Evento: Noite Jazzmania
Título: Breves Minutos
Artista: Zé Renato (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Studio RJ (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 24 de janeiro de 2012
Cotação: * * * 1/2
Show em cartaz no Sesc Belenzinho, em São Paulo (SP), em 27 de janeiro de 2012
Uma certa tensão no início do show Breves Minutos - natural em se tratando da estreia nacional de espetáculo nunca feito em cena - impediu que Zé Renato mostrasse no palco do Studio RJ toda a beleza da melodia de La Luna (Zé Renato e Ivan Santos), música que abriu a primeira apresentação do show baseado no primeiro disco de repertório inteiramente autoral lançado pelo cantor capixaba. Aos 55 anos, Zé Renato vem lançando nos últimos 20 anos álbuns primorosos que reiteraram a excelência de seu canto. Breves Minutos é um deles, embora neste disco de 2011 o foco resida mais no compositor do que no cantor. Mas em cena o intérprete acaba se impondo em roteiro que sintetiza 35 anos de carreira em 20 músicas sem rigor cronológico. Nessa toada moderna, o cantor brilha quando apresenta o belo fado Gaivota (Alexandre O'Neill e Alain Oulman) linkado a uma canção marinha de Dorival Caymmi (1914 - 2008), Quem Vem pra Beira do Mar, ouvida em off na voz inconfundível de Nana Caymmi. Neste número, Zé Nogueira sopra com seu sax uma melancolia condizente com o espírito do tema abordado por Zé Renato no sublime disco Navegantes (2003), gravado com o grupo português Trinadus. Extrapolando o repertório autoral do CD Breves Minutos, Renato aperta o rewind e tira da memória afetiva Canção, música feita sobre poema de Mário de Andrade (1893 - 1945). O número ganha leve tom teatral com a declamação de versos pelo ator Paulo José, cuja voz é ouvida em off. São várias as referências que costuram e moldam o roteiro. Logo após cair sem brilho próprio em samba antigo de Chico Buarque, Cotidiano, o cantor desencava parceria de Egberto Gismonti e Geraldo Carneiro, Ano Zero, extraída de um dos álbuns mais celebrados de Gismonti, Água & Vinho (1972). Na sequência, Imbora (Zé Renato e Pedro Luís) - toada turbinada com toques de baião - lembra que o compositor ultimamente tem se mostrado tão interessante quanto o cantor enquanto Desarmonia (Zé Renato e Joyce), samba cool de inspiração bossa-novista, cita Vinicius de Moraes (1913 - 1980) e evoca o Rio de Janeiro (RJ) com a levada precisa da bateria de Tutty Moreno. Sob a luz e a direção de Helton Altman, Renato dá voz também à pouco ouvida parceria de Edu Lobo com o poeta Cacaso (1944 - 1987) - Uma Vez Um Caso, lançada por Edu no disco Limite das Águas (1976) - e revive sua elegante incursão pelo cancioneiro da Jovem Guarda com O Tempo Vai Apagar (Getúlio Cortes e Paulo César Barros). Neste número, o cantor fica a sós no palco com seu violão em atmosfera minimalista que valoriza e ressalta a beleza de sua voz afinada. Pena que, em seguida, o intérprete resulte menos sedutor ao repisar a trilha sonora do cinema norte-americano para abordar Love Is a Many Splendored Thing (Sammy Fain e Paul Francis Webster), clássico do filme Suplício de uma Saudade (1955). O fato é que a melodiosa A Hora e a Vez (Zé Renato, Cláudio Nucci e Ronaldo Bastos) pareceu mais ajustada ao canto do artista. Escorado em arranjos refinados, que evidenciam os sopros de Zé Nogueira e os sons percussivos tirados por Arthur Dutra de vibrafone (sons que evocam o arsenal do grupo Uakti), o cantor reafirma a singularidade de sua voz de sensibilidade masculina, uma das poucas a desafiar o reinado feminino neste país de cantoras. Ao fim, quando Vai Tambor (Zé Renato e Juca Filho) ressoa os arranjos vocais do Boca Livre (grupo lembrado no bis com o hit Quem Tem a Viola, de Renato com Xico Chaves, Claudio Nucci e Juca Filho), Zé Renato deixa boa impressão ao sair de cena. A hora e meia de seu show parecem breves (felizes) minutos...
4 comentários:
Uma certa tensão no início do show Breves Minutos - natural em se tratando da estreia nacional de espetáculo nunca feito em cena - impediu que Zé Renato mostrasse no palco do Studio RJ toda a beleza da melodia de La Luna (Zé Renato e Ivan Santos), música que abriu a primeira apresentação do show baseado no primeiro disco de repertório inteiramente autoral lançado pelo cantor capixaba. Aos 55 anos, Zé Renato vem lançando nos últimos 20 anos álbuns primorosos que reiteraram a excelência de seu canto. Breves Minutos é um deles, embora neste disco de 2011 o foco resida mais no compositor do que no cantor. Mas em cena o intérprete acaba se impondo em roteiro que sintetiza 35 anos de carreira em 20 músicas sem rigor cronológico. Nessa toada moderna, o cantor brilha quando apresenta o belo fado Gaivota (Alexandre O'Neill e Alain Oulman) linkado a uma canção marinha de Dorival Caymmi (1914 - 2008), Quem Vem pra Beira do Mar, ouvida em off na voz inconfundível de Nana Caymmi. Neste número, Zé Nogueira sopra com seu sax uma melancolia condizente com o espírito do tema abordado por Zé Renato no sublime disco Navegantes (2003), gravado com o grupo português Trinadus. Extrapolando o repertório autoral do CD Breves Minutos, Renato aperta o rewind e tira da memória afetiva Canção, música feita sobre poema de Mário de Andrade (1893 - 1945). O número ganha leve tom teatral com a declamação de versos pelo ator Paulo José, cuja voz é ouvida em off. São várias as referências que costuram e moldam o roteiro. Logo após cair sem brilho próprio em samba antigo de Chico Buarque, Cotidiano, o cantor desencava parceria de Egberto Gismonti e Geraldo Carneiro, Ano Zero, extraída de um dos álbuns mais celebrados de Gismonti, Água & Vinho (1972). Na sequência, Imbora (Zé Renato e Pedro Luís) - toada turbinada com toques de baião - lembra que o compositor ultimamente tem se mostrado tão interessante quanto o cantor enquanto Desarmonia (Zé Renato e Joyce), samba cool de inspiração bossa-novista, cita Vinicius de Moraes (1913 - 1980) e evoca o Rio de Janeiro (RJ) com a levada precisa da bateria de Tutty Moreno. Sob a luz e a direção de Helton Altman, Renato dá voz também à pouco ouvida parceria de Edu Lobo com o poeta Cacaso (1944 - 1987) - Uma Vez Um Caso, lançada por Edu no disco Limite das Águas (1976) - e revive sua elegante incursão pelo cancioneiro da Jovem Guarda com O Tempo Vai Apagar (Getúlio Cortes e Paulo César Barros). Neste número, o cantor fica a sós no palco com seu violão em atmosfera minimalista que valoriza e ressalta a beleza de sua voz afinada. Pena que, em seguida, o intérprete resulte menos sedutor ao repisar a trilha sonora do cinema norte-americano para abordar Love Is a Many Splendored Thing (Sammy Fain e Paul Francis Webster), clássico do filme Suplício de uma Saudade (1955). O fato é que a melodiosa A Hora e a Vez (Zé Renato, Cláudio Nucci e Ronaldo Bastos) pareceu mais ajustada ao canto do artista. Escorado em arranjos refinados, que evidenciam os sopros de Zé Nogueira e os sons percussivos tirados por Arthur Dutra de vibrafone (sons que evocam o arsenal do grupo Uakti), o cantor reafirma a singularidade de sua voz de sensibilidade masculina, uma das poucas a desafiar o reinado feminino neste país de cantoras. Ao fim, quando Vai Tambor (Zé Renato e Juca Filho) ressoa os arranjos vocais do Boca Livre (grupo lembrado no bis com o hit Quem Tem a Viola, de Renato com Xico Chaves, Claudio Nucci e Juca Filho), Zé Renato deixa boa impressão ao sair de cena. A hora e meia de seu novo show parece breves felizes minutos.
Como eu gostaria de estar lá para ouvi-lo e aplaudi-lo.
Martha Baptista
Zé Renato é hoje um das vozes masculinas mais agradáveis. Que bom que ele tem voltado a compor com frequencia. As músicas dele em parceria com Joyce Moreno especialmente tem me chamado bastante atenção.
Grande Zé!
Esse show foi maravilhoso. Recomendo aos paulistas que não percam essa apresentação única.
abração,
Denilson
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