Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Izzy uniformiza tons da música preta brasileira em 'Negro Azul da Noite'

Resenha de CD
Título: Negro Azul da Noite
Artista: Izzy Gordon
Gravadora: Joia Moderna
Cotação: * * *

Sobrinha de Dolores Duran (1930 - 1955), a paulista Izzy Gordon tem bela voz, ainda à espera de reconhecimento nacional neste populoso país de cantoras. Essa voz ainda pouco ouvida é afinada e tem suingue. Mas nem por isso o CD Negro Azul da Noite soa tão sedutor quanto o canto de Izzy. A (boa) ideia foi juntar dez pérolas mais ou menos raras de compositores negros do Brasil. A questão é que, sob a direção musical do arranjador e pianista Moisés Alves, a cantora uniformiza os tons da música preta brasileira em Negro Azul da Noite. Embora pautado por musicalidade refinada, o álbum dilui nuances e estilos, irmanando uma música do grupo carioca O Rappa - Pescador de Ilusões (Marcelo Yuka, Lauro Farias, Marcelo Falcão, Xandão e Marcelo Lobato, 1996) - com um tema da sambista Geovana, Negro Azul da Noite (1975), embalado em arranjo minimalista pontuado pelo baixo de Leandro Matsumoto. Disco melódico, ambientado em clima íntimo que evoca o escurinho de uma boate, Negro Azul da Noite dá tom jazzy a New Love como se a balada lançada em 1973 por seu compositor Tim Maia (1942 - 1998) fosse um standard norte-americano. O trompete de Walmir Gil realça a classe do arranjo com o mesmo virtuosismo com que o trombone de Bocato pontua Questão de Gosto (Leci Brandão, 1976), faixa que evoca o suingue evidenciado nos dois álbuns anteriores de Izzy, Aos Mestres com Carinho - Homenagem a Dolores Duran (2006) e O Que Eu Tenho pra Dizer (2010). A balada Coisas da Vida (Milton Nascimento e Fernando Brant) - lançada por Milton no álbum Txai (1990) - se beneficia muito do tom melódico do disco e se revela inesperadamente interessante. Orgulho (Paulinho da Viola e Capinam, 1972) ganha a moldura do violão de Cristiano Nunes em clima mais camerístico do que seresteiro e se constitui em outro êxito deste disco elegante por realçar um certo classicismo impregnado na obra de Paulinho. Por sua vez, A Lua e Eu (Cassiano e Paulo Zdanowski, 1976) ganha abordagem mais trivial que valoriza a emissão caprichada da cantora. Já Você Merece Samba (Carlinhos Brown, 2010) perde boa parte da beleza evidenciada no registro original do autor enquanto Minha Verdade (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1976) - samba lançado por Elizeth Cardoso (1920 - 1990) - pouco se beneficia do clima íntimo do álbum. Joia de alto quilate, uma das mais raras do baú da música brasileira dos anos 70, O Amor Está no Ar (Agostinho dos Santos e Joab Teixeira, 1973) fecha Negro Azul da Noite valorizando o registro vocal de Izzy Gordon e reiterando a impressão de que, se os arranjos e o canto da artista tivessem mais colorido, as dez músicas do álbum iriam expor com mais clareza os tons diversos da música preta do Brasil.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Sobrinha de Dolores Duran (1930 - 1955), a paulista Izzy Gordon tem bela voz, ainda à espera de reconhecimento nacional neste populoso país de cantoras. Essa voz ainda pouco ouvida é afinada e tem suingue. Mas nem por isso o CD Negro Azul da Noite soa tão sedutor quanto o canto de Izzy. A (boa) ideia foi juntar dez pérolas mais ou menos raras de compositores negros do Brasil. A questão é que, sob a direção musical do arranjador e pianista Moisés Alves, a cantora uniformiza os tons da música preta brasileira em Negro Azul da Noite. Embora pautado por musicalidade refinada, o álbum dilui nuances e estilos, irmanando uma música do grupo carioca O Rappa - Pescador de Ilusões (Marcelo Yuka, Lauro Farias, Marcelo Falcão, Xandão e Marcelo Lobato, 1996) - com um tema da sambista Geovana, Negro Azul da Noite (1975), embalado em arranjo minimalista pontuado pelo baixo de Leandro Matsumoto. Disco melódico, ambientado em clima íntimo que evoca o escurinho de uma boate, Negro Azul da Noite dá tom jazzy a New Love como se a balada lançada em 1973 por seu compositor Tim Maia (1942 - 1998) fosse um standard norte-americano. O trompete de Walmir Gil realça a classe do arranjo com o mesmo virtuosismo com que o trombone de Bocato pontua Questão de Gosto (Leci Brandão, 1973), faixa que evoca o suingue evidenciado nos dois álbuns anteriores de Izzy, Aos Mestres com Carinho - Homenagem a Dolores Duran (2006) e O Que Eu Tenho pra Dizer (2010). A balada Coisas da Vida (Milton Nascimento e Fernando Brant) - lançada por Milton no álbum Txai (1990) - se beneficia muito do tom melódico do disco e se revela inesperadamente interessante. Orgulho (Paulinho da Viola e Capinam, 1972) ganha a moldura do violão de Cristiano Nunes em clima mais camerístico do que seresteiro e se constitui em outro êxito deste disco elegante por realçar um certo classicismo impregnado na obra de Paulinho. Por sua vez, A Lua e Eu (Cassiano e Paulo Zdanowski, 1976) ganha abordagem mais trivial que valoriza a emissão caprichada da cantora. Já Você Merece Samba (Carlinhos Brown, 2010) perde boa parte da beleza evidenciada no registro original do autor enquanto Minha Verdade (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1976) - samba lançado por Elizeth Cardoso (1920 - 1990) - pouco se beneficia do clima íntimo do álbum. Joia de alto quilate, uma das mais raras do baú da música brasileira dos anos 70, O Amor Está no Ar (Agostinho dos Santos e Joab Teixeira, 1973) fecha Negro Azul da Noite valorizando o registro vocal de Izzy Gordon e reiterando a impressão de que, se os arranjos e o canto da artista tivessem mais colorido, as dez músicas do álbum iriam expor com mais clareza os tons diversos da música preta do Brasil.

KL disse...

Mauro, investigue aí: além de sobrinha da diva Dolores Duran, ela parece que é filha do grande cantor Dave Gordon. Ou seja, duplo background.

Abraço!

Mauro Ferreira disse...

Sim, KL, Izzy é filha de Dave
Gordon.

Mauro Ferreira disse...

oi, Renato, grato por me alertar para o erro (de digitação), já corrigido. Abs, MauroF

CN disse...

Adoro Izzy Gordon e sou super fã do pianista Moisés Alves, músico do mais alto nível. Vou conferir. Parabéns a todos os envolvidos e a Joia Moderna por mais este acerto. Carlos Navas

Erik Tavares disse...

Gostaria de permissão para reproduzir seu texto no FC Izzy Gordon

Mauro Ferreira disse...

Está autorizado, Erik. Abs, MauroF