Título: Quinteto
Artista: Quinteto em Branco e Preto
Gravadora: Sambística / Radar Records
Cotação: * * * * *
Formado em 1997 em São Paulo (SP), cidade-celeiro de grupos que cultivam o pagode populista que se tornou o donatário das paradas e quintais dominados pelo som empurrado pela mídia, o Quinteto em Branco e Preto se impôs nestes 15 anos como uma espécie de guardião das tradições do samba, representando para Sampa o que o Fundo de Quintal significa para o Rio de Janeiro (RJ). Contudo, enquanto o Fundo já teve anos de colheitas mais frutíferas, o grupo paulista esbanja vigor em seu quinto CD, Quinteto, nas lojas neste mês de março de 2012 em edição do selo Sambística distribuída pela Radar Records. Trata-se de um dos melhores discos de samba dos últimos tempos. Já na primeira das 15 faixas do disco, Guardião dos Nossos Ancestrais (Magnu Sousá e Maurílio Oliveira), o grupo defende a bandeira das tradições em belo samba envolvido pelas cordas orquestradas por Rogério Ângelo. Contudo, Quinteto - o disco - se agiganta porque entende que a miscigenação é traço básico da cultura musical brasileira e, sem xenofobia, abre espaço para o contundente discurso feito por Edi Rock - do grupo de rap Racionais Mc's, ícone do universo paulista de hip hop - na Carta ao Detento (Edi Rock), inserida como resposta aos versos confessionais de Fui Bandido (Serginho Meriti, Leandro Sapucahy e Prateado), tema que prega moral ao redimir os arrependidos de terem caído na criminalidade. Faixa que adensa o disco em tom seco, Fui Bandido está em sintonia com a realidade cotidiana da periferia de São Paulo, pois, se em alguns quintais brota o samba, em outros jorra a violência decorrida das injustiças sociais. O Quinteto em Branco e Preto cultiva o samba de boa estirpe em seu quintal. Sambas de nobres melodias, Beija-Flor (Magnu Sousá e Maurílio Oliveira) e Resistir (Everson Pessoa e Vitor Pessoa) são frutos saborosos dessas colheita. E, mesmo neles, as tradições são cultivadas sem exageros em arranjos que harmonizam o piano de Michael Scava com instrumentos típicos do samba formatado pelo Fundo de Quintal na segunda metade dos anos 70, caso do tan-tan tocado por Leandro Luiz. Sim, o samba também pode ter groove, balanço, sem renegar tais tradições. É por isso que o sincopado Samba Pop (Everson Pessoa e Vitor Pessoa) recorre ao suingue dos metais da Banda Mantiqueira, convidada dessa faixa que tem a descontração logo detectada no partido alto Maria Não Volta Mais (Chapinha e Nino Miau), hit nato e, talvez por isso mesmo, eleito para promover Quinteto nas rádios paulistas. Evocação da ginga de terreiros ancestrais, Vocabulário do Brasil (Magnu Souzá e Maurílio de Oliveira) festeja o elo entre Brasil e África que também alicerça Entre Búzios e Santos (Magnu Souzá, Maurílio Oliveira e Nei Lopes, craquíssimo na letra que mapeia os litorais paulista e fluminense com versos que aludem a termos das religiosidade afro-brasileira) e, em cadência afro-baiana, Mão Negra (Ivison Bezerra e Everson Pessoa). Sem tanta ginga, mas com melodia de beleza lírica, Feito Siameses (Vitor Pessoa e Wilson das Neves) expressa fé na cumplicidade do amor no mesmo tom dolente e poético de Renúncia do Arvoredo (Magnu Souzá e Maurílio Oliveira). Na sequência, Uma Festa (Ivone Lara e Délcio Carvalho) traz para o quintal a obra majestosa de Dona Ivone Lara, convidada da faixa que apresenta samba inédito para o público, já que sua única gravação foi feita por Alcione e Mart'nália em CD, Bodas de Coral no Samba Brasileiro (2010), ainda não lançado de forma comercial. Reiterando sua origem paulista, o Quinteto em Branco e Preto reverencia seu berço em De São Mateus ao Samba da Vela - medley que junta Sou São Mateus (Casca, Gerson da Banda e Jarrão) e O Samba Ainda Floresce (Paquera) - e faz um passeio pelas escolas de samba de São Paulo em Encontro da Velha Guarda, pot-pourri que junta bambas e sambas da agremiações Unidos do Peruche, Vai-Vai, Nenê de Vila Matilde e Camisa Verde e Branco. No fim do álbum, Futuro de Glória (Magnu Souzá e Maurílio Oliveira) finca em solo fértil a bandeira do samba enraizado em suas tradições. Bandeira carregada pelo Quinteto em Branco e Preto neste álbum excepcional que celebra as raízes sem fechar os ouvidos para o som vindo de outros quintais. Quinteto guarda as tradições do grupo entre rap e samba pop.
6 comentários:
Formado em 1997 em São Paulo (SP), cidade-celeiro de grupos que cultivam o pagode populista que se tornou o donatário das paradas e quintais dominados pelo som empurrado pela mídia, o Quinteto em Branco e Preto se impôs nestes 15 anos como uma espécie de guardião das tradições do samba, representando para Sampa o que o Fundo de Quintal significa para o Rio de Janeiro (RJ). Contudo, enquanto o Fundo já teve anos de colheitas mais frutíferas, o grupo paulista esbanja vigor em seu quinto CD, Quinteto, nas lojas neste mês de março de 2012 em edição do selo Sambística distribuída pela Radar Records. Trata-se de um dos melhores discos de samba dos últimos tempos. Já na primeira das 15 faixas do disco, Guardião dos Nossos Ancestrais (Magnu Sousá e Maurílio Oliveira), o grupo defende a bandeira das tradições em belo samba envolvido pelas cordas orquestradas por Rogério Ângelo. Contudo, Quinteto - o disco - se agiganta porque entende que a miscigenação é traço básico da cultura musical brasileira e, sem xenofobia, abre espaço para o contundente discurso feito por Edi Rock - do grupo de rap Racionais Mc's, ícone do universo paulista de hip hop - na Carta ao Detento (Edi Rock), inserida como resposta aos versos confessionais de Fui Bandido (Serginho Meriti, Leandro Sapucahy e Prateado), tema que prega moral ao redimir os arrependidos de terem caído na criminalidade. Faixa que adensa o disco em tom seco, Fui Bandido está em sintonia com a realidade cotidiana da periferia de São Paulo, pois, se em alguns quintais brota o samba, em outros jorra a violência decorrida das injustiças sociais. O Quinteto em Branco e Preto cultiva o samba de boa estirpe em seu quintal. Sambas de nobres melodias, Beija-Flor (Magnu Sousá e Maurílio Oliveira) e Resistir (Everson Pessoa e Vitor Pessoa) são frutos saborosos dessas colheita. E, mesmo neles, as tradições são cultivadas sem exageros em arranjos que harmonizam o piano de Michael Scava com instrumentos típicos do samba formatado pelo Fundo de Quintal na segunda metade dos anos 70, caso do tan-tan tocado por Leandro Luiz.
Sim, o samba também pode ter groove, balanço, sem renegar tais tradições. É por isso que o sincopado Samba Pop (Everson Pessoa e Vitor Pessoa) recorre ao suingue dos metais da Banda Mantiqueira, convidada dessa faixa que tem a descontração logo detectada no partido alto Maria Não Volta Mais (Chapinha e Nino Miau), hit nato e, talvez por isso mesmo, eleito para promover Quinteto nas rádios paulistas. Evocação da ginga de terreiros ancestrais, Vocabulário do Brasil (Magnu Souzá e Maurílio de Oliveira) festeja o elo entre Brasil e África que também alicerça Entre Búzios e Santos (Magnu Souzá, Maurílio Oliveira e Nei Lopes, craquíssimo na letra que mapeia os litorais paulista e fluminense com versos que aludem a termos das religiosidade afro-brasileira) e, em cadência afro-baiana, Mão Negra (Ivison Bezerra e Everson Pessoa). Sem tanta ginga, mas com melodia de beleza lírica, Feito Siameses (Vitor Pessoa e Wilson das Neves) expressa fé na cumplicidade do amor no mesmo tom dolente e poético de Renúncia do Arvoredo (Magnu Souzá e Maurílio Oliveira). Na sequência, Uma Festa (Ivone Lara e Délcio Carvalho) traz para o quintal a obra majestosa de Dona Ivone Lara, convidada da faixa que apresenta samba inédito para o público, já que sua única gravação foi feita por Alcione e Mart'nália em CD, Bodas de Coral no Samba Brasileiro (2010), ainda não lançado de forma comercial. Reiterando sua origem paulista, o Quinteto em Branco e Preto reverencia seu berço em De São Mateus ao Samba da Vela - medley que junta Sou São Mateus (Casca, Gerson da Banda e Jarrão) e O Samba Ainda Floresce (Paquera) - e faz um passeio pelas escolas de samba de São Paulo em Encontro da Velha Guarda, pot-pourri que junta bambas e sambas da agremiações Unidos do Peruche, Vai-Vai, Nenê de Vila Matilde e Camisa Verde e Branco. No fim do álbum, Futuro de Glória (Magnu Souzá e Maurílio Oliveira) finca em solo fértil a bandeira do samba enraizado em suas tradições. Bandeira carregada pelo Quinteto em Branco e Preto neste álbum excepcional que celebra as raízes sem fechar os ouvidos para o som vindo de outros quintais. Quinteto guarda as tradições do grupo entre rap e samba pop.
É Mauro, já esperava esse CD com curiosidade e expectativa e depois da sua ótima resenha irei buscar o meu exemplar hj mesmo.
Em "Maria Não Volta Mais", única que ouvi até agora, eles conseguiram registrar todo alto astral e descontração que é peculiar a um bom samba de partido-alto
Parece ser um bom disco, mas engraçado que não há nenhuma loja ainda vendendo o mesmo. Por que crítico sempre tem que ter os discos antes de todo mundo?
Engraçado é que lançam uma música quase 4 meses antes do CD. Agora, a boa repercussão da música já passou, nenhuma loja tem o CD, e parece ter sido a única música boa para trabalhar na Rádio. Assim, será mais um CD sem o retorno esperado em vendas e consequêntemente, fará com que o grupo só consiga gravar outro CD daqui uns 5, 6 anos. O grupo pode ser bom, mas não estão sabendo aproveitar os momentos pra que resulte em mais ALBUNS INÉDITOS com menor diferença de tempo entre um e outro. Porque com tantos ótimos sambas que existem dos compositores das comunidade "SAMBA DA VELA" o grupo trabalhou "XEQUERÉ" musica inapropriada pra divulgar o CD "PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE" de 2007 e ora, gravado anteriormente pela ALCIONE, mas não por que a música é uma parceria com NEI LOPES, compositor que a ALCIONE sempre grava!
O CD do Quinteto é Show de Bola, com excessão da faixa "FUI BANDIDO". O ruim é que a grande repercussão da música "MARIA NÃO VOLTA MAIS" já passou um pouco, a música foi lançada muito cedo, ainda não está em todas as lojas e nem em sites de venda, nem no site da distribuidora RADAR RECORDS.
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