terça-feira, 17 de abril de 2012

Leila Pinheiro canta bem o lado quente do ser feminino em show poético

Resenha de show
Título: Leila Pinheiro Canta Mulheres
Artista: Leila Pinheiro (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Casarão Ameno Resedá (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 16 de abril de 2012
Cotação: * * * 

Desde que a compositora e pianista carioca Chiquinha Gonzaga (1847 - 1935) abriu alas para as mulheres na música brasileira, a contribuição feminina na área da composição tem sido cada vez mais significativa e assídua. Leila Pinheiro traça breve - porém expressivo - painel dessa contribuição no show em que canta e toca ao piano somente músicas de compositoras. De Chiquinha (representada no roteiro pela já centenária modinha Lua Branca, lançada em 1912) a Mart'nália (evidenciada pela inclusão de seu desencanado samba Tava por Aí, composto com Mombaça e gravado pela autora em 2008), a cantora passa em revista a produção feminina na música brasileira sem preocupações cronológicas e/ou didáticas. Show de voz e piano que se revela simples e bonito, Leila Pinheiro Canta Mulheres se sustenta tanto pela beleza das vinte e poucas músicas selecionadas para o roteiro - pontuado por versos de Adélia Prado, uma das referências máximas da poesia feminina do Brasil - como pela técnica vocal da intérprete. Não são muitas as cantoras que podem iniciar um show a capella sem correr o risco de evidenciar imperfeições na voz. Leila é uma das que podem. E já diz a que veio quando entra em cena no palco do novo Casarão Ameno Resedá para entoar, sem acompanhamento, Nasci pra Sonhar e Cantar (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1982), samba embebido em poesia, da lavra de uma senhora compositora, desbravadora de alas nos quintais e terreiros do Brasil. Pode-se até questionar a inclusão de uma ou outra música - em especial a de Mais Feliz (Cazuza, Dé e Bebel Gilberto, 1986), já que a coautora da canção jamais obteve reconhecimento como compositora. Pode-se lamentar a ausência de músicas de compositoras mais contemporâneas como Karina Buhr, Tiê e Tulipa Ruiz - nomes que, se presentes, dariam mais amplitude ao painel feminino montado por Leila no roteiro. De todo modo, o show é muito bom. Leila Pinheiro canta bem o lado quente do ser feminino quando revive Essa Mulher (Joyce, 1979), quando reza pela cartilha de Fátima Guedes em Minha Nossa Senhora (1995), quando se deixa pautar pela leveza de Rita Lee (Só de Você, parceria com Roberto de Carvalho, de 1982) e quando adensa a interpretação para realçar o refinamento melódico e poético de A Tarde (Francis Hime e Olivia Hime, 1981). Em contrapartida, arde pouco na Fogueira (1984) de Ângela RoRo e tampouco atinge a alta temperatura de Maysa (1936 - 1977) no samba-canção Ouça (1957), unido em medley com Resposta (1956). Contudo, o clima do show é tão gostoso que Leila Pinheiro Canta Mulheres transcorre bem, ainda que o formato voz e piano soe por vezes limitador. Um samba expansivo como Mulheres do Brasil (Joyce, 1988), por exemplo, pedia alguma percussão. De modo geral, as mulheres são bem cantadas por Leila Pinheiro nesse recital que reitera a força da ala que mostrou e mostra cotidianamente que as mulheres podem nascer para sonhar, cantar e também compor, expondo lados quentes do ser feminino.

5 comentários:

  1. Desde que a compositora e pianista carioca Chiquinha Gonzaga (1847 - 1935) abriu alas para as mulheres na música brasileira, a contribuição feminina na área da composição tem sido cada vez mais significativa e assídua. Leila Pinheiro traça breve - porém expressivo - painel dessa contribuição no show em que canta e toca ao piano somente músicas de compositoras. De Chiquinha (representada no roteiro pela já centenária modinha Lua Branca, lançada em 1912) a Mart'nália (evidenciada pela inclusão de seu desencanado samba Tava por Aí, composto com Mombaça e gravado pela autora em 2008), a cantora passa em revista a produção feminina na música brasileira sem preocupações cronológicas e/ou didáticas. Show de voz e piano que se revela simples e bonito, Leila Pinheiro Canta Mulheres se sustenta tanto pela beleza das vinte e poucas músicas selecionadas para o roteiro - pontuado por versos de Adélia Prado, uma das referências máximas da poesia feminina do Brasil - como pela técnica vocal da intérprete. Não são muitas as cantoras que podem iniciar um show a capella sem correr o risco de evidenciar imperfeições na voz. Leila é uma das que podem. E já diz a que veio quando entra em cena no palco do novo Casarão Ameno Resedá para entoar, sem acompanhamento, Nasci pra Sonhar e Cantar (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1995), samba embebido em poesia, da lavra de uma senhora compositora, desbravadora de alas nos quintais e terreiros do Brasil. Pode-se até questionar a inclusão de uma ou outra música - em especial a de Mais Feliz (Cazuza, Dé e Bebel Gilberto, 1986), já que a coautora da canção jamais obteve reconhecimento como compositora. Pode-se lamentar a ausência de músicas de compositoras mais contemporâneas como Karina Buhr, Tiê e Tulipa Ruiz - nomes que, se presentes, dariam mais amplitude ao painel feminino montado por Leila no roteiro. De todo modo, o show é muito bom. Leila Pinheiro canta bem o lado quente do ser feminino quando revive Essa Mulher (Joyce, 1979), quando reza pela cartilha de Fátima Guedes em Minha Nossa Senhora (1995), quando se deixa pautar pela leveza de Rita Lee (Só de Você, parceria com Roberto de Carvalho, de 1982) e quando adensa a interpretação para realçar o refinamento melódico e poético de A Tarde (Francis Hime e Olivia Hime, 1981). Em contrapartida, arde pouco na Fogueira (1984) de Ângela RoRo e tampouco atinge a alta temperatura de Maysa (1936 - 1977) no samba-canção Ouça (1957), unido em medley com Resposta (1956). Contudo, o clima do show é tão gostoso que Leila Pinheiro Canta Mulheres transcorre bem, ainda que o formato voz e piano soe por vezes limitador. Um samba expansivo como Mulheres do Brasil (Joyce, 1988), por exemplo, pedia alguma percussão. De modo geral, as mulheres são bem cantadas por Leila Pinheiro nesse recital que reitera a força da ala que mostrou e mostra cotidianamente que as mulheres podem nascer para sonhar, cantar e também compor, expondo lados quentes do ser feminino.

    ResponderExcluir
  2. O show foi lindo e as participações de Fátima Guedes e Angela Ro Ro só engrandeceram o evento. Três grandes artistas que merecem toda nossa reverência! Fátima precisa urgente mostrar sua obra num DVD.

    ResponderExcluir
  3. Falta uma certa agressividade na voz,quer dizer,volume mesmo.

    ResponderExcluir
  4. Caro Mauro, excelente texto, só uma correção: "Nasci pra Sonhar e Cantar" foi gravada por D. Ivone Lara em 1982 no LP (depois relançado em CD) "Alegria, Minha Gente (Serra dos Meus Sonhos Dourados)", portanto não pode ser de 1995.

    ResponderExcluir
  5. Tem razão, Nivaldo. É de 1982 mesmo. Abs, obrigado, MauroF

    ResponderExcluir

Este é um espaço democrático para a emissão de opiniões, sobretudo as divergentes. Contudo, qualquer comentário feito com agressividade ou ofensas - dirigidas a mim, aos artistas ou aos leitores do blog - será recusado. Grato pela participação, Mauro Ferreira

P.S.: Para comentar, é preciso ter um gmail ou qualquer outra conta do google.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.