Título: O Meu Lugar: Madureira
Artistas: Dorina e Luiza Dionísio (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 15 de fevereiro de 2012
Cotação: * * * 1/2
Cria de Irajá, bairro do subúrbio carioca, Dorina tem a Portela em seu coração. Voz oriunda de Vila da Penha, outro bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ), Luiza Dionízio defende as cores do Império Serrano. As duas escolas de samba ficam nas imediações de Madureira, celeiro de bambas por sediarem as duas agremiações - ainda que a Portela, a rigor, se situe em Oswaldo Cruz, bairro vizinho. É em torno da mítica dessas duas escolas e dos repertórios assinados por seus mais ilustres compositores que as cantoras Dorina e Luiza Dionízio apresentam o roteiro do show O Meu Lugar: Madureira. Da lavra de Arlindo Cruz e Mauro Diniz, o samba Meu Lugar - lançado por Arlindo em 2007 no CD Sambista Perfeito - abre o show nas vozes dessas duas cantoras irmanadas pela devoção ao samba que brota nos mais nobres quintais cariocas. Mas que têm estilos distintos. Em cena, Dorina prima pela vivacidade com que entoa sambas como Lenço (Monarco) e Timoneiro (Paulinho da Viola). Já Dionízio se porta como digna dama da nobreza imperial, valorizando melodias majestosas como as dos sambas Prazer da Serrinha (Hélio dos Santos e Rubens da Silva) e Jardim das Oliveiras (Délcio Carvalho). Juntas, as cantoras harmonizam seus respectivos estilos em show que seduziu o público que compareceu ao Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 15 de fevereiro de 2012. Idealizado por Dorina, o show tem roteiro estruturado em blocos. As cantoras se revezam no palco para defender as cores e os sambas de suas escolas. Vestida de azul e branco, Dorina não expõe em cena toda a nobreza de sambas como Esta Melodia (Bubú da Portela e Jamelão), mas, vivaz, contagia o público a reboque de sambas arrasta-povo como Foi um Rio que Passou em Minha Vida (Paulinho da Viola). Os sets são formados basicamente por sambas que atravessam Carnavais, mas um bloco em especial - feito por Dionízio - pesca pérolas do baú imperial, encadeando Samba de Madureira (Arlindo Cruz e Sombrinha) e Menino de 47 (Nilton Campolino e Sebastião Molequinho) com Serrinha (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro), obra-prima lançada por Clara Nunes (1942 - 1983) em seu derradeiro álbum, Nação (1982). Clara, aliás, é reverenciada por Dorina em bloco que une Um Ser de Luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro), Conto de Areia (Romildo Bastos e Toninho Nascimento) - número em que o grupo que acompanha as cantoras, Samba com Atitude, esboça levada baiana no arranjo - e Portela na Avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro). Em Um Ser de Luz, aliás, Dorina tem seu melhor momento como intérprete, apesar de carregar no tom em algumas passagens do belo samba. Se Clara é celebrada por Dorina, Ivone Lara - dama mais nobre da Serrinha, tema do enredo do Império Serrano neste Carnaval de 2012 - é reverenciada por Dionízio em bloco que inicia com Canto de Rainha (Arlindo Cruz e Sombrinha), prossegue com Acreditar (Ivone Lara e Délcio Carvalho) e a pouco feita Prece a Xangô (Zé Luiz e Nelson Rufino), tema que faz aflorar a veia afro-brasileira que também pulsa no canto da Luiza. No fim, com as duas cantoras em cena, quatro irresistíveis sambas-enredo das duas escolas - Heróis da Liberdade (Mano Décio da Viola, Manoel Ferreira e Silas de Oliveira), Contos de Areia (Dedé da Portela e Norival Reis, 1984), Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira, 1964) e Ilu Ayê (Terra da Vida) (Norival Reis e Cabana, 1972) - garantem o clima carnavalesco do fim deste show que merece voltar à cena após a folia. É samba de Madureira!!
3 comentários:
Cria de Irajá, bairro do subúrbio carioca, Dorina tem a Portela em seu coração. Voz oriunda de Vila da Penha, outro bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ), Luiza Dionísio defende as cores do Império Serrano. As duas escolas de samba ficam nas imediações de Madureira, celeiro de bambas por sediarem as duas agremiações - ainda que a Portela, a rigor, se situe em Oswaldo Cruz, bairro vizinho. É em torno da mítica dessas duas escolas e dos repertórios assinados por seus mais ilustres compositores que as cantoras Dorina e Luiza Dionízio apresentam o roteiro do show O Meu Lugar: Madureira. Da lavra de Arlindo Cruz e Mauro Diniz, o samba Meu Lugar - lançado por Arlindo em 2007 no CD Sambista Perfeito - abre o show nas vozes dessas duas cantoras irmanadas pela devoção ao samba que brota nos mais nobres quintais cariocas. Mas que têm estilos distintos. Em cena, Dorina prima pela vivacidade com que entoa sambas como Lenço (Monarco) e Timoneiro (Paulinho da Viola). Já Dionízio se porta como digna dama da nobreza imperial, valorizando melodias majestosas como as dos sambas Prazer da Serrinha (Hélio dos Santos e Rubens da Silva) e Jardim das Oliveiras (Délcio Carvalho). Juntas, as cantoras harmonizam seus respectivos estilos em show que seduziu o público que compareceu ao Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 15 de fevereiro de 2012. Idealizado por Dorina, o show tem roteiro estruturado em blocos. As cantoras se revezam no palco para defender as cores e os sambas de suas escolas. Vestida de azul e branco, Dorina não expõe em cena toda a nobreza de sambas como Esta Melodia (Bubú da Portela e Jamelão), mas, vivaz, contagia o público a reboque de sambas arrasta-povo como Foi um Rio que Passou em Minha Vida (Paulinho da Viola). Os sets são formados basicamente por sambas que atravessam Carnavais, mas um bloco em especial - feito por Dionízio - pesca pérolas do baú imperial, encadeando Samba de Madureira (Arlindo Cruz e Sombrinha) e Menino de 47 (Nilton Campolino e Sebastião Molequinho) com Serrinha (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro), obra-prima lançada por Clara Nunes (1942 - 1983) em seu derradeiro álbum, Nação (1982). Clara, aliás, é reverenciada por Dorina em bloco que une Um Ser de Luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro), Conto de Areia (Romildo Bastos e Toninho Nascimento) - número em que o grupo que acompanha as cantoras, Samba com Atitude, esboça levada baiana no arranjo - e Portela na Avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro). Em Um Ser de Luz, aliás, Dorina tem seu melhor momento como intérprete, apesar de carregar no tom em algumas passagens do belo samba. Se Clara é celebrada por Dorina, Ivone Lara - dama mais nobre da Serrinha, tema do enredo do Império Serrano neste Carnaval de 2012 - é reverenciada por Dionízio em bloco que inicia com Canto de Rainha (Arlindo Cruz e Sombrinha), prossegue com Acreditar (Ivone Lara e Délcio Carvalho) e a pouco feita Prece a Xangô (Zé Luiz e Nelson Rufino), tema que faz aflorar a veia afro-brasileira que também pulsa no canto da Luiza. No fim, com as duas cantoras em cena, quatro irresistíveis sambas-enredo das duas escolas - Heróis da Liberdade (Mano Décio da Viola, Manoel Ferreira e Silas de Oliveira), Contos de Areia (Dedé da Portela e Norival Reis, 1984), Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira, 1964) e Ilu Ayê (Terra da Vida) (Norival Reis e Cabana, 1972) - garantem o clima carnavalesco do fim deste show que merece voltar à cena após a folia. É samba de Madureira!!
Estive nesse show e foi demais!
Não conheço o trabalho de Dorina. Tenho um cd da Luíza Dionízio e gosto muito de sua voz. Timbre belo e encorpado que nada na contramão do tédio que caracteriza o canto limpinho e sem tutano de várias cantoras de samba que estão por aí. "Um ser de luz" ainda cabe sem folgas na interpretação catártica e na voz musculosa de Alcione.
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