Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 1 de março de 2012

Com poesia, Fito dá voz a temas globalizados em 'Canciones Para Aliens'

Resenha de CD
Título: Canciones Para Aliens
Artista: Fito Paez
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 1/2

É muito difícil encarar Construção (Chico Buarque) sem fugir do arranjo genial e definitivo orquestrado pelo maestro Rogério Duprat (1932 - 2006) para a gravação feita por Chico Buarque em 1971. Talvez por ser de outro país, Fito Paez aborda sem receio o clássico do cantor e compositor brasileiro em seu primeiro disco de intérprete, Canciones Para Aliens. Orquestradas pelo maestro e pianista Leo Sujatovich, com tensão que realça os versos precisos do tema, as cordas da Ensamble Estación Buenos Aires tornam a ótima regravação em espanhol de Construção um dos destaques deste 22º álbum do cantor e compositor argentino. Paez se permite até inserir versos de Deus lhe Pague (Chico Buarque) na faixa em adição que resulta harmoniosa. Chico Buarque também figura na ficha técnica do disco como intérprete por ter posto voz em Tango (Promesas de Amor), tema de Ryuchi Sakamoto e Taelo Donuki, vertido para o castelhano por Paez. De clima ameno que evoca a leveza da Bossa Nova, a faixa soa menos sedutora, mas sinaliza a intenção de Paez de sair de sua zona de conforto neste CD que gira por obras de compositores do mundo todo, com ligeira ênfase na produção dos hermanos latinoamericanos. A veia roqueira do artista argentino pulsa forte em Baila por Ahi, versão de Dancing in the Streets, música do compositor norte-americano Marvin Gaye (1939 - 1984). O problema de Canciones Para Aliens é que Paez nem sempre parece à vontade nessa incursão de caráter global. Sua releitura modernosa de Ne me Quitte Pas (Jacques Brel) dilui todo o sentimento da canção do compositor belga. Da mesma forma, a ária Vá Pensiero (Giuseppe Verdi e Temistocle Solera) - cantada por Paez em italiano, idioma original da ópera de Verdi - já recebeu interpretações mais virtuosas. Contudo, baladas como a politizada Te Recuerdo Amanda (da lavra do chileno Victor Jara) e El Breve Espacio en que No Esta (do cubano Pablo Milanés) - ambas forradas com o piano recorrente de Leo Sujatovich - revestem o disco de poesia e lirismo. Já Rata de Dos Patas combina a velocidade do punk rock com metais que evocam a música do México, terra natal de Paquita La Del Bairro, cantora que propagou o tema do compositor mexicano Eduardo Norberto Toscano. Conmigo, tema do compositor uruguaio Hugo Fattoruso, carrega mais nessas tintas regionais pelo arranjo que inclui o acordeom (e a voz) do autor da música. Talvez por querer enfatizar o caráter globalizado do álbum, Fito incluiu no repertório somente uma música de lavra argentina, Yo No Quiero Volverme Tan Loco, rock do repertório de Charly Garcia. Em latitude diversa, a balada Las Dos Caras Del Amor - versão de Somebody to Love (Freddie Mercury), hit do grupo Queen - é encorpada pelas mesmas cordas da Estacion Buenos Aires que envolvem Construcción. No fim, Doblen Campanas - versão de Fito para Ring Them Bells (Bob Dylan) - sinaliza o êxito e o sentido poético do projeto apesar de algumas derrapadas (inevitáveis...) em discos do gênero.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

É difícil encarar Construção (Chico Buarque) sem fugir do arranjo genial e definitivo orquestrado pelo maestro Rogério Duprat (1932 - 2006) para a gravação feita por Chico Buarque em 1971. Talvez por ser de outro país, Fito Paez aborda sem receio o clássico do cantor e compositor brasileiro em seu primeiro disco de intérprete, Canciones Para Aliens. Orquestradas pelo maestro e pianista Leo Sujatovich, com tensão que realça os versos precisos do tema, as cordas da Ensamble Estación Buenos Aires tornam a ótima regravação em espanhol de Construção um dos destaques deste 22º álbum do cantor e compositor argentino. Paez se permite até inserir versos de Deus lhe Pague (Chico Buarque) na faixa em adição que resulta harmoniosa. Chico Buarque também figura na ficha técnica do disco como intérprete por ter posto voz em Tango (Promesas de Amor), tema de Ryuchi Sakamoto e Taelo Donuki, vertido para o castelhano por Paez. De clima ameno que evoca a leveza da Bossa Nova, a faixa soa menos sedutora, mas sinaliza a intenção de Paez de sair de sua zona de conforto neste CD que gira por obras de compositores do mundo todo, com ligeira ênfase na produção dos hermanos latinoamericanos. A veia roqueira do artista argentino pulsa forte em Baila por Ahi, versão de Dancing in the Streets, música do compositor norte-americano Marvin Gaye (1939 - 1984). O problema de Canciones Para Aliens é que Paez nem sempre parece à vontade nessa incursão de caráter global. Sua releitura modernosa de Ne me Quitte Pas (Jacques Brel) dilui todo o sentimento da canção do compositor belga. Da mesma forma, a ária Vá Pensiero (Giuseppe Verdi e Temistocle Solera) - cantada por Paez em italiano, idioma original da ópera de Verdi - já recebeu interpretações mais virtuosas. Contudo, baladas como a politizada Te Recuerdo Amanda (da lavra do chileno Victor Jara) e El Breve Espacio en que No Esta (do cubano Pablo Milanés) - ambas forradas com o piano recorrente de Leo Sujatovich - revestem o disco de poesia e lirismo. Já Rata de Dos Patas combina a velocidade do punk rock com metais que evocam a música do México, terra natal de Paquita La Del Bairro, cantora que propagou o tema do compositor mexicano Eduardo Norberto Toscano. Conmigo, tema do compositor uruguaio Hugo Fattoruso, carrega mais nessas tintas regionais pelo arranjo que inclui o acordeom (e a voz) do autor da música. Talvez por querer enfatizar o caráter globalizado do álbum, Fito incluiu no repertório somente uma música de lavra argentina, Yo No Quiero Volverme Tan Loco, rock do repertório de Charly Garcia. Em latitude diversa, a balada Las Dos Caras Del Amor - versão de Somebody to Love (Freddie Mercury), hit do grupo Queen - é encorpada pelas mesmas cordas da Estacion Buenos Aires que envolvem Construcción. No fim, Doblen Campanas - versão de Fito para Ring Them Bells (Bob Dylan) - sinaliza o êxito e o sentido poético do projeto apesar de algumas derrapadas (inevitáveis...) em discos do gênero.

Anônimo disse...

Mauro, tive a mesma sensação com Construção. Ficou ótima!

Quando o Brasil se voltará para a música da América Latina?

Denis disse...

Adorei seu comentário! Também achei Construção d+! Algo meio 'kashmir' do Zeppelin, num ascendendo a la 'Ravel'! Nem tudo é perfeito e há algumas de menores impactos! Amo o Fito! E amo seu blog!
Força sempre!

Denis - Natal-RN