Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Queiroga aponta sombras do apocalipse em 'Todo Dia É o Fim do Mundo'

Resenha de CD
Título: Todo Dia É o Fim do Mundo
Artista: Lula Queiroga
Gravadora: Sem indicação
Cotação: * * * * 1/2

"Eu vivo o cotidiano do apocalipse / Porque / Todo dia é o fim do mundo", sentencia Lula Queiroga, à moda de Raul Seixas (1945 - 1989), na música de sua autoria que dá título ao seu quarto disco solo, Todo Dia É o Fim do Mundo. Lançado de forma independente neste mês de dezembro de 2011, o álbum é pontuado pela contundência poética de obra que atinge um de seus ápices criativos neste trabalho produzido por Lula com Yuri Queiroga (responsável também pela parte eletrônica). Há muito de Queiroga na cultuada obra de Lenine, parceiro afim do compositor pernambucano desde os anos 80 (ambos debutaram no mercado fonográfico em 1983, dividindo o LP Baque Solto). Há naturalmente algo de Lenine em Todo Dia É o Fim do Mundo. E o que este grande disco reitera - para quem quiser ouvir - é que um é tão bom quanto o outro. E, se Lenine alcançou a projeção e o reconhecimento nacional ainda buscados por Lula, isso se deve talvez mais ao acaso e ao fato indiscutível de o primeiro ser melhor intérprete do que o segundo, pois o talento como compositor é o mesmo. Coeso, Todo Dia É o Fim do Mundo versa em tom contemporâneo sobre as sombras do apocalipse cotidiano. Se Os Culpados (Lula Queiroga e Yuri Queiroga) é retrato lúgubre dos subterrâneos de um Brasil corroído por miséria e violência, Voo Cego (Lula Queiroga e Yuri Queiroga) alcança altitude poética ao narrar o curso furioso das águas que provocam medo e destruição. Mesmo quando a cadência bonita do samba insinua certa leveza, como em Unha & Carne (Lula Queiroga e Vinicius Sarmento), a poética não dá trégua ao apontar as desilusões do amor cotidiano. A balada Lua do Mal (Lula Queiroga e Yuri Queiroga) sopra o vento do inferno após os versos transcendentais de Dos Anjos (Lula Queiroga e Lulu Oliveira) e a batida seca de Dias Assim (Lula Queiroga e Lucky Luciano), faixa em que o compositor exercita o canto falado. Dentro desse cotidiano apocalíptico, não há espaço para afetos. "Intimidade demais intimida", conclui o artista em verso do rock Padrões de Contato. Paradoxalmente, um álbum tão sombrio abre em ambiente de luz, refletido na letra solar de Se Não Fora Amor Eu Cegue (Love), dissertação poética sobre o estágio inicial da paixão. Mas os sonhos logo se estilhaçam no cotidiano amoroso, como expressam, nove faixas depois, versos de Um do Outro (Lula Queiroga), balada cantada pelo artista em dueto harmonioso com Luiza Possi. "Todo Dia É o Fim do Mundo é a respeito dos sobreviventes do cataclisma pessoal de cada instante", conceitua Queiroga sobre o disco, que entra em tom pop na roda da ciranda em Atlantis e encerra com o lirismo espalhado pela canção Poeira de Estrelas. Há (alguma) luz no fim do mundo de Lula Queiroga.

11 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Eu vivo o cotidiano do apocalipse / Porque / Todo dia é o fim do mundo", sentencia Lula Queiroga, à moda de Raul Seixas (1945 - 1989), na música de sua autoria que dá título ao seu quarto disco solo, Todo Dia É o Fim do Mundo. Lançado de forma independente neste mês de dezembro de 2011, o álbum é pontuado pela contundência poética de obra que atinge um de seus ápices criativos neste trabalho produzido por Lula com Yuri Queiroga (responsável também pela parte eletrônica). Há muito de Queiroga na cultuada obra de Lenine, parceiro afim do compositor pernambucano desde os anos 80 (ambos debutaram no mercado fonográfico em 1983, dividindo o LP Baque Solto). Há naturalmente algo de Lenine em Todo Dia É o Fim do Mundo. E o que este grande disco reitera - para quem quiser ouvir - é que um é tão bom quanto o outro. E, se Lenine alcançou a projeção e o sucesso nacional ainda perseguidos por Lula, isso se deve talvez mais ao acaso, ou à sorte, do que ao talento. Coeso, Todo Dia É o Fim do Mundo versa em tom contemporâneo sobre as sombras do apocalipse cotidiano. Se Os Culpados (Lula Queiroga e Yuri Queiroga) é retrato lúgubre dos subterrâneos de um Brasil corroído por miséria e violência, Voo Cego (Lula Queiroga e Yuri Queiroga) alcança altitude poética ao narrar o curso furioso das águas que provocam medo e destruição. Mesmo quando a cadência bonita do samba insinua certa leveza, como em Unha & Carne (Lula Queiroga e Vinicius Sarmento), a poética não dá trégua ao apontar as desilusões do amor cotidiano. A balada Lua do Mal (Lula Queiroga e Yuri Queiroga) sopra o vento do inferno após os versos transcendentais de Dos Anjos (Lula Queiroga e Lulu Oliveira) e a batida seca de Dias Assim (Lula Queiroga e Lucky Luciano), faixa em que o compositor exercita o canto falado. Dentro desse cotidiano apocalíptico, não há espaço para afetos. "Intimidade demais intimida", conclui o artista em verso do rock Padrões de Contato. Paradoxalmente, um álbum tão sombrio abre em ambiente de luz, refletido na letra solar de Se Não Fora Amor Eu Cegue (Love), dissertação poética sobre o estágio inicial da paixão. Mas os sonhos logo se estilhaçam no cotidiano amoroso, como expressam, nove faixas depois, versos de Um do Outro (Lula Queiroga), balada cantada pelo artista em dueto harmonioso com Luiza Possi. "Todo Dia É o Fim do Mundo é a respeito dos sobreviventes do cataclisma pessoal de cada instante", conceitua Queiroga sobre o disco, que entra em tom pop na roda da ciranda em Atlantis e encerra com o lirismo espalhado pela canção Poeira de Estrelas. Há (alguma) luz no fim do mundo de Lula Queiroga.

Guilherme disse...

Lula é sensacional. Ele fez um dos melhores discos pop dos anos 2000 no Brasil, "Azul invisível, vermelho cruel". Quero muito ouvir este novo trabalho!

Maria disse...

Lula Queiroga pra mim só como compositor! nesse área gosto muito as canções que ele fez em parceria com Lenine e as que fornece para Roberta Sá são ótimas gosto muito.

Anônimo disse...

Concordo com a Mary, só como compositor, e olhe que nem ligo muito pra cantor ruim.
Pra mim interessa mais o que está sendo dito e como é dito.
Mas nem assim.

PS: Penso que o Lenine, além de ser mil vezes melhor cantor, conseguiu obter sucesso porque investiu 100% de sua vida pra isso.
O Lula ficou se dividindo com a publicidade.
Não foi acaso.

Anônimo disse...

Ele como cantor não me agradou também...e esse titulo e capa do cd são lindos, não comprei porque não achei ainda.

Guilherme disse...

A gravação de "Se não for amor eu cegue (love)" do Lula é mais bonita que a do Lenine.

gruvz disse...

"E, se Lenine alcançou a projeção e o sucesso nacional ainda perseguidos por Lula, isso se deve talvez mais ao acaso, ou à sorte, do que ao talento..."

Eu escreveria assim:
"E, se Lenine alcançou a projeção e o sucesso nacional ainda perseguidos por Lula, isso se deve TAMBÉM ao acaso, ou à sorte, ALÉM do INCONTESTÁVEL talento."

Mauro Ferreira disse...

Aviso aos navegantes: refiz parte do texto, para não ser injusto com Lenine. Abs, MauroF

Eduardo disse...

Linda mesmo a capa.

Gustavo :: ovatsuG disse...

Para mim Lula Queiroga é o melhor compositor brasileiro da atualidade, embora pouco reconhecido. "Todo Dia É O Fim do Mundo" é um disco maravilhoso, assim como os seus três antecessores. É o disco mais "rock'n'roll" e mais "cronista". O show, um espetáculo a parte, com banda afiada e uma boa mescla do novo disco com sucessos de álbuns anteriores. Esse disco está entre os 10 melhores discos de 2011 que eu comprei.

Gustavo :: ovatsuG disse...

E concordo com Guilherme quanto à gravação de Se Não For Amor Eu Cegue.