Resenha de CD
Título: Casa de Morar
Artista: Renato Braz
Gravadora: Dançapé Music / Tratore
Cotação: * * * *
Renato Braz continua próximo de universo musical mais tradicionalista em seu sétimo álbum, Casa de Morar, por mais que se permita cantar (muito bem) músicas de compositores mais contemporâneos - como Marcelo Jeneci e Fred Martins - neste disco gravado de forma independente em 2010 com patrocínio obtido no Programa de Ação Cultural 2009 do Governo do Estado de São Paulo. O canto classicista de Braz lembra o estilo vocal de Mônica Salmaso por evocar um Brasil antigo, uma atmosfera mais formal de música de câmera como a que ambienta Essa Moça (Mário Gil e Paulo César Pinheiro) e Durango Kid (Toninho Horta e Fernando Brant). O Brasil tradicionalista de Braz é habitado por música e poesia - e não é por acaso que a segunda das 17 faixas do longo álbum (de 72 minutos e 58 segundos), O Centauro (Paulo César Pinheiro), apresenta apenas texto declamado por Paulo César Pinheiro, compositor recorrente no repertório. Faz sentido, pois é através da poesia de Pinheiro que Braz pisa firme no terreno afro-brasileiro em Angola (Théo de Barros e Paulo César Pinheiro) e que evoca paisagens rurais em faixas como Desafio (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), tema arranjado por Dori Caymmi, grande influência de Braz. É no mato desse Brasil rural que brota a sublime Relento (Simone Guimarães e Cristina Saraiva), pérola melódica e poética que fala de estrada, de interior, embalada por quarteto de cordas nesta gravação que reitera a perfeição do canto de Braz. Dentro desse mesmo universo, a folia de reis Casa de Morar (Cláudio Nucci e Cacaso) - tema lançado por Nucci em disco de 1983, Volta e Vai - se ajusta com perfeição ao espírito interiorano do disco, inclusive pelo toque do acordeom de Toninho Ferragutti. O mesmo acordeom que se une solitariamente à voz sempre precisa de Braz em O Primeiro Fole (Marcelo Jeneci e José Miguel Wisnik), exemplo da beleza classicista do canto do intérprete. Já as vozes masculinas dos Monges Livres da Fé - coral formado no estúdio por nomes como Mario Gil (diretor artístico do disco em função dividida com o próprio Braz) e o pianista Nelson Ayres - pontua Por um Fio (Fred Martins e Marcelo Diniz), evocando a atmosfera sacra da obra de Milton Nascimento nos anos 70. "Quando tudo é sertão / Tudo então pode estar / Por um fio", advertem Braz e Fred Martins, convidado da faixa. Também embrenhada nas veredas do sertão brasileiro, Santa Clara (Claudio Nucci e Cacaso) é o canto em feitio de oração que reforça a luz jogada sobre a obra de Nucci com o poeta Cacaso (1944 - 1987), autores também da música que dá título a Casa de Morar, álbum valorizado pela voz sagrada de Braz, grande cantor que o Brasil nunca parou para ouvir com a devida atenção. Azar do Brasil, surdo para um samba doído como Coração Sem Saída (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), pontuado pelo violão suave de Dori (autor do arranjo) e pelo saxofone de Teco Cardoso. Título pouco conhecido do cancioneiro de Gilberto Gil, Febril (1984) é instante de temperatura amena em que Braz saúda João Gilberto, mestre dos mestres, ao som do violão sereno de Edson José Alves. Sem perda dessa ternura, o disco rebobina Papo de Passarim (Zé Renato e Xico Chaves) - com a voz e o violão de Zé Renato, além da flauta de Teco Cardoso - e expõe o lirismo da belíssima Canção de Ninar Para Dora (Guilherme Neves), acalanto sem letra, levado pelos vocalises de Braz. Sem Fim (Novelli e Cacaso) reitera a poesia na qual está embebida esse álbum interiorano e prepara a estrada para que O Trenzinho do Caipira (Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar) transite - com as vozes de Braz e de Dori Caymmi, autor do arranjo e convidado da faixa - pelos trilhos desse sertão que gera música da melhor qualidade e que acomoda o canto de Braz de forma por vezes sublime. Casa de Morar é disco acolhedor.
Renato Braz continua próximo de universo musical mais tradicionalista em seu sétimo álbum, Casa de Morar, por mais que se permita cantar (muito bem) músicas de compositores mais contemporâneos - como Marcelo Jeneci e Fred Martins - neste disco gravado de forma independente em 2010 com patrocínio obtido no Programa de Ação Cultural 2009 do Governo do Estado de São Paulo. O canto classicista de Braz lembra o estilo vocal de Mônica Salmaso por evocar um Brasil antigo, uma atmosfera mais formal de música de câmera como a que ambienta Essa Moça (Mário Gil e Paulo César Pinheiro) e Durango Kid (Toninho Horta e Fernando Brant). O Brasil tradicionalista de Braz é habitado por música e poesia - e não é por acaso que a segunda das 17 faixas do longo álbum (de 72 minutos e 58 segundos), O Centauro (Paulo César Pinheiro), apresenta apenas texto declamado por Paulo César Pinheiro, compositor recorrente no repertório. Faz sentido, pois é através da poesia de Pinheiro que Braz pisa firme no terreno afro-brasileiro em Angola (Théo de Barros e Paulo César Pinheiro) e que evoca paisagens rurais em faixas como Desafio (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), tema arranjado por Dori Caymmi, grande influência de Braz. É no mato desse Brasil rural que brota a sublime Relento (Simone Guimarães e Cristina Saraiva), pérola melódica e poética que fala de estrada, de interior, embalada por quarteto de cordas nesta gravação que reitera a perfeição do canto de Braz. Dentro desse mesmo universo, a folia de reis Casa de Morar (Cláudio Nucci e Cacaso) - tema lançado por Nucci em disco de 1983, Volta e Vai - se ajusta com perfeição ao espírito interiorano do disco, inclusive pelo toque do acordeom de Toninho Ferragutti. O mesmo acordeom que se une solitariamente à voz sempre precisa de Braz em O Primeiro Fole (Marcelo Jeneci e José Miguel Wisnik), exemplo da beleza classicista do canto do intérprete. Já as vozes masculinas dos Monges Livres da Fé - coral formado no estúdio por nomes como Mario Gil (diretor artístico do disco em função dividida com o próprio Braz) e o pianista Nelson Ayres - pontua Por um Fio (Fred Martins e Marcelo Diniz), evocando a atmosfera sacra da obra de Milton Nascimento nos anos 70. "Quando tudo é sertão / Tudo então pode estar / Por um fio", advertem Braz e Fred Martins, convidado da faixa. Também embrenhada nas veredas do sertão brasileiro, Santa Clara (Claudio Nucci e Cacaso) é o canto em feitio de oração que reforça a luz jogada sobre a obra de Nucci com o poeta Cacaso (1944 - 1987), autores também da música que dá título a Casa de Morar, álbum valorizado pela voz sagrada de Braz, grande cantor que o Brasil nunca parou para ouvir com a devida atenção. Azar do Brasil, surdo para um samba doído como Coração Sem Saída (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), pontuado pelo violão suave de Dori (autor do arranjo) e pelo saxofone de Teco Cardoso. Título pouco conhecido da obra de Gilberto Gil, Febril (1984) é instante de temperatura amena em que Braz saúda João Gilberto, mestre dos mestres, ao som do violão sereno de Edson José Alves. Sem perda dessa ternura, o disco rebobina Papo de Passarim (Zé Renato e Xico Chaves) - com a voz e o violão de Zé Renato, além da flauta de Teco Cardoso - e expõe o lirismo da belíssima Canção de Ninar Para Dora (Guilherme Neves), acalanto sem letra, levado pelos vocalises de Braz. Sem Fim (Novelli e Cacaso) reitera a poesia na qual está embebida esse álbum interiorano e prepara a estrada para que O Trenzinho do Caipira (Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar) transite - com as vozes de Braz e de Dori Caymmi, autor do arranjo e convidado da faixa - pelos trilhos desse sertão que gera música da melhor qualidade e que acomoda o canto de Braz de forma por vezes sublime. Casa de Morar é disco acolhedor.
ResponderExcluirAdoro a voz do Renato Braz!!Quando o vi cantar ao vivo pela primeira vez, comprei todos os cds e virei fã.Sua voz me emociona!!Preciso comprar esse!
ResponderExcluirWilma Araújo
Já disse antes e reafirmo aqui que esse disco é mesmo sensacional. É o Renato em sua melhor forma artística!!!
ResponderExcluirCD do Renato Braz eu compro de olhos fechados e ouvidos abertos! Ainda bem que ele veio logo com 17 faixas em seu novo trabalho, afinal foram 6 anos aguardando... rsrs
ResponderExcluirGostaria que a Tratore fizesse uma melhor distribuição desse CD do Renato, pra gente encontrar em mais lojas e a preços mais baratos.
Renato Braz e Mônica Salmaso já gostam de visitar o repertório da nana Caymmi.
ResponderExcluirO disco é muito bom, tem a assinatura de griffe do Renato, melhor cantor cantor surgido dos 90's pra cá.
ResponderExcluirGostei dele ter gravado Simone Guimarães que, a propósito está com um disco lindo também!
No último show que tinha visto do Renato, ao cantar Chora brasileira (Fátima Guedes), ele anunciou que a tinha gravado, certamente resolveu retirar posteriormente.
Acabei de ver esse show e fiquei ainda mais fascinado pelo Renato, entrou na minha alma , conquistou meu coração definitivamente e o cd não para de ouvir... lindo, belo , e bem feito, ve-se o amor de longe.
ResponderExcluirAcabei de ver o show é sai ainda mais fascinado pelo talento de renato, conquistou meu coração definitivamente, esse trabalho e ainda encantador, e o cd e maravilhoso entro e saio de casa ouvindo... lindo
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