domingo, 5 de fevereiro de 2012

Com objetividade, 'Lá Vem os Violados' revê 40 anos do Quinteto Violado

Resenha de livro
Título: Lá Vem os Violados - Quinteto Violado 40 Anos
Autor: José Teles
Editora: Edições Bagaço
Cotação: * * *

A cantora Cesaria Évora (1941 - 2011) ainda não tinha posto Cabo Verde no mapa-múndi da música quando o pernambucano Quinteto Violado gravou um álbum com mornas, coladeras e funanás - ritmos dominantes na ilha africana. Lançado em 1989 somente em Cabo Verde, pelo selo local Morabeza, o álbum Ilhas de Cabo Verde permanece obscuro no mercado nacional, mas é assunto do jornalista paraibano-pernambucano José Teles nas 240 páginas do livro Lá Vem os Violados, biografia escrita para celebrar os 40 anos do grupo que deu novos ares à música nordestina a partir de 1971, ano em que foi formado. Publicado neste início de 2012 via Edições Bagaço, o livro apresenta um relato objetivo - em que o estilo é preterido em favor das informações e da objetividade - das quatro décadas vividas por este resistente grupo. Que logo se fez ouvir. Como Teles enfatiza, o Quinteto Violado  já era uma das sensações da música brasileira em 1972 - ano em que gravou seu primeiro álbum para a gravadora Philips, Quinteto Violado, no rastro dos elogios feitos ao grupo por nomes como Gilberto Gil - por conta de sua habilidade em reprocessar os ritmos nordestinos com pegada pop contemporânea. Com conhecimento de causa, Teles repisa em Lá Vem os Violados cada passo profissional do Quinteto nesses 40 anos. Discos e shows são abordados sob a perspectiva do tempo, com reproduções de trechos de críticas escritas sobre eles. A importância do livro reside sobretudo em documentar a obra do Quinteto após os anos 80, década em que o grupo foi sendo progressivamente empurrado para à margem do mercado fonográfico, de início gravando álbuns por selos menores (RGE, Continental, Aky Disco) até ser obrigado a partir para produções independentes. São discos que, não raro, tiveram repercussão restrita a Pernambuco, casos de História do Brasil (1987), Retrospectiva em Cinco Movimentos (1994) e É Frevo no Pé! 100 Anos Depois... (2008). Ao reproduzir trechos de resenhas de discos e shows do Quinteto Violado, o autor nem sempre deixa de expor - com elegância, diga-se - o desconhecimento de jornalistas do eixo Rio-São Paulo em relação à trajetória de um grupo que sempre produziu espetáculos conceituais e quase sempre gravou discos com regularidade, ainda que as vendas desses discos tenham sido, quando muito, razoáveis. Destes álbuns, listados cronologicamente com suas respectivas capas e datas de lançamento na colorida discografia exposta ao fim do livro, Farinha do Mesmo Saco (1999) merece justa atenção especial no livro por ter sido o CD que conectou o Quinteto Violado à geração do Mangue Beat. Enfim, por seu valor documental, Lá Vem os Violados merecia que seu texto tivesse passado por revisão mais rigorosa para que fossem limados os pequenos erros de digitação que saltam aos olhos ao longo da leitura. Contudo, a correta biografia do Quinteto Violado deve ser alvo da atenção dos que se interessam pela discografia da música nordestina.

4 comentários:

  1. A cantora Cesaria Évora (1941 - 2011) ainda não tinha posto Cabo Verde no mapa-múndi da música quando o pernambucano Quinteto Violado gravou um álbum com mornas, coladeras e funanás - ritmos dominantes na ilha africana. Lançado em 1989 somente em Cabo Verde, pelo selo local Morabeza, o álbum Ilhas de Cabo Verde permanece obscuro no mercado nacional, mas é assunto do jornalista pernambucano José Teles em algumas das 240 páginas do livro Lá Vem os Violados, biografia escrita para celebrar os 40 anos do grupo que deu novos ares à música nordestina a partir de 1971, ano em que foi formado. Publicado neste início de 2012 via Edições Bagaço, o livro apresenta um relato objetivo - em que o estilo é preterido em favor das informações e da objetividade - das quatro décadas vividas por este resistente grupo. Que logo se fez ouvir. Como Teles enfatiza, o Quinteto Violado já era uma das sensações da música brasileira em 1972 - ano em que gravou seu primeiro álbum para a gravadora Philips, Quinteto Violado, no rastro dos elogios feitos ao grupo por nomes como Gilberto Gil - por conta de sua habilidade em reprocessar os ritmos nordestinos com pegada pop contemporânea. Com conhecimento de causa, Teles repisa em Lá Vem os Violados cada passo profissional do Quinteto nesses 40 anos. Discos e shows são abordados sob a perspectiva do tempo, com reproduções de trechos de críticas escritas sobre eles. A importância do livro reside sobretudo em documentar a obra do Quinteto após os anos 80, década em que o grupo foi sendo progressivamente empurrado para à margem do mercado fonográfico, de início gravando álbuns por selos menores (RGE, Continental, Aky Disco) até ser obrigado a partir para produções independentes. São discos que, não raro, tiveram repercussão restrita a Pernambuco, casos de História do Brasil (1987), Retrospectiva em Cinco Movimentos (1994) e É Frevo no Pé! 100 Anos Depois... (2008). Ao reproduzir trechos de resenhas de discos e shows do Quinteto Violado, o autor nem sempre deixa de expor - com elegância, diga-se - o desconhecimento de jornalistas do eixo Rio-São Paulo em relação à trajetória de um grupo que sempre produziu espetáculos conceituais e quase sempre gravou discos com regularidade, ainda que as vendas desses discos tenham sido, quando muito, razoáveis. Destes álbuns, listados cronologicamente com suas respectivas capas e datas de lançamento na colorida discografia exposta ao fim do livro, Farinha do Mesmo Saco (1999) merece justa atenção especial no livro por ter sido o CD que conectou o Quinteto Violado à geração do Mangue Beat. Enfim, por seu valor documental, Lá Vem os Violados merecia que seu texto tivesse passado por revisão mais rigorosa para que fossem limados os pequenos erros de digitação que saltam aos olhos ao longo da leitura. Contudo, a correta biografia do Quinteto Violado deve ser alvo da atenção dos que se interessam pela discografia da música nordestina.

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  2. Conhecer a discografia do Quinteto é um banho de nordestinidade em sua multiplicidade de ritmos. Lembro bem daquela pesquisa sonora que eles realizaram - Musica Popular do Nordeste (1972), com cirandas, frevos, cocos, bambelôs, repentes, emboladas, Bumba-meu-Boi e sambas de roda. Importantíssimo registro, uma aula de cultura nordestina.

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  3. a discografia do Quinteto na Phillips merece muito ser reeditada em CD, pois é originalíssima e cheia de preciosidades musicais. E, além de tudo, tem uma sonoridade única.

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  4. Já é hora da discografia do Quinteto na Phillips ser reeditada em CD.

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