Mauro Ferreira no G1

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domingo, 4 de dezembro de 2011

Elymar se excede ao cantar Marrom com fidelidade à estética de Alcione

Resenha de CD e DVD
Título: Elymar Canta Marrom - Elymar Santos ao Vivo
Artista: Elymar Santos
Gravadora: EMI Music
Cotação: * *

Mesmo bem irregular, o repertório de Alcione concilia joias e bijuterias. Cantor pautado por excessos vocais e estilísticos, Elymar Santos se movimenta entre estes altos e baixos quilates no show Elymar Canta Marrom, editado em DVD e CD ao vivo. Sob a direção musical do produtor Jorge Cardoso, o intérprete canta músicas gravadas por Alcione com fidelidade à estética kitsch dos espetáculos da Marrom. Basta ouvir Gostoso Veneno (Wilson Moreira e Nei Lopes) para perceber tal parentesco. Já no número de abertura - Obrigado (Chico Roque e Sérgio Caetano), entoado por um Elymar entronizado no alto do palco como se estivesse num altar - fica evidente o tom popular do show captada em apresentação na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), em julho deste ano de 2011. A boa voz do cantor ainda está lá, naturalmente potente, entregue aos habituais excessos que - verdade seja dita - estão em sintonia com o caráter exacerbado de parte do cancioneiro do DVD, sobretudo da parcela romântica. Nessa seara, Elymar canta  uma ou outra joia - como Qualquer Dia Desses (Reginaldo Bessa) - entre bijuterias como Se Não É Amor (Carlos Colla e Luciana Brownie), A Paixão Tem Memória (Solange De César e Ed Wilson) e Uma Nova Paixão (Gustavo Lins e Umberto Tavares). Elymar também evoca Alcione quando polui o palco com bailarinos dispensáveis no Forró do Xenhenhém (Cecéu). Em contrapartida, a bailarina que dança vivaz em cima do palco - caracterizada como Clara Nunes (1942 - 1983) - valoriza a grata lembrança de Um Ser de Luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro), iluminado samba gravado pela Marrom em 1983, no calor da saudade provocada pela morte de Clara. Em vez de tantas baladas triviais, o roteiro poderia ter acentuado a diversidade rítmica brasileira que também caracteriza o repertório de Alcione. Diversidade que aparece de relance no medley de ijexá que junta São Jorge (Claudinho Azeredo e Paulo César Pinheiro) e Ara-Keto (Edil Pacheco e Paulo César Pinheiro). Como foi dada prioridade ao cancioneiro amoroso, o cantor recorre a convidados para (tentar) imprimir um toque diferente a cada número. O violão classudo de Marcel Powell enobrece Estranha Loucura (Michael Sullivan e Paulo Massadas) enquanto Caio Mesquita sopra seu sax trivial em Quem É Você (Ed Wilson e Cury). Boa ideia foi transformar Faz Uma Loucura por Mim (Chico Roque e Sérgio Caetano) em tango, gênero de tom passional condizente com o tema. Tais ideias e participações impedem que os registros de Elymar soem como meras cópias apagadas das gravações originais de Alcione - como acontece em Você me Vira a Cabeça (Me Tira do Sério) (Chico Roque e Paulo Sérgio Valle) e em O Pior É que Eu Gosto (Isolda). É pena que a participação realmente especial de Alcione tenha sido feita em balada menor da lavra industrializada dos ex-parceiros Michael Sullivan e Paulo Massadas, Minha Culpa, Tua Culpa, lançada por Elymar em 1993 no álbum Vida de Cigano. A música é a única do roteiro que não tinha sido gravada pela Marrom, mas pulsa no tom brega de boa parte do repertório da cantora. No fim, o cantor cai no samba em Eu Vou pra Lapa (Serginho Meriti e Claudinho Guimarães) - um dos melhores momentos do show - e em Imperatriz Leopoldinense (Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte). Elymar canta Marrom no seu tom kitsch.

13 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Mesmo bem irregular, o repertório de Alcione concilia joias e bijuterias. Cantor pautado por excessos vocais e estilísticos, Elymar Santos se movimenta entre estes altos e baixos quilates no show Elymar Canta Marrom, editado em DVD e CD ao vivo. Sob a direção musical do produtor Jorge Cardoso, o intérprete canta músicas gravadas por Alcione com fidelidade à estética kitsch dos espetáculos da Marrom. Basta ouvir Gostoso Veneno (Wilson Moreira e Nei Lopes) para perceber tal parentesco. Já no número de abertura - Obrigado (Chico Roque e Sérgio Caetano), entoado por um Elymar entronizado no alto do palco como se estivesse num altar - fica evidente o tom popular do show captada em apresentação na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), em julho deste ano de 2011. A boa voz do cantor ainda está lá, naturalmente potente, entregue aos habituais excessos que - verdade seja dita - estão em sintonia com o caráter exacerbado de parte do cancioneiro do DVD, sobretudo da parcela romântica. Nessa seara, Elymar canta uma ou outra joia - como Qualquer Dia Desses (Reginaldo Bessa) - entre bijuterias como Se Não É Amor (Carlos Colla e Luciana Brownie), A Paixão Tem Memória (Solange De César e Ed Wilson) e Uma Nova Paixão (Gustavo Lins e Umberto Tavares). Elymar também evoca Alcione quando polui o palco com bailarinos dispensáveis no Forró do Xenhenhém (Cecéu). Em contrapartida, a bailarina que dança em cima do palco - caracterizada como Clara Nunes (1942 - 1983) - valoriza a grata lembrança de Um Ser de Luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro), iluminado samba gravado pela Marrom em 1983, no calor da saudade provocada pela morte de Clara. Em vez de tantas baladas triviais, o roteiro poderia ter acentuado a diversidade rítmica brasileira que também caracteriza o repertório de Alcione. Diversidade que aparece de relance no medley de ijexá que junta São Jorge (Claudinho Azeredo e Paulo César Pinheiro) e Ara-Keto (Edil Pacheco e Paulo César Pinheiro). Como foi dada prioridade ao cancioneiro amoroso, o cantor recorre a convidados para (tentar) imprimir um toque diferente a cada número. O violão classudo de Marcel Powell enobrece Estranha Loucura (Michael Sullivan e Paulo Massadas) enquanto Caio Mesquita sopra seu sax trivial em Quem É Você (Ed Wilson e Cury). Boa ideia foi transformar Faz Uma Loucura por Mim (Chico Roque e Sérgio Caetano) em tango, gênero de tom passional condizente com o tema. Tais ideias e participações impedem que os registros de Elymar soem como meras cópias apagadas das gravações originais de Alcione - como acontece em Você me Vira a Cabeça (Me Tira do Sério) (Chico Roque e Paulo Sérgio Valle) e em O Pior É que Eu Gosto (Isolda). É pena que a participação realmente especial de Alcione tenha sido feita em balada menor da lavra industrializada dos ex-parceiros Michael Sullivan e Paulo Massadas, Minha Culpa, Tua Culpa, lançada por Elymar em 1993 no álbum Vida de Cigano. A música é a única do roteiro que não tinha sido gravada pela Marrom, mas pulsa no tom brega de boa parte do repertório da cantora. No fim, o cantor cai no samba em Eu Vou pra Lapa (Serginho Meriti e Claudinho Guimarães) - um dos melhores momentos do show - e em Imperatriz Leopoldinense (Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte). Elymar canta Marrom no seu tom kitsch.

Vinícius de Oliveira disse...

Mauro, poderia facilitar o contato, não? Já lhe perguntei se farás a resenha do DVD de Chitãozinho & Xororó e do Manuscrito. Tenho que usar posts de outros assuntos, já que não há nenhum e-mail para contato.

Gill Sampaio Ominirò disse...

Quando a gente pensa que nada de pior na MPB poderia acontecer, acontece.
Alcione não merecia isso. Refém de sua simpatia e hulmidade, certamente ela deve estar se sentindo lisongeada. Ela merece todas as homenagens, sim, mas não é o caso. O cara aí somente quer é angariar moedas. Seria mais honesto passar o chapéu nas catedrais.

Marcelo Barbosa disse...

Flechas sorrateiras cheias de veneno (by Clara Nunes).
Mas eu ri muito da resenha do Mauro com as indiretas. Quanto ao Elymar, devo comprar por causa do samba Imperatriz Leopoldinense que é um dos mais belos feitos pela dupla Paulo Cesar Pinheiro e Mauro Duarte no excelente lp de 1987 da Marrom, Nosso nome resistência. Lp este em que ela lançava sambas de boa qualidade. Bons tempos. Abs

KL disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Douglas Carvalho disse...

A frase predileta do KL: "É preferível ouvir (algo que o senso comum diz que é ruim) do que (algo que o senso comum - e os críticos - diz que é bom)". Todo post dele começa assim.

Marcelo disse...

Que capa horrível!!!

KL disse...

Douglas,

Então, se o senso-comum tanto diz o que é bom e o que é ruim, ficamos todos no zero-a-zero. O que - para a Filosofia - pode representar também 10 a 10. Lembre-se de que eu também faço parte da Crítica Especializada.
Em resumo, parafraseando o dito pop, passarinho que come pedra sabe o 'cool' que tem.

;-)

Marcelo Brito disse...

Acho que vocês estão equivocados.
Sou fã da Alcione há mais de 15 anos e fui ao Vivo Rio prestigiar o Elymar Santos, por ele ter feito uma homenagem à nossa Marrom.
Achei tudo bonito, organizado. Não gosto de forró, mas na hora do Forró do Xenhenhém achei que ele mandou muito bem, inclusive fazendo com que as pessoas levantassem e dançassem com ele, inclusive minha esposa e eu. Discordo também que os bailarinos poluiram o palco, pelo contrário, eles conseguiram animar ainda mais o espetáculo e passar essa energia para nós, presentes.
Quanto à música Minha Culpa, Tua Culpa, eu, como fã da Alcione, adorei. Eles já tinham gravado em 1993 (CD Vida de Cigano, do Elymar), e pra nós, fãs da Marrom, foi um prazer estar presente e ouvir ao vivo esta música.
Já estamos querendo ir a mais shows do Elymar Santos, porque ele realmente nos surpreendeu e muito, positivamente, é claro.
Fica a dica para quem não conhece esse cantor que contagia e emociona a cada minuto que está no palco, ele merece todo o sucesso que faz com seus fãs. Digo isso porque vi o quanto ele é querido e carinhoso com seus "devotos" como ele mesmo diz...

Eduardo Cáffaro disse...

Não é um cantor que eu acompanhe, nem consumo seu trabalho, pois não curto muito seu repertório. Mas já assisti uma apresentação sua, e ele canta bem, se entrega, meio over as vezes, mas é apaixonado pelo que faz. Acho muito melhor que Calipso, Djavu, sabores agridoces dos forrós da vida. Sou mais ele que o Ricky ( calouro do raul ) que segue a mesma linha.

Doug disse...

Alcione é grande cantora que, hora escolhe pérolas para cantar, hora cascalho, mas sua majestade como cantora está sempre acima.

Elymar Santos é um cara de voz bonita, mas que, sempre, soou o mais brega dos bregas.

Não vi, mas não creio que um cantor que transforma pérola em cascalho (e Alcione transforma cascalho em pérolas) vá fazer nada além de xaropada brega e populista que sempre foi sua especialidade.

Além do mais, Alcione está viva e na ativa, cantando muito, bem e bonito. Pra quê ouvir cópia da obra de uma artista que ainda está aí?

Gill Sampaio Ominirò disse...

Além do mais, Alcione está viva e na ativa, cantando muito, bem e bonito. Pra quê ouvir cópia da obra de uma artista que ainda está aí? (2)

Unknown disse...

Sou meio suspeita para falar do Elymar Santos, pq sou fã dele desde os 5 anos. Sim, eu com 5 anos já cantava as músicas bregas, pedia pra ir a show, dormia abraçada a fita k7, dizia q ele era meu namorado.. E aos 8 veio meu primeiro show. Hoje tenho 24 e continuo acompanhando a carreira do Elymar. Ngm tem uma história de vida como a do Elymar Santos, e digo mais, ngm tem a coragem q ele teve, ao vender td q tinha pra realizar o sonho de cantar numa grande casa de show, q hj nem existe mais (Canecão). Elymar não é uma unanimidade (lembrando q toda unanimidade é burra), mas tem fãs totalmente apaixonados, e como o colega acima falou, devotos. Achei lindo o trabalho e mt válida a homenagem. O erro das pessoas é achar q os bons só devem ser homenageados após falecerem. Celebrar a vida é bem melhor q celebrar a morte!