Título: Tudo se Transformou
Artista: Zizi Possi (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Paulo Autran - Sesc Pinheiros (São Paulo, SP)
Data: 25 de fevereiro de 2012
Cotação: * * * * 1/2
Show em cartaz em São Paulo (SP) até 26 de fevereiro e no Rio de Janeiro (RJ) em abril
Sobre todas as coisas, Zizi Possi continua cantando divinamente bem, na melhor das formas vocais. A minitemporada feita pela cantora neste fim de semana no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, em São Paulo (SP), significa um renascimento artístico após problemas de saúde que a tiraram de cena por uns tempos. Zizi já havia voltado aos palcos, mas não plenamente recuperada como neste show de roteiro renovado, aberto e encerrado com Filho de Santa Maria (Itamar Assumpção e Paulo Leminski), música registrada pela intérprete em seu álbum Mais Simples (1996). A sensação de plenitude é detectada no deleite com que Zizi - prestes a fazer 56 anos, em março - se porta em cena para cantar músicas de universos e autores díspares, irmanados com sua classe. Elegância que se revela natural na postura, na voz e no pleno entendimento das canções - qualidades que enobrecem suas interpretações e que fazem um show como o deste fim de semana roçar o sublime em muitos instantes. Nem os problemas técnicos que motivaram pequenas pausas na apresentação de sábado, 25 de fevereiro de 2012, diluiram a sensação de puro prazer que tomou conta da plateia ao assistir ao recital. Zizi deu show com a imensidão do som desse momento luminoso, recriando a sua criação. Se a arquitetura do roteiro é nova, a linguagem musical é a experimentada nos dois álbuns - Sobre Todas as Coisas (1991) e Valsa Brasileira (1994) - que redefiniram a carreira e a discografia da cantora. São destes discos que vem boa parte do repertório cantado por Zizi com a interação de cordas e percussões feita pela banda formada por Jether Garotti Jr. (piano e clarineta), Kecco Brandão (teclados), Webster Santos (violão, bandolim e voz em Filho de Santa Maria) e Guello (percussão). Contudo, o que poderia soar antigo volta à cena cheio de frescor, mesmo sendo - a rigor - déjà vu para quem acompanha a trajetória da artista nos palcos. Estão lá as inflexões de Rebento (Gilberto Gil), a leveza com que a intérprete pisa no terreirão do samba mais cool - em especial no link de Escurinha (Geraldo Pereira e Arnaldo Passos) com Escurinho (Geraldo Pereira) e O Samba e o Pandeiro (Jackson do Pandeiro e Ivo Martins) - e a destreza com que arma o intrincado jogo de sedução proposto por Lábia, tema composto por Edu Lobo e Chico Buarque para o musical Cambaio (2000). Sagaz, Zizi faz inusitadas costuras no roteiro, unindo Palavras (Gonzaguinha) com Tudo se Transformou (Paulinho da Viola), uma das mais belas páginas da obra do Príncipe do Samba, nobre como a cantora que ora lhe dá voz. Compositor bem mais recorrente nos repertórios de Zizi, Gonzaguinha (1945 - 1991) é a reavivado com Viver, Amar, Valeu! - número que reitera a perfeição reinante na quase totalidade da apresentação - e com Explode Coração, música que tem sido rebobinada - na gravação feita por Zizi em 1996 - na trilha sonora da novela A Vida da Gente, exibida pela TV Globo às 18h. Com perfeita emissão vocal, em equilibrada equação de técnica e emoção, a cantora valoriza a balada Cacos de Amor (Luiza Possi e Dudu Falcão) no tempo da delicadeza, expõe a dose exata de melancolia contida em Meu Mundo e Nada Mais (Guilherme Arantes) - número de especial empatia popular - e alicerça a conexão com seu público mais fiel em bloco de hits radiofônicos dos anos 80 que encadeia Noite (Nico Rezende e Jorge Salomão), Asa Morena (Zé Zaradivia) e Caminhos de Sol (Herman Torres e Salgado Maranhão). Em Noite, a banda procura reproduzir a pegada pop do arranjo da gravação de 1987. "Gostoso, né?", pergunta Zizi para a platéia de fãs que lotam as 1.010 poltronas do Teatro Paulo Autran. Sim, é gostoso por se tratar de Zizi, cantora hábil na depuração de canções feitas para multidões. Uma delas - Nada Pra Mim (John Ulhoa), composta para Ana Carolina - se diferencia pelo toque do bandolim de Webster Santos enquanto Busy Man (Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown) perde algumas sutilezas na abordagem de Zizi pela insegurança da cantora com a letra, parcialmente lida em cena. Detalhe tão pequeno de recital que se tornou grande - e refinado - pela imensidão do som e do canto renascido de Zizi Possi.
10 comentários:
Sobre todas as coisas, Zizi Possi continua cantando divinamente bem, na melhor das formas vocais. A minitemporada feita pela cantora neste fim de semana no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, em São Paulo (SP), significa um renascimento artístico após problemas de saúde que a tiraram de cena por uns tempos. Zizi já havia voltado aos palcos, mas não plenamente recuperada como neste show de roteiro renovado, aberto e encerrado com Filho de Santa Maria (Itama Assumpção e Paulo Leminski), música registrada pela intérprete em seu álbum Mais Simples (1996). A sensação de plenitude é detectada no deleite com que Zizi - prestes a fazer 56 anos, em março - se porta em cena para cantar músicas de universos e autores díspares, irmanados com sua classe. Elegância que se revela natural na postura, na voz e no pleno entendimento das canções - qualidades que enobrecem suas interpretações e que fazem um show como o deste fim de semana roçar o sublime em muitos instantes. Nem os problemas técnicos que motivaram pequenas pausas na apresentação de sábado, 25 de fevereiro de 2012, diluiram a sensação de puro prazer que tomou conta da plateia ao assistir ao recital. Zizi deu show com a imensidão do som desse momento luminoso, recriando a sua criação. Se a arquitetura do roteiro é nova, a linguagem musical é a experimentada nos dois álbuns - Sobre Todas as Coisas (1991) e Valsa Brasileira (1994) - que redefiniram a carreira e a discografia da cantora. São destes discos que vem boa parte do repertório cantado por Zizi com a interação de cordas e percussões feita pela banda formada por Jether Garotti Jr. (piano e clarineta), Kecco Brandão (teclados), Webster Santos (violão, bandolim e voz em Filho de Santa Maria) e Guello (percussão).
Contudo, o que poderia soar antigo volta à cena cheio de frescor, mesmo sendo - a rigor - déjà vu para quem acompanha a trajetória da artista nos palcos. Estão lá as inflexões de Rebento (Gilberto Gil), a leveza com que a intérprete pisa no terreirão do samba mais cool - em especial no link de Escurinha (Geraldo Pereira e Arnaldo Passos) com Escurinho (Geraldo Pereira) e O Samba e o Pandeiro (Jackson do Pandeiro e Ivo Martins) - e a destreza com que arma o intrincado jogo de sedução proposto por Lábia, tema composto por Edu Lobo e Chico Buarque para o musical Cambaio (2000). Sagaz, Zizi faz inusitadas costuras no roteiro, unindo Palavras (Gonzaguinha) com Tudo se Transformou (Paulinho da Viola), uma das mais belas páginas da obra do Príncipe do Samba, nobre como a cantora que ora lhe dá voz. Compositor bem mais recorrente nos repertórios de Zizi, Gonzaguinha (1945 - 1991) é a reavivado com Viver, Amar, Valeu! - número que reitera a perfeição reinante na quase totalidade da apresentação - e com Explode Coração, música que tem sido rebobinada - na gravação feita por Zizi em 1996 - na trilha sonora da novela A Vida da Gente, exibida pela TV Globo às 18h. Com perfeita emissão vocal, em equilibrada equação de técnica e emoção, a cantora valoriza a balada Cacos de Amor (Luiza Possi e Dudu Falcão) no tempo da delicadeza, expõe a dose exata de melancolia contida em Meu Mundo e Nada Mais (Guilherme Arantes) - número de especial empatia popular - e alicerça a conexão com seu público mais fiel em bloco de hits radiofônicos dos anos 80 que encadeia Noite (Nico Rezende e Jorge Salomão), Asa Morena (Zé Zaradivia) e Caminhos de Sol (Herman Torres e Salgado Maranhão). Em Noite, a banda procura reproduzir a pegada pop do arranjo da gravação de 1987. "Gostoso, né?", pergunta Zizi para a platéia de fãs que lotam as 1.010 poltronas do Teatro Paulo Autran. Sim, é gostoso por se tratar de Zizi, cantora hábil na depuração de canções feitas para multidões. Uma delas - Nada Pra Mim (John Ulhoa), composta para Ana Carolina - se diferencia pelo toque do bandolim de Webster Santos enquanto Busy Man (Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown) perde algumas sutilezas na abordagem de Zizi pela insegurança da cantora com a letra, parcialmente lida em cena. Detalhe tão pequeno de recital que se tornou grande - e refinado - pela imensidão do som e do canto renascido de Zizi Possi.
Mauro, parabéns pelo lindo texto!! Infelizmente não pude assistir aos shows, mas acompanhamdo o trabalho de Zizi já por um bom tempo (e a este Blog também), tenho certeza que tuas palavras refletem com coerência, a pura verdade do que foi dito. Que bom que quem pode estar no SESC Pinheiros nestes dois dias, pôde se deliciar com "a imensidão do som e do canto renascido de Zizi Possi", o que não poderia ser diferente em se tratando de Zizi!!
ZIZI, A MELHOR CANTORA VIVA DESSE PAIS. COM SUA TECNICA PERFEITA. BELO RETORNO.
Duas noites em que Zizi confirmou sua excelência. Repertório de qualidade, a voz perfeita e um público apaixonado
Excelente cantora e ótima notícia!
Mauro, está faltando um "r" no nome do Itamar lá no início do texto.
Abs!
Obrigado, Mr. Lion, por me alertar para a falta do 'r' no nome do Itamar. Abs, MauroF
MAURO FERREIRA,
MUITO JUSTO OQ UE DISSESTES SOBRE ESSE SHOW, SOBRE A COMPETÊNCIA ARTÍSTICA DA ZIZI POSSI, POIS SEM DÚVIDA NENHUMA, AO MEU VER, ELA É A MELHOR CANTORA DO BRASIL.
ELA MOSTRA-SE MUITO COMPROMETIDA COM A SUA ARTE, TEM UM RESPEITO ENORME PELO SEU PÚBLICO E NOS OFERECE O QUE HÁ DE MELHOR!!
GRAÇAS À DEUS ELA EXISTE, POIS ALIMENTA NOSSAS ALMAS , ILUMINA E TRANSFORMA!
OBRIGADA PELO ARTIGO, LINDO!!
CARMINHA
Essa é diva com D maiúsculo.Não faz esforço nenhum para cantar bem e emocionar.Além de ser muito na sua em relação ao muito que nos oferece.Uma deusa!
pra que essa bolsinha? Cafona
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