Títulos: O Rei do Partido Alto, Velho Batuqueiro, Chão da Mangueira e Xangô da
Mangueira Vol. 3
Artista: Xangô da Mangueira
Gravadora: Discobertas
Cotação: * * * * * (O Rei do Partido Alto) e * * * * 1/2 (Velho Batuqueiro, Chão da
Mangueira e Xangô da Mangueira Vol. 3)
Posto em evidência neste carnavalesco mês de fevereiro de 2012, por conta das reedições em CD de seus quatro primeiros álbuns, Olivério Ferreira (1923 - 2009) - o Xangô da Mangueira - descende da linhagem mais nobre do samba carioca. Nasceu no Estácio, celeiro de bambas do Rio de Janeiro (RJ), mas viveu a adolescência em bairros do subúrbio carioca como Madureira e Osvaldo Cruz - portas de entrada para seu ingresso em escolas de sambas como a Unidos de Rocha Miranda, a União de Madureira, a Portela e a Lira do Amor. Mas foi na Mangueira - a agremiação que lhe deu o sobrenome artístico - que Xangô se celebrizou como Diretor de Harmonia enquanto se aprimorava na arte de compor e cantar partido alto, jongo, samba de terreiro e samba de roda, entre outras subdivisões do gênero mais enraizado na cultura musical carioca. Daí a importância das reedições produzidas pelo pesquisador musical Marcelo Fróes para seu selo Discobertas. Voltam ao catálogo, com suas capas e contracapas originais, os álbuns O Rei do Partido Alto (1972), Velho Batuqueiro (1975), Chão da Mangueira (1976) e Xangô da Mangueira Vol. 3 (1978). Os quatro títulos formam o supra-sumo e a quase totalidade da obra fonográfica solo de Xangô, que voltaria a gravar somente nos anos 2000 (um CD-livro de caráter documental, Recordações de um Velho Batuqueiro, editado em 2005 com repercussão restrita). Lançado pela extinta gravadora Copacabana em 1972, O Rei do Partido Alto é - como o título já apregoa - dedicado ao gênero de samba com o qual Xangô é mais identificado. Neste primeiro álbum, de repertório predominantemente autoral, o sambista fez o registro original de Quando Vim de Minas (Xangô da Mangueira), partido alto que seria popularizado em 1973 na voz luminosa de Clara Nunes (1942 - 1983). Velho Batuqueiro marcou em 1975 a estreia de Xangô na extinta gravadora Tapecar. O disco ampliou o leque rítmico do repertório de Xangô, que cantou jongo, samba de roda e samba de breque sem esquecer de expor novamente sua maestria na arte do partido alto. Gravado na sequência de Velho Batuqueiro pela mesma Tapecar, Chão da Mangueira manteve aberto o leque rítmico, com destaque para Festa de Santo Antônio (Dona Ivone Lara), espécie de ladainha desenvolvida em ritmo de samba por este compositor que era também hábil cantor. Embora muitas fontes confiáveis creditem o lançamento de Chão da Mangueira ao ano de 1982, o álbum foi produzido em 1976, como sinaliza o texto biográfico escrito por Ruben Confete para o encarte. A confusão talvez tenha se estabelecido pelo fato de o álbum seguinte do artista ter saído em 1978 com o título de Xangô da Mangueira Vol. 3 - nome que provavelmente aludia ao fato de o álbum ter sido o terceiro gravado por Xangô na Tapecar. Terceiro e último, diga-se. Curiosamente, o repertório de Xangô incluiu neste álbum de 1978 dois sambas de Almir Guineto e Beto Sem Braço (1940 - 1996), compositores que já despontavam na quadra do bloco Cacique de Ramos, celeiro dos bambas que renovaram o samba carioca na virada dos anos 70 para os 80. É provável que, com sua versatilidade, Xangô tivesse dado voz - uma voz grave que concentrava em seu timbre rústico as tradições dos sons afro-brasileiros - a sambas de compositores então emergentes se não tivesse sido jogado à margem do mercado fonográfico após as edições destes quatro álbuns de caráter já histórico.
17 comentários:
Posto em evidência neste carnavalesco mês de fevereiro de 2012, por conta das reedições em CD de seus quatro primeiros álbuns, Olivério Ferreira (1923 - 2009) - o Xangô da Mangueira - descende da linhagem mais nobre do samba carioca. Nasceu no Estácio, celeiro de bambas do Rio de Janeiro (RJ), mas viveu a adolescência em bairros do subúrbio carioca como Madureira e Osvaldo Cruz - portas de entrada para seu ingresso em escolas de sambas como a Unidos de Rocha Miranda, a União de Madureira, a Portela e a Lira do Amor. Mas foi na Mangueira - a agremiação que lhe deu o sobrenome artístico - que Xangô se celebrizou como Diretor de Harmonia enquanto se aprimorava na arte de compor e cantar partido alto, jongo, samba de terreiro e samba de roda, entre outras subdivisões do gênero mais enraizado na cultura musical carioca. Daí a importância das reedições produzidas pelo pesquisador musical Marcelo Fróes para seu selo Discobertas. Voltam ao catálogo, com suas capas e contracapas originais, os álbuns O Rei do Partido Alto (1972), Velho Batuqueiro (1975), Chão da Mangueira (1976) e Xangô da Mangueira Vol. 3 (1978). Os quatro títulos formam o supra-sumo e a quase totalidade da obra fonográfica solo de Xangô, que voltaria a gravar somente nos anos 2000 (um CD-livro de caráter documental, Recordações de um Velho Batuqueiro, editado em 2005 com repercussão restrita). Lançado pela extinta gravadora Copacabana em 1972, O Rei do Partido Alto é - como o título já apregoa - dedicado ao gênero de samba com o qual Xangô é mais identificado. Neste primeiro álbum, de repertório predominantemente autoral, o sambista fez o registro original de Quando Vim de Minas (Xangô da Mangueira), partido alto que seria popularizado em 1973 na voz luminosa de Clara Nunes (1942 - 1983). Velho Batuqueiro marcou em 1975 a estreia de Xangô na extinta gravadora Tapecar. O disco ampliou o leque rítmico do repertório de Xangô, que cantou jongo, samba de roda e samba de breque sem esquecer de expor novamente sua maestria na arte do partido alto. Gravado na sequência de Velho Batuqueiro pela mesma Tapecar, Chão da Mangueira manteve aberto o leque rítmico, com destaque para Festa de Santo Antônio (Dona Ivone Lara), espécie de ladainha desenvolvida em ritmo de samba por este compositor que era também hábil cantor. Embora muitas fontes confiáveis creditem o lançamento de Chão da Mangueira ao ano de 1982, o álbum foi produzido em 1976, como sinaliza o texto biográfico escrito por Ruben Confete para o encarte. A confusão talvez tenha se estabelecido pelo fato de o álbum seguinte do artista ter saído em 1978 com o título de Xangô da Mangueira Vol. 3 - nome que provavelmente aludia ao fato de o álbum ter sido o terceiro gravado por Xangô na Tapecar. Terceiro e último, diga-se. Curiosamente, o repertório de Xangô incluiu neste álbum de 1978 dois sambas de Almir Guineto e Beto Sem Braço (1940 - 1996), compositores que já despontavam na quadra do bloco Cacique de Ramos, celeiro dos bambas que renovaram o samba carioca na virada dos anos 70 para os 80. É provável que, com sua versatilidade, Xangô tivesse dado voz - uma voz grave que concentrava em seu timbre rústico as tradições dos sons afro-brasileiros - a sambas de compositores então emergentes se não tivesse sido jogado à margem do mercado fonográfico após as edições destes quatro álbuns de caráter já histórico.
Será que esses discos foram ripados das masters originais? Duvido muito. Acho que teremos mais um da "fantástica" série "Discos Ripados de Vinil".
nossa... a discobertas está dando um show de bola neste início de ano. E o box do Zimbo Trio foi escolhido como um dos (re) lançamentos do ano nos EUA pela revista Jazziz
Poxa que maravilha os lançamentos cuidadosos desses discos! Ouvi Xangô da Mangueira quando morava em BH e tinha uma coleção de vinis que infelizmente tive que deixar pra trás. Mais uma sacada brilhante da Discobertas!
Rafael,
A Discobertas só relança cd ripado de vinil quando a fita master é dada como perdida. Marcelo Froes é super criterioso, não faria uma leviandade dessas, que comprometeria a credibilidade do seu investimento. Escreva para ele e pergunte sobre isso, quem sabe ele não te esclarece tudo?
Abç
Klécius,
Tomara que o Marcelo não faça isso mesmo não em todos os seus trabalhos, o que eu venho desconfiado, porque cada vez mais e mais eu vejo ele lançar disocs ripados de vinil. Quanto a escrever para ele, é perda de tempo total, ele não me responderia. Abrs.
Opa!! Lançamento de respeito. Vou garantir os meus.
Rafael, eu já escrevi pra ele, que me respondeu prontamente, através do próprio site da gravadora. O problema é que os comentários de pseudônimos, como os que tenho visto aqui, podem soar simples bravatas. Assim não pode, assim não dá
Rafael,
Para resumir tudo isso: ele me escreveu hoje e confirmou o que eu coloquei aqui. Ou seja, a Discobertas só recorre ao vinil para ripagem quando as fitas-másteres estão perdidas ou destruídas. Se o número de casos é grande, a culpa não é nossa, mas da histeria brasileira pela "modernização" diante na novidade da cultura digital. E você bem sabe que, mesmo nas ripagens de vinil, há enormes vantagens, pois cria-se uma nova matriz, da qual se tira uma nova remasterização, feita em estúdio, por técnicos de som que existem no país, isso sem falar na arte gráfica original, letras transcritas, ficha técnica (quando existe) etc. Então, torçamos para que não destruam as fitas originais que ainda restaram nesse país sem memória e sem educação.
KL,
O mais importante é que os discos sejam reeditados, tanto faz que seja da fita master ou ripado de vinil, desde que seja feito com capricho.O negócio também é o seguinte:Se os acervos de grandes gravadoras sofrem um certo desleixo, imagine o acervo de pequenas gravadoras extintas como Tapecar, Equipe, Top Tape, Musidisc, Pawal e outros mais.Qualquer reedição de títulos desses selos vai ter esse problema como eu tenho notado até agora.Apesar de tudo,vou continuar prestigiando o trabalho de Marcelo Fróes e seu selo Discobertas.
O problema de "ripar de vinil" vai além do simples ato, e esbarra também na qualidade do vinil. Quando alguém eventualmente digitaliza um vinil dos anos 50 e 60,seja mono ou estéreo, o resultado é praticamente imperceptível. O vinil é de ótima qualidade.
A partir dos anos 70, algumas gravadoras começaram a usar vinil de baixa qualidade. Nos anos 80, é tudo ruim (em termos de Brasil). Era a crise do petróleo?
Fazer ou deixar de fazer? Quando o cantor ou cantora sibila demais, num vinil ruim ou mal cortado, a chiadeira é inevitável e não há milagre que resolva.
KL,
Fico supreso ao saber que ele lhe respondeu e pelo visto, respondeu aqui no blog também. Sinceramente não esperava um pronunciamento do sr. Marcelo Fróes, tendo em vista que já contatei ele há tempos atrás duas vezes e o mesmo nunca se deu ao trabalho de me escrever. Nós sabemos que a maioria das gravadoras lançam disco com sonns ripados de vinil, e para variar, em baixa qualidade sonora. A Discobertas mesmo havia lançado algns discos ripados de vinil com baixa qualidade sonora, como por exemplo os 2 da Maria Creuza, o "Paixão Acesa" e o "Pura Magia". Ouvi dizer que as masters da Arca Som se prederam numa enchente, ou algo assim, e infelizmente nunca se terá as masters desses discos. Porém fico cá pensando: não há alguma forma de se tratar o áudio ripado de vinil para que deixe o mesmo em alta qualidade sonora? Os discos lançados no Japão de cantores brasileiros e que são raros são lançados com alta qualidade de som, por que o mesmo não acontece por aqui? Um exemplo recente de que os discos foram ripados de vinil, porém em má qualidade sonora, da Discobertas, são os álbuns em inglês do Quarteto Em Cy. Uma pessoa aqui disse que a qualidade sonora desses álbuns lançados no Japão são infinitamente superiores dos que as que foram lançadas aqui. Não ouvi os discos da versão japonesa, então, não posso dar uma decisão precisa... Portanto, bato sim nessa tecla de que, independente de qualquer gravadora ou produtor musical que seja, os mesmos devem ser lançados com capricho, zelo e dedicação. O que nem sempre acontece.
Felizmente as multinacionais têm quase tudo guardado, o problema é que em alguns casos mal catalogado e em outros inacessível por estar na mão de gente despreparada.
Vamos torcer para que muitos discos raros e inéditos no formato digital não tenham tido as suas masters destruídas (o que sinceramente e sem querer sem pedante penso no pior em relação a isso). O grande erro de gravadoras e de todo o seu empresariado, também de até alguns produtores musicais (não estou citando ninguém em especial), é que na época do advento do CD e de todo o maravilhamento das gravadoras e de seus comandantes daquela nova tecnologia digital, provavelmente jogou no lixo muitas masters originais de discos precíossimos da cultura brasileira, muitos deles raríssimos, e conservaram apenas esse material no formato digital, supondo eles que conseguiria lançar isso tudo num futuro próximo com alta qualidade sonora sem a necessidade das fitas originais... Porém não foi isso que se sucedeu. Quantos e mais quantos discos não devem ter ido para o limbo com essa idéia de mercado das gravadoras e com a atitude de gente comum à época do surgimento dos CD's? Se até mesmo o cidadão comum, que tinham vários LP's em sua casa, jogaram coleções inteiras fora desses mesmos LP's, achando que conseguiria tudo depois em CD, imagina o que as gravadoras então devem ter feito com o seu acervo? É assustador pensar nessa provável possibilidade... Eu mesmo já vi milhares e milhares de discos em LP's, muitos deles raros, jogados nas ruas de qualquer jeito...
Rafael,
Sua indignação, em muitos casos, é compreensível, porém você não pode querer que os produtores e técnicos de som façam tudo exatamente como você considera ideal. Eu também tenho minhas severas críticas a certos aspectos no quesito lp em cd (os absurdos: 2 em 1, capas adulteradas ou com tarjas, coletâneas óbvias, digipack, slip-pack e afins), mas, enquanto não nos tornamos produtores, é cedo para propagarmos ideias muitas vezes equivocadas sobre o assunto. E há outro aspecto sobre o qual tenho pensado: se todos os relançamentos saíssem do jeito que nós sempre sonhamos, teremos de ganhar muito bem para comprar tanta coisa boa, não é mesmo?
Abrç
Que massa isto...sou fâ de Xango e cheguei a assistir a um show em uma roda de samba informal aqui em SP,onde ele estava acompanhado de Beth Carvalho! Tomara que comece a vender logo,abraço.
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