Título: Breves Minutos
Artista: Zé Renato
Gravadora: MP,B Discos / Universal Music
Cotação: * * * *
Zé Renato é tão bom cantor - de maestria vocal atestada em refinadas abordagens fonográficas dos repertórios de Silvio Caldas (Arranha-Céu, 1993), Zé Kétti (Natural do Rio de Janeiro, 1995) e da Jovem Guarda (É Tempo de Amar, 2008) - que nem sempre seu talento como compositor é valorizado como deveria. Breves Minutos, 12º disco solo de Zé Renato, chega para reiterar a maestria do compositor, embaçada em álbuns seminais como Pegadas (1988), mas já evidenciada a partir do revigorante Cabô (1999). Sintomaticamente, Breves Minutos é o primeiro álbum de repertório inteiramente autoral gravado por Zé Renato. Desta vez, não há uma releitura sequer para sinalizar a habilidade do intérprete no tratamento de obras alheias. O talento do cantor é totalmente (ex)posto a serviço do compositor. E está inteiro no disco, especialmente perceptível nas vozes que entrelaçam no jazzístico tema Sweet Gil (Zé Renato), evocando o canto do Boca Livre, o grupo vocal que deu projeção a Zé na virada dos anos 70 para os 80. Está lá também na introdução a capella de Vai Tambor (Zé Renato e Juca Filho), folia-de-reis que evoca as tradições musicais mineiras embrenhadas também em Imbora (Zé Renato e Pedro Luís), a toada que o parceiro Pedro Luís gravou com ar mineiro - e a participação de Milton Nascimento - em seu recém-lançado disco solo Tempo de Menino e que surge transmutada em Breves Minutos com toques de baião. O aroma ruralista da toada é impregnado pelo acordeom de Marcos Nimrichter na canção Na Trilha do meu Sonho, outra bela parceria de Zé com Pedro incluída no álbum. Já na safra de inéditas compostas como Joyce -coautora de quatro das 12 músicas do álbum - Zé celebra a Bossa Nova em Desarmonia, cai cool no samba em Tá Legal - com adesões do violão e da guitarra de Toninho Horta - e reverencia o apego do Japão à música brasileira em Um Abraço no Japão com justa citação de Tom Jobim (1927 - 1994), o maestro soberano que pôs o Brasil definitivamente no mapa-múndi musical. Ainda com Joyce, Zé reitera sua identidade melódica - com dose mais rala de inspiração - em De Onde Vem a Saudade?, momento ligeiramente menos sedutor do disco produzido pelo próprio Zé Renato com intervenções de Ricardo Silveira (em Imbora) e de Dé Palmeira (em A Cor do Anel de Isabel, parceria com Lula Queiroga que evoca de longe a arquitetura das cirandas). Abrindo o leque estilístico, Breves Minutos reabre a cortina do passado ao transitar pelo choro mais dolente no tema instrumental Porque Choro (Zé Renato) - música inédita que remete ao tempo pré-Boca Livre em que o artista integrava o grupo de choro Éramos Felizes - e ao evocar o suingue afro do soberano maestro pernambucano Moacir Santos (1926 - 2006) em La Luna (Zé Renato e Ivan Santos), destaque da safra de inéditas pela melodia bela plenamente valorizada pela maestria do cantor. Enfim, Breves Minutos expõe em breves 41 minutos que a produção de Zé Renato - e da própria MPB - continua vigorosa. Basta abrir os ouvidos para apreciá-la sem ranços saudosistas... Belo disco!!!
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Zé Renato é tão bom cantor - de maestria vocal atestada em suas refinadas abordagens fonográficas dos repertórios de Silvio Caldas (Arranha-Céu, 1993), Zé Kétti (Natural do Rio de Janeiro, 1995) e da Jovem Guarda (É Tempo de Amar, 2008) - que nem sempre seu talento como compositor é valorizado como devia. Breves Minutos, 12º disco solo de Zé Renato, chega para reiterar a maestria do compositor, embaçada em álbuns seminais como Pegadas (1988), mas já evidenciada a partir do revigorante Cabô (1999). Sintomaticamente, Breves Minutos é o primeiro álbum de repertório inteiramente autoral gravado por Zé Renato. Desta vez, não há uma releitura sequer para sinalizar a habilidade do intérprete no tratamento de obras alheias. O talento do cantor é totalmente (ex)posto a serviço do compositor. E está inteiro no disco, especialmente perceptível nas vozes que entrelaçam no jazzístico tema Sweet Gil (Zé Renato), evocando o canto do Boca Livre, o grupo vocal que deu projeção a Zé na virada dos anos 70 para os 80. Está lá também na introdução a capella de Vai Tambor (Zé Renato e Juca Filho), folia-de-reis que evoca as tradições musicais mineiras embrenhadas também em Imbora (Zé Renato e Pedro Luís), a toada que o parceiro Pedro Luís gravou com ar mineiro - e a participação de Milton Nascimento - em seu recém-lançado disco solo Tempo de Menino e que surge transmutada em Breves Minutos com toques de baião. O aroma ruralista da toada é impregnado pelo acordeom de Marcos Nimrichter na canção Na Trilha do meu Sonho, outra bela parceria de Zé com Pedro incluída no álbum. Já na safra de inéditas compostas como Joyce -coautora de quatro das 12 músicas do álbum - Zé celebra a Bossa Nova em Desarmonia, cai cool no samba em Tá Legal - com adesões do violão e da guitarra de Toninho Horta - e reverencia o apego do Japão à música brasileira em Um Abraço no Japão com justa citação de Tom Jobim (1927 - 1994), o maestro soberano que pôs o Brasil definitivamente no mapa-múndi musical. Ainda com Joyce, Zé reitera sua identidade melódica - com dose mais rala de inspiração - em De Onde Vem a Saudade?, momento ligeiramente menos sedutor do disco produzido pelo próprio Zé Renato com intervenções de Ricardo Silveira (em Imbora) e de Dé Palmeira (em A Cor do Anel de Isabel, parceria com Lula Queiroga que evoca de longe a arquitetura das cirandas). Abrindo o leque estilístico, Breves Minutos reabre a cortina do passado ao transitar pelo choro mais dolente no tema instrumental Porque Choro (Zé Renato) - música inédita que remete ao tempo pré-Boca Livre em que o artista integrava o grupo de choro Éramos Felizes - e ao evocar o suingue afro do maestro pernambucano Moacir Santos (1926 - 2006) em La Luna (Zé Renato e Ivan Santos), destaque da safra de inéditas pela melodia bela plenamente valorizada pela maestria do cantor. Enfim, Breves Minutos expõe em breves 41 minutos que a produção de Zé Renato - e da própria MPB - continua vigorosa. Basta abrir os ouvidos para apreciá-la sem ranços saudosistas... Belo disco!!!
Zé lança discos ótimos que ninguém ouve
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