Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Caixa com álbuns dos anos 80 expõe face suada da obra de Marcos Valle

Resenha de caixa de CDs
Título: Marcos Valle Anos 80
Artista: Marcos Valle
Gravadora: Discobertas
Cotação da caixa: * * *
Cotações dos álbuns: * * * 1/2 (Vontade de Rever Você), * * * (Marcos Valle) * * 1/2 (Tempo da Gente)

É fato incontestável que o supra-sumo da obra fonográfica de Marcos Valle vai dos anos 60 até a primeira metade da década de 70. Cria da Bossa Nova, o compositor carioca gravou nesse período discos que foram da bossa propriamente dita ao soul norte-americano, passando pelas engajadas músicas de festivais. Por isso mesmo, a caixa Marcos Valle Anos 80 - que embala os três álbuns gravados pelo artista na década - expõe face menos conhecida da discografia de Valle. Nos anos 80, Valle gravou com menor regularidade e - a rigor - teve apenas um hit, Estrelar (Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Leon Ware), marco dessa fase pop, gravado para explorar o culto à malhação que ganhou corpo na época. Estrelar é do álbum Marcos Valle. Neste disco lançado pela Som Livre em 1983, em que os teclados de Lincoln Olivetti (produtor do disco ao lado de Paulo Sérgio Valle) deram o tom suingante do som de Valle à moda da música produzida em Los Angeles (EUA) na época, o compositor lançou algumas pérolas feitas em parceria com o mano Paulo Sérgio (como Tapa no Real, pescada por Renata Gebara em seu segundo recém-lançado disco, Caixa de Música) e revisitou clássicos de seu repertório inicial como Samba de Verão (1963) e Viola Enluarada (1968). Como Estrelar brilhou nas paradas, o cantor continuou na trilha da malhação e gravou Bicicleta (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), música lançada em compacto de 1984 - com certa repercussão, mas sem bisar o êxito de Estrelar - e incluída como faixa-bônus da reedição do álbum Marcos Valle produzida por Marcelo Fróes para a caixa editada por seu selo Discobertas. Dos três títulos embalados no box, o que mais merece atenção é Vontade de Rever Você, álbum de 1980 que marcou a volta de Marcos Valle ao Brasil - via Som Livre - após cinco anos de vivência em Los Angeles, de onde o artista trouxe na bagagem os grooves funkeados que o compositor iria misturar com ritmos brasileiros - sobretudo samba e baião - neste disco que registra sua aproximação com o músico norte-americano Leon Ware, parceiro dos irmãos Valle na melhor faixa do disco, A Paraíba Não É Chicago. Este híbrido de funk e baião também tem a assinatura de Laudir de Oliveira e Peter Cetera. É que, na fase vivida nos Estados Unidos na década de 70, Valle fez conexões com o grupo norte-americano Chicago que se refletiram no som do disco. Fechando a trilogia fonográfica de Marcos Valle nos anos 80, a caixa apresenta a primeira reedição em CD de Tempo da Gente, álbum lançado em 1986 pela extinta gravadora carioca Arca Som. É o título mais fraco da caixa. Em Tempo da Gente, Valle aplicou doses adicionais de romantismo ao seu cancioneiro suingante e apresentou parceria com Erasmo Carlos, Sem Você Não Dá. Mas o disco não aconteceu e Valle saiu temporariamente de cena até ter o balanço de sua música descoberto por DJs europeus nos anos 90 - o que injetou ânimo em sua discografia. Mas isso é história para uma outra caixa... A dos anos 80 revive o som suado dos verões daquela década.

11 comentários:

Mauro Ferreira disse...

É fato incontestável que o supra-sumo da obra fonográfica de Marcos Valle vai dos anos 60 até a primeira metade da década de 70. Cria da Bossa Nova, o compositor carioca gravou nesse período discos que foram da bossa propriamente dita ao soul norte-americano, passando pelas engajadas músicas de festivais. Por isso mesmo, a caixa Marcos Valle Anos 80 - que embala os três álbuns gravados pelo artista na década - expõe face menos conhecida da discografia de Valle. Nos anos 80, Valle gravou com menor regularidade e - a rigor - teve apenas um hit, Estrelar (Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Leon Ware), marco dessa fase pop, gravado para explorar o culto à malhação que ganhou corpo na época. Estrelar é do álbum Marcos Valle. Neste disco lançado pela Som Livre em 1983, em que os teclados de Lincoln Olivetti (produtor do disco ao lado de Paulo Sérgio Valle) deram o tom suingante do som de Valle à moda da música produzida em Los Angeles (EUA) na época, o compositor lançou algumas pérolas feitas em parceria com o mano Paulo Sérgio (como Tapa no Real, pescada por Renata Gebara em seu segundo recém-lançado disco, Caixa de Música) e revisitou clássicos de seu repertório inicial como Samba de Verão (1963) e Viola Enluarada (1968). Como Estrelar brilhou nas paradas, o cantor continuou na trilha da malhação e gravou Bicicleta (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), música lançada em compacto de 1984 - com certa repercussão, mas sem bisar o êxito de Estrelar - e incluída como faixa-bônus da reedição do álbum Marcos Valle produzida por Marcelo Fróes para a caixa editada por seu selo Discobertas. Dos três títulos embalados no box, o que mais merece atenção é Vontade de Rever Você, álbum de 1980 que marcou a volta de Marcos Valle ao Brasil - via Som Livre - após cinco anos de vivência em Los Angeles, de onde o artista trouxe na bagagem os grooves funkeados que o compositor iria misturar com ritmos brasileiros - sobretudo samba e baião - neste disco que registra sua aproximação com o músico norte-americano Leon Ware, parceiros dos irmãos Valle na melhor faixa do disco, A Paraíba Não É Chicago. Este híbrido de funk e baião também tem a assinatura de Laudir de Oliveira e Peter Cetera. É que, na fase vivida nos Estados Unidos na década de 70, Valle fez conexões com o grupo norte-americano Chicago que se refletiram no som do disco. Fechando a trilogia fonográfica de Marcos Valle nos anos 80, a caixa apresenta a primeira reedição em CD de Tempo da Gente, álbum lançado em 1986 pela extinta gravadora carioca Arca Som. É o título mais fraco da caixa. Em Tempo da Gente, Valle aplicou doses adicionais de romantismo ao seu cancioneiro suingante e apresentou parceria com Erasmo Carlos, Sem Você Não Dá. Mas o disco não aconteceu e Valle saiu temporariamente de cena até ter o balanço de sua música descoberto por DJs europeus nos anos 90 - o que injetou ânimo em sua discografia. Mas isso é história para uma outra caixa... A dos anos 80 revive o som suado dos verões daquela década.

lurian disse...

De Estrelar e Bicicleta até Pela ciclovia foi um pulo! rs
Verdade seja dita, ele sabe criar as sinestesias necessárias pra esse tipo de música sonoro-visual-empolgante.

Alexei Michailowsky disse...

Mauro, acredito que o Brasil ainda precisa ter uma certa visão crítica ao tratar de alguém como Marcos Valle.
Simplesmente não vale a pena comparar o Marcos dos anos 60 e 70 com o dos 80. É a mesma pessoa, mas o artista é completamente diferente. Era um outro momento onde não cabiam mais aquela contestação e aquela fúria.

Próximo dos 40 anos de idade e retornando de uma temporada de 6 anos nos Estados Unidos onde gravou com alguns dos melhores músicos do planeta, ele já podia explorar as influências cosmopolitas que sempre teve. O baião - sua primeira e maior paixão - e o samba caminhavam de mãos dadas com o funk norte-americano, o boogie, a disco (outra paixão do mestre)...

De certa forma esses discos representam bem um retrato de Marcos Valle enquanto homem e músico: um louro de descendência européia, filho de paraenses, nascido no Rio de Janeiro. Um devorador de conteúdo musical sem fronteiras e rótulos... O Brasil talvez leve anos para entendê-lo sem se deixar levar por comparações com o Marcos bossa, o Marcos "Garra" e o Marcos que ressurgiu em 1997 pelas mãos de Joe Davis e Gilles Peterson...

Falando em DJs, poucos sabem no Brasil que o Marcos vem sendo frequentemente sampleado por produtores norte-americanos de hip hop - o "eterno surfista" tem uma enorme contribuição para a cultura hip hop e pouco se fala nisso - e podem surgir novidades dessa frente...

O Pac Man brasileiro continua com fome de conteúdo musical e muita energia e disposição. Os fantasmas do labirinto não vão segurá-lo! Alô, Marcão!

Rafael disse...

Espero que essa caixa nãoseja mais uma da série "discos ripado de vinil". porque esse negócio de ficar ripando discos de vinil e ficar lançando em CD já encheu.

Unknown disse...

Me informem se nessa caixa tem a versão CANTADA de Viola Enluarada, sem o Milton Nascimento. Sei que saiu uma versão instrumental dessa canção nos anos 80. Agradeço a colaboração.

KL disse...

a melhor faixa, entre todas da fase 80, é "Campina Grande", um poderoso baião instrumental. E a versão original de 'Rockin you eternally' (vertida para o Português como "Vontade de rever você"), com Leon Ware, é sensacional.

KL disse...

*rimei sem querer no coment. anterior.

Márcio disse...

Então Jorge Vercilo vai musicar seu post rapidinho, KL!

André Queiroz disse...

Resta agora que a Universal Music relance em CD o álbum " O Fabuloso Fittipaldi", o único que falta.

KL disse...

Márcio,

Se eu fosse uma celebridade emepebística, talvez. rs

KL disse...

Bem lembrado, André,

Porém eu relançaria - sem dúvida nenhuma - extraindo os trechos falados. Na minha opinião, perfeitamente dispensáveis, pois, além de não interessarem ao grande público, incomodam no ato de ouvir essa obra-prima.
E, ao contrário do que se pensa, trata-se de um álbum de Marcos Valle acompanhado por músicos do futuro grupo Azymuth, e não o inverso.