Mauro Ferreira no G1

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domingo, 8 de janeiro de 2012

Doce cantoria de Amelinha repõe em cena uma intérprete feliz e delicada

Resenha de Show
Título: Janelas do Brasil
Artista: Amelinha (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro do Sesc Belenzinho (São Paulo, SP)
Data: 7 de janeiro de 2012
Cotação: * * * *
Show em cartaz no teatro do Sesc Belenzinho - em São Paulo - até 8 de janeiro de 2012

"Na realidade, isso aqui é uma cantoria", conceituou Amelinha no meio da estreia nacional de seu show Janelas do Brasil para o público que, na noite de 7 de janeiro, assistia à sua apresentação no Sesc Belenzinho, em São Paulo (SP). O teatro do Sesc Belenzinho foi o palco do início da turnê que promove o primeiro disco solo da cantora cearanse em dez injustos anos. Nessa cantoria, doce como a voz de timbre singular (ainda em forma), o público reencontra uma intérprete de tons delicados, feliz por estar de volta à cena. Após ser posta à margem do mercado fonográfico, a partir da segunda metade dos anos 80, Amelinha conseguiu gravar somente discos mal-cuidados, que a direcionaram para o forró de caráter populista. Álbum produzido por Thiago Marques Luiz para a gravadora Joia Moderna, sob a direção artística do DJ Zé Pedro, Janelas do Brasil reconecta a artista aos tempos áureos de sua discografia. De sotaque menos interiorano do que o CD, o show confirma o bom momento de Amelinha ao longo das 16 músicas do roteiro. Oito foram selecionadas entre o irretocável repertório deste disco de 2011 que chega efetivamente às lojas neste mês de janeiro de 2012. As outras oito se dividem entre lados B da discografia inicial da cantora (caso de Depende, parceria de Fagner e Abel Silva que Amelinha lançou em 1977 em seu primeiro álbum, Flor da Paisagem), sucessos inevitáveis - como Frevo Mulher (Zé Ramalho, 1979), Foi Deus que Fez Você (Luis Ramalho, 1980) e Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz O Homem Germer Sem Sentir Dor (Zé Ramalho e Otacílio Batista, 1982) - e boas surpresas como Ave Maria (Vicente Paiva e Jayme Redondo). Ainda fora de seu caminho habitual, Amelinha percorre Légua Tirana (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) em tom lamentoso que mostra que seu canto pode extrapolar a doçura. E o fato é que Janelas do Brasil - show que tem apenas o título em comum com o homônimo espetáculo apresentado pela cantora em setembro de 2010 no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ) - reitera a beleza resistente desse canto. Com luz caprichada, cenário de clima bucólico e a companhia de seus violeiros Rovilson Pascoal e Estevan Sincovitz (que assumem em cena as cordas pilotadas no disco pelo violonista Dino Barioni), Amelinha faz show simples e sedutor. A sedução está tanto na voz única da intérprete de 61 anos quanto na força do repertório. No tempo da delicadeza, Amelinha dá brilho a Planície de Prata (Almir Sater e Paulo Solimões, em abordagem bem mais bonita do que a feita em 2005 por Maria Bethânia), celebra a origem cearense em Terral (Ednardo), traz para o campo bela balada do asfalto (O Silêncio, de Zeca Baleiro), junta os cacos emocionais de Asa Partida (Fagner)  - em número cujo gestual da cantora sublinha o sentido de alguns versos - e revolve Água e Luz (Tavito e Ricardo Magno) com os acordes minimalistas da guitarra de Rovilson Pascoal. Pontuado por algumas falas de cantora, visivelmente feliz por estar voltando à cena com dignidade e com elegância, o (curto) roteiro precisa somente de alguns ajustes. A já citada Depende poderia render mais se não fosse alocada logo após Frevo Mulher, cujo ritmo frenético é marcado com palmas pela plateia. Noites de Cetim (Herman Torres e Sérgio Natureza) surte pouco efeito e, por estar situada quase ao fim do show, funciona quase como um anticlímax. Em contrapartida, Quando Fugias de Mim (Alceu Valença e Emanoel Cavalcanti) - a música do bis - sobressai mais no show do que no disco, evocando a habilidade de Amelinha para encarar temas de ritmo mais veloz, eventualmente até agalopado. Enfim, Janelas do Brasil repõe Amelinha em cena da forma que merecem a cantora e seu público saudoso dessa voz personalíssima que ora ressoa pelas frestas arejadas do mercado independente. Nem o tropeço da intérprete em verso de Ponta do Seixas (Cátia de França) tirou o brilho da feliz estreia nacional de Janelas do Brasil, show dirigido e roteirizado por Thiago Marques Luiz. A doce cantoria de Amelinha nunca sai do tom.

* O blog Notas Musicais viajou a São Paulo (SP) a convite da gravadora Joia Moderna

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Na realidade, isso aqui é uma cantoria", conceituou Amelinha no meio da estreia nacional de seu show Janelas do Brasil para o público que, na noite de 7 de janeiro, assistia à sua apresentação no Sesc Belenzinho, em São Paulo (SP). O teatro do Sesc Belenzinho foi o palco do início da turnê que promove o primeiro disco solo da cantora cearanse em dez injustos anos. Nessa cantoria, doce como a voz de timbre singular (ainda em forma), o público reencontra uma intérprete de tons delicados, feliz por estar de volta à cena. Após ser posta à margem do mercado fonográfico, a partir da segunda metade dos anos 80, Amelinha conseguiu gravar somente discos mal-cuidados, que a direcionaram para o forró de caráter populista. Álbum produzido por Thiago Marques Luiz para a gravadora Joia Moderna, sob a direção artística do DJ Zé Pedro, Janelas do Brasil reconecta a artista aos tempos áureos de sua discografia. De sotaque menos interiorano do que o CD, o show confirma o bom momento de Amelinha ao longo das 16 músicas do roteiro. Oito foram selecionadas entre o irretocável repertório deste disco de 2011 que chega efetivamente às lojas neste mês de janeiro de 2012. As outras oito se dividem entre lados B da discografia inicial da cantora (caso de Depende, parceria de Fagner e Abel Silva que Amelinha lançou em 1977 em seu primeiro álbum, Flor da Paisagem), sucessos inevitáveis - como Frevo Mulher (Zé Ramalho, 1979), Foi Deus que Fez Você (Luis Ramalho, 1980) e Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz O Homem Germer Sem Sentir Dor (Zé Ramalho e Otacílio Batista, 1982) - e boas surpresas como Ave Maria (Vicente Paiva e Jayme Redondo). Ainda fora de seu caminho habitual, Amelinha percorre Légua Tirana (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) em tom lamentoso que mostra que seu canto pode extrapolar a doçura. E o fato é que Janelas do Brasil - show que tem apenas o título em comum com o homônimo espetáculo apresentado pela cantora em setembro de 2010 no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ) - reitera a beleza resistente desse canto. Com luz caprichada, cenário de clima bucólico e a companhia de seus violeiros Rovilson Pascoal e Estevan Sincovitz (que assumem em cena as cordas pilotadas no disco pelo violonista Dino Barioni), Amelinha faz show simples e sedutor. A sedução está tanto na voz única da intérprete de 61 anos quanto na força do repertório. No tempo da delicadeza, Amelinha dá brilho a Planície de Prata (Almir Sater e Paulo Solimões, em abordagem mais bonita do que a feita em 2005 por Maria Bethânia), celebra a origem cearense em Terral (Ednardo), traz para o campo bela balada do asfalto (O Silêncio, de Zeca Baleiro), junta os cacos emocionais de Asa Partida (Fagner) - em número cujo gestual da cantora sublinha o sentido de alguns versos - e revolve Água e Luz (Tavito e Ricardo Magno) com os acordes minimalistas da guitarra de Rovilson Pascoal. Pontuado por algumas falas de cantora, visivelmente feliz por estar voltando à cena com dignidade e elegância, o (curto) roteiro precisa somente de alguns ajustes. A já citada Depende poderia render mais se não fosse alocada logo após Frevo Mulher, cujo ritmo frenético é marcado com palmas pela plateia. Noites de Cetim (Herman Torres e Sérgio Natureza) surte pouco efeito e, por estar situada quase ao fim do show, funciona quase como um anticlímax. Em contrapartida, Quando Fugias de Mim (Alceu Valença e Emanoel Cavalcanti) - a música do bis - sobressai mais no show do que no disco, evocando a habilidade de Amelinha para encarar temas de ritmo mais veloz, eventualmente até agalopado. Enfim, Janelas do Brasil repõe Amelinha em cena da forma que merecem a cantora e seu público saudoso dessa voz personalíssima que ora ressoa pelas frestas arejadas do mercado independente. Nem o tropeço da intérprete em verso de Ponta do Seixas (Cátia de França) tirou o brilho da feliz estreia nacional do show Janelas do Brasil.

Marcelo disse...

Mauro, vc e a Jóia Moderna fazem uma boa parceria, né?

lurian disse...

Bem lembrado por Amelinha repor a música "Depende", ela tem bem a cor do riso do tempo (de sua volta)...
Espero que durante a turnê ela possa inserir a linda "É necessário".
Ouvindo com cuidados o disco percebe-se em "Quando fugias de mim" as cordas graves simulando o som da zabumba, o que dá um brilho percussivo especial, parabéns à maestria do Dino Barione, por fazer um trabalho tão bonito para iluminar a volta de Amelinha!

Gilmar disse...

Muito bom!!!
O repertório é de primeiríssima qualidade, como a voz de Amelinha.
Mas espero que seja ampliado para pelo menos 20 músicas...
É que a gente fica querendo ouvir mais e mais o seu canto denso e belo, após esse longo tempo de espera.
Mauro, só para lembrar que entre as décadas de 80 e 90 Amelinha gravou um disco excelente com xotes e forrós tradicionais (Amelinha, Só Forró, 1994, Gravadora Polygram). Foi muito tocado aqui no Nordeste e traz músicas como:
A vida do viajante (Luiz Gonzaga e Hervé Cordovil);
Gemedera (Capinam e R. do Recife);
Pisa na Fulô (João do Vale);
Olha pro céu (Luiz Gonzaga);
Trem de São João (Walter Queiroz);
Caboclo sonhador (Maciel Mello);
Rancheira (Gereba e Tuzé de Abreu) Etc.
Desse disco saiu ainda uma música para a novela Tieta (Cobra de chifre, tema da personagem Perpétua) e uma música de cunho religioso, "Jesus é verbo, não substantivo".
Foi muito ouvido aqui no Nordeste, em função das festas de São João; creio que aí no Sudeste pouco se conhece desse disco da Amelinha.
Abs.

Rafael disse...

Há alguma previsão desse show sair em DVD? Tomara!!! Nós, fãs da Amelinha, merecemos tal coisa!!!

Ricardo Corrêa disse...

Uma merecida volta! Amelinha nunca saiu do meu canto. Uma discografia curta, porém com músicas escolhidas a dedo. Essa voz e precisava retornar à vida musical com um novo trabalho. Parabéns ao blog por uma divulgação tão honesta e digna. Seja bem-vinda Amelinha!!!