Título: A Dama Indigna
Artista: Cida Moreira
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * * *
Emocionada, Cida Moreira chega às lágrimas ao agradecer no palco do Teatro Fecap - após cantar Palavras (Gonzaguinha) - todos os que lhe ajudaram na criação e condução do show A Dama Indigna. Naquela noite, 6 de agosto de 2011, a apresentação do recital estava sendo gravada ao vivo, naquele conceituado palco de São Paulo (SP), para gerar o primeiro DVD da cantora. Nas lojas a partir de janeiro de 2012, em edição da Lua Music, o DVD é o primeiro de Cida Moreira. Um DVD fundamental para que novas e futuras gerações vejam em cena - em momento memorável de uma carreira fonográfica que completou 30 anos em 2011 - essa intérprete de veia teatral que ganha, enfim, um registro audiovisual de show quando celebra 60 anos de vida, a maior parte deles dedicados à música. Como Cida ressalta na entrevista exibida nos extras do DVD, o ofício de cantar passa necessariamente por um conceito e pela busca de um significado na junção de músicas. Nada é ou parece aleatório no repertório de A Dama Indigna, show cujo roteiro foi criado por Humberto Vieira, diretor deste recital já em rotação por algumas capitais do Brasil desde 2009. A gravação ao vivo perpetua A Dama Indigna em noite feliz, com a voz operística da artista em forma, desfiando rosas e emoções no fio da navalha. Alguns textos - O Ofício de Viver (Cesare Pavese, 1949), A Divina Comédia - Inferno (Dante Alighieri, 1321) e Indignação (Philip Roth, 2008) - costuram as canções do show e reiteram os significados das letras entoadas em cena pela digníssima dama. Senhora cantora, Cida Moreira irmana versos de Amy Winehouse (1983 - 2011), Bertolt Brecht (1898 - 1956), Caetano Veloso (O Ciúme e Mãe, sendo que Mãe ganha registro pungente, o mais belo desta canção do compositor), Chico Buarque, David Bowie, Kurt Weill (1900 - 1950) e Tom Waits, entre outros compositores do mesmo alto quilate. São canções para cortar os pulsos, irmanadas em clima mundano de cabaré. Por expor Cida a sós em cena, com seu piano, A Dama Indigna reconecta a intérprete ao seu começo de carreira - mas sem qualquer ranço saudosista. Este preciso registro ao vivo abre a cortina do futuro para Cida Moreira - e este futuro já vai se descortinar em 2012 na forma de um segundo álbum pela Joia Moderna (a gravadora que editou o registro de estúdio do show em CD posto nas lojas em fevereiro de 2011). Seja como for, o presente - por ora - é bastante especial para a cantora. Poucas intérpretes podem simular um mergulho profundo no lixo para entoar uma luxuosa canção como Me Acalmo Danando (Ângela RoRo). Cida Moreira pode. E a artista se basta em cena. Por isso, resulta acertada a opção de alocar nos extras a participação do jovem cantor paulista Thiago Pethit em Surabaya Johnny (Bertolt Brecht e Kurt Weill) e em Youkali-Tango (Roger Fernay e Kurt Weill). Pethit também faz suas incursões pelo mundo do cabaré, mas sequer roçar a carga emocional de uma intérprete genuinamente teatral como Cida Moreira. A Dama Indigna é, enfim, momento luminoso na trajetória dessa artista que merecia um DVD que perpetuasse sua teatralidade, suas escolhas coerentes e a sua dignidade como intérprete.
6 comentários:
Emocionada, Cida Moreira chega às lágrimas ao agradecer no palco do Teatro Fecap - após cantar Palavras (Gonzaguinha) - todos os que lhe ajudaram na criação e condução do show A Dama Indigna. Naquela noite, 6 de agosto de 2011, a apresentação do recital estava sendo gravada ao vivo, naquele conceituado palco de São Paulo (SP), para gerar o primeiro DVD da cantora. Nas lojas a partir de janeiro de 2012, em edição da Lua Music, o DVD é o primeiro de Cida Moreira. Um DVD fundamental para que novas e futuras gerações vejam em cena - em momento memorável de uma carreira fonográfica que completou 30 anos em 2011 - essa intérprete de veia teatral que ganha, enfim, um registro audiovisual de show quando celebra 60 anos de vida, a maior parte deles dedicados à música. Como Cida ressalta na entrevista exibida nos extras do DVD, o ofício de cantar passa necessariamente por um conceito e pela busca de um significado na junção de músicas. Nada é ou parece aleatório no repertório de A Dama Indigna, show cujo roteiro foi criado por Humberto Vieira, diretor deste recital já em rotação por algumas capitais do Brasil desde 2009. A gravação ao vivo perpetua A Dama Indigna em noite feliz, com a voz operística da artista em forma, desfiando rosas e emoções no fio da navalha. Alguns textos - O Ofício de Viver (Cesare Pavese, 1949), A Divina Comédia - Inferno (Dante Alighieri, 1321) e Indignação (Philip Roth, 2008) - costuram as canções do show e reiteram os significados das letras entoadas em cena pela digníssima dama. Senhora cantora, Cida Moreira irmana versos de Amy Winehouse (1983 - 2011), Bertolt Brecht (1898 - 1956), Caetano Veloso (O Ciúme e Mãe, sendo que Mãe ganha registro pungente, o mais belo desta canção do compositor), Chico Buarque, David Bowie, Kurt Weill (1900 - 1950) e Tom Waits, entre outros compositores do mesmo alto quilate. São canções para cortar os pulsos, irmanadas em clima mundano de cabaré. Por expor Cida a sós em cena, com seu piano, A Dama Indigna reconecta a intérprete ao seu começo de carreira - mas sem qualquer ranço saudosista. Este preciso registro ao vivo abre a cortina do futuro para Cida Moreira - e este futuro já vai se descortinar em 2012 na forma de um segundo álbum pela Joia Moderna (a gravadora que editou o registro de estúdio do show em CD posto nas lojas em fevereiro de 2011). Seja como for, o presente - por ora - é bastante especial para a cantora. Poucas intérpretes podem simular um mergulho profundo no lixo para entoar uma luxuosa canção como Me Acalmo Danando (Ângela RoRo). Cida Moreira pode. E a artista se basta em cena. Por isso, resulta acertada a opção de alocar nos extras a participação do jovem cantor paulista Thiago Pethit em Surabaya Johnny (Bertolt Brecht e Kurt Weill) e em Youkali-Tango (Roger Fernay e Kurt Weill). Pethit também faz suas incursões pelo mundo do cabaré, mas sequer roçar a carga emocional de uma intérprete genuinamente teatral como Cida Moreira. A Dama Indigna é, enfim, momento luminoso na trajetória dessa artista que merecia um DVD que perpetuasse sua teatralidade, suas escolhas coerentes e a sua dignidade como intérprete.
Aviso aos navegantes: como o show A Dama Indigna já foi devidamente resenhado por Notas Musicais, basta clicar no nome do show ao longo da resenha do DVD para ser direcionado para um texto anterior que detalha o repertório a partir da estreia carioca do espetáculo. Abs, MauroF
uma das poucas grandes, sinceras e cristalinas vozes na ativa. E, de quebra, ainda toca piano acompanhando-se, o que só poucas (e poucos) têm coragem de arriscar-se. Dama digníssima isso sim.
São tantos artistas cheios de DVD's para se jogar no lixo, que parecia impossível que um dia uma cantora como Cida Moreira, que tem sua trajetória ligada aos luxos da música mundial, pudesse um dia ter sua obra registrada em som e imagem. Parabéns Lua Music.
cabaré, almodovar, lamê, seda pura, lilás, gilete, batom, pinguim, renda, filó, esparadrapo, beco, garganta, mucosa, eclipse, lágrima preta, esmalte derramado, tensão, tesão, são paulo...tudo na voz e na persona de cida moreira.
show!
É bonito ver alguém como Cida Moreira ser (re)valorizada, como através do lançamento desse seu 1º DVD. Merecidíssimas todas as 5 estrelas concedidas pelo Mauro. Mas quero chamar a atenção também para o inacreditável trabalho de resgate que o produtor Thiago Marques Luiz vem fazendo dos nossos artistas pejorativamente classificados como "2º escalão da MPB". Com uma produção intensa, o Thiago está deixando sua marca na história da nossa música. Esse menino merece um prêmio!
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