, com direito a números improvisados no final para contentar o público que queria mais. Foi nessa parte mais solta que Fagner cantou a toada Quem me Levará Sou Eu (Dominguinhos e Manduka, 1979) e que destilou a melancolia nordestina de Vaca Estrela e Boi Fubá (Patativa do Assaré, 1980), com direito a trecho entoado a capella. Os arranjos, em sua maioria, são reverentes aos das gravações originais, ainda que Canteiros (Fagner sobre poema de Cecília Meirelles, 1973) tenha sido regado com toque heavy ao fim do número. Os dois guitarristas da banda se destacam nos números mais pesados e na introdução de Deslizes (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1987). Pena que, a despeito da boa forma vocal do cantor, a interpretação de Fanatismo (Fagner em poema de Florbela Espanca, 1981) tenha soado mecânica sem a carga passional pedida pelo tema. Da mesma forma, Jura Secreta (Sueli Costa e Abel Silva, 1977) foi feita sem a exigida densidade. No todo, o show seduziu pela força e apelo da obra de Fagner.

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