Mauro Ferreira no G1

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domingo, 15 de abril de 2012

Gadú vira a página no palco com show azeitado e roteiro sem concessão

Resenha de show
Título: Mais Uma Página
Artista: Maria Gadú (em foto de Rodrigo Amaral)
Local:  Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 14 de abril de 2012
Cotação: * * * * 1/2

Maria Gadú soube virar a página ao gravar seu segundo álbum de estúdio, Mais Uma Página (2011). Típico disco de banda, Mais Uma Página se revelou um trabalho de sonoridade mais encorpada e repertório mais sofisticado (embora nem todas as músicas reeditem a inspiração melódica das palatáveis canções do seminal CD de 2009 que deu projeção nacional à cantora e compositora paulista). A virada é complementada no palco com o azeitado show da turnê nacional que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 14 de abril de 2012, em apresentação que lotou a casa Vivo Rio. Não foi por acaso que, no bis, Laranja (Maria Gadú, 2009) aparece temperada com solos do quinteto que divide a cena com Gadú. Tal como o disco homônimo, Mais Uma Página é show em que o entrosamento da cantora com sua banda parece ter contribuído (bastante) para o excelente resultado final. Cesinha (bateria), Doga (percussão), Fernando Caneca (guitarra e violão tenor), Gastão Villeroy (baixo) e Maycon Ananias (teclados) transpõem para o palco, com mais pressão, a refinada sonoridade do disco - do qual Gadú apresenta 13 das 15 musicas em roteiro sem concessões. A ponto de o maior sucesso radiofônico da cantora, Shimbalaiê (Maria Gadú, 2009), não figurar no repertório do show - indício de que a intenção foi mesmo virar a página para explicitar a renovação da artista e minimizar os efeitos da superexposição de Gadú na cena nacional ao longo dos últimos três anos. Seja como for, Mais Uma Página é o melhor show de Maria Gadú, o mais bem-resolvido em termos musicais e cênicos. Fica evidente já no número de abertura - Alguém Cantando (Caetano Veloso, 1977), numa leitura que evidencia a percussão de Doga e a segurança vocal da intérprete - o apuro do espetáculo. Na sequência, Reis (Maria Gadú, Ana Carolina e Chiara Civello) intensifica o canto da artista, elevando a temperatura do show. Os arranjos valorizam a atual safra de inéditas de Gadú ao mesmo tempo em que oferecem novas visões para as velhas canções. Um dos pontos altos do roteiro, Tudo Diferente (André Carvalho, 2009) soa realmente diferente com o suingue percussivo do atual arranjo. Maria Solidária (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977) deita e rola na cama de vozes em que é embalada. Para quem espera ouvir melodias bonitas, Extranjero (Maycon Ananias e Cassyano Correr, 2011) e Like a Rose (Maria Gadú e Jesse Harris, 2011) - cantadas em espanhol e em inglês, respectivamente - mostram que, sim, há boas músicas em Mais Uma Página à espera de oportunidade para serem propagadas em rádios e novelas. Na estreia carioca do show, a participação do cantor português Marco Rodrigues facilitou a exposição da alma lusitana e do sentimento típico de fado que há n'A Valsa (Maria Gadú, 2011). Da mesma forma, a entrada de Lenine em cena deu um realce numa das canções mais fracas do disco Mais Uma Página - a inflamada Quem? (Maria Gadú, 2011) - e atingiu seu ápice no suingante dueto feito com Gadú no sucesso Jacksoul Brasileiro (Lenine, 1999). Contudo, o ápice mesmo do show é Axé Acapella (Luisa Maita e Dani Black, 2011), música que exemplifica a opção atual de Gadú por um repertório menos singelo e mais contudente. Neste arrepiante número, desce a tela - recorrente no cenário - para a exibição simultânea de um clipe com imagens de um Brasil menos tropical, captadas no aterro sanitário de Jardim Gramacho, lixão situado em Duque de Caxias (Baixada Fluminense, Rio de Janeiro). Fora da seara autoral, Gadú recorre mais uma vez ao repertório da banda Legião Urbana - da qual já havia revivido Quase Sem Querer (Dado Villa-Lobos, Renato Russo, Renato Rocha, 1986) - e escolhe outra música do álbum Dois (1986), cantando Índios (Renato Russo, 1986) com pressão roqueira similar à posta no fecho do bis em Podres Poderes (Caetano Veloso, 1984). No fim do show, antes do bis, a funkeada Linha Tênue (Dani Black, 2011) cumpre seu papel de fechar a tampa mostrando que a página de Maria Gadú está virada também no palco com coragem que sedimenta a carreira da artista.

11 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Maria Gadú soube virar a página ao gravar seu segundo álbum de estúdio, Mais Uma Página (2011). Típico disco de banda, Mais Uma Página se revelou um trabalho de sonoridade mais encorpada e repertório mais sofisticado (embora nem todas as músicas reeditem a inspiração melódica das palatáveis canções do seminal CD de 2009 que deu projeção nacional à cantora e compositora paulista). A virada é complementada no palco com o azeitado show da turnê nacional que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 14 de abril de 2012, em apresentação que lotou a casa Vivo Rio. Não foi por acaso que, no bis, Laranja (Maria Gadú, 2009) aparece temperada com solos do quinteto que divide a cena com Gadú. Tal como o disco homônimo, Mais Uma Página é show em que o entrosamento da cantora com sua banda parece ter contribuído (bastante) para o excelente resultado final. Cesinha (bateria), Doga (percussão), Fernando Caneca (guitarra e violão tenor), Gastão Villeroy (baixo) e Maycon Ananias (teclados) transpõem para o palco, com mais pressão, a refinada sonoridade do disco - do qual Gadú apresenta 13 das 15 musicas em roteiro sem concessões. A ponto de o maior sucesso radiofônico da cantora, Shimbalaiê (Maria Gadú, 2009), não figurar no repertório do show - indício de que a intenção foi mesmo virar a página para explicitar a renovação da artista e minimizar os efeitos da superexposição de Gadú na cena nacional ao longo dos últimos três anos. Seja como for, Mais Uma Página é o melhor show de Maria Gadú, o mais bem-resolvido em termos musicais e cênicos. Fica evidente já no número de abertura - Alguém Cantando (Caetano Veloso, 1977), numa leitura que evidencia a percussão de Doga e a segurança vocal da intérprete - o apuro do espetáculo. Na sequência, Reis (Maria Gadú, Ana Carolina e Chiara Civello) intensifica o canto da artista, elevando a temperatura do show. Os arranjos valorizam a atual safra de inéditas de Gadú ao mesmo tempo em que oferecem novas visões para as velhas canções. Um dos pontos altos do roteiro, Tudo Diferente (André Carvalho, 2009) soa realmente diferente com o suingue percussivo do atual arranjo. Maria Solidária (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977) deita e rola na cama de vozes em que é embalada. Para quem espera ouvir melodias bonitas, Extranjero (Maycon Ananias e Cassyano Correr, 2011) e Like a Rose (Maria Gadú e Jesse Harris, 2011) - cantadas em espanhol e em inglês, respectivamente - mostram que, sim, há boas músicas em Mais Uma Página à espera de oportunidade para serem propagadas em rádios e novelas. Na estreia carioca do show, a participação do cantor português Marco Rodrigues facilitou a exposição da alma lusitana e do sentimento típico de fado que há n'A Valsa (Maria Gadú, 2011). Da mesma forma, a entrada de Lenine em cena deu um realce numa das canções mais fracas do disco Mais Uma Página - a inflamada Quem? (Maria Gadú, 2011) - e atingiu seu ápice no suingante dueto feito com Gadú no sucesso Jacksoul Brasileiro (Lenine, 1999). Contudo, o ápice mesmo do show é Axé Acapella (Luisa Maita e Dani Black, 2011), música que exemplifica a opção atual de Gadú por um repertório menos singelo e mais contudente. Neste arrepiante número, desce a tela - recorrente no cenário - para a exibição simultânea de um clipe com imagens de um Brasil menos tropical, captadas no aterro sanitário de Jardim Gramacho, lixão situado em Duque de Caxias (Baixada Fluminense, Rio de Janeiro). Fora da seara autoral, Gadú recorre mais uma vez ao repertório da banda Legião Urbana - da qual já havia revivido Quase Sem Querer (Dado Villa-Lobos, Renato Russo, Renato Rocha, 1986) - e escolhe outra música do álbum Dois (1986), cantando Índios (Renato Russo, 1986) com pressão roqueira similar à posta no fecho do bis em Podres Poderes (Caetano Veloso, 1984). No fim do show, antes do bis, a funkeada Linha Tênue (Dani Black, 2011) cumpre seu papel de fechar a tampa mostrando que a página de Maria Gadú está virada também no palco com coragem que sedimenta a carreira da artista.

lurian disse...

Maria Gadú é um porre. Não desce!

Rafael disse...

O Mauro foi muito bacana e condescendente com a Maria Gadú... Não acho que esse show seja digno de 4 estrelas!!!

ADEMAR AMANCIO disse...

Maria gadú e Ana carolina não fazem música comercial,mas o fato de ter agradado,acabam incomodando.

Luciano disse...

O disco de Maria Gadú é sofisticado, limpo, lúdico e bem cantado. É um primor. O show é maravilhoso. Cheio de charme e pegada de grande cantora que sabe o que faz com a voz. Com toda exposição Gadú mostra que é, de longe, a melhor compositora e cantora que surgiu entre as novatas da atualidade. Como ela canta bem. É uma artista completa, tem bom gosto, é elegante e faz a diferença na MPB. Mauro suas colocações são felizes e lúcidas. Isso me dá ânimo. Pois ver uma menina, com todas essas qualidades, atuando em um país que a maior TV da América Latina "tenta" a todo custo trazer o pagode ruim de volta na novela das 21 horas, isso é uma bênção de Deus. O que a TV mostra nas trilhas é apavorante. Parece coisa programada. Tipo: vamos infestar o Brasil do cafona! Não dá mais pra ficar vendo sem falar nada. Fica até chato! Maria Gadú seu show é absolutamente perfeito e lindo. Parabéns e siga em frente. Cinco estrelas para vc garota. Vc é um luz nas nossas vidas.

Anônimo disse...

Fiquei imaginando qual seria o parâmetro do Ademar sobre música comercial.
Quer dizer, melhor nem imaginar.

PS: Entre Gadú e Ana Carolina eu prefiro uma otite. :-)

Sidney Gomes disse...

Não sei como as pessoas têm coragem de falar que a Globo impõe o pagode. Parece que fazem questão de esquecer que muitas músicas do primeiro disco de Gadú (5 talvez, fora oração ao tempo) estavam em trilhas sonoras. Amnésia seletiva não dá.

Maria disse...

Até Patrícia Marx consegue ser melhor que Maria Gadú.

Anônimo disse...

Essa aí não desce, não entra e nem sai!

Gosto da Patrícia Marx.

Jorge Reis disse...

Como diria Nelson Rodrigues:
- Não existe maior ofensa que o sucesso alheio...
Arrego gente amargurada, voltem para o planeta de onde vieram!

Mônica disse...

Concordo com o Luciano!Gente, essa menina arrebenta, esta com uma banda de primeira, o show é uma prova que ela veio pra ficar, primeira linha, adorei.