Evento: Sonoridades
Título: Moreno Veloso
Artista: Moreno Veloso (em foto de Rodrigo Amaral)
Convidados: Pedro Miranda e Luis Filipe de Lima
Local: Teatro Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 17 de março de 2012
Cotação: * * * *
Mal-entendido em relação à data de um show no Japão levou Moreno Veloso a subir sozinho a um palco de Tóquio em apresentação gravada ao vivo que gerou o CD Solo in Tokyo (2011), lançado somente no mercado japonês. Tal apresentação inspirou o show feito pelo artista na segunda temporada do projeto Sonoridades, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) até o fim deste mês de março de 2012. Moreno expôs logo de cara ao público que sentia certo desconforto por estar sozinho em cena. Mas tal sensação não impediu o brilho de um show que perfila com precisão as bases do som de Moreno. Distante das experiências sonoras feitas com Domenico Lancellotti e Kassin no já desativado trio + 2, Moreno surpreendeu positivamente em cena com interpretações carregadas de sentimento como o posto em Nosotros (Cesar Portillo de La Luz) - com o qual encerra o show, a sós com seu violão, fazendo através desse bolero cubano declaração de amor aos dois amigos-músicos do + 2 - e no dolente Requiem para Mãe Menininha (Gilberto Gil), lamento sentido de Gil pela morte da ialorixá baiana Maria Escolástica da Conceição Nazaré (1894 - 1986), a Mãe Menininha. Fiel às tradições musicais da dinastia dos Veloso, Moreno calca seu show nessa raiz baiana. Seja cantando sucesso do grupo Olodum, Deusa do Amor (Adailton Poesia e Valter Farias), aprendido nas ruas durante o Carnaval da Bahia; seja entrando com propriedade na roda do samba do Recôncavo com a autoral Um Passo à Frente (Moreno Veloso e Quito Ribeiro), lançada por sua madrinha Gal Costa no álbum Hoje (2005); seja tirando do baú os sambas Amanhã Eu Dou (1942) e Jacaré te Abraça (1944), duas joias raras da obra vivaz de Assis Valente (1911 - 1958), compositor baiano criado nos arredores de Santo Amaro da Purificação (BA), cidade natal de Caetano Veloso, pai que o carioca Moreno emula nas escolhas do repertório e no timbre de similaridade evidenciada nas interpretações de temas como Deusa do Ébano (Miltão), pérola do repertório do bloco afro Ilê Ayiê. A Bahia pulsa nas veias e no som de Moreno Veloso, até mesmo quando o artista, reiterando a origem carioca, evoca na batida suave de Jardim de Alah (Moreno Veloso e Quito Ribeiro) a revolução de um baiano cheio de bossa. Com o toque do pandeiro que lhe foi ensinado pelo baiano Carlinhos Brown, Moreno cai no samba já ao abrir o show com A Base do Supremo (Moreno Veloso e Rogério Duarte). É ainda no toque de seu pandeiro que ele reaviva samba antigo, Amanhã Eu Volto (Antônio Almeida e Roberto Martins), do repertório do cantor paulista Vassourinha (1923 - 1942). Mas o violão é o instrumento dominante na parte solo do show. É com seu violão que Moreno apresenta duas parcerias inéditas compostas por Domenico Lancellotti e incluídas no repertório de seu próximo disco. Coisa Boa é um acalanto de delicadeza recorrente no gênero. Não Acorde o Neném é maroto samba cool, heterodoxo, que evidencia a habilidade dos compositores no trânsito entre modernidades e tradições do tempo da vovó, para citar expressão usada na letra. Do tempo das avós, aliás, é Num Galho de Acácias, versão em português de J. Carlos para Un Peu D'amour (1912), valsa de Stanislao Silesu e Nilson Fysher. A música também figura no repertório do próximo disco de Moreno. A entrada em cena do violonista Luis Filipe de Lima para tocar Lá Vem a Baiana, samba de certo baiano chamado Dorival Caymmi (1914 - 2008), expôs virtuosismo que inexiste no toque do violão de Moreno, sem dar atmosfera formal ao show, de todo bem descontraído por conta das falas bem-humoradas do anfitrião. Que, além de Luis Filipe de Lima, recebeu também o cantor e pandeirista Pedro Miranda, que assumiu a voz de temas como o samba-chula Pimenteira (Roque Ferreira). A dupla de convidados imprimiu vivacidade à apresentação, arrematada pelo anfitrião com o belo supra-citado solo de Nosotros. Enfim, por mais que a herança musical de Caetano Veloso seja detectada no som de Moreno, o artista brilha por si só.
3 comentários:
Mal-entendido em relação à data de um show no Japão levou Moreno Veloso a subir sozinho a um palco de Tóquio em apresentação gravada ao vivo que gerou o CD Solo in Tokyo (2011), lançado somente no mercado japonês. Tal apresentação inspirou o show feito pelo artista na segunda temporada do projeto Sonoridades, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) até o fim deste mês de março de 2012. Moreno expôs logo de cara ao público que sentia certo desconforto por estar sozinho em cena. Mas tal sensação não impediu o brilho de um show que perfila com precisão as bases do som de Moreno. Distante das experiências sonoras feitas com Domenico Lancellotti e Kassin no já desativado trio + 2, Moreno surpreendeu positivamente em cena com interpretações carregadas de sentimento como o posto em Nosotros (Cesar Portillo de La Luz) - com o qual encerra o show, a sós com seu violão, fazendo através desse bolero cubano declaração de amor aos dois amigos-músicos do + 2 - e no dolente Requiem para Mãe Menininha (Gilberto Gil), lamento sentido de Gil pela morte da ialorixá baiana Maria Escolástica da Conceição Nazaré (1894 - 1986), a Mãe Menininha. Fiel às tradições musicais da dinastia dos Veloso, Moreno calca seu show nessa raiz baiana. Seja cantando sucesso do grupo Olodum, Deusa do Amor (Adailton Poesia e Valter Farias), aprendido nas ruas durante o Carnaval da Bahia; seja entrando com propriedade na roda do samba do Recôncavo com a autoral Um Passo à Frente (Moreno Veloso e Quito Ribeiro), lançada por sua madrinha Gal Costa no álbum Hoje (2005); seja tirando do baú os sambas Amanhã Eu Dou (1942) e Jacaré te Abraça (1944), duas joias raras da obra vivaz de Assis Valente (1911 - 1958), compositor baiano criado nos arredores de Santo Amaro da Purificação (BA), cidade natal de Caetano Veloso, pai que o carioca Moreno emula nas escolhas do repertório e no timbre de similaridade evidenciada nas interpretações de temas como Deusa do Ébano (Miltão), pérola do repertório do bloco afro Ilê Ayiê. A Bahia pulsa nas veias e no som de Moreno Veloso, até mesmo quando o artista, reiterando a origem carioca, evoca na batida suave de Jardim de Alah (Moreno Veloso e Quito Ribeiro) a revolução de um baiano cheio de bossa. Com o toque do pandeiro que lhe foi ensinado pelo baiano Carlinhos Brown, Moreno cai no samba já ao abrir o show com A Base do Supremo (Moreno Veloso e Rogério Duarte). É ainda no toque de seu pandeiro que ele reaviva samba antigo, Amanhã Eu Volto (Antônio Almeida e Roberto Martins), do repertório do cantor paulista Vassourinha (1923 - 1942). Mas o violão é o instrumento dominante na parte solo do show. É com seu violão que Moreno apresenta duas parcerias inéditas compostas por Domenico Lancellotti e incluídas no repertório de seu próximo disco. Coisa Boa é um acalanto de delicadeza recorrente no gênero. Não Acorde o Neném é maroto samba cool e meio heterodoxo que evidencia a habilidade dos compositores no trânsito entre as modernidades e as tradições do tempo da vovó, para citar expressão usada na letra. Do tempo da avó de Moreno, aliás, é Num Galho de Acácias, versão em português de J. Carlos para Un Peu D'amour, tema de Silesu. A música também figura no repertório do próximo disco de Moreno. A entrada em cena do violonista Luis Filipe de Lima para tocar Lá Vem a Baiana, samba de certo baiano chamado Dorival Caymmi (1914 - 2008), expôs virtuosismo que inexiste no toque do violão de Moreno, sem dar atmosfera formal ao show, de todo bem descontraído por conta das falas bem-humoradas do anfitrião. Que, além de Luis Filipe de Lima, recebeu também o cantor e pandeirista Pedro Miranda, que assumiu a voz de temas como o samba-chula Pimenteira (Roque Ferreira). A dupla de convidados imprimiu vivacidade à apresentação, arrematada pelo anfitrião com o belo supra-citado solo de Nosotros. Enfim, por mais que a herança musical de Caetano Veloso seja detectada no som de Moreno, o artista brilha por si só.
Não sabia que o + 2 tinha acabado, o disco do Moreno pra mim é o melhor dos três do trio
Estou certo de que esse show será um sucesso.... Moreno não é um bom cantor, porém é um excelente compositor! Mas o que eu quero mesmo saber é quando o seu primeiro disco solo, o "Solo In Tokyo", absurdamente só lançado no Japão em setembro do ano passado será lançado aqui no Brasil. É uma vergonha nacional e um vexame total que esse disco ainda não tenha despertado o interesse de nenhuma gravadora nacional para que seja aqui lançado. Só no Brasil mesmo que isso acontece... Vai entender!!!
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