Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 14 de janeiro de 2012

Biografia de Elis ainda tem força de furacão 27 anos após edição original

Resenha de reedição de livro
Título: Furacão Elis
Autor: Regina Echeverria
Editora da edição original de 1985: Nórdica
Editora da reedição de 2012: Leya
Cotação: * * * * 1/2

Por conta dos 30 anos de morte da Elis Regina (1945 - 1982), a serem completados em 19 de janeiro de 2012, a editora Leya está pondo este mês nas livrarias reedição de Furacão Elis, controvertida biografia da cantora, escrita pela jornalista Regina Echeverria e lançada originalmente em 1985. Não é a primeira vez que Furacão Elis retorna ao catálogo. Reedições de 1994 (via editora Globo), 2002 (Globo) e 2007 (pela Ediouro) já haviam reposto o livro em foco. Exceto pela discografia, devidamente atualizada, a reedição da Leya nada acrescenta às duas anteriores. Contudo, para quem ainda não leu a biografia, o livro permanece com a força de um furacão, 27 anos após a edição original. Embora jamais disfarce a admiração pela personagem que perfila nas atuais 242 páginas da biografia, Echeverria resiste à tentação de endeusar Elis. Os passos mais importantes da vida da artista são relatados com objetividade - em ordem cronológica - sem que a autora perca de vista o fato de estar diante de personagem contraditória e multifacetada, cuja existência transcorreu entre altos e baixos emocionais. Parafraseando os versos da música de Sueli Costa e Aldir Blanc gravada por Elis em 1979 e intitulada justamente Altos e Baixos, foram discos demais, desculpas de menos e um amor pela música que trouxe tanta vida e emoção para o Brasil que, por mais que leve tempo, o nome e a obra de Elis Regina Carvalho Costa jamais vão morrer, permanecendo em alta cotação na memória afetiva desse Brasil hoje culturalmente nivelado por baixo. Escrito com a mesma intensa paixão que norteou os breves 36 anos de vida dessa cantora ainda entronizada como a maior do Brasil na opinião de muita gente, Furacão Elis não mascara e tampouco maquia os fatos desagradáveis. Elis está exposta nas páginas da biografia com as contradições, orgulhos e inseguranças que a levaram a se indispor com familiares, amigos e colegas ao longo de sua existência. Até a morte - por dose letal de cinzano e cocaína - é descrita com a crueza dos relatos jornalísticos. Echeverria tenta, na medida do possível, descortinar os bastidores da vida da estrela neste livro que se exime de analisar os discos e shows de Elis, embora muitos deles sejam naturalmente assuntos de várias páginas. Furacão Elis é, antes, um retrato sem retoques de cantora que nasceu, viveu e morreu antes da era do politicamente correto. Por isso, o livro ainda bate tão forte, até para quem já encarou o furacão em reedições anteriores.

15 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Por conta dos 30 anos de morte da Elis Regina (1945 - 1982), a serem completados em 19 de janeiro de 2012, a editora Leya está pondo este mês nas livrarias reedição de Furacão Elis, controvertida biografia da cantora, escrita pela jornalista Regina Echeverria e lançada originalmente em 1985. Não é a primeira vez que Furacão Elis retorna ao catálogo. Reedições de 1994 (pela editora Globo) e de 2007 (pela Ediouro) já haviam reposto o livro em foco. Exceto pela discografia, devidamente atualizada, a reedição da Leya nada acrescenta às duas anteriores. Contudo, para quem ainda não leu a biografia, o livro permanece com a força de um furacão, 27 anos após a edição original. Embora jamais disfarce a admiração pela personagem que perfila nas atuais 242 páginas da biografia, Echeverria resiste à tentação de endeusar Elis. Os passos mais importantes da vida da artista são relatados com objetividade - em ordem cronológica - sem que a autora perca de vista o fato de estar diante de personagem contraditória e multifacetada, cuja existência transcorreu entre altos e baixos emocionais. Parafraseando os versos da música de Sueli Costa e Aldir Blanc gravada por Elis em 1979 e intitulada justamente Altos e Baixos, foram discos demais, desculpas de menos e um amor pela música que trouxe tanta vida e emoção para o Brasil que, por mais que leve tempo, o nome e a obra de Elis Regina Carvalho Costa jamais vão morrer, permanecendo em alta cotação na memória afetiva desse Brasil hoje culturalmente nivelado por baixo. Escrito com a mesma intensa paixão que norteou os breves 36 anos de vida dessa cantora ainda entronizada como a maior do Brasil na opinião de muita gente, Furacão Elis não mascara e tampouco maquia os fatos desagradáveis. Elis está exposta nas páginas da biografia com as contradições, orgulhos e inseguranças que a levaram a se indispor com familiares, amigos e colegas ao longo de sua existência. Até a morte - por dose letal de cinzano e cocaína - é descrita com a crueza dos relatos jornalísticos. Echeverria tenta, na medida do possível, descortinar os bastidores da vida da estrela neste livro que se exime de analisar os discos e shows de Elis, embora muitos deles sejam naturalmente assuntos de várias páginas. Furacão Elis é, antes, um retrato sem retoques de cantora que nasceu, viveu e morreu antes da era do politicamente correto. Por isso, o livro ainda bate tão forte, até para quem já encarou o furacão em reedições anteriores.

Felipe dos Santos disse...

Curioso que, mesmo tanto tempo após o lançamento original, tanta gente ainda tenha raiva de "Furacão Elis". João Marcello, Milton Nascimento e Cesar Mariano, por exemplo, jamais perdoarão Echeverria.

Ainda se fosse uma raiva imediata... afinal, em 1985 as dores e emoções contraditórias que Elis causou deviam estar latejantes, ainda. Mas o rancor dura tanto tempo...

Imagino que talvez seja pela crueza que Mauro citou. Principalmente em citar as circunstâncias da morte, de modo nu e cru. Minha opinião: foi acidente. Nada mais. "Uma dose mais forte", como o próprio livro cita.

Ninguém provou que "a ditadura matou", que Harry Shibata falseou o laudo para prejudicar Samuel McDowell, como falam. Podem provar algum dia, não descarto (aliás, João Marcello disse que gostaria de ver alguém tomando isso como missão).

Mas, por ora, vale a versão oficial. Fazer o quê? Só lamentar.

Felipe dos Santos Souza

Felipe dos Santos disse...

Aliás, como na semana que vem estarei sem computador, já deixo meu comentário, que ia fazer no post que certamente virá em 19 de janeiro.

Não acho que Elis foi a melhor cantora do Brasil. Primeiro, porque isso é bem relativo. Segundo, porque acho sacanagem com antecessoras e subsequentes. Terceiro, porque, em alguns momentos da carreira, Elis exagerou na depressão, ou ficou rococó. Quarto, porque o culto ficou muito exagerado, muito lamurioso, muito mórbido.

Mas, que Elis foi a cantora mais dedicada ao seu ofício que já apareceu por estas plagas, acho indiscutível. Teve uma dedicação doentia a sempre melhorar. A ponto de tomar atitudes controversas nessa busca. Bethânia, Nara e Beth Carvalho que o digam.

E, talvez por isso, seja a cantora que mais me toca. A fase com Cesar Camargo Mariano, de 1972 até 19.01.1982 (sim, "Trem Azul" não tinha Cesar no palco, mas o tinha nos arranjos), é a coisa mais perfeita que acho que houve na MPB. Não há pontos fracos.

Enfim, uma cidadã de personalidade ímpar. Inimitável.

Felipe dos Santos Souza

Felipe dos Santos disse...

Ah, sim: Mauro, a biografia ainda teve reedição da Editora Globo, em 2002 - ganhou então uma apresentação de Mônica Valdwogel, suprimida em 2007.

Se exagerei na extensão das postagens, desculpas a você e aos frequentadores do blog.

Felipe dos Santos Souza

Mauro Ferreira disse...

Felipe, grato pela lembrança da edição de 2002. E seus comentários são sempre bem-vindos! Quanto mais, melhor! Abs, MauroF

Anônimo disse...

Eu concordo com o Mauro.
Felipe comenta muito pouco, tem que ser mais generoso e compartilhar seus vastos conhecimentos.

Denilson Santos disse...

A parte final do livro quando relata minuto a minuto o transcorrer da morte da Elis é emocionante. Ainda choro quando a leio.

Tenho as outras edições desse livro, mas vou comprar mais essa, porque sempre há algum acréscimo de informações.

O que mais me agrada nesse livro é justamente porque humaniza o mito, expondo seus defeitos e qualidades.

Além de ser um belo relato da música brasileira do final do século XX.

abração,
Denilson

Chabacano disse...

[Echeverria resiste à tentação de endeusar Elis.]

É difícilimo evitar endeusar alguém que foi dotado de tanto carisma e talento, principalmente quando só se conhece a estrela que ela foi nos discos e nos palcos. Vou ler essa biografia para 'desendeusar' Elis em minha mente, tentando agora evitar me decepcionar com o ser humano que ela também foi, pois não tenho este direito.

KL disse...

Aí está o raro e preciso (nos dois sentidos) Felipe dos Santos. Dá para imaginar que ele só está na casa dos 20 anos? Pois é. Todo gênio é precoce, e nem tudo está perdido na área da crítica cultural nesse país. O estrelato aí é só uma questão de tempo e oportunidade; anotem isso.

Anônimo disse...

Sim concordo com todos fale mais Felipe ainda mais se for de Elis. Também quero ler esse livro é sempre bom saber o ser humano que há por traz de uma estrela, sou fã demais da Elis mas nunca achei que ela fosse perfeita...

Jorge Reis disse...

As pessoas, graças a Deus, mitificam, estrelas como Elis, e acho que devem...
Para não perdermos a referencia do que venha a ser uma estrela de verdade...
Na verdade depois dela vieram as estrelas cadentes, no alto hoje, amanhã no asfalto...
Fora estas o que gravita a MPB, com raras e honrosas excessões aão apenas satélites...

KL disse...

Coincidência ou não, a partir de 1982 (sobretudo com o surgimento da banda Blitz), assistimos à decadência vertiginosa da mpb em todos os escalões e o reinado do tecnopop comercial e seus teclados dx-7. Com raríssimas expressões, igualou-se ou descaracterizou-se quase tudo o que foi produzido nessa época. Em 1989, com o surgimento do fenômeno Marisa Monte, o que poderia ser uma esperança de retomada da linhagem Elis, na verdade, não se confirmou. O tal ecletismo, a modinha onipresente das (péssimas) cantoras-compositoras até o momento ainda não produziu algo realmente significativo do ponto de vista lítero-musical.
Outro enorme prejuízo, decorrente de tudo isso, é o fato de que intérpretes do porte de Elis ou Nara Leão não mais existem, e elas eram vitais tanto para a carreira de competentes instrumentistas quanto para a revelação, projeção ou lançamento de grandes compositores. Tanto Elis quanto Nara tiveram a capacidade e inteligência de conceder vez e voz a Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Sidney Miller, Renato Teixeira, Tunai, João Bosco, Milton Nascimento, Edu Lobo, Marcos Valle, Zé Keti, João do Vale, Nelson Cavaquinho ou Cartola, entre outros nomes estelares da canção brasileira.
É por essas e outras que, a cada ano, as gerações 1930-40-50-60-70 crescem em importância e ainda não foram superadas.

Danilo Pederneiras disse...

Chegou ontem em casa esse livro, estou muito ancioso para ler!

Danilo Pederneiras disse...

Excelente livro.

A Elis era foda!

ADEMAR AMANCIO disse...

A melhor fase da elis é de 70 e 71,dois discos produzidos por nelson motta.