Faz 30 anos nesta quinta-feira, 19 de janeiro de 2012, que Elis Regina (1945 - 1982) partiu num rabo de foguete para outra dimensão. Partiu cedo demais, cantando demais, querendo demais fazer um disco que vendesse mais e que a tornasse (ainda) mais popular. Não, Elis Regina não era a cantora mais popular deste país de cantoras quando saiu precocemente de cena, vítima de mistura letal de cinzano e cocaína. Maria Bethânia vendia mais discos do que Elis. Gal Costa, outra forte concorrente da época, também vendia mais discos do que Elis. Mas o que ninguém sabia naquele triste 19 de janeiro de 1982 - data em que o Brasil parou para chorar a morte da cantora da qual não comprava tantos discos, mas amava em silêncio - é que Elis ainda seria referência e parâmetro para o canto feminino nacional 30 anos após sua morte. Trinta anos que moldaram um outro Brasil. O canto de Elis é símbolo de uma outra era, de um país que vivia em outra dimensão cultural, sobretudo no que diz respeito à música brasileira. Curiosamente, foi a partir de 1982 - o ano em que Elis saiu de cena sem avisar - que a tal MPB começou progressivamente a se diluir e a ruir. Começou então lentamente uma outra era musical, não necessariamente melhor ou pior do que a anterior, mas diferente. A voz antenada de Elis Regina Carvalho Costa talvez tenha resistido tão bem ao tempo por ter se tornado ícone e uma das referências máximas de uma MPB que saiu do mainstream e das rádios, mas que, mesmo empurrada cruel e progressivamente para as margens do mercado fonográfico, sobrevive forte na memória afetiva de quem a viu nascer e crescer. Uma música do qual parte do Brasil sente falta. Talvez por isso - e por tudo o mais que a Pimentinha legou ao seu país - Elis Regina permaneça como uma das saudades mais doídas do Brasil desde 1982.
Guia jornalístico do mercado fonográfico brasileiro com resenhas de discos, críticas de shows e notícias diárias sobre futuros lançamentos de CDs e DVDs. Do pop à MPB. Do rock ao funk. Do axé ao jazz. Passando por samba, choro, sertanejo, soul, rap, blues, baião, música eletrônica e música erudita. Atualizado diariamente. É proibida a reprodução de qualquer texto ou foto deste site em veículo impresso ou digital - inclusive em redes sociais - sem a prévia autorização do editor Mauro Ferreira.
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42 comentários:
Faz 30 anos nesta quinta-feira, 19 de janeiro de 2012, que Elis Regina (1945 - 1982) partiu num rabo de foguete para outra dimensão. Partiu cedo demais, cantando demais, querendo demais fazer um disco que vendesse mais e que a tornasse (ainda) mais popular. Não, Elis Regina não era a cantora mais popular deste país de cantoras quando saiu precocemente de cena, vítima de mistura letal de cinzano e cocaína. Maria Bethânia vendia mais discos do que Elis. Gal Costa, outra forte concorrente da época, também vendia mais discos do que Elis. Mas o que ninguém sabia naquele triste 19 de janeiro de 1982 - data em que o Brasil parou para chorar a morte da cantora do qual não comprava tantos discos, mas amava em silêncio - é que Elis ainda seria referência e parâmetro para o canto feminino nacional 30 anos após sua morte. Trinta anos que moldaram um outro Brasil. O canto de Elis é símbolo de uma outra era, de um país que vivia em outra dimensão cultural, sobretudo no que diz respeito à música brasileira. Curiosamente, foi a partir de 1982 - o ano em que Elis saiu de cena sem avisar - que a tal MPB começou progressivamente a se diluir e a ruir. Começou então lentamente uma outra era musical, não necessariamente melhor ou pior do que a anterior, mas diferente. A voz antenada de Elis Regina Carvalho Costa talvez tenha resistido tão bem ao tempo por ter se tornado ícone e uma das referências máximas de uma MPB que saiu do mainstream e das rádios, mas que, mesmo empurrada cruel e progressivamente para as margens do mercado fonográfico, sobrevive forte na memória afetiva de quem a viu nascer e crescer. Uma música do qual parte do Brasil sente falta. Talvez por isso - e por tudo o mais que a Pimentinha legou ao seu país - Elis Regina permaneça como uma das saudades mais doídas do Brasil desde 1982.
Nossa pintura Linda da Rainha...
Viva Elis!! o disco Elis & Tom é extraordinário,foi o primeiro que ouvi dela e um dos mais importantes da Música Brasileira sem dúvida.
A MPBzona ter batido as botas foi a melhor coisa que podia ter acontecido.
O Brasil hoje tem quase 200 milhões de habitantes, é um país múltiplo. Tem espaço(nichos) para todos.
Antigamente era a classe média quem ditava culturalmente o país - Chico, Elis, Tom, Caetano... nunca fizeram sucesso com o povão - mesmo sendo impostos pela mídia.
Era de cima para baixo.
Hoje em dia quem dita é o povão e a classe média tb vai na onda.
De baixo pra cima funciona. Vejam só.
Deixando essa sociologia de boteco de lado, acho que hoje em dia, APESAR DO PESARES, está bem melhor.
Há um leque de estilos/artistas que não havia há 30 anos.
A gente só tem o trabalho de escolher o que mais gosta.
Pode até escolher, como o KL, ficar preso no tempo, em uma dimensão à parte.
A vida é feita de escolhas.
"O melhor lugar do mundo é aqui e agora" Gil
Zé Henrique, vc acabou de falar muita besteira agora. O Brasil sempre teve um universo gigante de variedade musical, que SEMRPE teve espaço. Só que aquilo que sobreviveu é isso que você insinua ser "MPB imposta pela classe média". Pois bem, será que aquilo que vai sobreviver como conceito musical no futuro, de hoje, vai ser aquilo que vc julga não ter tido espaço no passado?? Eu duvido muito, porque esse tipo de música vazia não tem longevidade nem num espaço anual.
Não deixe que sua ignorância o faça ignorar aquilo que houve de bom e teve consagração maciça em sua época. Há muita coisa alternativa que, ainda hoje, com interesse e pesquisa, vc vai garimpar e encontrar e se encantar, tudo da época de "Chico, Elis, Tom, Caetano...". Mas nossa Elis não deixa de ser um marco da época e um marco do mundo. Disse Caetano n'O Globo domingo: "Quem entende de música sabe que ela é uma das maiores que já houve." Ele tem razão, simples assim.
Está enganado vc de achar que o povão hoje encontra melhor o que há de qualidade. Vá me achar alguém tipicamente de massa que tenha disco ou mp3 de Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Kassin, etc! Não há! Eles ditam o LIXO e a classe média compra esse LIXO. Quem decaiu foi o público, não a música. O que decaiu foi o olhar daquilo que é bom pelo Brasil. O melhor de nossa música sempre teve apreciação mais justa no exterior, e isso continua até tempos atuais.
Queria ver ter se mantido a "melhor" até hoje como as outras que estão vivas, aí sim...
Deixo o Zé Henrique com o seu "aqui e agora"... Cada um sabe aonde se situar né? Eu fico lá atrás. Numa época que qdo vc ouvia a voz de uma cantora, você conseguia identificar quem estava cantando... Não existiam cópias ou genéricas modernosas. Era Bethânia, era Elis, era Gal, era Fafá, era Nara e tantas e tantas outras talentosas e únicas. Era qualidade!!
contribuindo com o texto: cantora "DE" que não comprava tantos discos.
gosto muito deste blog, obrigado por tantas informações preciosas sobre nossa musica
abraço
Eterna em nossos tímpanos!
Depende, Zé Henrique.
Tudo bem que, antes, essa MPBzona a que você se refere tocava mais "nas AM e FM dos elevador" (odeio essa música, Raimundos com Rodolfo fizeram coisas BEM melhores).
Mas não era só isso. Tocava Chico, mas tocava Paulo Sérgio. Tocava Caetano, mas tocava Odair José. E essa discussão de "o gosto da classe média" vinha desde os idos de 1978, quando o Magal cansou de emplacar sucessos ("Sandra Rosa Madalena", "O meu sangue ferve..." e por aí vai).
Mas, em suma, concordo contigo. Elis morreu, o rock brasileiro deu uma "blitz" na MPB (trocadilho de Gil, ótimo), e vamos continuando. Pra frente é que se anda. Tem espaço pra todo mundo.
Felipe dos Santos Souza
Não acho que de baixo pra cima funciona. Acho que a quantidade de gente sem acesso a educação e cultura é que nivela por baixo. Gal, Simone, Bethânia enchiam estádios, e não era de riquinhos não ! As pessoas consumiam música com conteúdo, porque entendiam. Hoje se for além de " Ai se eu te pego " ou " Mama mama eu " é música de elite ??? Triste penamento. Existem coisas populares com qualidade, mas o que vai pra mídia é o que me mata.
Uma linda pintura de palavras.
" Mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem..." disse Belchior na música cantada por Elis "Como Nossos Pais".
Yuri, grato por apontar o erro de concordância do texto,já corrigido. Abs, MauroF
Zé está certo! O fato de haver poucas cantoras no Brasil décadas atrás, a ponto de vocês da época poderem identificá-las, não significa que havia mais qualidade e sim que havia pouca democracia cultural. Penso que a indústria cultural, apesar de ser capitalista, racista e exclusivista, hoje permite com muito mais facilidade a ascensão de artistas que na era do vinil jamais sairiam dos bailes da vida. As oportunidades hoje se multiplicam em gravadoras independentes e em selos próprios. Há uma necessidade gigantesca da cultura nacional de ser cada vez mais plural. Claro que é natural que neste turbilhão de vozes a qualidade natural, a genialidade não sejam uma unanimidade, mas é exatamente assim que não é para ser. É como um time de futebol de base, no qual centenas de jovens querem ser profissionais e a maioria é "perna de pau", mas ninguém vai lhes tirar a chance de tentar e nesta tentativa é que surgem “Ronaldos” e “Neymares”. Assim, na música, surgiram Chico Cesar, Lenine, Ná Ozzeti, dentre outros. E temos acesso a estrelas culturais que antes a indústria nos negava como Lia de Itamaracá, Selma do Coco, Banda de Pífanos de Caruaru, Maracatu Estrela Brilhante do Recife, Boi de Axixá, Edith do Prato, Mestre Ambrósio, Cordel do Fogo Encantado. É a diversidade, são as portas mais abertas que permitiram que da lama surgissem esses caranguejos abençoados pelo dom da arte. Não fosse essa democracia cultural, estariam ainda todos no mangue.
Seu texto é correto e preciso flash.Apenas não acho que houvesse tanto "amar em silencio" não.Elis era muito respeitada e conhecida durante boa parte da década de 60 e 70,foi muito veiculada na TV quando esse veículo ainda era bem mais exclusivo da classe média,dai sua ligação aessa camada social.Elis teve programas semanais e mensais durante anos seguidos.Foi varias capas das grandes revistas da época.A maquina da mídia e do mercado estavam a serviço dela e ela a serviço daquele mecanismo.Não tinha como não ser conhecida por todos,até mesmo o distante povão.Acho que não ia ao popular Chacrinha,mas não esqueço de um quadro no programa dele:"Quem imita melhor Elis Regina"!Até os que não a apreciava tanto podiam ao menos reconhecer de sua importância.A comoção com sua morte foi proporcional a um grande investimento midiático de decadas,sem dúvida.O neo-liberalismo estava despontando no horizonte e o artista e sua arte tinham que se bancar como nunca:Vender muito disco,Elis morreu disso.
Ze Henrique so gosta de Nacao Zumbi...afffff
E mais, Elis era ótima, mas de longe era a maior cantora do Brasil. Virou a maior depois de morta, pois viva era alvo dos mesmos dardos dos críticos que agora a divinizam. Elis era apenas uma ótima cantora de repertório irregular, com discos nos quais algumas músicas eram maravilhosas e outras dispensáveis. Aí fica mais a questão do gosto mesmo, pois sempre achei os discos de Gal e Bethânia completamente bons, com raras músicas dispensáveis. Simone sempre foi muito perdida, teve altos e baixos, começou cantando mal, depois melhorou, depois passou a gritar absurdamente e depois sumiu. Mantém-se sumida.
Lindo texto Mauro.
Gal, a maior de todos os tempos.
Marisa Monte que sou fã junto com Cassia Eller, foram quem mostrou que havia vida nas cantoras depois do reinado de Gal, Elis e Bethânia...
Gustavo, a variedade musical hoje em dia é BEM maior, não há discussão quanto a isso.
Antigamente para se gravar um disco era um parto. Precisava-se de uma gravadora.
O genial Cartola só gravou o primeiro dele aos 65 anos!
Outra coisa, não é verdade que só sobreviveram os Chicos, Caetanos e Gils da vida. Os cantores listados no livro "Eu Não Sou Cachorro Não" tb sobreviveram.
Aliás, sobreviveram pra quem?
O povão usa música basicamente para entretenimento - cada um a usa como quiser. Sorte deles não conherecem Jeneci e Tulipa. rsrsrs
Po último, elogio de Mano Caetano valer alguma coisa a essa altura do campeonato é brincadeira, né?
Os elogios dele são café com leite.
O Baiano banalizou-os demais.
Pois então, Felipe - nem ia lhe responder, pois estou de mal. Além de ter vindo a minha cidade e não ter dito nada, trouxe chuva! - Chico/Caetano/Gil eram "das FM e dos elevador"(Grande Raimundos!), Odair/Valdick/Fernando Cesar(os "cachorros" eram das AMs e das cozinhas.
Vez por outra um Magal da vida rompia esse cerco, mas aí era mais como chacota pra os bem letrados.
Fábio, pô, não seja injusto comigo.
Gosto de tanta coisa...
É isso aí Gill, valeu o complemento para minhas idéias.
Hoje em dia tá MUITO melhor.
E o mais bacana é que apesar dos nichos as novas gerações são bem menos sectárias.
Isso é um ganho tremendo.
Vejam o caso da baiana Mary que aqui comenta. Ela gosta tanto do AC/DC quanto do Magary. :>)
PS: O KL tá mordendo todo o braço pra não responder. rsrsrsrsr
ELIS CONTINUA SENDO A MAIOR E MELHOR CANTORA DESSE PAIS. AS OUTRAS DÃO PARA O GASTO, E NEM SEMPRE.
Elis foi grande, quem duvida? E, realmente, pra quem foi apresentado às cantoras do Brasil pelas mãos (vozes, atitude) de Elis, Bethânia, Gal, Nana, Rita, depois Elba, Alcione, Beth, cada uma com personalidade e estilo marcantes, fica difícil distinguir quem é quem neste ensopadão de vozes e conflitos modernoso/adolescentes que anda rolando por aí.
Referência de qualidade não necessariamente traduz saudosismo melancólico.
Todas as homenagens a Elis e Nara, q tornaram emblemático nosso 19 de janeiro.
Quem morre cedo demais corre sério risco de virar mito... mas Elis "sobrevive" graças a um repertório estupendo (que eu, tendo conhecido sua obra há poucos anos, julgo fundamental: aquele álbum de 1980, o primeiro que conheci dela, já em CD, me pareceu de uma atualidade impressionante). Um ano para lembrar sua carreira é importante para um país quase sem memória - e muito oportuno para nós, jovens. Agora, como é que é: Simone grita???!!!!
Eu gosto da Elis de "Altos e baixos", dos boleros, a que cantou músicas do Clube da Esquina, mas ao contrário da maioria, não gosto daquela fórmula de sambinha sincopado, que sim ela cantava bem, mas não me atrai.
Zé Henrique, você é pirracento viu?rsrsrs ah, e acho o Jeneci ótimo tem um trabalho bacana Tulipa não gosto já sabe sobre o novo disco da Céu? se chama "Caravana Sereia Bloom" será lançado no ínico de Fevereiro já estou doida pra ouvir!
a postagem com mais comentários...
vendagem de disco nunca determinou qualidade de trabalho...joão gilberto deve ser um e.t. pra galera do entretenimento, então???...
salve elis...sua arte e sua voz...luxo para todos...
abrçsons
Não sei não se vivemos essa democracia toda não. Será que o cara é muito otimista ou eu é que sou pessimista?
Parece que tudo aqui nesta terra foi mesmo nivelado por baixo. Pode ser até que haja um volume maior de coisas acontecendo, mas abrir as portas não ficou lá tão mais fácil assim não.
De outro lado, coisas como luans, telós, essa epidemia de axés e supostos sertanejos e etc..., são (e o magal também em certo sentido o era) tão ou mais impostas do que supostamente teriam sido os "medalhões" da "MPBzona".
Acho mais é que estamos vivendo um terrível momento de indigência cultural, isso sim. Variedade e acessibilidade a porcaria é como sair do mangue para o lixão.
E essa coisa de dizer que chicos, caetanos, elises, bethânias, gals, é que ditavam as regras parece meio equivocado. Quem sempre deu e continuando dando, é a indústria fonográfica. Quando lhe era conveniente ela vendeu Bethânia, Gal, Elis, Chico, Simone, como vendida Magal e hoje vende o axé, brega/sertanejo/pop/universitário e o filão recente do gospel.
Culturalmente falando, a impressão que se tem é de estarmos indo a caminho da beira do abismo e de que seremos atirados de lá a qualquer momento.
Mas uma coisa não se pode negar. ELIS REGINA era um grande talento da nossa música, tando quando NARA, ELIZETH, CLARA, e como graças a deus ainda o são BETHÂNIA, CHICO, CAETANO, GAL, NANA e tantos outros. E há muita gente nova e de muito talento também e penando por aí diante de tantas portas que a falsa impressão democracia insinuam serem mais fáceis de abrir.
Sim Lauro, Simone gritou muito, a ponto de desafinar. Já ouviu todos os seus discos? Pois ouça, tenho todos.
Decidi não entrar mais em nenhuma postagem sobre artistas de que eu não gostasse, mas, para minha surpresa, cá eu encontro os mesmos que se alimentam da chacota alheia para terem um pouco de espaço. O dono do blog é um heroi ao conseguir a façanha de resenhar com elegância e discrição. Mas, mesmo assim, a verborragia da turma que cultua o vazio teima em vir aqui encher o saco de quem não está nem aí para o 'coro dos contentes' com a contemporaneidade vergonhosa.
Elis saiu de cena em 1982 talvez para não ver a decadência gradativa das Artes no país. Não haveria espaço nenhum para ela hoje, simplesmente porque hoje - repito - ninguém mais tem pudor em divulgar suas mediocridades, e sempre vai achar um imbecil que pague (caro) por seus produtos. E mais: a música produzida pela classe média (que mal há em ser classe média?) foi a melhor já feita até hoje: Caymmi, Ary, Assis Valente, Noel Rosa, entre outros precursores, abriram espaço aos sambistas clássicos do tipo Cartola ou Nelson Cavaquinho (revelados pela Bossa Nova engajada de Nara), ou mesmo a graça irônica de Adoniran Barbosa. Luiz Gonzaga, sábio, chamou dois letristas da classe média e deu a eles as linhas-mestras para produzir o canto de um povo discriminado até hoje. E continua uma estrela de primeira grandeza. João Gilberto, também classe média, colocou o país do samba no Primeiro Mundo, isso só para citar os mais conhecidos.
Enquanto isso, a vaidade de alguns aqui beira ao patético, pois não querem admitir para si mesmos que o tipo de cultura que cultuam e consomem, na verdade, não passa de um pastiche. Se eu prefiro o que se produziu no país até 1981 é porque, realmente, tenho mil razões estéticas e posso provar, por A mais B, que tenho razão. E ainda há outro dado relevante: por mais que a música populacho, seja da Bliz ou de Michel Teló, gere milhões em suas contas bancárias, não há tese sociológica que as redima de serem apenas musiquetas de quinta categoria. Para encerrar a arenga, oeitos autorais, até o momento, compositor que mais arrecada em direitos autorais não é aquele da banda Jammil, e sim Cole Porter. Irônica e irritantemente, o mais sofisticado de todos. E continua sendo mais popular do que qualquer um, independentemente de classe. A mesma classe que os orgulhosos, despeitados e inocentes úteis não têm e talvez nunca tenham.
Não falei de artistas de classe média, falei do público classe média.
Carece uma melhor interpretação de texto, Kl Joselito - aquele que não sabe brincar.
Parafraseando o Gil:
Vc levou uma Blitz e ficou parado na esquina sem lenço e sem documento.
Tentei lhe dar carona, mas já que não quer. Blz.
Tchau e benção.
PS: Elis quando canta calminha é boa cantora, mas quando grita com aquela cara de drama é insuportável.
O comentário de "Falsobrilhante" é muito lúcido, verdadeiro e complementa o meu. E Zé Henrique sempre acha que está com a razão, cutuca onça com vara curta, e eu é que não sei brincar. Então tá.
Saiamos da paráfrase e caiamos na perífrase.
Quanto amaro! quanta tristeza! Tanto rancor. Isso dá gastrite.
Algumas pessoas olham o mundo com um olhar tão desprovido de amor, de sorriso. "Tudo dói, tudo dói. Viver é um desastre que sucede a alguns..."
Elis foi a melhor q este país já viu!!! Nada muda isso!
Devo ser caçula aqui, tenho 18 anos. Já que fiquei indignado, é só para polemizar: para mim os maiores artistas são os que gritam, visceralmente, afinados, pondo para fora suas verdades com toda a dramaticidade que para mim, mais que comovente é uma porta de entada para um mundo de contemplação que eu não sei explicar, mas me é sempre inspirador.
Vinícius,
Você, com apenas 18 anos, dá lição de moral em muita gente 'escolada' aqui, que faz pose de crítico musical e cultural tendo como escudo o hit parade da MTV e uma meia dúzia de mp3 da Biscoito Fino na prateleira. Gostei da sua observação original sobre o grito agudo na voz dos maiores artistas, e tenha certeza de que Elis era mais do que cantora: era um instrumento musical em forma de gente e sua discografia deveria ser lição de casa obrigatória para quem, um dia, quisesse se aventurar na difícil (e hoje inexistente) arte da interpretação.
Abraço
Fiquei feliz de receber o apoio HAHA'. Você tem toda razão, e isso é quase literal mesmo. Me fez lembrar o vídeo do trem azul em que ela acompanha a guitarra com a voz em vibrato e o corpo em total movimento, é incrível. Pode não trazer aquela sonoridade suave de Folhas Secas, mas apreciar Elis, é estar disposto a se surpreender com toda a versatilidade musical, aliás todos os que a produziram, amigos etc, falam exatamente isso. No palco, ela era uma artista completa, de certa forma, até transgressora, talvez por isso não agrade a todos, não seguia o ritmo linearmente, costurava o ritmo de acordo com o peso de cada palavra tal como uma atris... Essa é Elis.
Agora, para o pessoal que acha que precisa escolher entre o passado e presente, vou deixar a minha aposta num cara que certamente tem muito a amadurecer musicalmente, porém já conquistou meu respeito: Filipe Catto. Não só por sua voz única, mas principalmente por sua interpretação, pois ele aprendeu direitinho a lição de casa que meu amigo mencionou, e não é a toa, ele é grande fã de Elis.
Filipe Catto
http://www.youtube.com/watch?v=1R2YPnsBIC8
Também tive a oportunidade de ir a dois shows de um grupo incrível, que já tem chamado inclusive a atenção de diversos artistas: '5 a seco'. Hum, e para variar, sei que um deles é grande fã de Elis.
5 a Seco
http://www.youtube.com/watch?v=mkUN4hiZvNc
Vinícius,
De novo, você mandou bem nas palavras e nas observações (estou impressionado!). Em relação a FC, quando o vi em Jô Soares, percebi na forma de cantar a nítida influência de Elis Regina. A lacuna que ela (assim como Nara) deixou ainda não foi preenchida, pois, além de estilistas da canção, elas apostavam em nomes que viriam a tornar-se ídolos da massa. Quem faz isso hoje? Ninguém, pois os próprios umbiguinhos são o centro das suas atenções.
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