Título: Kid Abelha 30 Anos - Multishow ao Vivo
Artista: Kid Abelha (em foto de Cristina Granato)
Local: Citibank Hall (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 28 de abril de 2012
Cotação: * * * *
Ao repetir a inédita Caso de Verão (Paula Toller e George Israel) no bis do show em que o grupo carioca Kid Abelha gravou ao vivo o DVD comemorativo de suas três décadas de vida, a vocalista Paula Toller se referiu à música como "nosso caso de 30 verões". Não exagerou. Em cena desde 1982, o Kid completa 30 anos em forma. A razoável inédita adicionada ao roteiro de hits reitera o espírito juvenil e feminino do pop do trio. Pop que não raro roça a perfeição e que, por isso mesmo, tem garantido a sobrevivência da banda na volátil cena nativa. Regida pela direção de Jodele Larcher, a gravação ao vivo feita pelo Kid Abelha na noite de 28 de abril de 2012, no palco do Citibank Hall do Rio de Janeiro (RJ), foi a celebração da perenidade desse pop carioca que, ignorando bairrismos, vem seduzindo corações e mentes de todo o Brasil há 30 verões, já merecendo a alcunha de pop brasileiro. Até porque a identificação do público com as canções do trio atravessa gerações e Estados. Na pista da casa, lotada por gente de diversas idades, o fervor dos fãs aqueceu o show do primeiro ao último dos 22 números. A fina sintonia entre artista e público resultou em apresentação memorável, aberta com texto escrito e narrado (em off) pela jornalista paulista Mônica Waldvogel sobre os 30 anos do Kid. O texto situa o som do Kid no tempo sem aprisioná-lo a uma época - ainda que a música da banda esteja para sempre associada à explosão pop do verão de 1982 que detonou a abertura de portas e ouvidos para o rock brasileiro no mercado comum da música. E assim se passaram 30 anos. Afinal, o tempo não pára e, no entanto, Paula Toller, à beira dos 50 anos, parece nunca envelhecer - o que legitima a abordagem juvenil de temas como Nada Tanto Assim (Bruno Fortunato e Leoni, 1984), Fixação (Beni, Leoni e Paula Toller, 1984) - aditivada com o toque eletrônico do DJ Marcelinho da Lua - e Como Eu Quero (Leoni e Paula Toller, 1984). O pop do Kid Abelha permanece tão identificado com esse universo de paixões juvenis que soou artificial o discurso politizado feito antes de Dizer Não É Dizer Sim (George Israel e Paula Toller, 1989). Detalhe tão pequeno de show que transcorreu azeitado apesar das breves interrupções para retoques de maquiagem - naturais em gravações de DVD. Com voz depurada ao longo desses 30 anos, Paula Toller é a condutora dessa viagem no tempo com escalas feitas, em sua maioria, nas décadas de 80 e 90, período de maior produtividade do trio. Com sua presença habitualmente discreta, o guitarrista Bruno Fortunato somente se faz ouvir para valer com o solo de Amanhã É 23 (George Israel e Paula Toller, 1987). Já George Israel marca mais sua identidade no som da banda, já que seu sax se impõe no arranjo de músicas como Todo Meu Ouro (Bruno Fortunato, George Israel, Lui Farias e Paula Toller, 1990) - música incorporada ao roteiro montado com base no repertório selecionado para a turnê Glitter de Principiante, apresentada pelo Brasil ao longo de 2011. A inédita música que batizava a turnê, aliás, saiu do roteiro, mas foi cantada espontaneamente pelo público, em prova de que a popularidade do Kid Abelha não é fruto de mero saudosismo da geração 80- ainda que a saudade daquela década de ouro para o pop brasileiro também esteja impregnada em parte da plateia. Que também puxou espontaneamente Os Outros (Leoni, 1985), canção completada por Paula Toller. Motivada por mágoas passadas que (ainda) não passaram, a ausência de Leoni - figura fundamental na composição do repertório dos dois primeiros álbuns do grupo - na festa pop dos 30 anos do Kid é sentida. Mas é justo reconhecer - no momento em que a banda passa seu cancioneiro em revista em gravação ao vivo - que o trio soube se virar muito bem sem a contribuição autoral de Leoni. Nada Sei (Apnéia) (George Israel e Paula Toller, 2002) - o megahit do recordista Acústico MTV do grupo - é prova da habilidade do Kid para se manter bem em cena com a produção de Paula com George. Grand' Hotel (George Israel, Paula Toller e Lui Farias, 1991) - a classuda balada revivida no show com imagens do clipe gravado em Veneza (Itália) - é outra. O trio não se congelou no espaço. O que explica a perenidade do grupo e torna justa a consagração vista e ouvida na gravação transmitida ao vivo pelo canal de TV de Multishow. O pop do Kid Abelha é tão autossuficiente que a presença de ritmistas da escola de samba Mangueira em Pintura Íntima (Leoni e Paula Toller, 1983) - sob a regência de Ivo Meirelles - pareceu até decorativa. Não é preciso retocar um pop de cores ainda tão vivas.
13 comentários:
Ao repetir a inédita Caso de Verão (Paula Toller e George Israel) no bis do show em que o grupo carioca Kid Abelha gravou ao vivo o DVD comemorativo de suas três décadas de vida, a vocalista Paula Toller se referiu à música como "nosso caso de 30 verões". Não exagerou. Em cena desde 1982, o Kid completa 30 anos em forma. A razoável inédita adicionada ao roteiro de hits reitera o espírito juvenil e feminino do pop do trio. Pop que não raro roça a perfeição e que, por isso mesmo, tem garantido a sobrevivência da banda na volátil cena nativa. Regida pela direção de Jodele Larcher, a gravação ao vivo feita pelo Kid Abelha na noite de 28 de abril de 2012, no palco do Citibank Hall do Rio de Janeiro (RJ), foi a celebração da perenidade desse pop carioca que, ignorando bairrismos, vem seduzindo corações e mentes de todo o Brasil há 30 verões, já merecendo a alcunha de pop brasileiro. Até porque a identificação do público com as canções do trio atravessa gerações e Estados. Na pista da casa, lotada por gente de diversas idades, o fervor dos fãs aqueceu o show do primeiro ao último dos 23 números. A fina sintonia entre artista e público resultou em apresentação memorável, aberta com texto escrito e narrado (em off) pela jornalista paulista Mônica Waldvogel sobre os 30 anos do Kid. O texto situa o som do Kid no tempo sem aprisioná-lo a uma época - ainda que a música da banda esteja para sempre associada à explosão pop do verão de 1982 que detonou a abertura de portas e ouvidos para o rock brasileiro no mercado comum da música. E assim se passaram 30 anos. Afinal, o tempo não pára e, no entanto, Paula Toller, à beira dos 50 anos, parece nunca envelhecer - o que legitima a abordagem juvenil de temas como Nada Tanto Assim (Bruno Fortunato e Leoni, 1984), Fixação (Beni, Leoni e Paula Toller, 1984) - aditivada com o toque eletrônico do DJ Marcelinho da Lua - e Como Eu Quero (Leoni e Paula Toller, 1984). O pop do Kid Abelha permanece tão identificado com esse universo de paixões juvenis que soou artificial o discurso politizado feito antes de Dizer Não É Dizer Sim (George Israel e Paula Toller, 1989).
Detalhe tão pequeno de show que transcorreu azeitado apesar das breves interrupções para retoques de maquiagem - naturais em gravações de DVD. Com voz depurada ao longo desses 30 anos, Paula Toller é a condutora dessa viagem no tempo com escalas feitas, em sua maioria, nas décadas de 80 e 90, período de maior produtividade do trio. Com sua presença habitualmente discreta, o guitarrista Bruno Fortunato somente se faz ouvir para valer com o solo de Amanhã É 23 (George Israel e Paula Toller, 1987). Já George Israel marca mais sua identidade no som da banda, já que seu sax se impõe no arranjo de músicas como Todo Meu Ouro (Bruno Fortunato, George Israel, Lui Farias e Paula Toller, 1990) - música incorporada ao roteiro montado com base no repertório selecionado para a turnê Glitter de Principiante, apresentada pelo Brasil ao longo de 2011. A inédita música que batizava a turnê, aliás, saiu do roteiro, mas foi cantada espontaneamente pelo público, em prova de que a popularidade do Kid Abelha não é fruto de mero saudosismo da geração 80- ainda que a saudade daquela década de ouro para o pop brasileiro também esteja impregnada em parte da plateia. Que também puxou espontaneamente Os Outros (Leoni, 1985), canção completada por Paula Toller. Motivada por mágoas passadas que (ainda) não passaram, a ausência de Leoni - figura fundamental na composição do repertório dos dois primeiros álbuns do grupo - na festa pop dos 30 anos do Kid é sentida. Mas é justo reconhecer - no momento em que a banda passa seu cancioneiro em revista em gravação ao vivo - que o trio soube se virar muito bem sem a contribuição autoral de Leoni. Nada Sei (Apnéia) (George Israel e Paula Toller, 2002) - o megahit do recordista Acústico MTV do grupo - é prova da habilidade do Kid para se manter bem em cena com a produção de Paula com George. Grand' Hotel (George Israel, Paula Toller e Lui Farias, 1991) - a classuda balada revivida no show com imagens do clipe gravado em Veneza (Itália) - é outra. O trio não se congelou no espaço. O que explica a perenidade do grupo e torna justa a consagração vista e ouvida na gravação transmitida ao vivo pelo canal de TV de Multishow. O pop do Kid Abelha é tão autossuficiente que a presença de ritmistas da escola de samba Mangueira em Pintura Íntima (Leoni e Paula Toller, 1983) - sob a regência de Ivo Meirelles - pareceu até decorativa. Não é preciso retocar um pop de cores ainda tão vivas.
Bacana a resenha ! Só discordo da caracterização " discreta " atribuída a Bruno Fortunato . Com relação a caracterização de personalidade, confere, porque o Bruno realmente assume uma postura tranquila e " low profile " , jeitão do eterno " surfista zen " que sabe que os holofotes estão voltados para a Paula .
Mas ,musicalmente, ele esteve impecável, virtuoso , e desta vez , sua guitarra esteve em destaque na mixagem, ao menos na primeira metade do show . Muito preciso e seguro nas bases e maravilhosos solos ,como o de " Todo o Meu Ouro" , verdadeira obra-prima, entre tantos outros excelentes .
Bacana a resenha !
Só discordo do adjetivo " discreto " atribuído a Bruno Fortunato . Quanto a uma caracterização de personalidade, até confere, porque o Bruno , em palco e entrevistas assume uma postura mais tranquila e " low profile " , característica do eterno surfista zen " que sabe que os holofotes estão voltados para a Paula .
Mas ,musicalmente, ele esteve impecável . Virtuoso, seguro e preciso . Seja nas bases ,seja nos maravilhosos solos, como o de
" Todo O Meu Ouro ", verdadeira obra-prima dentro de outra ( a canção em si ) . E desta vez, sua guitarra esteve mixada de forma privilegiada , para meu deleite e dos amantes de uma guitarra bem tocada. Ao menos na primeira metade do show . Pelo menos foi como estava no som da tv . Não sei lá no Citibank Hall .
Mas ,seja como for, a atuação do Bruno sem dúvida foi um dos destaques deste especial .
Coincidência: esses dias, escutei muito o "Seu Espião", estreia do Kid.
Bem disse Arthur Dapieve, certa vez, a respeito do disco: "está mais para antologia". Está certo que é datado (aquela bateria eletrônica DMX, da Oberheim, que o Liminha programava em "Fixação" e "Como eu quero", é puro rock brasileiro dos '80), mas é um pop de frescor indiscutível.
Hoje, quase 30 anos depois, dá para notar que o frescor não se perdeu. Apenas se tornou mais classudo - como a própria bandleader. Já escrevi aqui como a evolução de Paula é assustadora, do registro vocal temerário de "Seu Espião" até aqui.
Sem contar o tom desencanado (e, até por isso, bem pop) de George. E, como já dito, a discrição esperta de Bruno Fortunato.
Aliás, diga-se aqui: absolutamente injusto tentar achar que Paula só faz o papel de "musa". Não dá para negar que ela tem tudo em cima. Mas acho tão empobrecedor falar só desse lado dela... acho bem mais legal falar de sua postura artística, cada vez mais elegante, só aparecendo quando e como julga adequado.
Mas, voltando ao aspecto musical, cada vez mais, o Kid Abelha prova como Ezequiel Neves estava certo, ao se derreter por eles, ali por 2005: "É muito difícil você ser pop por 23 anos". É isso.
Felipe dos Santos Souza
É isso aí, Felipe. Paula evoluiu muito como cantora. Abs, MauroF
Em uma época que novos artistas tentam parecer hypes, descolados, experimentais, muitas vezes em detrimento da música; simplicidade e despretensão sustentam o Kid Abelha há 30 anos.
Mauro, o público também cantarolou "Uniformes" e a Paula ficou lançando no palco esperando terminar o refrão.
Mauro, o público também cantarolou Uniformes e a Paula ficou dançando no palco esperando terminar o refrão!
Oi, Guilherme, em que momento do show aconteceu isso? Não registrei essa música. Abs, obrigado, MauroF
Mauro, a plateia cantou Uniformes entre Lagrimas e chuva e Eu tive um sonho.
Concordo com vc quanto a mágoa que os Kids ainda nutrem contra o Leoni. Esperava por uma participação especial depois de tanto tempo, já que ele é parceiro mór nos 2 primeiros discos.
Foi isso mesmo Mauro, antes de inciar Eu tive um sonho. Foi um momento lindo!
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