Título: As Mimosas da Praça Tiradentes
Texto: Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche
Direção: Gustavo Gasparani e Sérgio Módena
Direção musical e arranjos: João Callado e Nando Duarte
Elenco: César Augusto, Claudio Tovar, Gustavo Gasparani, Jonas Hammar, Marya Bravo e Milton Filho
Local: Teatro Carlos Gomes (Rio de Janeiro, RJ)
Foto: Cristina Granato
Cotação: * * 1/2
Espetáculo em cartaz de quinta-feira a domingo, às 19h30m, até 25 de março de 2012
O musical As Mimosas da Praça Tiradentes reabre a cortina do glorioso passado teatral da praça situada no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Um dos berços do teatro brasileiro, a Praça Tiradentes - espécie de Broadway tupíniquim em tempos idos - ainda hoje abriga o Teatro Carlos Gomes, palco apropriado para a montagem deste texto de Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche que procura reviver a era de glamour do local. Pena que a trama se sustente num fio frágil de dramaturgia - a tentativa de um grupo de transformistas para salvar da falência o Cabaré das Mimosas, alvo de plano de destruição - que não se desenvolve ao longo das quase duas horas de espetáculo. Como a trama logo se esvai, o texto faz uso de tom didático - sobretudo no segundo ato - para fornecer dados históricos sobre o passado cultural da Praça Tiradentes. Diante desse material dramatúrgico ralo, a encenação - dirigida por Gasparani com Sergio Módena - recorre a uma exposição caricatural do universo dos transformistas e, dentro desse recorte gay, extrai humor popular com o auxílio de um cancioneiro kitsch que serve bem à cena. Estruturado com base em pesquisa musical que engloba tal universo cafona, o roteiro do espetáculo incorpora pérolas bregas como Coisas do Amor (Rudy Perez e Roberto Livi em versão de Carlos Colla), canção que Vanilla Cherry (Gustavo Gasparani) e o cigano Miguelito (Jonas Hammar) entoam em cena, reeditando o dueto feito por Rosana com Sandra de Sá no seu álbum Paixão (1992) - sem a exuberância das cantoras, então no auge de suas respectivas formas vocais. Do elenco, a voz mais potente é a de Marya Bravo, intérprete da Divina Rúbia. É apoteótica a entrada em cena de Bravo ao som de medley que entrelaça sucesso de Gloria Gaynor, I Am What I Am (Jerry Herman), com Hello, Dolly, outro tema de musical assinado por Herman e, no caso, vertido para o português por Gasparani. O pot-pourri com três temas que abriram e batizaram novelas escritas por Cassiano Gabus Mendes (1929 - 1993) para o horário das 19h da TV Globo - Elas por Elas (Augusto César e Nelson Motta, 1982), Te Contei? (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1978) e Marrom Glacê (Mariozinho Rocha, Renato Corrêa e Guto Graça Melo) - também surte bom efeito na plateia, ainda que esteja totalmente fora de contexto no roteiro. Se bem que, no caso de As Mimosas da Praça Tiradentes, tudo parece servir ao riso. A exploração caricatural do mundo gay rende boas piadas e cenas - como a imitação de cantoras como Maria Bethânia, hábito entre os transformistas - que tendem ao escracho. Prato feito para as tiradas do ator Milton Filho, hilário como camareiro Xuxu, personagem que possibilita piadas e brincadeiras com a raça negra. Enfim, As Mimosas da Praça Tiradentes se alimenta desse humor popular, herdado do Teatro de Revista. Pena que nunca vá além dele... Pena também que nem sempre seus números musicais tenham a vivacidade do repertório (re)posto em cena.
6 comentários:
O musical As Mimosas da Praça Tiradentes reabre a cortina do glorioso passado teatral da praça situada no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Um dos berços do teatro brasileiro, a Praça Tiradentes - espécie de Broadway tupíniquim em tempos idos - ainda hoje abriga o Teatro Carlos Gomes, palco apropriado para a montagem deste texto de Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche que procura reviver a era de glamour do local. Pena que a trama se sustente num fio frágil de dramaturgia - a tentativa de um grupo de transformistas para salvar da falência o Cabaré das Mimosas, alvo de plano de destruição - que não se desenvolve ao longo das quase duas horas de espetáculo. Como a trama logo se esvai, o texto faz uso de tom didático - sobretudo no segundo ato - para fornecer dados históricos sobre o passado cultural da Praça Tiradentes. Diante desse material dramatúrgico ralo, a encenação - dirigida por Gasparani com Sergio Módena - recorre a uma exposição caricatural do universo dos transformistas e, dentro desse recorte gay, extrai humor popular com o auxílio de um cancioneiro kitsch que serve bem à cena. Estruturado com base em pesquisa musical que engloba tal universo cafona, o roteiro do espetáculo incorpora pérolas bregas como Coisas do Amor (Rudy Perez e Roberto Livi em versão de Carlos Colla), canção que Vanilla Cherry (Gustavo Gasparani) e o cigano Miguelito (Jonas Hammar) entoam em cena, reeditando o dueto feito por Rosana com Sandra de Sá no seu álbum Paixão (1992) - sem a exuberância das cantoras, então no auge de suas respectivas formas vocais. Do elenco, a voz mais potente é a de Marya Bravo, intérprete da Divina Rúbia. É apoteótica a entrada em cena de Bravo ao som de medley que entrelaça sucesso de Gloria Gaynor, I Am What I Am (Jerry Herman), com Hello, Dolly, outro tema de musical assinado por Herman e, no caso, vertido para o português por Gasparani. O pot-pourri com três temas que abriram e batizaram novelas escritas por Cassiano Gabus Mendes (1929 - 1993) para o horário das 19h da TV Globo - Elas por Elas (Augusto César e Nelson Motta, 1982), Te Contei? (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1978) e Marrom Glacê (Mariozinho Rocha, Renato Corrêa e Guto Graça Melo) - também surte bom efeito na plateia, ainda que esteja totalmente fora de contexto no roteiro. Se bem que, no caso de As Mimosas da Praça Tiradentes, tudo parece servir ao riso. A exploração caricatural do mundo gay rende boas piadas e cenas - como a imitação de cantoras como Maria Bethânia, hábito entre os transformistas - que tendem ao escracho. Prato feito para as tiradas do ator Milton Filho, hilário como camareiro Xuxu, personagem que possibilita piadas e brincadeiras com a raça negra. Enfim, As Mimosas da Praça Tiradentes se alimenta desse humor popular, herdado do Teatro de Revista. Pena que nunca vá além dele! Pena também que nem sempre seus números musicais tenham a vivacidade do repertório (re)posto em cena!
Parece que a crítica é que tem um repertório limitado e nunca vai além de si mesma...
Parece que a crítica é que tem repertório limitado e nunca vai além de si mesma...
Há tempos venho pensando na importância de travestis e transformistas para a construção e manutenção das memórias cancional e cultural brasileiras. O empenho cênico (dramático) e afetivo (amoroso) destes artistas com suas musas e divas ampliam nossas leituras e entendimentos daquilo que entendemos por "viver de arte e de arte viver".
E são tantas as bidus, chiquinhas, rúbias, carmens, ângelas, elizetes, bethânias (re)coroadas infinitamente em interpretações personalíssimas e dignas de notas!
As mimosas da Praça Tiradentes confere dignidade e respeito às matenedoras da mitologia da praça: as mimosas.
Assisti 2 vezes ao musiscal. E claro que ninguém volta se não tiver gostado muito, sobretudo se se considerar a oferta de espetáculos no Rio de Janeiro. É divertido, educativo (sem exageros), e retrata a cena gay do país. Vale à pena ver.
para endossar os comentários anteriores, só o fato de abordar um universo discrimidado por não ser 'nobre', esse espetáculo já merece aplausos e mais estrelas na cotação. Não vi, pretendo ver, mas já gostei.
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