Resenha de show
Título: Valencianas
Artista: Alceu Valença (em foto de Mauro Ferreira) e Orquestra Ouro Preto
Local: Teatro Oi Casa Grande (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 23 de abril de 2012
Cotação: * * * *
Em cartaz no segundo semestre de 2012 em Brasília (DF), Recife (PE) e São Paulo (SP)
Recorrente no universo musical brasileiro, a ponte que liga o som popular ao erudito une no espetáculo Valencianas as ladeiras carnavalescas de Olinda (PE) - cidade que abriga o pernambucano Alceu Valença - às ladeiras classicistas de Ouro Preto (MG), cidade que batiza a orquestra regida pelo maestro Rodrigo Toffolo. Valencianas enquadra a obra do compositor - já em si mestiça por filtrar os ritmos nordestinos por ótica pop - na refinada moldura sinfônica da Orquestra Ouro Preto, uma das mais conceituadas do Brasil. O espetáculo resulta interessante porque os arranjos de Mateus Freire - violinista e compositor paraibano de 27 anos - respeitam a vivacidade e a arquitetura original do cancioneiro popular de Alceu. Valencianas aborda hits e lados B da discografia do artista sem prejuízo da pulsação e do lirismo contidos em obra de assinatura pessoal e intransferível no universo musical brasileiro. Após a execução pela Orquestra Ouro Preto da suíte Valencianas (Mateus Freire), primorosa peça sinfônica que concilia elementos de cordel e do martelo alagoano com citações de temas da obra do compositor, Alceu entra em cena. Sentado, ao violão, ele dá voz a músicas como Sino de Ouro (Alceu Valença,1985), declamada de início pelo autor para evidenciar o teor poético dos versos. O número é exemplo da habilidade da orquestra de trazer o cancioneiro de Alceu para o universo sinfônico sem desconfigurar a obra original. Alvo de um dos arranjos mais ousados do concerto, Ladeiras (Alceu Valença, 1994) sobe e desce na pauta com direito a passagens suaves que remetem à bossa carioca. Reminiscência da infância vivida por Alceu entre os mandacarus da cidade interiorana de São Bento do Una (PE), Cavalo de Pau (Alceu Valença, 1982) galopa como peça sinfônica enquanto Tropicana (Alceu Valença e Vicente Barreto, 1982) ressurge de início manhosa - com vocais de tom quase lânguido no número feito com adesão do guitarrista Paulo Ramiro - para depois ser preguiçosamente arrematada no tom habitual das interpretações que Alceu dá ao sucesso em seus shows regulares. O coro da plateia dilui a formalidade dos espetáculos de música erudita. No bloco instrumental feito sem Alceu, a Orquestra Ouro Preto mostra excessiva reverência ao arranjo original de Estação da Luz (Alceu Valença, 1985), expõe todo o lirismo e melancolia que há em Porto da Saudade (Alceu Valença, 1980) e acerta o passo do frevo Acende a Luz (Alceu Valença, 2006). De volta à cena, é a vez de Alceu realçar a poesia de Junho (1989) - música composta por ele sobre soneto de Geraldo Valença - e de pôr à flor da pele sinfônica a sensualidade que jaz latente nas canções Sete Desejos (Alceu Valença, 1992), La Belle de Jour (Alceu Valença, 1992) e Girassol (Alceu Valença, 1987). No fim, o coco Coração Bobo (Alceu Valença, 1980) bate frenético no mesmo compasso vivaz de Anunciação (Alceu Valença, 1983), reiterando o êxito e beleza das Valencianas. Nunca as ladeiras de Olinda estiveram tão próximas das ladeiras de Ouro Preto.
Recorrente no universo musical brasileiro, a ponte que liga o som popular ao erudito une no espetáculo Valencianas as ladeiras carnavalescas de Olinda (PE) - cidade que abriga o pernambucano Alceu Valença - às ladeiras classicistas de Ouro Preto (MG), cidade que batiza a orquestra regida pelo maestro Rodrigo Toffolo. Valencianas enquadra a obra do compositor - já em si mestiça por filtrar os ritmos nordestinos por ótica pop - na refinada moldura sinfônica da Orquestra Ouro Preto, uma das mais conceituadas do Brasil. O espetáculo resulta interessante porque os arranjos de Mateus Freire - violinista e compositor paraibano de 27 anos - respeitam a vivacidade e a arquitetura original do cancioneiro popular de Alceu. Valencianas aborda hits e lados B da discografia do artista sem prejuízo da pulsação e do lirismo contidos em obra de assinatura pessoal e intransferível no universo musical brasileiro. Após a execução pela Orquestra Ouro Preto da suíte Valencianas (Mateus Freire), primorosa peça sinfônica que concilia elementos de cordel e do martelo alagoano com citações de temas da obra do compositor, Alceu entra em cena. Sentado, ao violão, ele dá voz a músicas como Sino de Ouro (Alceu Valença,1985), declamada de início pelo autor para evidenciar o teor poético dos versos. O número é exemplo da habilidade da orquestra de trazer o cancioneiro de Alceu para o universo sinfônico sem desconfigurar a obra original. Alvo de um dos arranjos mais ousados do concerto, Ladeiras (Alceu Valença, 1994) sobe e desce na pauta com direito a passagens suaves que remetem à bossa carioca. Reminiscência da infância vivida por Alceu entre os mandacarus da cidade interiorana de São Bento do Una (PE), Cavalo de Pau (Alceu Valença, 1982) galopa como peça sinfônica enquanto Tropicana (Alceu Valença e Vicente Barreto, 1982) ressurge de início manhosa - com vocais de tom quase lânguido no número feito com adesão do guitarrista Paulo Ramiro - para depois ser preguiçosamente arrematada no tom habitual das interpretações que Alceu dá ao sucesso em seus shows regulares. O coro da plateia dilui a formalidade dos espetáculos de música erudita. No bloco instrumental feito sem Alceu, a Orquestra Ouro Preto mostra excessiva reverência ao arranjo original de Estação da Luz (Alceu Valença, 1985), expõe todo o lirismo e melancolia que há em Porto da Saudade (Alceu Valença, 1980) e acerta o passo do frevo Acende a Luz (Alceu Valença, 2006). De volta à cena, é a vez de Alceu realçar a poesia de Junho (1989) - música composta por ele sobre soneto de Geraldo Valença - e de pôr à flor da pele sinfônica a sensualidade que jaz latente nas canções Sete Desejos (Alceu Valença, 1992), La Belle de Jour (Alceu Valença, 1992) e Girassol (Alceu Valença, 1987). No fim, o coco Coração Bobo (Alceu Valença, 1980) bate frenético no mesmo compasso vivaz de Anunciação (Alceu Valença, 1983), reiterando o êxito das Valencianas. Nunca as ladeiras de Olinda estiveram tão próximas das ladeiras de Ouro Preto.
ResponderExcluirPois bem, esse sim é bem interessante para virar um DVD !
ResponderExcluirConcordo, Eduardo. Isso sim é um espetáculo que tem que ficar registrado pra gerações futuras,
ResponderExcluirTem que ser registrado não só para as gerações futuras, mas também para podermos rever e massagear a alma novamente. Foi maravilhoso!
ResponderExcluir