Resenha de CD
Título: Rio de Janeiro
Artista: Joyce Moreno
Gravadora: Far Out Recordings
Cotação: * * * *
Chega a ser irônico que Joyce Moreno abra seu disco Rio de Janeiro (2011) - ou simplesmente Rio, como está creditado na borda lateral da capa do CD lançado na Europa em março deste ano de 2012 pela gravadora inglesa Far Out Recordings - com samba, Adeus, América (Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques, 1948), em que expressa saudade do Brasil. Cantora e compositora que tem conseguido dar continuidade à carreira fonográfica por iniciativa de selos da Europa e do Japão, Joyce Moreno apresenta seu álbum de espírito mais carioca. Gravado em 9 e 10 de abril de 2011 no estúdio da gravadora Biscoito Fino, situado na cidade que dá nome ao disco (lançado originalmente no Japão em agosto de 2011), Rio de Janeiro celebra as belezas da cidade natal de Joyce. A voz e o violão da artista - extremamente suingantes no citado samba Adeus, América - retratam maravilhas da cidade apesar de tudo maravilhosa. Berço do samba que brota no chão da cidade, como sintetiza poético verso do inédito samba Puro Ouro (Joyce Moreno, 2012), o Rio é (bem) retratado em Rio com flashes de alegria e poesia que nem sempre camuflam a tristeza escondida nos barracos da cidade, cenário de Vela no Breu (Paulinho da Viola e Sérgio Natureza, 1976). "A tristeza é senhora", já sentencia Caetano Veloso no verso inicial de Desde que o Samba É Samba (1993), tema providencialmente incluído no afetivo repertório de Rio de Janeiro e alocado próximo da triste e sublime melodia de Feitio de Oração (Noel Rosa e Vadico, 1933). Com muito mais alegrias do que tristezas nesta ode ao Rio, Joyce parece sorrir de nostalgia dentro da linda melodia de Valsa de Uma Cidade (Antonio Maria e Ismael Neto, 1954), introduzida com vocais que remetem ao estilo do grupo Os Cariocas. Tema da lavra autoral da compositora, naturalmente menos inspirado por ter sido o primeiro exercício da artista na arte da composição (feito na adolescência), Rio Meu (Joyce Moreno) explicita já no título o fato de a homenagem à cidade ser feita sob a ótica pessoal e intransferível dessa carioca de Copacabana, bairro retratado com a luz do idealismo em Manhã no Posto 6 (Armando Cavalcanti, 1963), samba do repertório de Wilson Simonal (1938 - 2000) que fala das maravilhas da orla local em celebração reiterada em O Mar (Tom Jobim e Billy Blanco, 1954), faixa na qual a cantora se permite elevar os tons com a mesma desenvoltura com que se aventura pelo particular idioma paulistano do compositor Adoniran Barbosa (1910 - 1982) ao reviver As Mariposa (1955), tema deslocado, ainda que irmanado em medley com o samba Com Que Roupa? (Noel Rosa, 1930) para ilustrar no disco a proximidade geográfica das cidades de Rio de Janeiro e São Paulo. Em bela forma vocal, Joyce sustenta bem a capella os versos iniciais do Samba do Carioca (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1962). Veículo ideal para regravações da bossa-novista Tardes Cariocas (Joyce Moreno, 1983) e da marcha Cidade Maravilhosa (André Filho, 1934), abordada em registro mais melódico de clima mais íntimo e menos carnavalesco, Rio de Janeiro é um dos discos mais sedutores de Joyce Moreno pela costura nem sempre óbvia de repertório e por mostrar que essa carioca cheia de balanço e bossa - devota do samba que brota no chão da cidade - se basta com sua voz e com seu violão.
Chega a ser irônico que Joyce Moreno abra seu disco Rio de Janeiro - ou simplesmente Rio, como está creditado na borda lateral da capa do CD recém-lançado na Europa pela gravadora inglesa Far Out Recordings - com samba, Adeus, América (Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques, 1948), em que expressa a saudade do Brasil. Cantora e compositora que tem conseguido dar continuidade à carreira fonográfica por iniciativa de selos da Europa e do Japão, Joyce Moreno apresenta seu disco de espírito mais carioca. Gravado em 9 e 10 de abril de 2011 nos estúdios da gravadora Biscoito Fino, situados na cidade que dá nome ao disco, Rio de Janeiro celebra as belezas da cidade natal de Joyce. A voz e o violão da artista - extremamente suingantes no citado samba Adeus, América - retratam maravilhas da cidade apesar de tudo maravilhosa. Berço do samba que brota no chão da cidade, como sintetiza poético verso do inédito samba Ouro Puro (Joyce Moreno, 2012), o Rio é retratado em Rio com flashes de alegria e poesia que nem sempre camuflam a tristeza escondida nos barracos da cidade, cenário de Vela no Breu (Paulinho da Viola e Sérgio Natureza, 1976). "A tristeza é senhora", já sentencia Caetano Veloso no verso inicial de Desde que o Samba É Samba (1992), tema providencialmente incluído no afetivo repertório de Rio de Janeiro e alocado próximo da triste e sublime melodia de Feitio de Oração (Noel Rosa e Vadico, 1933). Com muito mais alegrias do que tristezas nesta ode ao Rio, Joyce parece sorrir de nostalgia dentro da linda melodia de Valsa de Uma Cidade (Antonio Maria e Ismael Neto, 1954), introduzida com vocais que remetem ao estilo do grupo Os Cariocas. Tema menos inspirado da lavra autoral da compositora, Rio Meu (Joyce Moreno, 2012) explicita já no título o fato de a homenagem à cidade ser feita sob a ótica pessoal e intransferível dessa carioca de Copacabana, bairro retratado com a luz do idealismo em Manhã no Posto 6 (Armando Cavalcanti, 1963), samba do repertório de Wilson Simonal (1938 - 2000) que fala das maravilhas da orla local em celebração reiterada em O Mar (Tom Jobim e Billy Blanco, 1954), faixa na qual a cantora se permite elevar os tons com a mesma desenvoltura com que se aventura pelo particular idioma paulistano do compositor Adoniran Barbosa (1910 - 1982) ao reviver As Mariposa (1955), tema deslocado, ainda que irmanado em medley com o samba Com Que Roupa? (Noel Rosa, 1935) para ilustrar no disco a proximidade geográfica das cidades de Rio de Janeiro e São Paulo. Em bela forma vocal, Joyce sustenta bem a capella os versos iniciais do Samba do Carioca (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1962). Veículo ideal para regravações da bossa-novista Tardes Cariocas (Joyce Moreno, 1983) e da marcha Cidade Maravilhosa (André Filho, 1934), abordada em registro mais melódico de clima mais íntimo e menos carnavalesco, Rio de Janeiro é um dos discos mais sedutores de Joyce Moreno pela costura nem sempre óbvia de repertório e por mostrar que essa carioca cheia de balanço e bossa - devota do samba que brota no chão da cidade - se basta com sua voz e com seu violão.
ResponderExcluirJoyce é nosso ouro fino. Vida longa à carreira desta super cantora-compositora-instrumentista.
ResponderExcluirUm absurdo que nenhuma pequena ou grande gravadora tenha ainda fechado um acordo com a Far Out Recordings para que lance todos os discos de cantores e bandas brasileiras que são lançados lá fora e nunca aqui no Brasil. Discos como o último da banda Black Rio, da Sabrina Malheiros, da banda Azymuth seguem inexplicavelmente inéditos no Brasil, por conta dos "bairrismos" de gravadoras, que mais se preocupam em lançar rapidamente por aqui discos de Justin Bieber, Britney Spears e coisas desse gênero...
ResponderExcluirIsso aí! Vida longa a Joyce.
ResponderExcluirDesde que o Samba é Samba é sem dúvida uma das obras primas de Mano Caetano. E as Mariposa é bem jocosa.
ResponderExcluir"Eu sou a lâmpida e as mulher as mariposa..." :-)
Adorei a versão dela para "Desde Que O Samba É Samba", "Valsa de Uma Cidade", "As Mariposa". Esse disco é uma bela homenagem ao Rio de Janeiro, mas que ela poderia ter incluído aí a belíssima "Rio de Janeiro", de Ary Barroso (que inclusive ganhou um Oscar de Melhor Canção, quando incluída na trilha de "Orfeu") e "Samba do Avião". No mais, esse disco é excelente.
ResponderExcluirE por falar em Joyce, amanhã tem show dela no Instituto Moreira Salles cantando as canções do primeiro disco do obscuro e genial Sidney Miller. Quem for do ou ao Rio, que vá lá!!!
ResponderExcluirEstou morando temporariamente em Los Angeles e toda loja de discos por aqui tem este CD da Joyce em destaque. As vezes tenho vontade de chorar quando vejo tudo o que eles tem de música brasileira que nós, no Brasil, não temos acesso: reedições em LP e CD do Tamba Trio, Edu Lobo, da Rosenblitz (que inclui coisas raras de Lula Cortes e Ze Ramalho), João Gilberto (inclusive os ilegais rsss, estes estão em destaque nas prateleiras).
ResponderExcluirMauro, continuo dizendo que Desde que o samba é samba, é de 1993 do disco Tropicália 2 e não de 1992.
ResponderExcluirAbs.
Augusto Flávio (Juazeiro-Ba)
Tem razão, Augusto. Já corrigi a data!
ResponderExcluirabs, obrigado, MauroF
É isso ai, Joyce é mais reconhecida fora do que em seu país...lembro uma música dela que dizia:
ResponderExcluir"Vou pros Estados Unidos
ouvir o meu samba
Brasil até jazz"
Dos tempos que trabalhar aqui, pra ela, estava difícil...
Obrigado Mauro pela dica!
ResponderExcluirAmei o cd e confesso que quase choro com as musicas, pois me bateu uma baita saudade do nosso Rio, dos shows, festivais de cinema, feijoadas nas quadras de samba, peças de teatro, espectáculos de dança, das muitas vezes que cruzamos em todos estes lugares e especialmente de todos os meus amigos. Nao sei se continuo a escutar este álbum precioso ou paro por aqui para conter as lagrimas :)
A resenha ficou tão boa,que deu vontade de ouvir,e sair por aí,sambando na lama de sapato branco.
ResponderExcluir