Título: Eu Voltei
Artista: Ângela Maria
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *
"Eu voltei!", ressalta Ângela Maria com perceptível orgulho ao fim de O Portão (Roberto Carlos e Eramos Carlos). Sucesso do Rei em 1974, O Portão abre o primeiro disco da cantora em oito anos, Eu Voltei, e tem sua melancolia realçada pelo canto doce da Sapoti. Aos 82 anos, Ângela Maria é rara sobrevivente da era de ouro do rádio brasileiro. Seu feliz retorno ao mercado fonográfico - em CD produzido por Thiago Marques Luiz - apaga a má impressão de Disco de Ouro (2003), álbum equivocado até no título. Eu Voltei é um disco urdido no tempo da delicadeza. Sem cair na tentação de evidenciar a potência vocal já perdida na poeira da estrada, Ângela canta mágoas e dores de amores em tons baixos, apropriados para o atual estágio de sua voz, referência de canto feminino no Brasil que influenciou até Elis Regina (1945 - 1982). Selecionado com bom senso, o repertório gravita em torno do universo do samba-canção e do bolero. E, dentro desse universo folhetinesco, a Sapoti ainda dá banho em muita cantora hypada. Seja cantando Olhos nos Olhos (Chico Buarque) sem carregar na dramaticidade, seja destilando mágoas embebidas em solidão ao reabrir Bar da Noite (Haroldo Barbosa e Bidu Reis), seja engatando (mais) um dueto com Cauby Peixoto em Se Queres Saber (Peter Pan). Ou ainda ressaltando com doçura o fel e o mel dos homens amados, personagens de Esse Cara (Caetano Veloso) e Menino Grande (Antônio Maria). Os arranjos comedidos valorizam as interpretações comedidas da cantora. Pra Você (Silvio César), por exemplo, é canção levada apenas pela voz de Ângela e pelo violão de Ronaldo Rayol. Já o piano de Alex Vianna conduz Os Amantes (Sidney da Conceição e Lourenço), sucesso de Luiz Ayrão nos anos 70 que se ajusta bem ao universo melodramático da cantora. Por sua vez, o acordeom de Guilherme Ribeiro pontua A Chuva Caiu (Tom Jobim e Luiz Bonfá), moderno samba-canção propagado por Ângela em 1956, na década áurea de sua carreira. A regravação flagra Ângela bem à vontade, com a espontaneidade que parece ser mais rarefeita em Espelho de Camarim (Ivan Lins e Vítor Martins) - tema abolerado entoado pela Sapoti sem a necessária densidade - e Muito Estranho (Dalto e Claudio Rabello), tentativa vã de aproximar Ângela de universo pop fora de sintonia com seu mundo musical, tão bem retratado neste Eu Voltei, disco elegante, sem a aura kitsch que envolve por vezes o canto emblemático de Ângela Maria, uma voz do Brasil, país de muitas cantoras, mas de raras cantoras com a alma de Abelim Maria da Cunha.
6 comentários:
"Eu voltei!", ressalta Ângela Maria com perceptível orgulho ao fim de O Portão (Roberto Carlos e Eramos Carlos). Sucesso do Rei em 1974, O Portão abre o primeiro disco da cantora em oito anos, Eu Voltei, e tem sua melancolia realçada pelo canto doce da Sapoti. Aos 82 anos, Ângela Maria é rara sobrevivente da era de ouro do rádio brasileiro. Seu feliz retorno ao mercado fonográfico - em CD produzido por Thiago Marques Luiz - apaga a má impressão de Disco de Ouro (2003), álbum equivocado até no título. Eu Voltei é um disco urdido no tempo da delicadeza. Sem cair na tentação de evidenciar a potência vocal já perdida na poeira da estrada, Ângela canta mágoas e dores de amores em tons baixos, apropriados para o atual estágio de sua voz, referência de canto feminino no Brasil que influenciou até Elis Regina (1945 - 1982). Selecionado com bom senso, o repertório gravita em torno do universo do samba-canção e do bolero. E, dentro desse universo folhetinesco, a Sapoti ainda dá banho em muita cantora hypada. Seja cantando Olhos nos Olhos (Chico Buarque) sem carregar na dramaticidade, seja destilando mágoas embebidas em solidão ao reabrir Bar da Noite (Haroldo Barbosa e Bidu Reis), seja engatando (mais) um dueto com Cauby Peixoto em Se Queres Saber (Peter Pan). Ou ainda ressaltando com doçura o fel e o mel dos homens amados, personagens de Esse Cara (Caetano Veloso) e Menino Grande (Antônio Maria). Os arranjos comedidos valorizam as interpretações comedidas da cantora. Pra Você (Silvio César), por exemplo, é canção levada apenas pela voz de Ângela e pelo violão de Ronaldo Rayol. Já o piano de Alex Vianna conduz Os Amantes (Sidney da Conceição e Lourenço), sucesso de Luiz Ayrão nos anos 70 que se ajusta bem ao universo melodramático da cantora. Por sua vez, o acordeom de Guilherme Ribeiro pontua A Chuva Caiu (Tom Jobim e Luiz Bonfá), moderno samba-canção propagado por Ângela em 1956, na década áurea de sua carreira. A regravação flagra Ângela bem à vontade, com a espontaneidade que parece ser mais rarefeita em Espelho de Camarim (Ivan Lins e Vítor Martins) - tema abolerado entoado pela Sapoti sem a necessária densidade - e Muito Estranho (Dalto e Claudio Rabello), tentativa vã de aproximar Ângela de universo pop fora de sintonia com seu mundo musical, tão bem retratado neste Eu Voltei, disco elegante, sem a aura kitsch que envolve por vezes o canto emblemático de Ângela Maria, uma voz do Brasil, país de muitas cantoras, mas de raras cantoras com a alma de Abelim Maria da Cunha.
Se o CD tiver esse tom adequado, deve ser bom.
Porque a Sapoti é histórica. Atualmente, não tem nem um décimo do respeito que merecia, em virtude dos projetos errôneos que fizeram a ela - e que ela encampou.
Acontece.
Trocando em miúdos: fez escola no "país das cantoras" - expressão que Mauro adora.
Felipe dos Santos Souza
Felipe dos Santos Souza
O TIMBRE MAIS BONITO DO BRASIL.
A SANTISSIMA TRINDADE ( DALVA DE OLIVEIRA/ANGELA MARIA E ELIS REGINA).
É muita coincidência ....
O album " Pra você ", lançado por Hebe Camargo em 1998, também contém " Esse Cara "," Pra você " e " Olhos nos Olhos ". Além de canções dos citados Tom Jobim e Roberto Carlos.
Faço coro a (sutil) critica do Mauro a (mais) um dueto de Ângela e Cauby ...
Angela já fez história. Por décadas não faz nada mais do que projetos que não condizem com seu talento de outrora.
Esse é um lindo trabalho! Parabéns para o produtor Thiago e um VIVA para Angela!!
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