quarta-feira, 18 de abril de 2012

Braz povoa 'Casa de Morar' com canto classicista que evoca o Brasil rural

Resenha de CD
Título: Casa de Morar
Artista: Renato Braz
Gravadora: Dançapé Music / Tratore
Cotação: * * * *

Renato Braz continua próximo de universo musical mais tradicionalista em seu sétimo álbum, Casa de Morar, por mais que se permita cantar (muito bem) músicas de compositores mais contemporâneos - como Marcelo Jeneci e Fred Martins - neste disco gravado de forma independente em 2010 com patrocínio obtido no Programa de Ação Cultural 2009 do Governo do Estado de São Paulo. O canto classicista de Braz lembra o estilo vocal de Mônica Salmaso por evocar um Brasil antigo, uma atmosfera mais formal de música de câmera como a que ambienta Essa Moça (Mário Gil e Paulo César Pinheiro) e Durango Kid (Toninho Horta e Fernando Brant). O Brasil tradicionalista de Braz é habitado por música e poesia - e não é por acaso que a segunda das 17 faixas do longo álbum (de 72 minutos e 58 segundos), O Centauro (Paulo César Pinheiro), apresenta apenas texto declamado por Paulo César Pinheiro, compositor recorrente no repertório. Faz sentido, pois é através da poesia de Pinheiro que Braz pisa firme no terreno afro-brasileiro em Angola (Théo de Barros e Paulo César Pinheiro) e que evoca paisagens rurais em faixas como Desafio (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), tema arranjado por Dori Caymmi, grande influência de Braz. É no mato desse Brasil rural que brota a sublime Relento (Simone Guimarães e Cristina Saraiva), pérola melódica e poética que fala de estrada, de interior, embalada por quarteto de cordas nesta gravação que reitera a perfeição do canto de Braz. Dentro desse mesmo universo, a folia de reis Casa de Morar (Cláudio Nucci e Cacaso) - tema lançado por Nucci em disco de 1983, Volta e Vai - se ajusta com perfeição ao espírito interiorano do disco, inclusive pelo toque do acordeom de Toninho Ferragutti. O mesmo acordeom que se une solitariamente à voz sempre precisa de Braz em O Primeiro Fole (Marcelo Jeneci e José Miguel Wisnik), exemplo da beleza classicista do canto do intérprete. Já as vozes masculinas dos Monges Livres da Fé - coral formado no estúdio por nomes como Mario Gil (diretor artístico do disco em função dividida com o próprio Braz) e o pianista Nelson Ayres - pontua Por um Fio (Fred Martins e Marcelo Diniz), evocando a atmosfera sacra da obra de Milton Nascimento nos anos 70. "Quando tudo é sertão / Tudo então pode estar / Por um fio", advertem Braz e Fred Martins, convidado da faixa. Também embrenhada nas veredas do sertão brasileiro, Santa Clara (Claudio Nucci e Cacaso) é o canto em feitio de oração que reforça a luz jogada sobre a obra de Nucci com o poeta Cacaso (1944 - 1987), autores também da música que dá título a Casa de Morar, álbum valorizado pela voz sagrada de Braz, grande cantor que o Brasil nunca parou para ouvir com a devida atenção. Azar do Brasil, surdo para um samba doído como Coração Sem Saída (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), pontuado pelo violão suave de Dori (autor do arranjo) e pelo saxofone de Teco Cardoso. Título pouco conhecido do cancioneiro de Gilberto Gil, Febril (1984) é instante de temperatura amena em que Braz saúda João Gilberto, mestre dos mestres, ao som do violão sereno de Edson José Alves. Sem perda dessa ternura, o disco rebobina Papo de Passarim (Zé Renato e Xico Chaves) - com a voz e o violão de Zé Renato, além da flauta de Teco Cardoso - e expõe o lirismo da belíssima Canção de Ninar Para Dora (Guilherme Neves), acalanto sem letra, levado pelos vocalises de Braz. Sem Fim (Novelli e Cacaso) reitera a poesia na qual está embebida esse álbum interiorano e prepara a estrada para que O Trenzinho do Caipira (Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar) transite - com as vozes de Braz e  de Dori Caymmi, autor do arranjo e convidado da faixa - pelos trilhos desse sertão que gera música da melhor qualidade e que acomoda o canto de Braz de forma por vezes sublime. Casa de Morar é disco acolhedor.

8 comentários:

  1. Renato Braz continua próximo de universo musical mais tradicionalista em seu sétimo álbum, Casa de Morar, por mais que se permita cantar (muito bem) músicas de compositores mais contemporâneos - como Marcelo Jeneci e Fred Martins - neste disco gravado de forma independente em 2010 com patrocínio obtido no Programa de Ação Cultural 2009 do Governo do Estado de São Paulo. O canto classicista de Braz lembra o estilo vocal de Mônica Salmaso por evocar um Brasil antigo, uma atmosfera mais formal de música de câmera como a que ambienta Essa Moça (Mário Gil e Paulo César Pinheiro) e Durango Kid (Toninho Horta e Fernando Brant). O Brasil tradicionalista de Braz é habitado por música e poesia - e não é por acaso que a segunda das 17 faixas do longo álbum (de 72 minutos e 58 segundos), O Centauro (Paulo César Pinheiro), apresenta apenas texto declamado por Paulo César Pinheiro, compositor recorrente no repertório. Faz sentido, pois é através da poesia de Pinheiro que Braz pisa firme no terreno afro-brasileiro em Angola (Théo de Barros e Paulo César Pinheiro) e que evoca paisagens rurais em faixas como Desafio (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), tema arranjado por Dori Caymmi, grande influência de Braz. É no mato desse Brasil rural que brota a sublime Relento (Simone Guimarães e Cristina Saraiva), pérola melódica e poética que fala de estrada, de interior, embalada por quarteto de cordas nesta gravação que reitera a perfeição do canto de Braz. Dentro desse mesmo universo, a folia de reis Casa de Morar (Cláudio Nucci e Cacaso) - tema lançado por Nucci em disco de 1983, Volta e Vai - se ajusta com perfeição ao espírito interiorano do disco, inclusive pelo toque do acordeom de Toninho Ferragutti. O mesmo acordeom que se une solitariamente à voz sempre precisa de Braz em O Primeiro Fole (Marcelo Jeneci e José Miguel Wisnik), exemplo da beleza classicista do canto do intérprete. Já as vozes masculinas dos Monges Livres da Fé - coral formado no estúdio por nomes como Mario Gil (diretor artístico do disco em função dividida com o próprio Braz) e o pianista Nelson Ayres - pontua Por um Fio (Fred Martins e Marcelo Diniz), evocando a atmosfera sacra da obra de Milton Nascimento nos anos 70. "Quando tudo é sertão / Tudo então pode estar / Por um fio", advertem Braz e Fred Martins, convidado da faixa. Também embrenhada nas veredas do sertão brasileiro, Santa Clara (Claudio Nucci e Cacaso) é o canto em feitio de oração que reforça a luz jogada sobre a obra de Nucci com o poeta Cacaso (1944 - 1987), autores também da música que dá título a Casa de Morar, álbum valorizado pela voz sagrada de Braz, grande cantor que o Brasil nunca parou para ouvir com a devida atenção. Azar do Brasil, surdo para um samba doído como Coração Sem Saída (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), pontuado pelo violão suave de Dori (autor do arranjo) e pelo saxofone de Teco Cardoso. Título pouco conhecido da obra de Gilberto Gil, Febril (1984) é instante de temperatura amena em que Braz saúda João Gilberto, mestre dos mestres, ao som do violão sereno de Edson José Alves. Sem perda dessa ternura, o disco rebobina Papo de Passarim (Zé Renato e Xico Chaves) - com a voz e o violão de Zé Renato, além da flauta de Teco Cardoso - e expõe o lirismo da belíssima Canção de Ninar Para Dora (Guilherme Neves), acalanto sem letra, levado pelos vocalises de Braz. Sem Fim (Novelli e Cacaso) reitera a poesia na qual está embebida esse álbum interiorano e prepara a estrada para que O Trenzinho do Caipira (Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar) transite - com as vozes de Braz e de Dori Caymmi, autor do arranjo e convidado da faixa - pelos trilhos desse sertão que gera música da melhor qualidade e que acomoda o canto de Braz de forma por vezes sublime. Casa de Morar é disco acolhedor.

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  2. Adoro a voz do Renato Braz!!Quando o vi cantar ao vivo pela primeira vez, comprei todos os cds e virei fã.Sua voz me emociona!!Preciso comprar esse!

    Wilma Araújo

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  3. Já disse antes e reafirmo aqui que esse disco é mesmo sensacional. É o Renato em sua melhor forma artística!!!

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  4. CD do Renato Braz eu compro de olhos fechados e ouvidos abertos! Ainda bem que ele veio logo com 17 faixas em seu novo trabalho, afinal foram 6 anos aguardando... rsrs

    Gostaria que a Tratore fizesse uma melhor distribuição desse CD do Renato, pra gente encontrar em mais lojas e a preços mais baratos.

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  5. Renato Braz e Mônica Salmaso já gostam de visitar o repertório da nana Caymmi.

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  6. O disco é muito bom, tem a assinatura de griffe do Renato, melhor cantor cantor surgido dos 90's pra cá.
    Gostei dele ter gravado Simone Guimarães que, a propósito está com um disco lindo também!
    No último show que tinha visto do Renato, ao cantar Chora brasileira (Fátima Guedes), ele anunciou que a tinha gravado, certamente resolveu retirar posteriormente.

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  7. Acabei de ver esse show e fiquei ainda mais fascinado pelo Renato, entrou na minha alma , conquistou meu coração definitivamente e o cd não para de ouvir... lindo, belo , e bem feito, ve-se o amor de longe.

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  8. Acabei de ver o show é sai ainda mais fascinado pelo talento de renato, conquistou meu coração definitivamente, esse trabalho e ainda encantador, e o cd e maravilhoso entro e saio de casa ouvindo... lindo

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